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O «Estado pária» que continua a ser recebido de tapete vermelho

O relatório produzido pela CIA defende a tese de que o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado a mando do líder saudita, mas a amizade que une os dois regimes mostra-se inquebrantável.

Joe Biden
Joe BidenCréditos CJ Gunther / EPA

A retórica eleitoral de Joe Biden, agora presidente dos Estados Unidos da América (EUA), sobre a política internacional americana, assentava num misto de rejeição das práticas e decisões do seu antecessor, Donald Trump, e de um reforço na defesa dos direitos humanos. Neste âmbito, e em plena campanha, dispôs-se a acusar e criticar um dos estados que melhores relações mantinha com Trump, a Arábia Saudita.

Para além de a considerar um «Estado pária», Biden considerou ainda um desastre o envolvimento saudita na guerra no Iémen (onde contou com o apoio logístico, material e humano dos EUA) e ameaçou, por fim, acabar com os negócios multimilionários de vendas de armas que foram reforçados no mandato do seu opositor.

Várias publicações internacionais referiam-se a este caso como sendo paradigmático de uma alteração significativa da acção estadounidense na região: «O desprezo de Biden pelos sauditas é um forte aviso depois do abraço de Trump», escrevia a Bloomberg, em Agosto; «A Arábia Saudita preferia uma vitória de Trump, os seus medos com uma presidência de Biden são bem-fundados», declarava a CNN, em Novembro; «O pior pesadelo da Arábia Saudita», assegurava a revista Foreign Policy.

Em declarações proferidas a 2 de Outubro de 2020, o próprio candidato assumiu que era tempo de pôr fim à guerra no Iémen e que os EUA não podiam continuar a apoiar o regime saudita e deixar «os direitos humanos à porta para vender armas ou comprar petróleo».

Uma nova administração em que se mantém tudo igual

Seis meses volvidos sobre a confirmação de Joe Biden como 46.º presidente dos EUA, o príncipe Khalid Bin Salman, irmão do actual príncipe regente saudita, encontrou-se em Washington com algumas das mais importantes figuras de Estado norte-americanas, entre as quais o secretário de Estado e o secretário da Defesa.

A visita foi muito criticada por associações pela paz no Médio Oriente, especialmente a Democracia para o Mundo Árabe Já (DAWN), organização fundada pelo próprio Khashoggi, que em comunicado reconheceu que Biden tinha feito muito bem em prometer o fim da venda de armamento e de responsabilizar os assassinos do jornalista, durante a eleição, mas que «não só a sua administração se recusa a sancionar o príncipe herdeiro – arquitecto do assassinato – como continua a venda de armas, que descreve como sendo "defensivas"».

Em resposta às várias acusações que lhe foram dirigidas, depois do relatório da CIA cujas conclusões eram inequívocas sobre o envolvimento do príncipe herdeiro, Joe Biden afirmou ter «responsabilizado todas as pessoas naquela organização mas não o príncipe, poque nunca os EUA castigaram e ostracizaram um chefe de Estado de um país aliado».

A Arábia Saudita é frequentemente referida como um parceiro estratégico dos EUA, não como aliado, já que não existe qualquer tratado estabelecido entre os dois países, não sendo sequer considerado um Estado aliado pela NATO. Estas declarações implicam uma total reversão daquelas que eram as promessas eleitorais de Joe Biden na última campanha, estabelecendo-o como um presidente de continuidade.

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