|Reino Unido

Sindicatos britânicos alertam para «sofrimento» dos trabalhadores

Contra a previsão de que iria descer, a inflação no Reino Unido manteve-se em 8,7% em Maio, revelou o Gabinete de Estatísticas Nacionais. Sindicatos alertam para a necessidade de proteger os trabalhadores.

Créditos / Morning Star

Não há fim à vista para a chamada «crise de custo de vida», afirma o periódico Morning Star a propósito dos dados da inflação agora revelados, sublinhando que os preços de alguns produtos alimentares subiram bastante em Maio – 49,8% no caso do açúcar.

Em média, uma factura de supermercado custa hoje 108,70 libras, quando há um ano custava cerca de 100, refere o periódico.

Num país em que, segundo os dados da Money Advice Trust, desde Março de 2022, o número de adultos que têm o pagamento de alguma factura doméstica em atraso aumentou de 7,9 milhões para 11,6 milhões, é expectável que a não redução da inflação coloque ainda mais pressão sobre as famílias e os trabalhadores.

Além disso, especialistas a que o jornal se refere afirmam que quem está a pagar hipotecas ou outras dívidas deverá esperar maiores taxas de juros.

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Reino Unido: aumenta a pobreza e o recurso aos bancos alimentares

Os dados da fundação Trussell Trust apontam para o aumento exponencial da pobreza e da ajuda alimentar numa das maiores economias mundiais: quase três milhões de cabazes nos últimos 12 meses.

Créditos / Morning Star

A Trussell Trust, organização de beneficência na área da alimentação, afirma que distribuiu mais 37% de cabazes alimentares entre 1 de Abril de 2022 e 31 de Março de 2023 do que no ano anterior – 2 986 203, o que representa mais do dobro dos cabazes de ajuda distribuídos há cinco anos.

A ajuda alimentar destinada às crianças também mais do que duplicou no mesmo período, passando de menos de meio milhão de cabazes em 2017-18 para 1 139 553 em 2022-23.

Com os preços dos combustíveis e a inflação a disparar, e os salários estagnados ao longo do último ano, o periódico Morning Star destaca que os bancos alimentares se viram obrigados a abrir fora do horário para poder receber pessoas que trabalham e que cerca de 760 mil se dirigiram a um banco alimentar pela primeira vez.

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Preço dos alimentos sofre grande aumento no Reino Unido

A inflação dos preços de supermercado no Reino Unido disparou para um recorde de 14,7%, fazendo aumentar a despesa média em 777 euros num ano.

Créditos / Al Mayadeen

De acordo com os dados publicados pelo Kantar Worldpanel, o custo das compras de supermercado para os residentes no Reino Unido atingiu um aumento de 682 libras (777 euros) num ano, por comparação com igual período do ano passado, e cerca de 40 libras (45 euros) por comparação com o mês anterior.

O relatório da indústria do retalho alertou que é ainda prematuro antever o momento em que a inflação vai atingir o pico, informando que a inflação relativa ao preço dos alimentos atingiu um novo recorde, de 14,7%, em Outubro, depois de, em Setembro, ter alcançado os 13,9%.

Vários indicadores apontam para a preocupação dos consumidores com o aumento do custo de vida. A título de exemplo, a Sainsbury's, segunda maior cadeia de supermercados no Reino Unido, afirma que as pessoas estão a comer menos vezes fora e a preferir comer em casa, numa tentativa de poupar e fazer frente ao impacto iminente das facturas de energia no período de Inverno, refere a Al Mayadeen.

O relatório do Kantar aponta ainda que famílias com mais dificuldades económicas compram mais em lojas de desconto e favorecem marcas brancas ou dos próprios supermercados, cuja procura registou um aumento de 10,3% nas últimas quatro semanas.

Fraser McKevitt, responsável pela informação do consumidor e retalho no Kantar, destacou à imprensa o novo recorde de preços de supermercado, considerando que é demasiado cedo para dizer que é «o pico».

«Os consumidores enfrentam um aumento de 682 libras na sua conta anual de supermercado se continuarem a comprar os mesmos produtos, e mais de um quarto (27%) afirmam que têm dificuldades económicas, o dobro do registado em Novembro do ano passado», acrescentou.

«Nove em cada dez deste grupo dizem que os preços mais elevados dos alimentos e bebidas são uma grande preocupação, só ultrapassada pelas contas de energia; então, é evidente como a inflação dos preços de supermercado está a atingir as carteiras das pessoas e fazer crescer as suas preocupações domésticas», disse.

Confrontados com a crise do custo de vida e a diminuição do poder de compra, num contexto em que as sanções impostas à Rússia e escalada belicista na Ucrânia são aproveitadas como justificação para aumentar os preços, e em que os accionistas continuam a receber dividendos chorudos nas grandes multinacionais, sucedem-se as manifestações e as greves em vários sectores de actividade, como transportes e educação, no Reino Unido.

Espanha, França, Alemanha, Bélgica, Itália, entre outros países europeus, também têm sido palco de acções, mobilizações e paralisações em defesa do aumento dos salários e das pensões, da nacionalização do sector da energia, contra a NATO e pelo fim da guerra.

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A nível nacional, o País de Gales foi onde se registou um maior aumento da necessidade de cabazes alimentares de emergência (+41%), seguido de Inglaterra (+37%), Escócia (+30) e Irlanda do Norte (+29%), mas é nas regiões de Inglaterra (como o Nordeste, o Leste e o Sudoeste) que se encontram algumas variações mais dramáticas.

Brian Thomas, do South Tyneside Foodbank, na região de Newcastle, classificou esta situação como uma «panela de pressão», uma vez que aquilo que recebem não chega para acompanhar o ritmo da procura.

Alívio dos pagamentos extra é de curta duração se os rendimentos forem baixos

Emma Newbury, responsável pela investigação da fundação, notou os efeitos positivos dos pagamentos extra feitos pelo governo britânico a propósito do aumento do custo de vida.

Mas também notou que o alívio sentido pelas pessoas é temporário e de curta duração, porque esses pagamentos únicos «são incapazes de ter um impacto duradouro quando os rendimentos regulares da segurança social e do trabalho são demasiado baixos para lhes permitir pagar as despesas básicas».

Por seu lado, Emma Revie, directora executiva da Trussell Trust destacou que há muito tempo que as pessoas passam necessidades porque os apoios da segurança social não reflectem as despesas básicas da vida. «Como resultado, as pessoas são empurradas para viver com mais dificuldades», lê-se no portal da fundação.

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Grande parte dos britânicos teria dificuldades em fazer frente a mais despesas

Num momento em que muitos britânicos estão a comer refeições frias, 73% disseram que seria difícil, muito difícil ou impossível fazer frente a um aumento de 20 libras nas suas despesas mensais.

Créditos / independent.co.uk

Mais de um terço dos adultos (37%) do Reino Unido consideram difícil lidar com um aumento de 20 libras nas suas despesas mensais, num contexto em que a «crise do custo de vida» atinge fortemente as finanças domésticas.

Num inquérito realizado para a organização Citizens Advice, 37% dos adultos disseram que teriam dificuldades em arranjar mais 20 libras, 25% acharam que seria «um tanto difícil», enquanto 7% disseram que seria «muito, muito difícil» e 4% «impossível», revelou The Guardian.

O organismo disse que as pessoas estão a recorrer cada vez mais a medidas desesperadas para sobreviver, como comer apenas refeições frias.

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O'Grady: «Os trabalhadores britânicos têm de se organizar e lutar»

Dados oficiais mostram que os salários subiram no Reino Unido, mas bem abaixo da inflação. Este é «o pior ano para o crescimento real dos salários em quase meio século», alerta uma dirigente sindical.

Créditos / express.co.uk

De acordo com o Gabinete Nacional de Estatística (ONS, na sigla em inglês), os salários cresceram 6,1% nos três meses até Outubro, sobretudo no sector privado.

No entanto, este crescimento é amplamente superado pelo aumento crescente dos preços e fica bem atrás da taxa de inflação, agora nos 11,1%, deixando em evidência as dificuldades dos trabalhadores para fazer frente ao custo de vida, sobretudo os do sector público.

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«Os lucros deles são os nossos salários não pagos»: ferroviários britânicos em greve

Os trabalhadores da ferrovia fizeram greve por não haver acordo com as empresas que operam no sector. Exigem aumentos salariais, melhores condições de trabalho e garantias de que não serão despedidos.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, num piquete de greve em Junho último 
Créditos / morningstaronline.co.uk

Embora a paralisação desta quarta-feira não tenha tido a dimensão da greve de três dias realizada em Junho, o serviço ferroviário viu-se bastante afectado nos vários territórios do Reino Unido.

Segundo revela a imprensa, nas redes nacionais circulou apenas um em cada cinco comboios – e nalguns casos não se registou qualquer circulação –, tendo a conta a adesão à greve de maquinistas, sinalizadores e outros funcionários.

A paralisação abrangia os trabalhadores filiados no sindicato RMT que laboram na Network Rail e em 14 operadores privados, bem como os trabalhadores organizados no sindicato TSSA que trabalham para a empresa Avanti West Coast.

Em declarações à BBC, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, disse que a paralisação se deve às empresas que operam no sector, uma vez que a sua atitude conduziu ao fracasso nas negociações com os representantes dos trabalhadores.

«Não nos apresentaram nenhuma proposta sobre salários, nem nos deram garantias de que não haverá despedimentos em massa», afirmou Lynch.

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Reino Unido: democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais

Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, denunciou a legislação anti-greve do governo britânico 
Créditos / morningstaronline.co.uk

«Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter.

Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor».

«A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch.

«Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia.

«Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star.  

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Reino Unido: alertas face ao avanço na privatização da saúde pública

Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública.

Protesto contra a privatização do NHS no Reino Unido 
Créditos / keepournhspublic.com

À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados.

Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários.

A grande maioria dos britânicos opõe-se à privatização do serviço nacional de saúde / The Guardian

Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS.

O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm.

Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público.

O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano.

«Esta não é a receita de que necessitamos»

Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS».

Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados.

De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados.

Imagem da campanha contra o projecto de lei do governo britânico na área da Saúde / campanha We Own It

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no NHS»

Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch.

Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública.

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson.

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Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre».

«A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou.

O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços.

«Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady.

Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares

Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais».

O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70».

As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos.

Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia».

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém».

Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas.

Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito.

A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras.

É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss.

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«O sindicato continuará a negociar de boa-fé, mas não se deixará intimidar por ninguém», disse ainda Lynch, em alusão às ameaças veiculadas por representantes das empresas.

Sublinhou também a necessidade de o governo conservador britânico «deixar de interferir nas negociações, para que possa haver um acordo entre as empresas do sector e os trabalhadores».

A este propósito, a secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, acusou o secretário dos Transportes do executivo britânico, Grant Shapps, de ter bloqueado as negociações que podiam ter evitado a greve.

«Todos nós queremos ver negociações bem-sucedidas para pôr fim a este conflito», disse O'Grady, que acusou Shapps de ter dado «instruções secretas» às empresas do sector ferroviário para que não chegassem a um acordo, indica o periódico Morning Star.

Entretanto, apesar de a direcção do Partido Trabalhista ter dado instruções aos seus membros para não apoiarem a greve, alguns deputados desafiaram essa orientação e dirigiram-se a estações e outros locais onde havia piquetes, em solidariedade com os trabalhadores.

Jeremy Corbyn, ex-líder dos trabalhistas (2015-2020) e agora deputado independente, esteve com um piquete de greve em Euston (Londres), tendo afirmado os trabalhadores da ferrovia falam por muita gente no país.

Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres? Os trabalhadores não estão para isso

Num texto publicado no Morning Star, Sarah-Jane McDonough, do sindicato TSSA, pergunta: «Quanto tempo mais espera o governo que os trabalhadores aceitem que os ricos fiquem mais ricos enquanto nós ficamos mais pobres?»

E acrescenta que aqueles que «lucram com a nossa exploração» receberam com «fingida surpresa» a exigência de aumentos salariais.

Trabalhador em greve num piquete, em Junho de 2022, segura um cartaz em que se lê «Cortem nos lucros, não nos empregos e nos serviços» / PBS

«Isso não os devia surpreender de todo. Mais e mais trabalhadores estão a perceber que os lucros das empresas privadas são os salários não pagos dos trabalhadores e que essa injustiça existe há demasiado tempo», afirma.

McDonough aponta a vontade de despedir trabalhadores, a falta de manutenção na rede, a pouca propensão para aumentar salários e contrapõe a isso os lucros de muitos milhões de libras que as empresas privadas têm estado a fazer com a concessão do sector ferroviário no Reino Unido.

«O dinheiro está lá e sempre esteve. Esta acção [sindical] não é apenas sobre os salários, termos e condições dos trabalhadores filiados no TSSA e no RMT no sector ferroviário, mas faz parte de um quadro muito maior», frisa a sindicalista.

Em seu entender «a situação económica que vivemos hoje não é tanto uma crise de "custo de vida", mas uma crise de lucro privado cujo custo a classe dominante espera que os trabalhadores paguem».

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Frances O'Grady, secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), disse ao Morning Star que 2022 foi o «pior ano de sempre no que respeita ao crescimento real dos salários em quase meio século».

Uma análise publicada pela estrutura sindical, com base nos números oficiais, revela que os trabalhadores perderam, em média, 74 libras por mês, em 2022, em virtude de os seus salários não acompanharem o ritmo da inflação. Trata-se da desvalorização real mais acentuada desde 1977 e a segunda pior desde o final da Segunda Guerra Mundial.

No estudo, o TUC sublinha que o facto de o governo conservador ter decidido manter baixos os salários do sector público significa que os trabalhadores-chave sentem o impacto de forma desproporcional.

«As vítimas de uma década de "cortes salariais" (pessoal do NHS [serviço público de saúde], assistentes sociais, funcionários da administração local, professores e outros) perderam também em média 180 libras por mês desde Janeiro», diz o texto.

«Estamos à beira de uma recessão» e «o governo tem de agir»

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Trabalhadores dos correios britânicos em vaga de greves até ao Natal

Mais de 100 mil trabalhadores dos Royal Mail estão em greve, a nível nacional, por melhores salários. Uma grande manifestação em frente ao Parlamento marcou o início da luta.

Milhares de trabalhadores dos correios, representando mais de 100 mil grevistas nos Royal Mail, concentraram-se em frente ao Parlamento britânico para reforçar a sua exigência de melhores salários. Londres, 9 de Dezembro de 2022
CréditosANDY RAIN / EPA

O Sindicato dos Trabalhadores das Comunicações (Communications Workers Union/CWU) anunciou para os dias 9, 11, 14, 15, 23 e 24 de Dezembro uma greve nacional dos trabalhadores postais por melhores salários e condições de trabalho, que se espera venha a causar disfunções na distribuição de correios neste período.

A convocação da luta decorre do falhanço das negociações com a administração dos Royal Mail por um aumento salarial que reponha as condições de vida perdidas pelos trabalhadores em 2022.

Para marcar o início da greve o CWU realizou um comício em Wetsminster, em frente ao Parlamento britânico, que reuniu cerca de 17 mil participantes e se tornou a maior manifestação de sempre de trabalhadores dos serviços postais no Reino Unido, segundo a PressTV.

O secretário-geral da CWU, Dave Ward, acusou os patrões de arriscarem «um colapso no Natal devido à sua intransigente recusa em tratar os seus empregados com respeito» e lembrou que os trabalhadores dos correios «sabem o seu valor».

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Trabalhadores dos correios continuam a lutar por melhores salários no Reino Unido

Os funcionários dos correios britânicos «vão lutar enquanto for preciso», até conseguirem melhores salários, condições e garantias de emprego, afirmou fonte sindical no primeiro de dois dias de greve.

Trabalhadores do Royal Mail participam num piquete de greve no Noroeste de Londres 
Créditos / Morning Star

Dave Ward, secretário-geral do Communication Workers Union (CWU), pediu ao governo de Rishi Sunak que interviesse no conflito que os trabalhadores filiados no sindicato – 115 mil – mantêm com o Royal Mail, insistindo: «Não vamos desistir», indica o periódico Morning Star.

O apelo foi realizado esta quinta-feira, quando dezenas de milhares de trabalhadores do Royal Mail iniciaram uma greve de 48 horas, no âmbito de uma luta que se arrasta há meses e que CWU considera vital para definir o futuro de um serviço com 500 anos de existência.

Dave Ward, que se juntou a um piquete de greve num ponto de entrega do Royal Mail em Camden (Norte de Londres), afirmou que «nenhum trabalhador e nenhum sindicato aceitaria os empregos, as perdas e as condições» que a empresa «está a associar ao futuro de uma indústria com a qual nos preocupamos».

Afirmando que o director executivo do Royal Mail «devia ser despedido», por «intimidar e provocar» os trabalhadores, o dirigente sindical sublinhou que o conflito que se arrasta não diz apenas respeito ao futuro do serviço postal (privatizado em 2013), mas é também sobre o que se passa no país, «sobre a forma terrível como alguns dos chamados líderes empresariais operam e são autorizados a destruir – escapando impunes – uma empresa como o Royal Mail».

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Trabalhadores em greve no Reino Unido contra a «uberização» dos correios

Por todo o país, os trabalhadores participaram em piquetes junto às estações e postos de triagem da Royal Mail, depois de as negociações salariais entre sindicato e empresa não terem avançado.

Trabalhadores dos correios em greve em Felixstowe 
Créditos / Communication Workers Union

Milhares de trabalhadores dos serviços postais participaram, esta sexta-feira, no primeiro de dois dias de greve convocados pela estrutura sindical Communication Workers Union (CWU).

O sindicato, com 115 mil trabalhadores do sector filiados, denunciou os planos de «uberização» da Royal Mail e mobilizou os funcionários por melhores salários e condições de trabalho.

Trata-se, de acordo com a organização, da maior greve deste ano, estando previstas mais 19 ao longo dos meses de Outubro e Novembro, depois de as mais recentes negociações não terem produzido avanços, refere o periódico Morning Star.

Em declarações à imprensa, o secretário-geral do CWU, Dave Ward, disse: «Os trabalhadores deste país não aceitaram docilmente que as suas vidas sejam pioradas para benefício de alguns ricos.»

Trabalhadores participam num piquete do CWU junto a uma estação do Royal Mail em Londres / Al Jazeera

«Estamos a assistir a uma onda nacional de raiva da parte de trabalhadores que estão fartos de uma elite empresarial incompetente que quer destruir uma grande instituição, piorar as condições de trabalho e prejudicar as populações que os nossos filiados servem», acrescentou o dirigente sindical.

Ward frisou que os trabalhadores «jamais aceitarão a uberização da Royal Mail, nem os utentes, que nos apoiaram de uma forma sem precedentes nos últimos meses».

19 dias de greve «equivalem à raiva que os trabalhadores sentem»

Sobre o anúncio de mais 19 dias de greve nos próximos meses, até ao Natal, Ward disse que se tratava de um anúncio «significativo» e que «equivale ao nível de raiva que os trabalhadores sentem» pela forma como foram tratados pela empresa.

«O director-executivo do Grupo Royal Mail está a tratar os trabalhadores como se fossem estúpidos», criticou, sublinhando que foram eles que «mantiveram o país ligado e deram ao grupo um lucro recorde».

Em seu entender, os trabalhadores dos correios no Reino Unido estão a travar a batalha das suas vidas, «para salvar os seus empregos e o serviço postal que prestam a cada casa e empresa no país».

A empresa acusou o sindicato de estar a levar a cabo uma «demanda imprudente», alertando que estava a perder um milhão de libras por dia.

O CWU afirma que os patrões da Royal Mail «deixaram de ter controlo no vestiário» e que, se não se empenharem a fundo nas negociações com os representantes dos trabalhadores, a luta vai continuar.

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O CWU anunciou que, além da greve marcada para ontem e hoje e para dias 30 de Novembro e 1 de Dezembro, os trabalhadores dos correios devem também fazer greve nos dias 9, 11, 14, 15, 23 e 24 de Dezembro.

Após a reunião mais recente entre representantes dos trabalhadores e da administração do Royal Mail, a empresa afirmou que fez «melhorias substanciais» nas propostas, mas o CWU distanciou-se dessa perspectiva, repudiando a abordagem «agressiva» da empresa.

Ward disse que o Royal Mail, que se tinha mostrado preocupado em evitar grandes perturbações no serviço, não quis saber, e acrescentou que o sindicato jamais aceitaria que 115 mil trabalhadores – que mantiveram o país ligado durante a pandemia e fizeram milhões de lucros para os patrões e accionistas – «sofressem um golpe tão devastador nos seus rendimentos».

Para o CWU, as propostas avançadas pelo Royal traçam o fim da empresa como foi conhecida até aqui e esboçam «uma empresa não confiável, assente na economia precária, tipo Uber».

O sindicato exige um acordo que garanta aumentos salariais, estabilidade no emprego e uma «estratégia comercial alternativa», que, em seu entender, irá permitir ao Royal Mail crescer.

Greves em vários sectores

Professores, investigadores, académicos, funcionários administrativos, dos serviços de limpeza e da alimentação nas universidades do Reino Unido também fizeram greve, esta quinta-feira, por melhores salários e condições de trabalho, num contexto em que a inflação supera os 11% e de forte aumento do custo de vida.

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«Os lucros deles são os nossos salários não pagos»: ferroviários britânicos em greve

Os trabalhadores da ferrovia fizeram greve por não haver acordo com as empresas que operam no sector. Exigem aumentos salariais, melhores condições de trabalho e garantias de que não serão despedidos.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, num piquete de greve em Junho último 
Créditos / morningstaronline.co.uk

Embora a paralisação desta quarta-feira não tenha tido a dimensão da greve de três dias realizada em Junho, o serviço ferroviário viu-se bastante afectado nos vários territórios do Reino Unido.

Segundo revela a imprensa, nas redes nacionais circulou apenas um em cada cinco comboios – e nalguns casos não se registou qualquer circulação –, tendo a conta a adesão à greve de maquinistas, sinalizadores e outros funcionários.

A paralisação abrangia os trabalhadores filiados no sindicato RMT que laboram na Network Rail e em 14 operadores privados, bem como os trabalhadores organizados no sindicato TSSA que trabalham para a empresa Avanti West Coast.

Em declarações à BBC, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, disse que a paralisação se deve às empresas que operam no sector, uma vez que a sua atitude conduziu ao fracasso nas negociações com os representantes dos trabalhadores.

«Não nos apresentaram nenhuma proposta sobre salários, nem nos deram garantias de que não haverá despedimentos em massa», afirmou Lynch.

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Reino Unido: democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais

Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, denunciou a legislação anti-greve do governo britânico 
Créditos / morningstaronline.co.uk

«Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter.

Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor».

«A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch.

«Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia.

«Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star.  

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Reino Unido: alertas face ao avanço na privatização da saúde pública

Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública.

Protesto contra a privatização do NHS no Reino Unido 
Créditos / keepournhspublic.com

À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados.

Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários.

A grande maioria dos britânicos opõe-se à privatização do serviço nacional de saúde / The Guardian

Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS.

O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm.

Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público.

O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano.

«Esta não é a receita de que necessitamos»

Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS».

Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados.

De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados.

Imagem da campanha contra o projecto de lei do governo britânico na área da Saúde / campanha We Own It

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no NHS»

Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch.

Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública.

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson.

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Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre».

«A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou.

O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços.

«Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady.

Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares

Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais».

O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70».

As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos.

Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia».

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém».

Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas.

Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito.

A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras.

É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss.

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«O sindicato continuará a negociar de boa-fé, mas não se deixará intimidar por ninguém», disse ainda Lynch, em alusão às ameaças veiculadas por representantes das empresas.

Sublinhou também a necessidade de o governo conservador britânico «deixar de interferir nas negociações, para que possa haver um acordo entre as empresas do sector e os trabalhadores».

A este propósito, a secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, acusou o secretário dos Transportes do executivo britânico, Grant Shapps, de ter bloqueado as negociações que podiam ter evitado a greve.

«Todos nós queremos ver negociações bem-sucedidas para pôr fim a este conflito», disse O'Grady, que acusou Shapps de ter dado «instruções secretas» às empresas do sector ferroviário para que não chegassem a um acordo, indica o periódico Morning Star.

Entretanto, apesar de a direcção do Partido Trabalhista ter dado instruções aos seus membros para não apoiarem a greve, alguns deputados desafiaram essa orientação e dirigiram-se a estações e outros locais onde havia piquetes, em solidariedade com os trabalhadores.

Jeremy Corbyn, ex-líder dos trabalhistas (2015-2020) e agora deputado independente, esteve com um piquete de greve em Euston (Londres), tendo afirmado os trabalhadores da ferrovia falam por muita gente no país.

Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres? Os trabalhadores não estão para isso

Num texto publicado no Morning Star, Sarah-Jane McDonough, do sindicato TSSA, pergunta: «Quanto tempo mais espera o governo que os trabalhadores aceitem que os ricos fiquem mais ricos enquanto nós ficamos mais pobres?»

E acrescenta que aqueles que «lucram com a nossa exploração» receberam com «fingida surpresa» a exigência de aumentos salariais.

Trabalhador em greve num piquete, em Junho de 2022, segura um cartaz em que se lê «Cortem nos lucros, não nos empregos e nos serviços» / PBS

«Isso não os devia surpreender de todo. Mais e mais trabalhadores estão a perceber que os lucros das empresas privadas são os salários não pagos dos trabalhadores e que essa injustiça existe há demasiado tempo», afirma.

McDonough aponta a vontade de despedir trabalhadores, a falta de manutenção na rede, a pouca propensão para aumentar salários e contrapõe a isso os lucros de muitos milhões de libras que as empresas privadas têm estado a fazer com a concessão do sector ferroviário no Reino Unido.

«O dinheiro está lá e sempre esteve. Esta acção [sindical] não é apenas sobre os salários, termos e condições dos trabalhadores filiados no TSSA e no RMT no sector ferroviário, mas faz parte de um quadro muito maior», frisa a sindicalista.

Em seu entender «a situação económica que vivemos hoje não é tanto uma crise de "custo de vida", mas uma crise de lucro privado cujo custo a classe dominante espera que os trabalhadores paguem».

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Na Escócia, praticamente todas as creches e escolas do ensino primário e secundário fecharam, ontem, no âmbito de um dia de paralisação, por aumentos salariais, convocado pelo Educational Institute of Scotland (EIS), que representa cerca de 80% do pessoal docente na Escócia.

Pela valorização dos salários e contra a precariedade, os enfermeiros anunciaram que vão fazer greve nos dias 15 e 20 de Dezembro, depois de as negociações com o governo não terem chegado a bom porto.

Por seu lado, mais de 40 mil trabalhadores ferroviários filiados no sindicato RMT podem fazer greve nos dias 13, 14, 16 e 17 de Dezembro e 3, 4, 6 e 7 de Janeiro.

Ontem, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, reuniu-se com o ministro dos Transportes, Mark Harper, e, de acordo com a imprensa, foram feitos avanços. No entanto, Mick Lynch disse que a convocação das greves se mantém «até haver um resultado concreto».

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A disputa entre os trabalhadores e os Royal Mail começou no Verão passado, quando a administração da empresa rejeitou uma proposta sindical de aumentos que acompanhasse a inflação no Reino Unido – que atinge 11,1% e se tornou a mais elevada no país, durante os últimos 40 anos.

Os sindicatos, por sua vez, rejeitaram a contraproposta patronal de 9% e partiram para a luta. Até 16 de Novembro, oito dias de greve custaram à empresa 100 milhões de libras, segundo a administração.

A empresa, que este ano reportou uma perda de 219 milhões de libras entre Maio e Setembro, registou um lucro de 235 milhões de libras no ano anterior, no mesmo período.

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O país «está à beira de uma recessão danosa, com a ameaça da perda de um milhão de empregos», afirmou O’Grady, acrescentando que o governo britânico «tem de pôr dinheiro nos bolsos das pessoas – começando por aumentar o salário mínimo e atribuindo aos trabalhadores da administração pública um aumento que permita fazer frente ao custo de vida».

Tendo em conta as afirmações de membros do governo contra os sindicatos e os trabalhadores que lutam pelos direitos, a dirigente sindical disse que «é absurdo culpar os trabalhadores por lutarem por salários justos, quando é inegável a evidência de que o lucro desenfreado está a provocar uma inflação galopante e uma grave desigualdade económica, não os salários».

O’Grady acusou os gigantes do sector da energia de acumularem lucros de milhares de milhões quando as pessoas não conseguem aquecer as suas casas e disse que «não podemos ser um país onde o pessoal da Saúde e os docentes têm de recorrer aos bancos alimentares, enquanto os banqueiros da City recebem bónus ilimitados».

Sobre a vaga de greves deste ano no Reino Unido – a maior desde os anos 80 –, a dirigente sindical entende que tem lugar porque «os trabalhadores foram levados a um ponto de ruptura».

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Vitória contra a precariedade no ensino superior do Reino Unido

Milhares de professores associados têm agora um vínculo permanente com a Open University. Sindicatos referem-se ao facto como a maior vitória contra a precariedade no ensino superior no Reino Unido.

Membros do University and College Union (UCU) numa acção de luta em Glasgow, Escócia, por melhores salários, pensões e condições de trabalho, em Fevereiro de 2022 
Créditos / Morning Star

As negociações, conduzidas pelo University and College Union (UCU), chegaram a bom porto, na medida em que 4800 professores associados que antes trabalhavam na Open University (OU) de modo informal viram garantido o direito a um contrato permanente.

Com isto, passam a ter maior segurança laboral, além de um aumento salarial entre 10 e 15%, um período mais longo de férias e outros subsídios, refere o portal Peoples Dispatch.

Esta vitória seguiu-se a longas negociações com responsáveis da OU e está a ser classificada pelos sindicatos como o maior passo contra a precariedade no sector do ensino superior no Reino Unido, informa o periódico Morning Star.

O UCU, que, em conjunto com outros sindicatos, tem estado a organizar lutas a nível nacional contra cortes salariais e nas pensões, e a protestar contra a pesada carga de trabalho, fez um apelo a outras instituições universitárias para que acabem com a precariedade e vinculem de forma permanente, com contratos e todos os direitos, o seu pessoal académico.

Estima-se que 70 mil docentes estejam contratados de forma precária no sector e as lutas desenvolvidas são por estabilidade no trabalho, melhores salários e o fim das discriminações salariais.

Cartaz do sindicato UCU / Peoples Dispatch

Num inquérito realizado pelo UCU a 2700 trabalhadores em mais de 200 faculdades de Inglaterra, a maioria dos inquiridos (80%) disse ter hoje mais insegurança financeira do que há um ano e sete em cada dez afirmaram que estão a considerar abandonar o sector, a não ser que os salários sejam aumentados.

«Mais de quatro em dez (42%) disseram que o seu rendimento não cobre o custo de vida. Destes, dois terços (64%) disseram que aquecem as suas casas com menos frequência; dois em cinco (40%) disseram que limitam o uso de água quente e um quarto (25%) disse que saltam refeições», lê-se no resultado do inquérito publicado pelo sindicato.

A secretária-geral do UCU, Jo Grady, disse que «o novo contrato muda a vida dos 4800 professores associados, que passaram a contratos seguros e já não têm de se candidatar repetidamente aos seus empregos».

«O UCU tem um orgulho enorme em alcançar este acordo com a OU, depois de muitos anos de trabalho duro, e, apesar de sabermos que há muito por fazer, celebramos este passo gigante para acabar com a precariedade», disse, citada pelo Morning Star.

Ainda neste Verão, o sindicato vai realizar plenários em que os trabalhadores vão decidir uma eventual greve em Novembro próximo. Estão envolvidos 80 mil filiados de 149 faculdades e universidades.

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«Ninguém faz greve de ânimo leve», disse. «Se houver greves em diferentes sectores este Inverno, o governo é o único responsável», apontou, citada pelo Morning Star.

Neste sentido, pediu ao governo e às empresas que se empenhem em «negociações salariais com conteúdo», lamentado que este governo conservador as esteja a evitar. «Os ministros parecem mais interessados em fazer escalar os conflitos do que em resolvê-los», denunciou.

A secretária-geral do TUC disse ainda que, «onde os sindicatos têm a possibilidade de negociar com o patronato, estão a alcançar resultados – desde os autocarros até à BT».

«Com ou sem recessão, os trabalhadores têm de se organizar e lutar», frisou.

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Isto reitera as conclusões da StepChange, a maior instituição de beneficência na área do aconselhamento sobre dívidas no Reino Unido, que disse ao The Guardian que há mais pessoas a usar velas ou a não ligar o fogão «porque têm receio das contas».

O inquérito da Citizens Advice, realizado pelo Public First abrangendo 2000 pessoas adultas entre 5 e 9 de Dezembro, mostrou que quase um quarto dos inquiridos (23%) gastou mais dinheiro em bens essenciais do que aquele que tinha recebido durante os últimos três meses.

Mais de dois terços (67%) disseram que, sem um apoio extra, só poderiam continuar a fazer isto por um período de seis meses ou menos.

Um terço dos inquiridos disse que teve de recorrer às poupanças nos últimos três meses para sobreviver e mais de metade (56%) deste grupo afirmou que já não tinha poupanças ou esperava que isso acontecesse nos próximos três meses.

Um aspecto destacado pela Citizens Advice é que o stress financeiro prolongado está a fazer mossa, com 28% dos inquiridos a dizerem que perderam o sono, pelo menos uma vez por semana, por causa das suas finanças.

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EUA: pobreza nas cidades e milhões para a Ucrânia

Detroit, Cleveland, Filadélfia e Los Angeles estão entre as dez urbes «mais carentes» do país, com índices de exclusão e pobreza. Já a Ucrânia, se fosse um estado dos EUA, seria o 11.º a receber mais fundos.

Créditos / The Hill

Grandes cidades como Detroit, Cleveland, Filadélfia e Los Angeles encontram-se entre as dez «mais necessitadas» nos Estados Unidos, revelou o diário The Hill, tendo por base um relatório realizado pelo portal de finanças WalletHub.

O estudo classificou 182 cidades norte-americanas tendo em conta 28 indicadores económicos, que incluem pobreza infantil, pobreza, insegurança alimentar, população sem-abrigo, qualidade habitacional, entre outros.

Detroit, onde um em cada cinco inquilinos foi despejado ao longo deste ano, ocupa o primeiro lugar na lista de cidades que precisam de maior ajuda, refere a fonte.

Segue-se a cidade de Brownsville (estado do Texas), onde um quarto da população vive em situação de pobreza, «o dobro da média nacional», e Cleveland, onde a taxa de pobreza se situa nos 29% (tornando-a, depois de Detroit, a segunda cidade grande mais pobre do país norte-americano).

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Norte-americanos têm mais dificuldades em pagar as contas do que na pandemia

O número de cidadãos norte-americanos que têm dificuldades em pagar as contas é hoje maior do que no pico da pandemia de Covid-19, em 2020, revela o Gabinete de Censos dos EUA.

Cartaz colado na baixa de Seattle, estado de Washington, EUA, pede a suspensão do pagamento de rendas, a 26 de Março de 2020 
CréditosStephen Brashear / EPA

A percentagem que declara estar a ter dificuldades para pagar as suas despesas ultrapassou os níveis registados no pico da Covid-19, há dois anos, revela uma pesquisa da entidade responsável pelos censos (US Census Bureau), sublinhando o peso financeiro dos aumentos de preços nos orçamentos familiares.

Na pesquisa, realizada no final de Junho e no início deste mês, quatro em cada dez adultos afirmam que tem sido algo ou bastante difícil cobrir as despesas domésticas habituais.

É o número mais elevado de cidadãos que expressam dificuldades desde que o Censo começou a colocar a questão, em Agosto de 2020, indica o portal bloomberg.com.

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Filas da fome em Nova Iorque: mais de 1,5 milhão dependem de ajuda

Cerca de 1,5 milhão de nova-iorquinos recorrem aos bancos alimentares para conseguir sobreviver. A pandemia agravou a desigualdade e a pobreza nos EUA: mais oito milhões de pobres desde Maio.

Créditos / @CityHarvest

A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona as debilidades do sistema sanitário e económico nos Estados Unidos da América. Milhões ficaram sem trabalho e viram-se em situação de pobreza. As desigualdades inerentes ao sistema aprofundaram-se e Nova Iorque foi e é uma das cidades mais afectadas.

Na Primavera, numa das fases de maior impacto do surto, muitos agricultores do estado de Nova Iorque viram-se forçados a parar as colheitas ou a deitá-las fora, ao deixarem de ter como escoar a produção, na sequência do encerramento da grande maioria das lojas e restaurantes que abasteciam.

Em Nova Iorque, muitos trabalhadores perderam o emprego e ficaram sem rendimentos, tendo começado a recorrer aos bancos alimentares da cidade para fazer frente à fome e sobreviver.

As filas que então se viam junto aos bancos alimentares – e que hoje continuam a existir – «mostraram que as políticas alimentares para a cidade mais habitada do país eram insuficientes», afirma o portal lacalletv.com, e deixaram ver igualmente que o estado «nunca esteve preparado» para «enfrentar uma crise desta dimensão», também a nível sanitário, «embora o governador Cuomo tenha então afirmado que Nova Iorque tinha o melhor sistema de saúde do país».

Actualmente, cerca de um 1,5 milhão de nova-iorquinos dependem dos bancos alimentares da cidade para poderem subsistir, revelou uma reportagem recente do diário espanhol El País.

Entre Março e Agosto, com a crise sanitária, os bancos alimentares nova-iorquinos receberam 12 milhões de visitas, cerca de três milhões ou 36% mais que o registado em igual período do ano anterior, segundo revelou a organização não governamental City Harvest.

«Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários»

A procura de comida grátis é tal que foi criada uma aplicação online para procurar despensas comunitárias por zonas. Estes dados são reveladores da dimensão da crise que a cidade atravessa, num caldo em que se misturam pandemia de Covid-19, capitalismo, desigualdade, desemprego e pobreza.


Neste contexto, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, realizou um estudo segundo o qual pelo menos oito milhões de norte-americanos passaram a viver em situação de pobreza desde Maio último, quando terminou o plano de ajudas económicas, como um cheque de 1200 dólares e um subsídio extra mensal de 600 dólares para os desempregados.

Em declarações ao jornal espanhol, Jessica Ramos, senadora democrata pelo estado de Nova Iorque, expressou a dimensão «preocupante» da pobreza na cidade: «Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários, e hoje, no melhor dos casos, são vendedores ambulantes e com isso não podem alimentar a sua família», disse, referindo-se ainda a «muitas pessoas que, por não terem documentos, não podem pedir ajuda».

«Ainda que a pandemia seja uma novidade, não o é o défice estrutural, ignorado durante demasiados anos, e que a Covid apenas ajudou a pôr em destaque», afirmou.

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Isto significa que há mais de 90 milhões de famílias com problemas nos Estados Unidos, quando há um ano eram 60 milhões.

Quando o Gabinete de Censos colocou a questão pela primeira vez, em 2020, um terço dos inquiridos afirmaram estar a passar por dificuldades para pagar as despesas domésticas comuns.

Depois, esse número caiu, mas, quando a ajuda governamental terminou e a inflação se impôs, o número de pessoas a declarar dificuldades voltou a aumentar, há cerca de um ano.

A 1 de Setembro termina a moratória sobre a cobrança de dívidas a estudantes, declarada no âmbito da Covid-19, pelo que se estima que milhões de lares passem a debater-se com uma despesa extra, refere a fonte.

De acordo com a pesquisa, o «stress financeiro» aumentou significativamente nas grandes áreas metropolitanas do país. Em Dallas, por exemplo, a percentagem de inquiridos que declaram ter dificuldades em pagar as contas subiu de 27,9%, há um ano, para 45,9%. Em Detroit, registou-se um aumento de quase 20 pontos percentuais no mesmo período.

Um relatório recente do Controlador do estado de Nova Iorque, Thomas DiNapoli, revelou que um em cada oito residentes tinham pagamentos de facturas de serviços públicos em atraso, a partir de Março. Mais de 1,2 milhões de utentes devem 1,8 mil milhões de dólares, neste estado da Costa Leste, sendo que os residentes na cidade de Nova Iorque representam 68% do total.

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Em Portland, antes comida a apodrecer do que na barriga dos necessitados

Cerca de uma dezena de polícias enfrentaram, esta terça-feira, um grupo de pessoas que tentavam retirar do lixo a comida que um hipermercado tinha deitado fora na cidade de Portland, no Noroeste dos EUA.

Uma pessoa com comida retirada de um contentor junto a uma loja da Fred Meyer, em Portland, EUA, no dia 16 de Fevereiro de 2021
CréditosJuniper Simonis / Twitter

Na terça-feira, funcionários de uma loja da cadeia Fred Meyer, localizada no bairro de Hollywood, em Portland, tiveram de deitar fora milhares de produtos perecíveis porque a loja, como outras na região, foi afectada por um apagão que a deixou sem electricidade, na sequência de uma tempestade.

Nas redes sociais, surgiram imagens e vídeos de dois grandes contentores cheios de comida embalada, pacotes de sumo e produtos lácteos.

Por volta das 14h30, começaram a aparecer pessoas com o intuito de levar alguns dos produtos desperdiçados. Mas, pouco tempo depois, várias pessoas reportaram a presença de agentes da Polícia de Portland junto aos contentores, para as impedir de retirar a comida.

De acordo com a Polícia, os agentes responderam a uma chamada de um funcionário da Fred Meyer, cerca das 16h, na qual este terá afirmado que a situação estava a «ficar fora de controlo». Ainda segundo a Polícia, quando os agentes chegaram ao local, o funcionário disse-lhes que «a comida estava estragada e imprópria para consumo ou doação».

Por seu lado, Morgan Mckniff, residente no bairro, disse que os empregados já estavam a guardar os contentores quando as pessoas apareceram para levar a comida para ali atirada. Então, começou a filmá-los e estes ameaçaram chamar a Polícia – algo que o responsável da loja fez pouco depois, informa The Oregonian.

Ter-se-ão juntado umas 15 pessoas no local, segundo o residente em Hollywood, que acusa a Polícia de ter ido para ali para impedir que elas pudessem levar a comida.

Uma atitude difícil de «racionalizar»

Juniper Simonis, bióloga e jornalista que acorreu ao local para documentar a presença policial, disse que, quando apareceram, os agentes ameaçaram prender quem ali estava e que as pessoas foram para o outro lado da rua, informa o jornal.

Depois de lhes mostrar a carteira de jornalista, Simonis aproximou-se para tirar fotografias, mas a Polícia ameaçou detê-la se não se fosse embora. «Eu estava a documentar a Polícia, não o que estava nos contentores», disse Simonis a The Oregonian.

Os agentes acabaram por se ir embora e, por volta das 18h30, cerca de duas dezenas de pessoas regressaram aos contentores, levando cada qual vários produtos. Os funcionários do Fred Meyer voltaram a chamar a Polícia, mas esta não voltou ao local.

Simonis disse que a comida estava ainda em boas condições, até por causa do muito frio. Tanto ela como Mckniff sublinharam que tentar impedir as pessoas de levar a comida dos contentores é revelador do valor que a cidade atribui à ajuda a quem dela necessita.

As pessoas apareceram porque, com a tempestade e o apagão, muitos ficaram sem nada nos frigoríficos. Simonis sublinha ainda que havia pessoas ali «sem ser por razões egoístas» e que algumas pessoas junto dos contentores fazem parte de grupos que dão ajuda e recursos em centros de acolhimento.

Para a jornalista, é difícil «racionalizar» a acção da Polícia e da loja. «Nada disto faz sentido excepto através da lente do policiamento severamente arraigado e de uma cultura de desrespeito pela dignidade humana», disse.

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Em média, os residentes do estado de Nova Iorque passaram a dever o dobro em dois anos: 768 dólares, em Março de 2020; 1467 dólares em Março último.

«Os efeitos da pandemia continuam a ser sentidos em múltiplos aspectos da vida, incluindo o elevado número de nova-iorquinos que continuam a ter problemas em pagar as suas contas de serviços públicos», disse DiNapoli no relatório.

A nível dos EUA, os dados da mais recente pesquisa do Censo mostram que mais de um terço dos lares reduziram ou evitaram despesas em necessidades básicas, como medicamentos ou alimentação, para pagar facturas de energia.

Além disso, mais de uma em cada cinco famílias mantiveram as suas casas a temperaturas que pareceram inseguras ou não saudáveis pelo menos um mês; uma fatia semelhante não foi capaz de pagar pelo menos uma parte de uma factura de energia.

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Outras grandes cidades que apareceram nesta lista são Filadélfia (em sétimo lugar e com um registo de 500 homicídios em 2022), Nova Orleães (em oitavo lugar e com a taxa de homicídios mais elevada do país) e Los Angeles, que surge no nono posto. «Apesar de toda a sua riqueza […], mais de 40 mil cidadãos vivem ali nas ruas», refere The Hill.

Outro dado apontado pelo estudo é que cinco cidades partilham o primeiro lugar no que respeita a população sem-abrigo: Fresno e São Francisco, na Califórnia; Nova Iorque; Washington, D.C., e Honolulu.

Já Gulfport (estado do Mississippi), onde um quarto da população vive em situação de pobreza, é, de acordo com o estudo, a cidade norte-americana com maiores problemas de insegurança alimentar.

A Ucrânia recebe mais fundos federais que 40 estados do país

Um texto divulgado há uma semana pelo Quincy Institute for Responsible Statecraft alerta que o enorme apoio financeiro atribuído pelos Estados Unidos à Ucrânia ofusca a despesa com «as prioridades internas».

Os autores do texto afirmam que Washington já tinha atribuído 68 mil milhões de dólares a Kiev, pelo que a «ajuda» mais recente aprovada pelo Congresso, no valor de 45 mil milhões, elevaria para mais de 113 mil milhões de dólares a despesa dos EUA com a Ucrânia desde o início da guerra.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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Os autores referem-se a esta verba como «dinheiro dos contribuintes norte-americanos» e, para ajudar a contextualizar o seu valor, afirmam que, se a Ucrânia fosse um estado do país, seria o 11.º em termos de fundos federais que recebe, segundo os próprios dados do governo sobre a despesa.

«Por outras palavras, nos últimos 12 meses, a Ucrânia recebeu mais dólares dos contribuintes norte-americanos que 40 estados dos EUA», afirmam.

Ainda a situar a verba, o texto afirma que a ajuda dada pela administração de Joe Biden à Ucrânia é mais do que qualquer país mundo gasta em despesas militares, com excepção dos Estados Unidos e da China.

Os 113 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia – refere ainda o texto – são quase tanto como o que a Lei atribui para despesa de referência ao Departamento de Estado e ao Departamento de Segurança Nacional juntos, e pouco menos que os 118,7 mil milhões de dólares que os EUA devem gastar em cuidados médicos com todos os veteranos militares.

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«Milhões de famílias estão num ponto de ruptura financeiro: esgotando as suas poupanças, ficando sem o essencial e recorrendo a bancos alimentares para sobreviver», disse a directora executiva da Citizens Advice, Dame Clare Moriarty.

«Estamos a ver um número sem precedentes de pessoas a dirigir-se a nós para pedir ajuda em caso de crise e esta pesquisa mostra que as pessoas não podem apertar mais o cinto», acrescentou, pedindo que o governo britânico estabeleça um plano claro sobre a forma como vai ajudar as pessoas com dificuldades, tendo em conta os preços dos alimentos e da energia.

Na mensagem de Ano Novo, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, sublinhou que os problemas do país não vão desaparecer em 2023, nomeadamente por causa da pandemia e da guerra na Ucrânia.

No entanto, com os compatriotas a enfrentarem uma «crise de custo de vida» e uma desvalorização salarial sem precedentes em várias décadas, Sunak não se tem cansado de afirmar, nos últimos meses, que o Reino Unido irá manter o apoio militar e financeiro à Ucrânia, «all the way».

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Revie, que considera «extremamente preocupantes» os dados sobre o número crescente de pessoas que se vêem obrigadas a pedir ajuda aos bancos alimentares, defende medidas da parte do governo britânico para travar este crescimento.

O sindicato Unite, que leva a cabo a campanha Unite for a Workers' Economy contra a pobreza alimentar, considera que a indiferença do governo e a ganância das grandes empresas estão no centro do problema.

Clare Peden, da Unidos por uma Economia dos Trabalhadores, sublinha que «a alimentação não é um luxo, é um direito; no entanto, cada vez mais pessoas vivem situações de pobreza alimentar». Isto, acrescentou, «num contexto de especulação excessiva e de enormes pagamentos ao patronato».

Neste sentido, apontou a necessidade de organização dos trabalhadores e das comunidades, para exigir «algo melhor».

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Neste contexto, a economista Karen Ward, assessora do ministro das Finanças, Jeremy Hunt, defendeu que o Banco de Inglaterra deve «criar uma recessão», de modo a criar desemprego, controlar a inflação e quebrar a chamada espiral preço-salário, em que as empresas aumentam os preços, forçando os trabalhadores a exigirem aumentos salariais, o que significa que as empresas aumentam ainda mais os preços para pagar esses novos salários.

É preciso um plano para defender os trabalhadores

Pelo contrário, Paul Nowak, secretário-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), disse que não são os aumentos dos salários que estão a causar a inflação, com os salários reais bem atrás «de onde deviam estar para colocar os níveis de vida onde estavam há uma década».

«Após mais de uma década de estagnação salarial, os trabalhadores continuam a empobrecer a cada mês que passa», denunciou Nowak.

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Grande parte dos britânicos teria dificuldades em fazer frente a mais despesas

Num momento em que muitos britânicos estão a comer refeições frias, 73% disseram que seria difícil, muito difícil ou impossível fazer frente a um aumento de 20 libras nas suas despesas mensais.

Créditos / independent.co.uk

Mais de um terço dos adultos (37%) do Reino Unido consideram difícil lidar com um aumento de 20 libras nas suas despesas mensais, num contexto em que a «crise do custo de vida» atinge fortemente as finanças domésticas.

Num inquérito realizado para a organização Citizens Advice, 37% dos adultos disseram que teriam dificuldades em arranjar mais 20 libras, 25% acharam que seria «um tanto difícil», enquanto 7% disseram que seria «muito, muito difícil» e 4% «impossível», revelou The Guardian.

O organismo disse que as pessoas estão a recorrer cada vez mais a medidas desesperadas para sobreviver, como comer apenas refeições frias.

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O'Grady: «Os trabalhadores britânicos têm de se organizar e lutar»

Dados oficiais mostram que os salários subiram no Reino Unido, mas bem abaixo da inflação. Este é «o pior ano para o crescimento real dos salários em quase meio século», alerta uma dirigente sindical.

Créditos / express.co.uk

De acordo com o Gabinete Nacional de Estatística (ONS, na sigla em inglês), os salários cresceram 6,1% nos três meses até Outubro, sobretudo no sector privado.

No entanto, este crescimento é amplamente superado pelo aumento crescente dos preços e fica bem atrás da taxa de inflação, agora nos 11,1%, deixando em evidência as dificuldades dos trabalhadores para fazer frente ao custo de vida, sobretudo os do sector público.

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«Os lucros deles são os nossos salários não pagos»: ferroviários britânicos em greve

Os trabalhadores da ferrovia fizeram greve por não haver acordo com as empresas que operam no sector. Exigem aumentos salariais, melhores condições de trabalho e garantias de que não serão despedidos.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, num piquete de greve em Junho último 
Créditos / morningstaronline.co.uk

Embora a paralisação desta quarta-feira não tenha tido a dimensão da greve de três dias realizada em Junho, o serviço ferroviário viu-se bastante afectado nos vários territórios do Reino Unido.

Segundo revela a imprensa, nas redes nacionais circulou apenas um em cada cinco comboios – e nalguns casos não se registou qualquer circulação –, tendo a conta a adesão à greve de maquinistas, sinalizadores e outros funcionários.

A paralisação abrangia os trabalhadores filiados no sindicato RMT que laboram na Network Rail e em 14 operadores privados, bem como os trabalhadores organizados no sindicato TSSA que trabalham para a empresa Avanti West Coast.

Em declarações à BBC, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, disse que a paralisação se deve às empresas que operam no sector, uma vez que a sua atitude conduziu ao fracasso nas negociações com os representantes dos trabalhadores.

«Não nos apresentaram nenhuma proposta sobre salários, nem nos deram garantias de que não haverá despedimentos em massa», afirmou Lynch.

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Reino Unido: democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais

Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, denunciou a legislação anti-greve do governo britânico 
Créditos / morningstaronline.co.uk

«Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter.

Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor».

«A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch.

«Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia.

«Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star.  

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Reino Unido: alertas face ao avanço na privatização da saúde pública

Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública.

Protesto contra a privatização do NHS no Reino Unido 
Créditos / keepournhspublic.com

À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados.

Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários.

A grande maioria dos britânicos opõe-se à privatização do serviço nacional de saúde / The Guardian

Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS.

O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm.

Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público.

O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano.

«Esta não é a receita de que necessitamos»

Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS».

Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados.

De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados.

Imagem da campanha contra o projecto de lei do governo britânico na área da Saúde / campanha We Own It

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no NHS»

Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch.

Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública.

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson.

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Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre».

«A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou.

O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços.

«Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady.

Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares

Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais».

O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70».

As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos.

Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia».

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém».

Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas.

Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito.

A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras.

É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss.

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«O sindicato continuará a negociar de boa-fé, mas não se deixará intimidar por ninguém», disse ainda Lynch, em alusão às ameaças veiculadas por representantes das empresas.

Sublinhou também a necessidade de o governo conservador britânico «deixar de interferir nas negociações, para que possa haver um acordo entre as empresas do sector e os trabalhadores».

A este propósito, a secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, acusou o secretário dos Transportes do executivo britânico, Grant Shapps, de ter bloqueado as negociações que podiam ter evitado a greve.

«Todos nós queremos ver negociações bem-sucedidas para pôr fim a este conflito», disse O'Grady, que acusou Shapps de ter dado «instruções secretas» às empresas do sector ferroviário para que não chegassem a um acordo, indica o periódico Morning Star.

Entretanto, apesar de a direcção do Partido Trabalhista ter dado instruções aos seus membros para não apoiarem a greve, alguns deputados desafiaram essa orientação e dirigiram-se a estações e outros locais onde havia piquetes, em solidariedade com os trabalhadores.

Jeremy Corbyn, ex-líder dos trabalhistas (2015-2020) e agora deputado independente, esteve com um piquete de greve em Euston (Londres), tendo afirmado os trabalhadores da ferrovia falam por muita gente no país.

Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres? Os trabalhadores não estão para isso

Num texto publicado no Morning Star, Sarah-Jane McDonough, do sindicato TSSA, pergunta: «Quanto tempo mais espera o governo que os trabalhadores aceitem que os ricos fiquem mais ricos enquanto nós ficamos mais pobres?»

E acrescenta que aqueles que «lucram com a nossa exploração» receberam com «fingida surpresa» a exigência de aumentos salariais.

Trabalhador em greve num piquete, em Junho de 2022, segura um cartaz em que se lê «Cortem nos lucros, não nos empregos e nos serviços» / PBS

«Isso não os devia surpreender de todo. Mais e mais trabalhadores estão a perceber que os lucros das empresas privadas são os salários não pagos dos trabalhadores e que essa injustiça existe há demasiado tempo», afirma.

McDonough aponta a vontade de despedir trabalhadores, a falta de manutenção na rede, a pouca propensão para aumentar salários e contrapõe a isso os lucros de muitos milhões de libras que as empresas privadas têm estado a fazer com a concessão do sector ferroviário no Reino Unido.

«O dinheiro está lá e sempre esteve. Esta acção [sindical] não é apenas sobre os salários, termos e condições dos trabalhadores filiados no TSSA e no RMT no sector ferroviário, mas faz parte de um quadro muito maior», frisa a sindicalista.

Em seu entender «a situação económica que vivemos hoje não é tanto uma crise de "custo de vida", mas uma crise de lucro privado cujo custo a classe dominante espera que os trabalhadores paguem».

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Frances O'Grady, secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), disse ao Morning Star que 2022 foi o «pior ano de sempre no que respeita ao crescimento real dos salários em quase meio século».

Uma análise publicada pela estrutura sindical, com base nos números oficiais, revela que os trabalhadores perderam, em média, 74 libras por mês, em 2022, em virtude de os seus salários não acompanharem o ritmo da inflação. Trata-se da desvalorização real mais acentuada desde 1977 e a segunda pior desde o final da Segunda Guerra Mundial.

No estudo, o TUC sublinha que o facto de o governo conservador ter decidido manter baixos os salários do sector público significa que os trabalhadores-chave sentem o impacto de forma desproporcional.

«As vítimas de uma década de "cortes salariais" (pessoal do NHS [serviço público de saúde], assistentes sociais, funcionários da administração local, professores e outros) perderam também em média 180 libras por mês desde Janeiro», diz o texto.

«Estamos à beira de uma recessão» e «o governo tem de agir»

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Trabalhadores dos correios britânicos em vaga de greves até ao Natal

Mais de 100 mil trabalhadores dos Royal Mail estão em greve, a nível nacional, por melhores salários. Uma grande manifestação em frente ao Parlamento marcou o início da luta.

Milhares de trabalhadores dos correios, representando mais de 100 mil grevistas nos Royal Mail, concentraram-se em frente ao Parlamento britânico para reforçar a sua exigência de melhores salários. Londres, 9 de Dezembro de 2022
CréditosANDY RAIN / EPA

O Sindicato dos Trabalhadores das Comunicações (Communications Workers Union/CWU) anunciou para os dias 9, 11, 14, 15, 23 e 24 de Dezembro uma greve nacional dos trabalhadores postais por melhores salários e condições de trabalho, que se espera venha a causar disfunções na distribuição de correios neste período.

A convocação da luta decorre do falhanço das negociações com a administração dos Royal Mail por um aumento salarial que reponha as condições de vida perdidas pelos trabalhadores em 2022.

Para marcar o início da greve o CWU realizou um comício em Wetsminster, em frente ao Parlamento britânico, que reuniu cerca de 17 mil participantes e se tornou a maior manifestação de sempre de trabalhadores dos serviços postais no Reino Unido, segundo a PressTV.

O secretário-geral da CWU, Dave Ward, acusou os patrões de arriscarem «um colapso no Natal devido à sua intransigente recusa em tratar os seus empregados com respeito» e lembrou que os trabalhadores dos correios «sabem o seu valor».

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Trabalhadores dos correios continuam a lutar por melhores salários no Reino Unido

Os funcionários dos correios britânicos «vão lutar enquanto for preciso», até conseguirem melhores salários, condições e garantias de emprego, afirmou fonte sindical no primeiro de dois dias de greve.

Trabalhadores do Royal Mail participam num piquete de greve no Noroeste de Londres 
Créditos / Morning Star

Dave Ward, secretário-geral do Communication Workers Union (CWU), pediu ao governo de Rishi Sunak que interviesse no conflito que os trabalhadores filiados no sindicato – 115 mil – mantêm com o Royal Mail, insistindo: «Não vamos desistir», indica o periódico Morning Star.

O apelo foi realizado esta quinta-feira, quando dezenas de milhares de trabalhadores do Royal Mail iniciaram uma greve de 48 horas, no âmbito de uma luta que se arrasta há meses e que CWU considera vital para definir o futuro de um serviço com 500 anos de existência.

Dave Ward, que se juntou a um piquete de greve num ponto de entrega do Royal Mail em Camden (Norte de Londres), afirmou que «nenhum trabalhador e nenhum sindicato aceitaria os empregos, as perdas e as condições» que a empresa «está a associar ao futuro de uma indústria com a qual nos preocupamos».

Afirmando que o director executivo do Royal Mail «devia ser despedido», por «intimidar e provocar» os trabalhadores, o dirigente sindical sublinhou que o conflito que se arrasta não diz apenas respeito ao futuro do serviço postal (privatizado em 2013), mas é também sobre o que se passa no país, «sobre a forma terrível como alguns dos chamados líderes empresariais operam e são autorizados a destruir – escapando impunes – uma empresa como o Royal Mail».

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Trabalhadores em greve no Reino Unido contra a «uberização» dos correios

Por todo o país, os trabalhadores participaram em piquetes junto às estações e postos de triagem da Royal Mail, depois de as negociações salariais entre sindicato e empresa não terem avançado.

Trabalhadores dos correios em greve em Felixstowe 
Créditos / Communication Workers Union

Milhares de trabalhadores dos serviços postais participaram, esta sexta-feira, no primeiro de dois dias de greve convocados pela estrutura sindical Communication Workers Union (CWU).

O sindicato, com 115 mil trabalhadores do sector filiados, denunciou os planos de «uberização» da Royal Mail e mobilizou os funcionários por melhores salários e condições de trabalho.

Trata-se, de acordo com a organização, da maior greve deste ano, estando previstas mais 19 ao longo dos meses de Outubro e Novembro, depois de as mais recentes negociações não terem produzido avanços, refere o periódico Morning Star.

Em declarações à imprensa, o secretário-geral do CWU, Dave Ward, disse: «Os trabalhadores deste país não aceitaram docilmente que as suas vidas sejam pioradas para benefício de alguns ricos.»

Trabalhadores participam num piquete do CWU junto a uma estação do Royal Mail em Londres / Al Jazeera

«Estamos a assistir a uma onda nacional de raiva da parte de trabalhadores que estão fartos de uma elite empresarial incompetente que quer destruir uma grande instituição, piorar as condições de trabalho e prejudicar as populações que os nossos filiados servem», acrescentou o dirigente sindical.

Ward frisou que os trabalhadores «jamais aceitarão a uberização da Royal Mail, nem os utentes, que nos apoiaram de uma forma sem precedentes nos últimos meses».

19 dias de greve «equivalem à raiva que os trabalhadores sentem»

Sobre o anúncio de mais 19 dias de greve nos próximos meses, até ao Natal, Ward disse que se tratava de um anúncio «significativo» e que «equivale ao nível de raiva que os trabalhadores sentem» pela forma como foram tratados pela empresa.

«O director-executivo do Grupo Royal Mail está a tratar os trabalhadores como se fossem estúpidos», criticou, sublinhando que foram eles que «mantiveram o país ligado e deram ao grupo um lucro recorde».

Em seu entender, os trabalhadores dos correios no Reino Unido estão a travar a batalha das suas vidas, «para salvar os seus empregos e o serviço postal que prestam a cada casa e empresa no país».

A empresa acusou o sindicato de estar a levar a cabo uma «demanda imprudente», alertando que estava a perder um milhão de libras por dia.

O CWU afirma que os patrões da Royal Mail «deixaram de ter controlo no vestiário» e que, se não se empenharem a fundo nas negociações com os representantes dos trabalhadores, a luta vai continuar.

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O CWU anunciou que, além da greve marcada para ontem e hoje e para dias 30 de Novembro e 1 de Dezembro, os trabalhadores dos correios devem também fazer greve nos dias 9, 11, 14, 15, 23 e 24 de Dezembro.

Após a reunião mais recente entre representantes dos trabalhadores e da administração do Royal Mail, a empresa afirmou que fez «melhorias substanciais» nas propostas, mas o CWU distanciou-se dessa perspectiva, repudiando a abordagem «agressiva» da empresa.

Ward disse que o Royal Mail, que se tinha mostrado preocupado em evitar grandes perturbações no serviço, não quis saber, e acrescentou que o sindicato jamais aceitaria que 115 mil trabalhadores – que mantiveram o país ligado durante a pandemia e fizeram milhões de lucros para os patrões e accionistas – «sofressem um golpe tão devastador nos seus rendimentos».

Para o CWU, as propostas avançadas pelo Royal traçam o fim da empresa como foi conhecida até aqui e esboçam «uma empresa não confiável, assente na economia precária, tipo Uber».

O sindicato exige um acordo que garanta aumentos salariais, estabilidade no emprego e uma «estratégia comercial alternativa», que, em seu entender, irá permitir ao Royal Mail crescer.

Greves em vários sectores

Professores, investigadores, académicos, funcionários administrativos, dos serviços de limpeza e da alimentação nas universidades do Reino Unido também fizeram greve, esta quinta-feira, por melhores salários e condições de trabalho, num contexto em que a inflação supera os 11% e de forte aumento do custo de vida.

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«Os lucros deles são os nossos salários não pagos»: ferroviários britânicos em greve

Os trabalhadores da ferrovia fizeram greve por não haver acordo com as empresas que operam no sector. Exigem aumentos salariais, melhores condições de trabalho e garantias de que não serão despedidos.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, num piquete de greve em Junho último 
Créditos / morningstaronline.co.uk

Embora a paralisação desta quarta-feira não tenha tido a dimensão da greve de três dias realizada em Junho, o serviço ferroviário viu-se bastante afectado nos vários territórios do Reino Unido.

Segundo revela a imprensa, nas redes nacionais circulou apenas um em cada cinco comboios – e nalguns casos não se registou qualquer circulação –, tendo a conta a adesão à greve de maquinistas, sinalizadores e outros funcionários.

A paralisação abrangia os trabalhadores filiados no sindicato RMT que laboram na Network Rail e em 14 operadores privados, bem como os trabalhadores organizados no sindicato TSSA que trabalham para a empresa Avanti West Coast.

Em declarações à BBC, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, disse que a paralisação se deve às empresas que operam no sector, uma vez que a sua atitude conduziu ao fracasso nas negociações com os representantes dos trabalhadores.

«Não nos apresentaram nenhuma proposta sobre salários, nem nos deram garantias de que não haverá despedimentos em massa», afirmou Lynch.

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Reino Unido: democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais

Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia.

Mick Lynch, secretário-geral do sindicato RMT, denunciou a legislação anti-greve do governo britânico 
Créditos / morningstaronline.co.uk

«Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter.

Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor».

«A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch.

«Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia.

«Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star.  

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Reino Unido: alertas face ao avanço na privatização da saúde pública

Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública.

Protesto contra a privatização do NHS no Reino Unido 
Créditos / keepournhspublic.com

À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados.

Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários.

A grande maioria dos britânicos opõe-se à privatização do serviço nacional de saúde / The Guardian

Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS.

O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm.

Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público.

O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano.

«Esta não é a receita de que necessitamos»

Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS».

Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados.

De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados.

Imagem da campanha contra o projecto de lei do governo britânico na área da Saúde / campanha We Own It

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no NHS»

Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch.

Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública.

«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson.

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Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre».

«A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou.

O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços.

«Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady.

Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares

Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais».

O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70».

As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos.

Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia».

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém».

Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas.

Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito.

A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia.

Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras.

É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss.

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«O sindicato continuará a negociar de boa-fé, mas não se deixará intimidar por ninguém», disse ainda Lynch, em alusão às ameaças veiculadas por representantes das empresas.

Sublinhou também a necessidade de o governo conservador britânico «deixar de interferir nas negociações, para que possa haver um acordo entre as empresas do sector e os trabalhadores».

A este propósito, a secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, acusou o secretário dos Transportes do executivo britânico, Grant Shapps, de ter bloqueado as negociações que podiam ter evitado a greve.

«Todos nós queremos ver negociações bem-sucedidas para pôr fim a este conflito», disse O'Grady, que acusou Shapps de ter dado «instruções secretas» às empresas do sector ferroviário para que não chegassem a um acordo, indica o periódico Morning Star.

Entretanto, apesar de a direcção do Partido Trabalhista ter dado instruções aos seus membros para não apoiarem a greve, alguns deputados desafiaram essa orientação e dirigiram-se a estações e outros locais onde havia piquetes, em solidariedade com os trabalhadores.

Jeremy Corbyn, ex-líder dos trabalhistas (2015-2020) e agora deputado independente, esteve com um piquete de greve em Euston (Londres), tendo afirmado os trabalhadores da ferrovia falam por muita gente no país.

Os ricos mais ricos e os pobres mais pobres? Os trabalhadores não estão para isso

Num texto publicado no Morning Star, Sarah-Jane McDonough, do sindicato TSSA, pergunta: «Quanto tempo mais espera o governo que os trabalhadores aceitem que os ricos fiquem mais ricos enquanto nós ficamos mais pobres?»

E acrescenta que aqueles que «lucram com a nossa exploração» receberam com «fingida surpresa» a exigência de aumentos salariais.

Trabalhador em greve num piquete, em Junho de 2022, segura um cartaz em que se lê «Cortem nos lucros, não nos empregos e nos serviços» / PBS

«Isso não os devia surpreender de todo. Mais e mais trabalhadores estão a perceber que os lucros das empresas privadas são os salários não pagos dos trabalhadores e que essa injustiça existe há demasiado tempo», afirma.

McDonough aponta a vontade de despedir trabalhadores, a falta de manutenção na rede, a pouca propensão para aumentar salários e contrapõe a isso os lucros de muitos milhões de libras que as empresas privadas têm estado a fazer com a concessão do sector ferroviário no Reino Unido.

«O dinheiro está lá e sempre esteve. Esta acção [sindical] não é apenas sobre os salários, termos e condições dos trabalhadores filiados no TSSA e no RMT no sector ferroviário, mas faz parte de um quadro muito maior», frisa a sindicalista.

Em seu entender «a situação económica que vivemos hoje não é tanto uma crise de "custo de vida", mas uma crise de lucro privado cujo custo a classe dominante espera que os trabalhadores paguem».

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Na Escócia, praticamente todas as creches e escolas do ensino primário e secundário fecharam, ontem, no âmbito de um dia de paralisação, por aumentos salariais, convocado pelo Educational Institute of Scotland (EIS), que representa cerca de 80% do pessoal docente na Escócia.

Pela valorização dos salários e contra a precariedade, os enfermeiros anunciaram que vão fazer greve nos dias 15 e 20 de Dezembro, depois de as negociações com o governo não terem chegado a bom porto.

Por seu lado, mais de 40 mil trabalhadores ferroviários filiados no sindicato RMT podem fazer greve nos dias 13, 14, 16 e 17 de Dezembro e 3, 4, 6 e 7 de Janeiro.

Ontem, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, reuniu-se com o ministro dos Transportes, Mark Harper, e, de acordo com a imprensa, foram feitos avanços. No entanto, Mick Lynch disse que a convocação das greves se mantém «até haver um resultado concreto».

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A disputa entre os trabalhadores e os Royal Mail começou no Verão passado, quando a administração da empresa rejeitou uma proposta sindical de aumentos que acompanhasse a inflação no Reino Unido – que atinge 11,1% e se tornou a mais elevada no país, durante os últimos 40 anos.

Os sindicatos, por sua vez, rejeitaram a contraproposta patronal de 9% e partiram para a luta. Até 16 de Novembro, oito dias de greve custaram à empresa 100 milhões de libras, segundo a administração.

A empresa, que este ano reportou uma perda de 219 milhões de libras entre Maio e Setembro, registou um lucro de 235 milhões de libras no ano anterior, no mesmo período.

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O país «está à beira de uma recessão danosa, com a ameaça da perda de um milhão de empregos», afirmou O’Grady, acrescentando que o governo britânico «tem de pôr dinheiro nos bolsos das pessoas – começando por aumentar o salário mínimo e atribuindo aos trabalhadores da administração pública um aumento que permita fazer frente ao custo de vida».

Tendo em conta as afirmações de membros do governo contra os sindicatos e os trabalhadores que lutam pelos direitos, a dirigente sindical disse que «é absurdo culpar os trabalhadores por lutarem por salários justos, quando é inegável a evidência de que o lucro desenfreado está a provocar uma inflação galopante e uma grave desigualdade económica, não os salários».

O’Grady acusou os gigantes do sector da energia de acumularem lucros de milhares de milhões quando as pessoas não conseguem aquecer as suas casas e disse que «não podemos ser um país onde o pessoal da Saúde e os docentes têm de recorrer aos bancos alimentares, enquanto os banqueiros da City recebem bónus ilimitados».

Sobre a vaga de greves deste ano no Reino Unido – a maior desde os anos 80 –, a dirigente sindical entende que tem lugar porque «os trabalhadores foram levados a um ponto de ruptura».

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Vitória contra a precariedade no ensino superior do Reino Unido

Milhares de professores associados têm agora um vínculo permanente com a Open University. Sindicatos referem-se ao facto como a maior vitória contra a precariedade no ensino superior no Reino Unido.

Membros do University and College Union (UCU) numa acção de luta em Glasgow, Escócia, por melhores salários, pensões e condições de trabalho, em Fevereiro de 2022 
Créditos / Morning Star

As negociações, conduzidas pelo University and College Union (UCU), chegaram a bom porto, na medida em que 4800 professores associados que antes trabalhavam na Open University (OU) de modo informal viram garantido o direito a um contrato permanente.

Com isto, passam a ter maior segurança laboral, além de um aumento salarial entre 10 e 15%, um período mais longo de férias e outros subsídios, refere o portal Peoples Dispatch.

Esta vitória seguiu-se a longas negociações com responsáveis da OU e está a ser classificada pelos sindicatos como o maior passo contra a precariedade no sector do ensino superior no Reino Unido, informa o periódico Morning Star.

O UCU, que, em conjunto com outros sindicatos, tem estado a organizar lutas a nível nacional contra cortes salariais e nas pensões, e a protestar contra a pesada carga de trabalho, fez um apelo a outras instituições universitárias para que acabem com a precariedade e vinculem de forma permanente, com contratos e todos os direitos, o seu pessoal académico.

Estima-se que 70 mil docentes estejam contratados de forma precária no sector e as lutas desenvolvidas são por estabilidade no trabalho, melhores salários e o fim das discriminações salariais.

Cartaz do sindicato UCU / Peoples Dispatch

Num inquérito realizado pelo UCU a 2700 trabalhadores em mais de 200 faculdades de Inglaterra, a maioria dos inquiridos (80%) disse ter hoje mais insegurança financeira do que há um ano e sete em cada dez afirmaram que estão a considerar abandonar o sector, a não ser que os salários sejam aumentados.

«Mais de quatro em dez (42%) disseram que o seu rendimento não cobre o custo de vida. Destes, dois terços (64%) disseram que aquecem as suas casas com menos frequência; dois em cinco (40%) disseram que limitam o uso de água quente e um quarto (25%) disse que saltam refeições», lê-se no resultado do inquérito publicado pelo sindicato.

A secretária-geral do UCU, Jo Grady, disse que «o novo contrato muda a vida dos 4800 professores associados, que passaram a contratos seguros e já não têm de se candidatar repetidamente aos seus empregos».

«O UCU tem um orgulho enorme em alcançar este acordo com a OU, depois de muitos anos de trabalho duro, e, apesar de sabermos que há muito por fazer, celebramos este passo gigante para acabar com a precariedade», disse, citada pelo Morning Star.

Ainda neste Verão, o sindicato vai realizar plenários em que os trabalhadores vão decidir uma eventual greve em Novembro próximo. Estão envolvidos 80 mil filiados de 149 faculdades e universidades.

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«Ninguém faz greve de ânimo leve», disse. «Se houver greves em diferentes sectores este Inverno, o governo é o único responsável», apontou, citada pelo Morning Star.

Neste sentido, pediu ao governo e às empresas que se empenhem em «negociações salariais com conteúdo», lamentado que este governo conservador as esteja a evitar. «Os ministros parecem mais interessados em fazer escalar os conflitos do que em resolvê-los», denunciou.

A secretária-geral do TUC disse ainda que, «onde os sindicatos têm a possibilidade de negociar com o patronato, estão a alcançar resultados – desde os autocarros até à BT».

«Com ou sem recessão, os trabalhadores têm de se organizar e lutar», frisou.

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Isto reitera as conclusões da StepChange, a maior instituição de beneficência na área do aconselhamento sobre dívidas no Reino Unido, que disse ao The Guardian que há mais pessoas a usar velas ou a não ligar o fogão «porque têm receio das contas».

O inquérito da Citizens Advice, realizado pelo Public First abrangendo 2000 pessoas adultas entre 5 e 9 de Dezembro, mostrou que quase um quarto dos inquiridos (23%) gastou mais dinheiro em bens essenciais do que aquele que tinha recebido durante os últimos três meses.

Mais de dois terços (67%) disseram que, sem um apoio extra, só poderiam continuar a fazer isto por um período de seis meses ou menos.

Um terço dos inquiridos disse que teve de recorrer às poupanças nos últimos três meses para sobreviver e mais de metade (56%) deste grupo afirmou que já não tinha poupanças ou esperava que isso acontecesse nos próximos três meses.

Um aspecto destacado pela Citizens Advice é que o stress financeiro prolongado está a fazer mossa, com 28% dos inquiridos a dizerem que perderam o sono, pelo menos uma vez por semana, por causa das suas finanças.

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EUA: pobreza nas cidades e milhões para a Ucrânia

Detroit, Cleveland, Filadélfia e Los Angeles estão entre as dez urbes «mais carentes» do país, com índices de exclusão e pobreza. Já a Ucrânia, se fosse um estado dos EUA, seria o 11.º a receber mais fundos.

Créditos / The Hill

Grandes cidades como Detroit, Cleveland, Filadélfia e Los Angeles encontram-se entre as dez «mais necessitadas» nos Estados Unidos, revelou o diário The Hill, tendo por base um relatório realizado pelo portal de finanças WalletHub.

O estudo classificou 182 cidades norte-americanas tendo em conta 28 indicadores económicos, que incluem pobreza infantil, pobreza, insegurança alimentar, população sem-abrigo, qualidade habitacional, entre outros.

Detroit, onde um em cada cinco inquilinos foi despejado ao longo deste ano, ocupa o primeiro lugar na lista de cidades que precisam de maior ajuda, refere a fonte.

Segue-se a cidade de Brownsville (estado do Texas), onde um quarto da população vive em situação de pobreza, «o dobro da média nacional», e Cleveland, onde a taxa de pobreza se situa nos 29% (tornando-a, depois de Detroit, a segunda cidade grande mais pobre do país norte-americano).

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Norte-americanos têm mais dificuldades em pagar as contas do que na pandemia

O número de cidadãos norte-americanos que têm dificuldades em pagar as contas é hoje maior do que no pico da pandemia de Covid-19, em 2020, revela o Gabinete de Censos dos EUA.

Cartaz colado na baixa de Seattle, estado de Washington, EUA, pede a suspensão do pagamento de rendas, a 26 de Março de 2020 
CréditosStephen Brashear / EPA

A percentagem que declara estar a ter dificuldades para pagar as suas despesas ultrapassou os níveis registados no pico da Covid-19, há dois anos, revela uma pesquisa da entidade responsável pelos censos (US Census Bureau), sublinhando o peso financeiro dos aumentos de preços nos orçamentos familiares.

Na pesquisa, realizada no final de Junho e no início deste mês, quatro em cada dez adultos afirmam que tem sido algo ou bastante difícil cobrir as despesas domésticas habituais.

É o número mais elevado de cidadãos que expressam dificuldades desde que o Censo começou a colocar a questão, em Agosto de 2020, indica o portal bloomberg.com.

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Filas da fome em Nova Iorque: mais de 1,5 milhão dependem de ajuda

Cerca de 1,5 milhão de nova-iorquinos recorrem aos bancos alimentares para conseguir sobreviver. A pandemia agravou a desigualdade e a pobreza nos EUA: mais oito milhões de pobres desde Maio.

Créditos / @CityHarvest

A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona as debilidades do sistema sanitário e económico nos Estados Unidos da América. Milhões ficaram sem trabalho e viram-se em situação de pobreza. As desigualdades inerentes ao sistema aprofundaram-se e Nova Iorque foi e é uma das cidades mais afectadas.

Na Primavera, numa das fases de maior impacto do surto, muitos agricultores do estado de Nova Iorque viram-se forçados a parar as colheitas ou a deitá-las fora, ao deixarem de ter como escoar a produção, na sequência do encerramento da grande maioria das lojas e restaurantes que abasteciam.

Em Nova Iorque, muitos trabalhadores perderam o emprego e ficaram sem rendimentos, tendo começado a recorrer aos bancos alimentares da cidade para fazer frente à fome e sobreviver.

As filas que então se viam junto aos bancos alimentares – e que hoje continuam a existir – «mostraram que as políticas alimentares para a cidade mais habitada do país eram insuficientes», afirma o portal lacalletv.com, e deixaram ver igualmente que o estado «nunca esteve preparado» para «enfrentar uma crise desta dimensão», também a nível sanitário, «embora o governador Cuomo tenha então afirmado que Nova Iorque tinha o melhor sistema de saúde do país».

Actualmente, cerca de um 1,5 milhão de nova-iorquinos dependem dos bancos alimentares da cidade para poderem subsistir, revelou uma reportagem recente do diário espanhol El País.

Entre Março e Agosto, com a crise sanitária, os bancos alimentares nova-iorquinos receberam 12 milhões de visitas, cerca de três milhões ou 36% mais que o registado em igual período do ano anterior, segundo revelou a organização não governamental City Harvest.

«Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários»

A procura de comida grátis é tal que foi criada uma aplicação online para procurar despensas comunitárias por zonas. Estes dados são reveladores da dimensão da crise que a cidade atravessa, num caldo em que se misturam pandemia de Covid-19, capitalismo, desigualdade, desemprego e pobreza.


Neste contexto, a Universidade de Columbia, em Nova Iorque, realizou um estudo segundo o qual pelo menos oito milhões de norte-americanos passaram a viver em situação de pobreza desde Maio último, quando terminou o plano de ajudas económicas, como um cheque de 1200 dólares e um subsídio extra mensal de 600 dólares para os desempregados.

Em declarações ao jornal espanhol, Jessica Ramos, senadora democrata pelo estado de Nova Iorque, expressou a dimensão «preocupante» da pobreza na cidade: «Não falamos de indigentes, mas de gente que tinha dois, três trabalhos precários, e hoje, no melhor dos casos, são vendedores ambulantes e com isso não podem alimentar a sua família», disse, referindo-se ainda a «muitas pessoas que, por não terem documentos, não podem pedir ajuda».

«Ainda que a pandemia seja uma novidade, não o é o défice estrutural, ignorado durante demasiados anos, e que a Covid apenas ajudou a pôr em destaque», afirmou.

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Isto significa que há mais de 90 milhões de famílias com problemas nos Estados Unidos, quando há um ano eram 60 milhões.

Quando o Gabinete de Censos colocou a questão pela primeira vez, em 2020, um terço dos inquiridos afirmaram estar a passar por dificuldades para pagar as despesas domésticas comuns.

Depois, esse número caiu, mas, quando a ajuda governamental terminou e a inflação se impôs, o número de pessoas a declarar dificuldades voltou a aumentar, há cerca de um ano.

A 1 de Setembro termina a moratória sobre a cobrança de dívidas a estudantes, declarada no âmbito da Covid-19, pelo que se estima que milhões de lares passem a debater-se com uma despesa extra, refere a fonte.

De acordo com a pesquisa, o «stress financeiro» aumentou significativamente nas grandes áreas metropolitanas do país. Em Dallas, por exemplo, a percentagem de inquiridos que declaram ter dificuldades em pagar as contas subiu de 27,9%, há um ano, para 45,9%. Em Detroit, registou-se um aumento de quase 20 pontos percentuais no mesmo período.

Um relatório recente do Controlador do estado de Nova Iorque, Thomas DiNapoli, revelou que um em cada oito residentes tinham pagamentos de facturas de serviços públicos em atraso, a partir de Março. Mais de 1,2 milhões de utentes devem 1,8 mil milhões de dólares, neste estado da Costa Leste, sendo que os residentes na cidade de Nova Iorque representam 68% do total.

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Em Portland, antes comida a apodrecer do que na barriga dos necessitados

Cerca de uma dezena de polícias enfrentaram, esta terça-feira, um grupo de pessoas que tentavam retirar do lixo a comida que um hipermercado tinha deitado fora na cidade de Portland, no Noroeste dos EUA.

Uma pessoa com comida retirada de um contentor junto a uma loja da Fred Meyer, em Portland, EUA, no dia 16 de Fevereiro de 2021
CréditosJuniper Simonis / Twitter

Na terça-feira, funcionários de uma loja da cadeia Fred Meyer, localizada no bairro de Hollywood, em Portland, tiveram de deitar fora milhares de produtos perecíveis porque a loja, como outras na região, foi afectada por um apagão que a deixou sem electricidade, na sequência de uma tempestade.

Nas redes sociais, surgiram imagens e vídeos de dois grandes contentores cheios de comida embalada, pacotes de sumo e produtos lácteos.

Por volta das 14h30, começaram a aparecer pessoas com o intuito de levar alguns dos produtos desperdiçados. Mas, pouco tempo depois, várias pessoas reportaram a presença de agentes da Polícia de Portland junto aos contentores, para as impedir de retirar a comida.

De acordo com a Polícia, os agentes responderam a uma chamada de um funcionário da Fred Meyer, cerca das 16h, na qual este terá afirmado que a situação estava a «ficar fora de controlo». Ainda segundo a Polícia, quando os agentes chegaram ao local, o funcionário disse-lhes que «a comida estava estragada e imprópria para consumo ou doação».

Por seu lado, Morgan Mckniff, residente no bairro, disse que os empregados já estavam a guardar os contentores quando as pessoas apareceram para levar a comida para ali atirada. Então, começou a filmá-los e estes ameaçaram chamar a Polícia – algo que o responsável da loja fez pouco depois, informa The Oregonian.

Ter-se-ão juntado umas 15 pessoas no local, segundo o residente em Hollywood, que acusa a Polícia de ter ido para ali para impedir que elas pudessem levar a comida.

Uma atitude difícil de «racionalizar»

Juniper Simonis, bióloga e jornalista que acorreu ao local para documentar a presença policial, disse que, quando apareceram, os agentes ameaçaram prender quem ali estava e que as pessoas foram para o outro lado da rua, informa o jornal.

Depois de lhes mostrar a carteira de jornalista, Simonis aproximou-se para tirar fotografias, mas a Polícia ameaçou detê-la se não se fosse embora. «Eu estava a documentar a Polícia, não o que estava nos contentores», disse Simonis a The Oregonian.

Os agentes acabaram por se ir embora e, por volta das 18h30, cerca de duas dezenas de pessoas regressaram aos contentores, levando cada qual vários produtos. Os funcionários do Fred Meyer voltaram a chamar a Polícia, mas esta não voltou ao local.

Simonis disse que a comida estava ainda em boas condições, até por causa do muito frio. Tanto ela como Mckniff sublinharam que tentar impedir as pessoas de levar a comida dos contentores é revelador do valor que a cidade atribui à ajuda a quem dela necessita.

As pessoas apareceram porque, com a tempestade e o apagão, muitos ficaram sem nada nos frigoríficos. Simonis sublinha ainda que havia pessoas ali «sem ser por razões egoístas» e que algumas pessoas junto dos contentores fazem parte de grupos que dão ajuda e recursos em centros de acolhimento.

Para a jornalista, é difícil «racionalizar» a acção da Polícia e da loja. «Nada disto faz sentido excepto através da lente do policiamento severamente arraigado e de uma cultura de desrespeito pela dignidade humana», disse.

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Em média, os residentes do estado de Nova Iorque passaram a dever o dobro em dois anos: 768 dólares, em Março de 2020; 1467 dólares em Março último.

«Os efeitos da pandemia continuam a ser sentidos em múltiplos aspectos da vida, incluindo o elevado número de nova-iorquinos que continuam a ter problemas em pagar as suas contas de serviços públicos», disse DiNapoli no relatório.

A nível dos EUA, os dados da mais recente pesquisa do Censo mostram que mais de um terço dos lares reduziram ou evitaram despesas em necessidades básicas, como medicamentos ou alimentação, para pagar facturas de energia.

Além disso, mais de uma em cada cinco famílias mantiveram as suas casas a temperaturas que pareceram inseguras ou não saudáveis pelo menos um mês; uma fatia semelhante não foi capaz de pagar pelo menos uma parte de uma factura de energia.

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Outras grandes cidades que apareceram nesta lista são Filadélfia (em sétimo lugar e com um registo de 500 homicídios em 2022), Nova Orleães (em oitavo lugar e com a taxa de homicídios mais elevada do país) e Los Angeles, que surge no nono posto. «Apesar de toda a sua riqueza […], mais de 40 mil cidadãos vivem ali nas ruas», refere The Hill.

Outro dado apontado pelo estudo é que cinco cidades partilham o primeiro lugar no que respeita a população sem-abrigo: Fresno e São Francisco, na Califórnia; Nova Iorque; Washington, D.C., e Honolulu.

Já Gulfport (estado do Mississippi), onde um quarto da população vive em situação de pobreza, é, de acordo com o estudo, a cidade norte-americana com maiores problemas de insegurança alimentar.

A Ucrânia recebe mais fundos federais que 40 estados do país

Um texto divulgado há uma semana pelo Quincy Institute for Responsible Statecraft alerta que o enorme apoio financeiro atribuído pelos Estados Unidos à Ucrânia ofusca a despesa com «as prioridades internas».

Os autores do texto afirmam que Washington já tinha atribuído 68 mil milhões de dólares a Kiev, pelo que a «ajuda» mais recente aprovada pelo Congresso, no valor de 45 mil milhões, elevaria para mais de 113 mil milhões de dólares a despesa dos EUA com a Ucrânia desde o início da guerra.

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Situação na Ucrânia é «guerra por procuração», admite ex-funcionário da Casa Branca

Um ex-funcionário do Departamento de Estado afirmou que existe uma «guerra por procuração» da NATO com a Rússia e que os soldados russos têm de «se render ou morrer» – «quantos mais e mais depressa, melhor».

Créditos / multipolarista.com

Eliot Cohen, que foi conselheiro de Condoleezza Rice entre 2007 e 2009, no Departamento de Estado da administração de George W. Bush, é conhecido como elemento da chamada «linha dura» entre os conservadores, tendo defendido a guerra contra o Irão e as agressões norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.

Num artigo publicado dia 14 na revista The Atlantic, Cohen louva a administração liderada pelo actual presidente norte-americano, Joe Biden, pelo «trabalho admirável» que realizou até agora em diversas frentes, nomeadamente ao «vencer a guerra de informação, mobilizar os aliados da NATO e impor sanções incapacitantes (embora incompletas) à economia russa».

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NATO e nazismo, uma irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. A associação entre a NATO e os nazi-fascismos é um facto.

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos mainstream media ocidentais como «nacionalistas ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi Wolfsangel na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo de Kiev, no Leste como no resto do país.
Créditos / twitter

Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália?

Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

«Que haverá de comum entre um grupo armado formado por membros das Waffen SS em Estados bálticos, designado Irmãos da Floresta, o regimento Azov da Guarda Nacional ucraniana, o emir do Daesh no Magrebe, de seu nome Abdelhakim Belhadj, e o mistério do armamento sofisticado descoberto recentemente num santuário neonazi em Turim, Itália? Por muito que seja considerada inadmissível pela comunicação mainstream e seus fiéis seguidores, a resposta é: NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte»

É a linguagem objectiva dos factos. E se contra factos pode haver quantos argumentos quiserem, todos eles serão rejeitados pela mais transparente realidade. As circunstâncias citadas têm em comum, sem dúvida, o culto do nazi-fascismo e, de uma maneira ou de outra, estão igualmente interligadas pela acção, protecção ou propaganda da NATO.

Vamos então a factos.

Os Irmãos da Floresta

A Segunda Guerra Mundial entrava na sua fase final quando foram criados os Irmãos da Floresta, grupos armados anticomunistas nascidos na Estónia, Letónia e Lituânia. Os membros, na sua maioria, foram recrutados entre os destacamentos locais das Waffen SS, integrados no aparelho de guerra hitleriano que tentou ocupar a União Soviética. Na Estónia, por exemplo, estes terroristas faziam juramento de fidelidade ao Fuhrer1.

Com a cumplicidade de serviços de espionagem de países ocidentais – nessa altura, formalmente em aliança com o lado soviético – os Irmãos da Floresta, ex-Waffen SS, foram reciclados como tampões contra o avanço do Exército Vermelho para Oeste depois de este ter vergado o nazismo na decisiva e sangrenta batalha de Estalinegrado.

Em suma, os Irmãos da Floresta, tal como os destacamentos bálticos das Waffen SS, tinham como missão, de facto, impedir que os soviéticos esmagassem completamente os nazis – o que também significava travar a libertação dos seres humanos que ainda sobreviviam nos campos da morte hitlerianos2.

«é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?»

Pois os Irmãos da Floresta são agora glorificados como heróis de uma gesta democrática, através de um documentário da NATO inserido no seu espaço de propaganda no YouTube. São oito minutos e alguns segundos de pura heroicidade ao melhor estilo de Hollywood, durante os quais os feitos dos Irmãos da Floresta são apresentados como inspiradores das forças especiais das repúblicas bálticas que agora «estão na linha da frente» contra a temível «ameaça russa». Afinal, hoje como ontem, explica-nos a NATO.

Só é pena que os propagandistas da aliança não tenham podido dedicar um segundo sequer às origens hitlerianas e terroristas da gloriosa irmandade – certamente por falta de tempo. Que outras razões haveria para esconder uma matriz tão inspiradora?3

O regimento Azov

Dos Estados bálticos para a Ucrânia, dos Irmãos da Floresta dos anos quarenta para o actual e activo regimento Azov, um bastião da «pureza rácica» ucraniana, como estipula o seu fundador, Andriy Biletski, aliás o «Fuhrer Branco». Pretende assim que os genes dos seus compatriotas «não se misturem com os de raças inferiores», cumprindo «a sua missão histórica de comandar a Raça Branca mundial na sua cruzada final pela sobrevivência».

Ao contrário do que possam pensar, isto não é folclore nem delírio sob efeito de qualquer fumo. O grupo nazi designado Batalhão Azov, e outros do género, receberam treino de instrutores norte-americanos e da NATO e foram decisivos no êxito do golpe «democrático» de 2014 na Praça Maidan, em Kiev. Depois disso, foram transformados em regimentos integrados na Guarda Nacional, o novo corpo militar nascido da «revolução» e que se tornou a guarda pretoriana do regime fascista patrocinado pela Aliança Atlântica, os Estados Unidos e a União Europeia4 .

O regimento Azov e outros grupos neonazis, inspirados pela figura de Stepan Bandera, um executor do genocídio hitleriano contra as populações ucranianas, tornaram-se corpos fundamentais na agressão do actual regime contra as populações ucranianas russófonas da região de Donbass.

Os membros do regimento Azov orgulham-se de posar com as bandeiras nazi e da NATO, dando-se assim a conhecer ao mundo.

A gratidão é uma atitude que nunca fica mal. Mesmo aos nazis.

Sob o regime actual em Kiev, a Ucrânia tornou-se, de facto, membro da NATO. Trata-se, como nos Estados bálticos, de combater a terrível «ameaça russa». Para executar tão nobre missão até o nazismo engrossa as hostes da «democracia».

Abdelhakim Belhadj

Embora desempenhando, desde 2015, a tarefa mais recatada e menos mediática de emir do Daesh, ou Estado Islâmico, no Magrebe, Abdelhakim Belhadj não desapareceu como figura de referência das transformações «libertadoras» que galoparam pelo Médio Oriente e Norte de África sob as exaltantes bandeiras das «primaveras árabes».

Abdelhakim Belhadj, para quem não se recorda, foi um dos chefes terroristas islâmicos que contribuíram, em aliança com a NATO, para «libertar a Líbia» do regime de Khaddafi. Houve-se tão bem da missão que a aliança fez dele «governador militar de Tripoli» logo que as hordas fundamentalistas tomaram a capital líbia.

Quando ainda mal aquecera o lugar, a tutela atlantista enviou-o para a Síria formar o «Exército Livre», o grupo terrorista «moderado» no qual os Estados Unidos e os seus principais parceiros da NATO apostaram inicialmente todas as fichas com o objectivo de «libertar Damasco».

Abdelhakim Belhadj recebeu honrarias dos Estados Unidos, outorgadas pelo embaixador na Líbia e pelo falecido senador McCain, então movendo-se febrilmente entre a Líbia, a Síria e a Ucrânia, onde foi um dos principais timoneiros do golpe de Maidan e das suas frentes nazis.

A partir de 2015, segundo a Interpol, Belhadj tornou-se emir do Daesh – o tão proscrito Estado Islâmico – no Magrebe.

Porém, cada vez que algum jornalista a sério mexe em acontecimentos da história recente arrisca-se a encontrar-se com a figura de Belhadj. Foi o que sucedeu com profissionais do jornal espanhol Publico: ao investigarem o envolvimento dos serviços de informações de Madrid (CNI) no atentado terrorista de 11 de Março de 2004, que provocou 200 mortos, depararam com outras situações que dizem muito sobre o tipo de «democracia» em que vivemos.

Segundo o próprio chefe do governo espanhol da época, José María Aznar – invasão do Iraque, lembram-se? –, Abdelhakim Belhadj foi um dos estrategos do atentado, embora nunca tenha sido preso nem julgado.

O curioso é que o atentado começou por ser atribuído à ETA e depois à al-Qaida; e que a maior parte dos operacionais detidos eram informadores dos serviços secretos espanhóis.

Mais curioso ainda é o facto de o tema do exercício europeu CMX 2004 da NATO, que decorreu de 4 a 10 de Março, tenha sido precisamente o da simulação de um atentado com as características do que aconteceu em 11 de Março na capital espanhola. «A semelhança do cenário elaborado pela NATO com os acontecimentos ocorridos em Madrid provoca calafrios na espinha e impressionou os diplomatas, militares e serviços de informações que participaram no exercício apenas algumas horas antes», escreveu o jornal El Mundo, inconformado com a tese que acabou por ficar para a história: atentado cometido por uma rede islamita sem ligações à al-Qaida.

Entre as névoas do caso avultam, porém, algumas circunstâncias que é possível focar: a declaração de Aznar envolvendo Abdelhakim Belhadj, que se revelou vir a ser uma aposta da NATO antes de ter ascendido ao topo do Estado Islâmico no Magrebe; e os dons proféticos desta mesma NATO, concebendo um tema para exercícios que se tornou realidade menos de 24 horas depois.

O santuário nazi de Turim

Há poucos dias, a polícia italiana descobriu um arsenal de armamento num santuário nazi em Turim, Itália.

O que à primeira vista poderia ser mais um armazém de velhas e nostálgicas recordações dos fãs do Fuhrer mudou de figura quando foram desembalados alguns sofisticados mísseis que não costumam estar ao alcance de pequenos e médios traficantes de armas.

Diz a imprensa italiana que os investigadores do caso seguiram pistas que conduziam até aos grupos nazis ucranianos mas não obtiveram dados consistentes. E provavelmente não encontrarão esses e outros elementos: a verdade é que as notícias sobre o assunto quase desapareceram. O caso é um nado-morto.

Já as redes clandestinas formadas pela NATO, do tipo Gládio, não estarão mortas, desafiando todas as propagandas, como recordaram alguns jornalistas italianos.

A história do arsenal está mal contada e, previsivelmente, será arquivada com celeridade; já o apoio da NATO aos grupos nazis ucranianos não suscita dúvidas: os próprios beneficiários o confessam. Porém, não é um auxílio que deva ser feito aos olhos de todos, tratando-se da NATO, uma aliança que existe para «defender a democracia» – a NATO só defende, nunca ataca, como se sabe. A verdade é que desde que passou de batalhão a regimento da Guarda Nacional o grupo terrorista Azov foi equipado com armas pesadas, incluindo tanques, que chegaram de algum lado. Talvez agora seja a hora dos mísseis, quem sabe? Ainda recentemente as forças policiais italianas e o regimento Azov assinaram um acordo de cooperação desbravando novos caminhos.

É provável que todas estas relações dêem os seus frutos; é improvável, porém, que cheguem ao conhecimento dos cidadãos comuns, tal como o desfecho do mistério dos mísseis nazis de Turim.

A grande irmandade

Irmãos da Floresta, regimento Azov, Abdelhakim Belhadj, o Estado Islâmico e o terrorismo «moderado», fornecimento clandestino de armamento sofisticado. Não é necessário escavar muito estas histórias, casos e mistérios para tropeçarmos na associação entre a NATO e os nazi-fascismos, duas correntes que, a acreditar na propaganda oficial, deveriam ser como a água e o azeite.

Afinal não. Trata-se de uma fluida cooperação nos tempos em que se fala no risco de uma nova guerra mundial e que traz raízes consolidadas na altura em que o anterior conflito ainda não tinha acabado.

É, como se percebe, uma grande e frutífera irmandade. Factos são factos.

  • 1. Note-se que os teóricos nazis atribuíam desde os anos 30, na sua propaganda, o estatuto de «raça superior» aos povos estónio e letão, facilitando a formação dos sanguinários esquadrões da morte bálticos integrados nas Waffen SS, tão ou mais temidos pelos povos e etnias que viviam no território soviético ocupado pela Alemanha nazi do que os próprios alemães.
  • 2. No período posterior à derrota hitleriana no Báltico os Irmãos da Floresta mantiveram-se activos até meados da década de 50. Actualmente, os próprios admiradores destes colaboradores nazis no Báltico reciclados reconhecem o carácter terrorista dos seus heróis, como é fácil de confirmar através do volume de baixas soviéticas nos anos de 1944-1958 no Báltico: mais de 25 mil civis foram assassinados e muitos torturados antes de executados, enquanto os polícias que combatiam os Irmãos da Floresta tiveram quatro mil baixas. Outro pormenor menos ventilado é que o maior apoio interno daquelas organizações provinha dos poderosos e ricos latifundiários da região, que tinham um profundo ódio aos camponeses que os tinham expropriado durante os anos da Revolução Russa. Após a deportação para a Sibéria, no final dos anos 40, da maioria dos grandes proprietários de terras no Báltico, a actividade dos Irmãos da Floresta decaiu consideravelmente, apesar de todos os esforços da CIA e dos serviços secretos britânicos para reactivá-los. O golpe final foi dado após a amnistia concedida pelas autoridades soviéticas após a morte de José Estaline, em 1953. O leitor terá de procurar em língua russa (mesmo que em sítios como a insuspeita Rádio Liberdade, financiada pelo governo americano) as fontes documentais sobre este assunto, visto os websites do Ocidente serem consideravelmente parcos a respeito destes dados e optarem habitualmente por uma visão puramente apologética dos Irmãos da Floresta, escondendo a sua verdadeira natureza.
  • 3. Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga em Março de 2019, como denunciou o AbrilAbril em artigo publicado na altura.
  • 4. O regimento Azov [ou «Batalhão Azov», ou muito simplesmente «Azov»] é uma organização paramilitar criada em 2014, durante os protestos da praça Euromaidan e do golpe de Estado que lhe foi subsequente. É enquadrado e remunerado pelo Ministério do Interior da Ucrânia como um dos membros da chamada Guarda Nacional, que confere poderes estatais a este e outros grupos fascistas ucranianos. Originalmente fundado como um grupo paramilitar voluntário, é acusado de ser uma organização neonazi e neofascista, além de estar envolvido em vários casos de abusos de direitos humanos e crimes de guerra leste da Ucrânia, principalmente em casos de torturas, estupros, saques, limpeza étnica e perseguição de minorias como homossexuais, judeus e russos. O Azov tem ligações a grupos nazi-fascistas internacionais, como em Itália ou no Brasil onde recruta combatentes na guerra que move contra as populações do Donbass, no leste da Ucrânia.
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E admite claramente que a NATO trava na Ucrânia uma «guerra por procuração», buscada pela Casa Branca. No entanto, critica a actual administração por não fazer o suficiente, defendendo que deve promover ainda mais a escalada do conflito.

Segundo refere o portal multipolarista.com, tendo por base informações divulgadas na imprensa dominante, a administração de Biden enviou para a Ucrânia mais de 17 mil armas anti-tanque, incluindo mísseis Javelin, e 2000 mísseis anti-aéreos Stinger – alguns dos quais foram parar directamente às forças neonazis do Batalhão Azov.

A mesma fonte indica que, depois de ter enviado para a Ucrânia, no final de Fevereiro, armas no valor de 350 milhões de dólares, a Casa Branca aprovou uma pacote de ajuda adicional no valor de 13,6 mil milhões de dólares, em Março, incluindo 6,5 mil milhões em apoio militar.

Uma «inundação» de armas

Para Eliot Cohen, isto não basta. «O fluxo de armas que entra na Ucrânia tem de ser uma inundação», escreveu em The Atlantic.

«Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão envolvidos numa guerra por procuração com a Rússia», disse. «Estão a fornecer milhares de munições e, esperemos, fazendo muito mais – partilhando inteligência, por exemplo – com o objectivo de matar soldados russos».

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Activistas norte-americanos protestam contra o negócio da guerra

Um grupo de pessoas manifestou-se, esta segunda-feira, na sede da empresa de armamento norte-americana Raytheon Technologies, em Cambridge, Massachusetts, contra o negócio da guerra.

Acção contra o negócio da guerra na sede da Raytheon, em Cambridge, Massachusetts 
Créditos@resist_abolish

No cimo da sede da Raytheon, cinco pessoas penduraram panos em que pediam o fim de todos os conflitos bélicos e denunciavam que a empresa em causa, um dos gigantes da indústria do armamento, lucra com a morte no Iémen, na Palestina e na Ucrânia [vídeo].

Outras, mais abaixo, mostraram faixas em que denunciavam o lucro da empresa com o «genocídio» e que os seus «mísseis matam civis».

De acordo com a informação divulgada na conta de Twitter da organização Resist and Abolish the Military Industrial Complex (RAM INC), a Polícia deteve as pessoas envolvidas na acção de protesto – que foram mais tarde libertadas.

Por um protesto realizado o ano passado à entrada das instalações da Raytheon em Portsmouth, no estado norte-americano de Rhode Island, a organização enfrenta uma multa de 3000 dólares, segundo informa na mesma rede social.

A Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares, tem entre os seus clientes a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos.

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Empresas de armamento lucram com o trabalho dos reclusos nos EUA

«Reclusos que ganham centavos fabricam armas multimilionárias», revela o MintPress News. As maiores empresas de armas dos EUA encontram novas formas de tirar proveito do complexo industrial das prisões.

Um grupo de reclusos regressa aos dormitórios, no regresso do trabalho, na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola, EUA 
CréditosGerald Herbert / innocenceproject.org

Um estudo do MintPress News indica que, «em muitos casos, as armas de guerra são fabricadas directamente com recurso a trabalho penitenciário sob coacção».

Centrada nas cem maiores empresas privadas contratadas pelo Departamento da Defesa norte-americano, a investigação mostra que 37% também lucram com norte-americanos reclusos, tanto em prisões como nos campos do Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras (ICE).

Entre os 25 maiores fabricantes de armas, 16 beneficiam do trabalho dos reclusos. A lista completa das 37 empresas que lucram com o «encarceramento massivo» pode ser consultada aqui (apresentada por ordem do valor dos contratos recebidos do Departamento da Defesa).

A lista, explica o jornalista Alan MacLeod, foi criada com base na recolha de dados do portal da administração norte-americana usaspending.gov. Os dados relativos às cem maiores empresas militares privadas contratadas no último ano fiscal completo foram comparados com uma base de dados de agentes do sector privado da indústria prisional, organizada pelo grupo Worth Rises, que defende o desmantelamento da indústria das prisões e o fim da exploração que ela implica.

«"historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo"»

Chris Hedges, jornalista e professor no sistema prisional a quem foi pedido um comentário, não ficou chocado com o facto de quase dois terços dos maiores agentes da indústria da defesa estarem bastante envolvidos no negócio das prisões. «O tecido da indústria da defesa, o Estado carcerário, a indústria da inteligência, está tudo interligado. E acho que estas descobertas o provam», disse.

O MintPress falou igualmente com a fundadora e directora executiva da Worth Rises, Bianca Tylek, que também não se mostrou surpreendida.

«Há uma sobreposição considerável entre as duas indústrias, o que não é surpreendente; são indústrias controversas. As empresas que operam numa indústria controversa não temem participar noutra. Onde vemos uma sobreposição particular é na tecnologia de segurança e vigilância. Na verdade, historicamente, o governo federal atribuiu subsídios para testar nas prisões a tecnologia que está a ser desenvolvida para a luta contra o terrorismo», disse.

Não é uma indústria artesanal

Uma dessas empresas «controversas» é a Raytheon, que o ano passado anunciou vendas no valor de 64,4 mil milhões de dólares e que também recorre à vasta população prisional dos Estados Unidos como mão-de-obra barata quase infinita para fabricar alguns dos seus produtos mais caros.

Os reclusos, refere o texto, são obrigados a trabalhar por apenas 23 centavos por hora (menos impostos e outras taxas) para empresas subcontratadas que fabricam peças para mísseis Patriot que custam até 5,9 milhões de dólares (cada um), o que significa que um preso teria de trabalhar quase 3000 anos, 24 horas por dia, para ser capaz de pagar o que está a fazer.

«As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen»

A administração norte-americana autoriza a Raytheon e outros a venderem os seus produtos a alguns dos governos que mais violam os direitos humanos, afirma o MintPress News, incluindo nessa lista os da Arábia Saudita, do Catar e dos Emirados Árabes Unidos.

As armas da Raytheon têm sido cruciais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, criando aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares. Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas. «Se esta história foi notícia, há seguramente muitos outros casos semelhantes que nunca chegam ao público ocidental», frisa o portal.

Reclusos na Prisão Estatal de San Quentin, Califórnia (EUA) / VCG / CGTN

Exemplos de «promiscuidade» entre Defesa e sistema prisional

Reclusos nos EUA fabricam equipamentos electrónicos, ópticos e arneses para a BAE Systems, incluindo para o seu veículo de combate Bradley, um pilar do Exército norte-americano. Por este trabalho, os presos recebem cerca de 100 dólares por mês, segundo informação divulgada.

Várias subsidiárias da BAE Systems – incluindo o fabricante de equipamentos militares e policiais Armor Holdings (que fabrica a maioria das mochilas do Exército dos EUA) e a empresa de tecnologia de câmaras, segurança e espionagem Fairchild Imaging – também aparecem na lista de empresas que vendem para a indústria prisional, elaborada pela Worth Rises.

«Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional.»

BAE Systems, General Dynamics e Lockheed Martin estão entre as empresas que mais lucram com o trabalho prisional, segundo a Worth Rises, que as marca com «nota máxima» no índice de danos.

Há diversas grandes empresas contratadas pela Defesa que também operam na indústria prisional. Um dos exemplos apontados pelo MintPress News é o da General Electric e das suas subsidiárias, envolvidas na construção e no equipamento das prisões, no fornecimento de alimentos e na supervisão dos cuidados de saúde.

Porventura, o agente mais importante na ligação da indústria prisional à militar é empresa estatal Unicor (também conhecida como Federal Prison Industries). Empregando 16 mil reclusos a nível nacional em 2021, a Unicor anunciou receitas de 528 milhões de dólares o ano passado.

Fabricando de tudo – desde têxteis até equipamentos de escritório e electrónicos –, a empresa presta um serviço vital ao complexo industrial militar, fornecendo-lhe um fluxo quase interminável de mão-de-obra cativa e praticamente gratuita para explorar, destaca o portal.

Ao contrário da Raytheon e da Lockheed Martin, que mantêm em silêncio a ligação a esta fonte controversa de trabalho, a Unicor parece orgulhar-se dela, ostentando-a na sua página de Internet.

Conversa progressista até falar o dinheiro

Muitas das 37 empresas listadas são conhecidas como fabricantes de armas, mas outras poderão não ser associadas à indústria das armas. A CACI International, por exemplo, está longe de ser um nome familiar, apesar de empregar mais de 22 mil pessoas em todo o mundo.

O principal cliente da CACI é o governo dos EUA, a quem fornece uma vasta gama de serviços profissionais e de tecnologias da informação. Localizada no Norte da Virgínia, é uma das muitas empresas que se banqueteiam com os contratos de guerra do Iraque e do Afeganistão.

«O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio.»

A CACI promove-se a si mesma como um «empregador progressista», e o seu portal está cheio de conversa sobre «diversidade» e «inclusividade», além de se vangloriar de estar na lista da Forbes do «top mais» das empresas «amigas das mulheres».

Mas esta conversa «progressista» dura até que o dinheiro fale. Em 2016, revela o MintPress, a CACI lançou uma oferta e ganhou um contrato de 93 milhões de dólares com o Serviço de Imigração e Controlo de Fronteiras para fazer a manutenção dos seus centros de detenção – edifícios que foram amplamente descritos como campos de concentração.

O ano passado, o director executivo da CACI, John Mengucci, referiu-se à retirada do Afeganistão como má para o negócio. E tinha razão: em 2019, a CACI assegurou um contrato de 907 milhões de dólares, por um período de cinco anos, para «fornecer operações de inteligência e apoio analítico» às forças dos EUA no Afeganistão.

Além disso, em 2021, o Supremo Tribunal dos EUA rejeitou o recurso da CACI relativo ao processo instaurado por um grupo de iraquianos pelo alegado envolvimento da empresa em tortura e agressão sexual, na célebre prisão de Abu Ghraib.

Neoliberalismo e exploração nos cárceres

As condições prisionais nos Estados Unidos estão entre as piores do mundo desenvolvido, denuncia o MintPress News. A maior parte dos estados exige que os reclusos recebam uma compensação financeira pelo seu trabalho, mas os salários podem ser embargados para pagamento de pensões de alimentos, restituições à vítima e até alojamento e alimentação. Em cinco estados – Texas, Arkansas, Alabama, Geórgia e Florida – os reclusos são obrigados a trabalhar sem qualquer pagamento.

«Isto é trabalho em condições de servidão; não se pode organizar; não pode fazer greve; não pode protestar pelas más condições. O pagamento está muito abaixo do salário mínimo», disse Hedges ao MintPress.

Assim, a enorme população prisional satisfaz as necessidades das empresas norte-americanas de duas formas: primeiro, fornece uma gigantesca reserva de mão-de-obra barata e disciplinada para explorar, ajudando-as a competir com «fábricas de miséria» na Ásia; em segundo lugar, actua como uma ferramenta disciplinadora do «trabalho livre», ajudando a acabar com os sindicatos e a reduzir os salários e as condições de trabalho em todo o país.

A Worth Rises faz parte de um conjunto de organizações que consideram que parte do trabalho prisional se assemelha à escravidão, pelo que tem feito campanha para alterar a 13.ª Emenda, que permite que a escravidão seja usada como forma de punição de um crime.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas.»

Tendo em conta que a economia foi esvaziada e os empregos foram transferidos para o estrangeiro, grande parte da população trabalhadora do país tornou-se, aos olhos das empresas norte-americanas, excedentária em relação às necessidades económicas, afirma o MintPress News.

Já não são necessários para trabalhar nas fábricas e são efectivamente inúteis para gerar lucros para outros. Hedges encara a ascensão do complexo industrial prisional como uma resposta a isto.

«Pessoas nas ruas de Detroit, Newark ou no Leste de Nova Iorque não valem nada aos olhos do Estado corporativo. Mas, se forem fechadas numa gaiola, têm capacidade para gerar 50 ou 60 mil dólares por ano para essas empresas. Então, nesse sentido, é um continuum completo [desde a escravidão]», disse.

Com quase 2,3 milhões de pessoas atrás das grades numa rede de mais de 7000 instalações, os Estados Unidos têm de longe a taxa mais elevada de encarceramento do mundo, encarcerando os seus cidadãos a uma taxa dez vezes superior à de países europeus como a Suécia ou a Dinamarca e 17 vezes mais elevada que a do Japão.

A explosão da população prisional dos EUA reflecte de perto a ascensão do neoliberalismo como a ideologia dominante, afirma o portal, precisando que, antes da administração Reagan, os números das prisões norte-americanas eram comparáveis aos da Europa. No entanto, entre 1984 e 2005, uma nova cadeia foi construída, em média, a cada 8,5 dias, atingindo o pico em 2009.

Tylek, da Worth Rises, criticou fortemente o custo e o desperdício do empreendimento. «Em muitos lugares, as populações prisionais caíram nos últimos anos. E, no entanto, os orçamentos dessas agências continuam a aumentar. Nada o justifica», disse.

A indústria prisional «para lá dos limites» tornou-se tão normalizada que é objecto de entretenimento ligeiro. Em 2020, um novo jogo, chamado «Prison Empire Tycoon», tornou-se viral, convertendo-se no jogo de estratégia número um na App Store da Apple.

O objectivo do jogo é supervisionar e administrar uma prisão com fins lucrativos. Durante o tutorial, no início, um guarda empunhando um bastão instrui os jogadores, dizendo-lhes que «o Estado paga bom dinheiro» para lidar com os «criminosos».

Reclusos na Prisão Estatal de Louisiana, em Angola (EUA) / Gerald Herbert / MintPress News

A pagar a dívida?

Uma forma de gerar mais lucro, tanto no jogo como na realidade, é transferir os custos para os próprios reclusos. As pessoas encarceradas agora têm de pagar regularmente artigos essenciais como sabão, pasta de dentes e champô, bem como chamadas para os seus entes queridos. A outros exigem-lhes co-pagamentos para consultar um médico ou para despesas de alojamento, a serem descontadas dos salários ganhos.

«Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos.»

Muitas vezes, apenas o facto de se ser enviado para um estabelecimento prisional implica uma «taxa de processamento» de 100 dólares, que os reclusos têm de pagar, enquanto aos visitantes são cobradas regularmente quantias por verificações de antecedentes. Amigos e familiares dos presos transferem 1,8 mil milhões de dólares para estabelecimentos prisionais todos os anos.

Sem outra opção, são forçados a aceitar taxas de transferência de dinheiro até 45%. Corporações financeiras como a JPay e a JP Morgan Chase fazem parcerias com instituições penitenciárias para garantir o melhor negócio para eles – e o pior negócio para os presos. Tylek disse ao MintPress: «Estar preso é muito caro. É tão caro que endivida muitas famílias que apoiam pessoas que estão encarceradas.»

Trazer as guerras para casa

Hedges, que passou muito tempo a ensinar no sistema penitenciário de New Jersey, também observou as semelhanças entre as prisões e os militares, comentando que os guardas são frequentemente recrutados nas Forças Armadas ou na Guarda Nacional. Cada vez mais, os guardas parecem-se com as equipas SWAT, com armas letais de alta tecnologia. «Tudo é militarizado», disse Hedges. E acrescentou:

«Dirigem-se a ti pelo teu número, não pelo teu nome. És obrigado a andar em fila indiana pelos corredores. Qualquer infracção […] pode fazer com que acabes por ser espancado ou atirado para a solitária e despojado dos poucos privilégios que tens. É o microcosmo perfeito do Estado totalitário.»

«À medida que os impérios decaem (...), muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro»

Por seu lado, Tylek disse que, «em muitos casos, o governo está a reagir ao crime a nível nacional da mesma forma que responde à guerra internacional. E isto deve-se ao facto de que muitos dos mesmos fornecedores estão a facultar equipamento tecnológico para esses dois ambientes».

À medida que os impérios decaem – argumentou Hedges –, muitas vezes trazem de volta a repressão que infligem no estrangeiro, usando na população nacional tácticas aprimoradas para reprimir a dissidência estrangeira.

Hoje, as comunidades pobres nos EUA estão a ser governadas de uma forma cada vez mais militarizada, nota o MintPress News, enquanto os oprimidos pelo complexo industrial prisional no país são coagidos a fornecer o seu trabalho para reforçar o complexo industrial militar no estrangeiro. E, a cada passo, as empresas norte-americanas continuam a lucrar.

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As suas armas têm sido fundamentais para os bombardeamentos levados a cabo pela coligação liderada pelos sauditas no Iémen, ajudando a criar aquilo que as Nações Unidas classificam como «a pior crise humanitária do mundo».

Desde o início da guerra de agressão, a Raytheon vendeu a Riade equipamento pelo menos no valor de 3,3 mil milhões de dólares, segundo refere o MintPress News.

Em 2018, a aviação saudita usou um míssil fabricado pela Raytheon para fazer explodir um autocarro cheio de crianças iemenitas, provocando a morte a 51 pessoas.

A indústria de armamento dos EUA também tem lucrado bastante com a actual situação na Ucrânia, tendo como base os contratos celebrados com países ocidentais que estão a aumentar as suas despesas na área da defesa.

Segundo revelou o diário The Hill na semana passada, o valor das acções da Lockheed Martin disparou quase 25% desde o início do ano, enquanto o de outras empresas do sector como Raytheon, General Dynamics e Northrop Grumman subiu cerca de 12%, cada qual.

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«Para vergar a vontade da Rússia e libertar a Ucrânia da conquista e da subjugação, muitos soldados russos têm de fugir, render-se ou morrer, e, quantos mais e mais depressa, melhor», acrescentou o apoiante das invasões do Iraque e do Afeganistão, que também pedia a guerra com o Irão.

Embora não esteja directamente no governo, Cohen trabalha para o think tank neoconservador Center for Strategic and International Studies (CSIS), que recebe fundos do governo, da indústria de armamento e das empresas de combustíveis fósseis.

De acordo com o portal norte-americano, a «perspectiva ultra-belicosa de Cohen é bastante representativa dos falcões [da guerra] em Washington» e «o seu artigo em The Atlantic permite vislumbrar de forma honesta como os planificadores imperialistas norte-americanos encaram a crise na Ucrânia: uma oportunidade para usar o povo ucraniano como carne para canhão numa guerra por procuração» contra a Rússia.

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Os autores referem-se a esta verba como «dinheiro dos contribuintes norte-americanos» e, para ajudar a contextualizar o seu valor, afirmam que, se a Ucrânia fosse um estado do país, seria o 11.º em termos de fundos federais que recebe, segundo os próprios dados do governo sobre a despesa.

«Por outras palavras, nos últimos 12 meses, a Ucrânia recebeu mais dólares dos contribuintes norte-americanos que 40 estados dos EUA», afirmam.

Ainda a situar a verba, o texto afirma que a ajuda dada pela administração de Joe Biden à Ucrânia é mais do que qualquer país mundo gasta em despesas militares, com excepção dos Estados Unidos e da China.

Os 113 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia – refere ainda o texto – são quase tanto como o que a Lei atribui para despesa de referência ao Departamento de Estado e ao Departamento de Segurança Nacional juntos, e pouco menos que os 118,7 mil milhões de dólares que os EUA devem gastar em cuidados médicos com todos os veteranos militares.

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«Milhões de famílias estão num ponto de ruptura financeiro: esgotando as suas poupanças, ficando sem o essencial e recorrendo a bancos alimentares para sobreviver», disse a directora executiva da Citizens Advice, Dame Clare Moriarty.

«Estamos a ver um número sem precedentes de pessoas a dirigir-se a nós para pedir ajuda em caso de crise e esta pesquisa mostra que as pessoas não podem apertar mais o cinto», acrescentou, pedindo que o governo britânico estabeleça um plano claro sobre a forma como vai ajudar as pessoas com dificuldades, tendo em conta os preços dos alimentos e da energia.

Na mensagem de Ano Novo, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, sublinhou que os problemas do país não vão desaparecer em 2023, nomeadamente por causa da pandemia e da guerra na Ucrânia.

No entanto, com os compatriotas a enfrentarem uma «crise de custo de vida» e uma desvalorização salarial sem precedentes em várias décadas, Sunak não se tem cansado de afirmar, nos últimos meses, que o Reino Unido irá manter o apoio militar e financeiro à Ucrânia, «all the way».

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Em seu entender, «empurrar as taxas de juros tão para cima que a economia entre em recessão só irá agravar a actual crise». Neste sentido, defendeu que «os trabalhadores precisam de um plano credível para o crescimento sustentável, para voltar a encarreirar os níveis de vida e as finanças públicas».

Por seu lado, Gary Smith, secretário-geral do sindicato GMB, disse que o governo estava «sem ideias» sobre a economia, sublinhando que «os trabalhadores estão a sofrer os cortes mais acentuados em termos reais de que há memória» e «não conseguem pagar as contas».

«Pelo país fora, as pessoas estão a pagar o preço do falhanço do governo em investir nas nossas infra-estruturas básicas e da adopção fatal, pelo Reino Unido, de um modelo de baixos salários e baixo investimento», denunciou.

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