O património arqueológico da Síria está sob ameaça crescente, com os saqueadores a invadirem sítios arqueológicos como Palmira em busca de artefactos que são rapidamente traficados e vendidos na Internet.
Uma notícia recente de um jornal inglês, a que o portal Al Maydeen se refere, revela que o roubo de antiguidades aumentou drasticamente desde a queda do governo liderado por Bashar al-Assad, em Dezembro último, e o domínio subsequente da Al Qaeda.
Por entre notícias que dão conta da chacina da minoria alauita – ainda esta semana foram divulgados novos assassinatos – e de ataques a liberdades anteriormente consagradas, nomeadamente a das mulheres, a fonte afirma que a venda de artefactos históricos roubados no país árabe acelera através de plataformas online, incluindo o Facebook.
Palmira, designada como Pérola do Deserto, foi declarada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO em 1980. Em 2015, foi amplamente destruída pelo grupo terrorista Daesh, que dinamitou vários dos seus monumentos.
Em Maio de 2022, uma equipa de arqueólogos sírios e russos, com a aprovação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), deu início à implementação do projecto de resgate dos sítios destruídos pelos terroristas na antiga cidade de Palmira, no deserto sírio.
Hoje, com o país a ser governado pela Al Qaeda, a cidade antiga, cerca de 270 quilómetros a nordeste de Damasco, está a saque, «desta vez por ladrões de túmulos oportunistas e redes organizadas. Munidos de ferramentas, os saqueadores atacam criptas com 2000 anos, deixando para trás crateras e restos destroçados», indica o portal.
O Projecto de Investigação sobre o Tráfico de Antiguidades e Antropologia do Património (ATHAR, na sigla em inglês) registou grande número de casos nos últimos meses e afirma que se trata da «maior e mais rápida vaga de tráfico registada em qualquer país até à data».
A procura no Ocidente alimenta o saque de artefactos
As transacções ilícitas destes objectos roubados são facilitadas pelas redes sociais, especialmente o Facebook, destacou Katie Paul, co-directora do ATHAR.
Apesar de a plataforma ter banido o comércio de antiguidades, Paul diz que ainda alberga dezenas de grupos que vendem moedas antigas, mosaicos e estátuas – muitos dos quais operam à vista.
Num caso, um vendedor fez uma transmissão em directo de um local de escavação, pedindo conselhos aos espectadores sobre escavações, refere a fonte.
«Esta é a movimentação de artefactos mais rápida que já vimos», observou Paul. «O que costumava demorar um ano agora demora apenas duas semanas», disse.
Muitos dos saqueadores são pessoas comuns, motivadas pela pobreza, mas outros fazem parte de operações criminosas e utilizam maquinaria pesada para escavar sítios arqueológicos inteiros.
Uma vez retiradas, as antiguidades são contrabandeadas para países vizinhos, como a Jordânia e a Turquia, e depois lavadas com documentos falsos antes de entrarem em leiloeiras e museus ocidentais, indica a fonte.
Tanto Paul como Amr al-Azm, co-fundador da ATHAR, defendem que a solução está fora da Síria. «Concentramo-nos demasiado na oferta», disse Azm. «Se não houvesse procura no Ocidente, haveria muito menos incentivo para destruir o património sírio», frisou.
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