É bem conhecida a largamente divulgada pretensão de Donald Trump (à parte o seu chauvinismo narcisista) para ser tributário do Prémio Nobel da Paz, tendo como pano de fundo o seu programa para «pôr termo» à guerra na Faixa de Gaza.
Não se descura a importância de que se reveste a atribuição deste prémio, com particular destaque quando a sua proveniência assenta numa instituição como o Comité Nobel de Noruega, órgão que se assume independente, composto de cinco pessoas, nomeados pelo Parlamento norueguês. Neste contexto, não é de admirar que, por vezes, nessa atribuição, possam interferir valorações ou ingredientes em conformidade com a divulgação de factologia, onde a aparência por vezes suplanta a realidade.
A Paz, para além de ser perspetivada como a «ausência de guerra», tem principalmente um conteúdo material bem definido, constituindo uma base fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano, individual e coletivamente considerado. Daí que seja altamente condenável gerar condições que ponham em risco a subsistência, o bem-estar e o desenvolvimento harmonioso das sociedades humanas, organizadas em nações, quaisquer que sejam os seus regimes ou ideologias.
A intervenção do Presidente Donald Trump para o cessar-fogo na Faixa de Gaza e a assinatura no dia 13 de outubro para os termos de paz futura, são, sem dúvida, passos importantes, quer tratando-se de um conflito que existe há cerca de 58 anos e uma guerra desde Outubro de 2023, onde, além do mais, há a lamentar cerca de 67 000 mortos, incluindo crianças.
Seria este envolvimento suficiente para Trump ser agraciado com um prémio Nobel de Paz?
«A Paz, para além de ser perspetivada como a «ausência de guerra», tem principalmente um conteúdo material bem definido, constituindo uma base fundamental para o desenvolvimento integral do ser humano, individual e coletivamente considerado.»
Sem entrar em grandes pormenores e a ajuizar das palavras proferidas esta segunda-feira pelo Benjamin Netanyahu no Knesset (onde Trump discursou), a guerra por parte de Israel não seria viável, não fosse o substancial empenhamento dos EUA e mais recentemente, do próprio envolvimento de Trump, no apoio incondicional quer, sob o prisma diplomático, quer, do integral apoio bélico e armamentista (cfr. o recente caso da utilização da Base das Lajes, dos caças F-35, autênticas armas, com destino a Israel, dias antes do cessar-fogo). Assim sendo, o tão falado esforço e a iniciativa de paz mais não visaram senão atenuar os efeitos de uma guerra que os EUA têm estado a alimentar.
Mas, mesmo a conceder uma boa intencionalidade ao Trump, esta iniciativa é bem pouco face ao estado de tensão internacional, insegurança e desrespeito pelos direitos humanos, de exclusiva responsabilidade dos EUA e de Donald Trump enquanto responsável político e pessoalmente. Se não vejamos: *a guerra na Ucrânia, maioritariamente sustentada pela arma americana, agora ameaçada com o envio de mísseis Tomahawk, para sustentar uma guerra sem fim à vista, resultando numa sistemática destruição de vidas humanas, em permanente alvoroço; *veja-se a ameaça de anexar, mesma à força de armas o território de Gronelândia, gerando incertezas quer localmente quer ao nível do país – protetor, o reino da Dinamarca; *o mesmo se diga, quanto ao estreito do canal de Panamá; *no prosseguimento de uma política mercantilista subordinada ao lema «Make America great again» Trump tem vindo a desenvolver uma política de altas tarifas alfandegárias sobre bens estrangeiros, fomentando incertezas no desenvolvimento macro-económico de Europa, da América Latina e do Extremo-Oriente, gerando distonias no desenvolvimento económico harmonioso nos países afetados; enfim, uma política em nada condizente com o propósito de gerar um ambiente de entendimento e de paz ao nível dos países afetados pela medida; *a manutenção do bloqueio americano à Cuba, afetando gravemente a sua economia, condicionando o acesso ao combustível e produtos farmacêuticos, afetando a saúde e o bem estar da população, e gerando uma constante afronta à soberania do país.
Se Trump pretende ser um candidato sério para o Prémio Nobel da Paz terá de tomar a iniciativa de, no seu mandato, eliminar o belicismo e combater a política armamentista que tem seguido até agora; tudo isto porque «uma andorinha não faz a primavera».
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