«Para um país a espessura da muralha conta menos do que a vontade de defender-se»
Tucídides (Séc. V a.C)
Este axioma pertence ao general Tucídides e faz parte da obra, em oito volumes, História da Guerra do Peloponeso, que retrata o conflito entre Esparta e Atenas, no século V a.C.
Vem esta referência a propósito do conflito que opõe a Rússia à Ucrânia e da influência decisiva que o factor moral – a vontade – tem na sua ligação à capacidade e poder militar.
O elemento fundamental é a vontade de todo um povo, que será tanto mais forte quanto mais visíveis e inequívocas forem as manifestações dessa vontade. Mas essa manifestação por parte do povo ucraniano não é visível, não é clara!
O que é evidente é o isolamento do grupelho fascista que detém ilegalmente o poder na Ucrânia e a lassidão que perpassa pelas Forças Armadas ucranianas, que se têm limitado a uma resistência táctica limitada.
A cada dia que passa nota-se que, do ponto de vista político e militar, a Ucrânia só sobrevive através dos balões de soro injectados pela União Europeia, a NATO e os EUA, através dos fornecimentos desmesurados de armamento, do envio de biliões de euros e da brutal guerra económica e das sanções.
É a escalada de um conflito localizado e caseiro que se está a transformar no problema mais grave do sistema internacional e que pode vir a derrapar para um afrontamento directo da Federação Russa com a NATO e os Estados Unidos.
Este conflito não resulta apenas da avaliação das capacidades militares e de combate das duas partes beligerantes, se assim fosse o problema já estaria resolvido.
As razões históricas e determinantes políticas que estiveram na base deste conflito, tal como as suas consequências obrigavam a que a União Europeia e as instâncias internacionais usassem de prudência e de uma atitude firme, persistente e lúcida no caminho da concertação e privilegiassem a via diplomática na obtenção da paz.
Fazer tal caminho exigiria, naturalmente, que fosse feito por profissionais competentes e apegados aos valores da paz, o que não acontece. O que temos é uma União Europeia cada vez mais dividida e que se transformou numa «feira de vaidades», com personagens fanáticas, coléricas e animadas pelo ódio e revanche em relação à Federação Russa e ao povo russo.
«As razões históricas e determinantes políticas que estiveram na base deste conflito, tal como as suas consequências obrigavam a que a União Europeia e as instâncias internacionais usassem de prudência e de uma atitude firme, persistente e lúcida no caminho da concertação e privilegiassem a via diplomática na obtenção da paz»
A União Europeia, ao alimentar e prestar vassalagem ao homenzinho ridículo e obscuro e a tudo o que representa, levando a Ucrânia a romper com um status quo secular de boa vizinhança e de amizade com a Rússia, acaba por experimentar «um amargo de boca». Faz lembrar o aprendiz de feiticeiro, que desencadeia forças que é incapaz de controlar.
É o caso dos métodos, apreciações e posições do grupo fascista no poder na Ucrânia, e que são transmitidos com determinismo fanático pelos nossos democráticos órgãos de comunicação social, apesar da sua subjectividade, hipocrisia e controvérsia, em especial quando se trata de crimes de guerra ou genocídio.
De facto, já não bastou o que se passou em Bucha e Irpim e os pretensos bombardeamentos de escolas, hospitais e centros culturais, que a posteriori veio a saber-se que tinham outra utilização – a militar. Agora subiram a parada através da insuspeita e idónea Procuradora Geral da Ucrânia, que vem afirmar que existem 15 mil crimes de guerra (não explicitando a que lado se está a referir) e até o TPI planeia abrir um escritório em Kiev.
Toda esta parafernália pretensamente jurídica, para além de fornecer propaganda tóxica, já serviu para interromper as negociações por parte do regime ucraniano e um caminho de facilidades à desculpabilização dos crimes cometidos pelos grupos paramilitares nazis contra civis, ao longo de oito anos, na região do Donbass e com a conivência de altos responsáveis do regime ucraniano.
Ao mesmo tempo, só na região de Kharkiv, mais de 1400 ucranianos são considerados suspeitos de traição, ou colaboração com o exército russo. É o mote para iniciar a «caça às bruxas», ou para a eliminação dos opositores, como já é procedimento habitual.
À medida que se desenvolve o conflito, a opinião pública e os povos europeus começam a compreender a monumental farsa que foi montada pelos governos dos seus países e pela União Europeia e começam a surgir sinais de indignação. As técnicas de provocação e de diversão ideológica, tenham a roupagem que tiverem, nunca conduziram a resultados decisivos.
A consideração da Ucrânia como integrando o domínio geopolítico da NATO e utilizada como arma de arremesso contra a Federação Russa foi e é um jogo perigoso.
Aquilo a que se assiste é ao prolongamento da guerra e dos combates, através da ajuda militar de todo o Ocidente (NATO) e dos EUA. Mas o apoio militar nunca foi factor decisivo, nem significa per si a vitória militar, como os falcões e as eminências pardas da União Europeia andam a papaguear.
A queda de Azovstal revela a precariedade e o isolamento do regime ucraniano e o nível de esgotamento a que as Forças Armadas ucranianas chegaram. O batalhão Azov, considerado a nata das Forças Armadas, rendeu-se. Ficou aberto o caminho para a derrota militar.
«A consideração da Ucrânia como integrando o domínio geopolítico da NATO e utilizada como arma de arremesso contra a Federação Russa foi e é um jogo perigoso. Aquilo a que se assiste é ao prolongamento da guerra e dos combates, através da ajuda militar de todo o Ocidente (NATO) e dos EUA. Mas o apoio militar nunca foi factor decisivo, nem significa per si a vitória militar, como os falcões e as eminências pardas da União Europeia andam a papaguear»
O exército russo, nesta última e derradeira fase da designada «Operação Especial Militar», tem vindo a ser reforçado com forças especiais no apoio às operações na vertente táctica (cerco) e de reconhecimento especial estratégico.
Na frente Norte (Kiev e Kharkiv) mantém-se a pressão não só para fixar forças, como para dar um aviso ao poder político, oligarca e nazi, para que avalie bem se está apto a combater no patamar seguinte de violência.
O míssil que atingiu a infraestrutura logística de armazenamento e reparação de viaturas de combate poderia ter atingido o palácio presidencial, caso fosse um alvo a abater.
Com a destruição das infraestruturas de transporte rodoviário e ferroviário de acesso ao campo de batalha, toda a região de Donbass está isolada do resto do país. Esta situação torna mais fácil a neutralização das movimentações de tropas e dos fluxos logísticos antes de atingirem o seu posicionamento, permite a flagelação a objectivos cuidadosamente seleccionados, desgastar e desorganizar a resistência das forças ucranianas, com economia de recursos humanos e materiais.
Manter uma relação de forças favorável ao longo das operações de combate é condição decisiva para a vitória militar. E o exército russo tem mantido esta evolução e condições equilibradas. Ou seja, trata-se de criar condições de existência insuportáveis para o que resta das forças ucranianas.
É sabido que nas guerras não há empates, como não existem só diabos num dos lados e só anjos no outro lado. Mas, pelos vistos, não é este o pensamento que prolifera nos círculos dirigentes da União Europeia e da NATO, onde parece ter sido adoptado o maniqueísmo que, como filosofia, remonta ao século III. É tudo possível, a partir do momento em que forças mercenárias são consideradas «combatentes da liberdade» e os agrupamentos nazis são elevados ao patamar de «heróis». Está tudo dito e redito.
Perante o cenário de desastre total, para onde os EUA, a NATO e a União Europeia estão a empurrar a Ucrânia, ainda é tempo de evitar a ascensão a posições extremas, pondo um ponto final neste conflito, com o recurso à força e à legitimidade que emana do próprio povo. E o povo ucraniano, como todos os povos do planeta, deseja ardentemente a paz!
A comparação com o 25 de Abril, feita pela criatura pública, só poderá ter este significado e consequências!