Philippe Lazzarini, comissário-geral da agência da ONU para os refugiados palestinianos (Unrwa), manifestou a esperança de que o cessar-fogo anunciado entre o Irão e Israel redireccione o foco internacional para o agravamento da crise humanitária em Gaza.
«É verdade que a atenção dada a Gaza diminuiu significativamente na última semana, mas a situação continuou a agravar-se. Houve ataques militares diários e as pessoas continuam a deslocar-se», disse Lazzarini numa entrevista à agência turca, divulgada esta quarta-feira.
O bloqueio contínuo imposto por Israel à ajuda humanitária na Faixa de Gaza agravou ainda mais a crise humanitária no território palestiniano nas últimas semanas, enquanto o mecanismo israelita de ajuda humanitária, criado recentemente, se tornou uma «armadilha mortal», custando mais vidas do que as que salva.
«Temos esta abominação deste novo sistema de ajuda, em que as pessoas (em Gaza) se sentem completamente presas e perguntam a si mesmas: "O que é que eu faço? Deixo a minha família morrer à fome ou corro o risco de ser morto a tentar encontrar ajuda humanitária?"», disse Lazzarini.
«Temos uma situação absolutamente terrível em Gaza, que muitos descrevem como sendo um tipo de ambiente distópico, pós-apocalíptico, que exige toda a atenção da comunidade internacional», frisou.
Esperança de que a atenção se centre na situação humanitária em Gaza
O responsável da ONU manifestou a esperança de que o cessar-fogo anunciado entre o Irão e Israel «retenha e redireccione a atenção da comunidade internacional para o agravamento da crise humanitária» no enclave palestiniano.
«Em primeiro lugar, espero que seja duradouro. A distensão é definitivamente necessária na região. A região não se pode dar ao luxo de um conflito se alastrar», disse Lazzarini à Anadolu.
O responsável da Unrwa voltou a destacar a importância de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, bem como a necessidade de levantar o cerco à ajuda humanitária, reiterando a exigência de que a ONU e as organizações humanitárias sejam autorizadas a operar no território.
«Temos a experiência, temos os recursos, demonstrámos durante o cessar-fogo que podemos inverter a situação e enfrentar a fome crescente a que já assistimos nessa altura» e «temos muitos recursos à espera nos arredores da Faixa de Gaza», disse, sublinhando que «os alimentos e os artigos não alimentares, bem como a assistência vital, estão prontos para ser enviados para Gaza».
Mecanismo introduzido por Israel «humilha e degrada» as pessoas
Sobre o mecanismo de ajuda imposto por Israel, Lazzarini disse que «humilha e degrada pessoas desesperadas» na Faixa de Gaza, e insistiu que a distribuição da ajuda deveria ser realizada por agências da ONU e organizações humanitárias.
«Este mecanismo é uma armadilha mortal», disse. «É um mecanismo que exclui os mais fracos, os mais vulneráveis, os idosos, as crianças, as famílias chefiadas por mulheres. Portanto, não é, definitivamente, um mecanismo orientado para lidar com a situação humanitária», frisou.
Desde o início da agressão israelita à Faixa de Gaza, a 7 de Outubro de 2023, pelo menos 56 156 palestinianos foram mortos e 132 239 ficaram feridos, de acordo com os dados registados até ontem.
Também até esta quarta-feira, as autoridades de saúde no território tinham contabilizado 516 mortos e 4066 feridos entre palestinianos que esperavam por ajuda, nos centros montados por Israel, em conjunto com os EUA.
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