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|pandemia

No ano segundo de uma nova pandemia

A inevitabilidade dos projectos da «Grande Restauração» da sociedade carece de confirmação. São avançados ignorando a capacidade de resistência dos trabalhadores e dos cidadãos em geral.

Trabalhadores de um laboratório de detecção do coronavírus COVID-19, em Wuhan, na província de Hubei, China, a 22 de Fevereiro de 2020
Trabalhadores de um laboratório de detecção do coronavírus COVID-19, em Wuhan, na província de Hubei, China, a 22 de Fevereiro de 2020 CréditosCheng Min / Xinhua

Ao contrário do que é a expressão de muitos ao considerar que 2020 é um ano para esquecer, ele ficará na história e bem vincado na memória de várias gerações que o viveram.

Sobre a pandemia que veio e que perdurará em anos seguintes, esperamos todos nós que não se mantenha com a agressividade até agora conhecida, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) eleve o seu desempenho, recuperando e elevando a capacidade de resposta no combate à Covid-19 bem como a outras patologias.

Algumas grandes empresas, que apresentam lucros substanciais e que os distribuíram por accionistas, aproveitaram para despedir os trabalhadores e tornar ainda maior o desespero vivido por eles e pelas suas famílias ao arrepio dos consensos expressos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE) e por muitas confissões religiosas. Confirmaram uma forma de estar e até a travestiram de «novo normal», mas os seus nomes ficam inscritos nos anais da Vergonha.…

Muitas micro, pequenas e médias empresas, já com dificuldades, fizeram o que puderam para manter os postos de trabalho. Muitas delas, porém, não resistiram e fecharam.

«há um ano atrás, o estudo na China de uma epidemia, baseada num vírus desconhecido, do ramo de outros vírus já conhecidos, na província de Wuhan, traduziu-se em medidas drásticas internas [...]. Ao mesmo tempo que a população de Wuhan e do país aderiram com empenho às medidas tomadas, o governo chinês informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) e todos os países, em Dezembro de 2019 e no início de Janeiro de 2020, do que tinham descoberto, incluindo o respectivo genoma descodificado»

Foi a resistência e resiliência de trabalhadores e reformados e as suas lutas, foi a coragem e entrega de todas as categorias profissionais do SNS e de muitos infectados, foi a rede organizada de autarquias e muitas instituições, foram as escolas, alunos e professores no encontrar respostas escolares que fizeram respeitar as regras preventivas de surtos maiores, não ficando no recato da tentação antipedagógica do ensino à distância, que constituíram os exemplos que já influenciaram mentalidades e deixaram as pistas sobre o que importa ter em conta no desenho do futuro próximo.

1. Por esta altura, há um ano atrás, o estudo na China de uma epidemia, baseada num vírus desconhecido, do ramo de outros vírus já conhecidos, na província de Wuhan, traduziu-se em medidas drásticas internas para o circunscrever e na investigação mobilizada para mais se saber sobre ele. Ao mesmo tempo que a população de Wuhan e do país aderiram com empenho às medidas tomadas, o governo chinês informou a Organização Mundial de Saúde (OMS) e todos os países, em Dezembro de 2019 e no início de Janeiro de 2020, do que tinham descoberto, incluindo o respectivo genoma descodificado. Havia uma vontade de partilhar conhecimentos e de coordenar acções no plano internacional. E o combate interno acabou por resultar, mantendo-se medidas preventivas para não deixar alastrar novos focos. A China, apesar disso, foi vítima de uma culpabilização por parte de Trump, à sombra da qual outros beneficiaram com implicações geopolíticas que as comunidades científicas contiveram.

2. Entretanto a epidemia evoluíra para pandemia e a Big Pharma, no «Ocidente», lançou-se na busca de negócios que se adivinhavam chorudos. As várias grandes empresas e laboratórios farmacêuticos, um atrás do outro,

- fizeram as suas «campanhas» promocionais de comunicação social, que geraram um aumento especulativo na bolsa das respectivas acções. Quem se esqueceu já dos desempenhos dos animadores de telejornais e estações de rádio e dos criadores de manchetes dos jornais, anunciando vacinas atrás de vacinas, a sua eficácia traduzida em percentagens concorrentes e até o preço?

- trataram de obter financiamentos milionários dos Estados para montar infra-estruturas de investigação e produção;

- ainda garantiram que muitos países assinassem com eles contratos para um terceiro momento de obtenção de mais dinheiro;

- tudo indica que os países mais ricos vão garantir como prioritária a vacinação doméstica. Enquanto a OMS gere um fundo, garantindo também o pagamento às farmacêuticas, para disponibilizar a vacina aos países com menos recursos;

- a mediatização da «corrida» à melhor vacina, das críticas a eventuais «concorrentes», criou, em muitas pessoas, receios sobre este ou aquele aspecto menos conseguido de quase todas. Isso alimentou desconfianças e resistências à vacinação, remetendo muitas pessoas para «ver e decidir depois».

Entretanto a administração dos EUA e a UE foram garantindo que as vacinas da China e da Rússia não fossem vendidas nos seus territórios… mas quer um quer outro já as disponibilizaram também para muitas dezenas de outros países.

3. Claro que as dificuldades, só vieram depois.

Várias das vacinas anunciadas foram mandadas para as calendas por reacções adversas em testes, por escassez de componentes para o seu fabrico e por falta de financiamento. Outras sofreram atrasos de fornecimentos. E tal não deixou de suscitar dúvidas sobre como os cadernos de encargos assumidos basearam as contratações, anunciadas como vitórias de vários governos, tanto mais que, aparentemente só depois disso, se falou e redes de frio, outras condições logísticas de transportes, cuidados na utilização das ampolas da Pfizer que dão cinco vacinas cada, mobilização dos recursos actuais do SNS a serem reforçados até para não afectar ainda mais a capacidade de assistência nele de outras patologias e serviços.

«Entretanto a epidemia evoluíra para pandemia e a Big Pharma, no «Ocidente», lançou-se na busca de negócios que se adivinhavam chorudos. As várias grandes empresas e laboratórios farmacêuticos, um atrás do outro, fizeram as suas «campanhas» promocionais de comunicação social, que geraram um aumento especulativo na bolsa das respectivas acções»

Quanto às redes de frio necessárias para manter em condições as vacinas até aos pólos finais de vacinação, tem que ficar claro a quem é cometida a responsabilidade de cada passo desse trajecto, e as condições logísticas respectivas. Tem que ser garantida a gestão pelos agentes de vacinação, no caso pelo menos da Pfizer, do uso rápido das cinco doses contidas em cada frasco. A mobilização que a vacinação exigirá vai certamente afectar muito a capacidade de resposta nos hospitais aos doentes internados com a doença, em diferentes estágios de gravidade, para não falar já da assistência a outras patologias já hoje afectada pelas zonas reservadas aos doentes Covid. Portanto têm que estar previstas as medidas complementares de organização (logísticas, de equipamentos e de recrutamento de pessoal).

4. As alterações às condições de vida e trabalho têm vindo a ser acompanhadas por dois tipos de atitudes.

Em primeiro lugar, a tentativa de habituação e aceitação de condições que configurassem um «novo normal». Despedimentos, teletrabalho fora das empresas e remetido para uma nova vertente da vida doméstica. Impedimento de actividade sindical dentro das empresas e tentativas para limitar a liberdade de expressão e de manifestação. Aproveitar os condicionamentos à mobilidade e confinamentos para gerar o medo e a incerteza que fariam baixar as guardas e desfazer as linhas de defesa das condições de vida e segurança ganhas ao longo de mais de um século.

«As alterações às condições de vida e trabalho têm vindo a ser acompanhadas por [pela] tentativa de habituação e aceitação de condições que configurassem um «novo normal». Despedimentos, teletrabalho fora das empresas e remetido para uma nova vertente da vida doméstica. Impedimento de actividade sindical dentro das empresas e tentativas para limitar a liberdade de expressão e de manifestação. Aproveitar os condicionamentos à mobilidade e confinamentos para gerar o medo e a incerteza que fariam baixar as guardas e desfazer as linhas de defesa das condições de vida e segurança ganhas ao longo de mais de um século»

O Fórum Económico Mundial (FEM ou WEF em inglês), ou mais precisamente o seu guru-presidente, Klaus Schwab assinalou a mudança que pretende afectar a forma como vivemos, trabalhamos e interagimos uns com os outros. Esta sua «Grande Restauração» da sociedade seria assente em restrições permanentes às liberdades fundamentais e na vigilância em massa, enquanto sectores inteiros seriam sacrificados para impulsionar o monopólio e a hegemonia das corporações farmacêuticas, dos gigantes de alta tecnologia. E assim iríamos entrando num «novo normal» propiciado por «janelas de oportunidade» que se abririam e que devíamos acolher com o esquecimento do que fora até agora o acervo de direitos e condições de vida obtidos com muita luta nas sociedades capitalistas em que vivemos. Num pequeno vídeo, o Fórum prevê, como primeiro de oito pontos de previsão para o futuro, que até 2030, «Você não terá nada e será feliz»…

A inevitabilidade destes projectos carece, porém, de confirmação. Eles são avançados ignorando a capacidade de resistência dos trabalhadores e dos cidadãos em geral. E o discernimento que o combate vai revelando quanto à necessidade de fortes serviços nacionais de saúde, as limitações das componentes privadas e sociais neste combate, quanto aos interesses de enriquecimento especulativo das grandes farmacêuticas, e quanto ao não acautelar do acesso à vacinação de todas as camadas da população e de todos aqueles países que já hoje estão mais carenciados de quase tudo.

A nossa resistência e a nossa a capacidade de transformar o real num sentido socialmente e economicamente positivo farão derrotar tais «projectos», no respeito da letra e do espírito da Constituição da República.

Em segundo lugar estão outras atitudes relativas à natureza, objectivos e alcance das medidas preventivas e profilácticas, nomeadamente quanto ao uso de máscara, gel desinfectante e distanciamento social, que entendem que a pandemia não existe e foi inventada para «não termos nada e sermos felizes», como diz o tal Schwab, e que preconizam a rejeição das vacinas. São os negacionistas de extrema-direita e alguma pretensa esquerda de fachada anarquista que assim falam.

Não faltam, também, as teorias de conspiração, baseadas em realidades fragmentadas, quanto às medidas de prevenção que levariam à fascização das estruturas governantes das sociedades, ou as sugestões de mão forte contra quem resistisse a tal «construção», comprovada já nas cargas policiais que tão mediatizadas têm sido (sabe-se lá porquê…). Como se não estivéssemos cá para resistir e vencer.

5. O «novo normal» não traz só despedimentos, deslocalizações forçadas de postos de trabalho, perda de condições de vida em troca de miríficas «janelas de oportunidade»… Segundo a Prensa Latina, há também já uma lista dos vencedores.

Entre eles destaca-se a Alphabet, entidade que detém o Google, que nos primeiros nove meses de 2020 obteve 5,8 % mais lucros do que no mesmo período do ano anterior, registando uma receita de 25 mil milhões de dólares, um aumento de quase 10 mil milhões em relação a 2019. Os resultados até agora superaram as expectativas dos analistas, levando as acções da Alphabet a subir cerca de 6% nas negociações de Wall Street.

«Foi a resistência e resiliência de trabalhadores e reformados e as suas lutas, foi a coragem e entrega de todas as categorias profissionais do SNS e de muitos infectados, foi a rede organizada de autarquias e muitas instituições, foram as escolas, alunos e professores no encontrar respostas escolares que fizeram respeitar as regras preventivas de surtos maiores, não ficando no recato da tentação antipedagógica do ensino à distância, que constituíram os exemplos que já influenciaram mentalidades e deixaram as pistas sobre o que importa ter em conta no desenho do futuro próximo»

Ao mesmo tempo, no início de Novembro o influente Facebook informava que seus lucros nos três primeiros trimestres tinham atingido os 18 mil milhões de dólares, 61% mais do que o obtido no mesmo período do ano anterior, como resultado da implantação de publicidade em linha durante a pandemia. A empresa garantiu aos accionistas do Facebook 6,29 dólares por acção até Setembro, em comparação com 3,90 em Outubro de 2019. Além de aumentar as receitas, a empresa conseguiu reduzir significativamente os custos, que na prática caíram para a metade dos declarados há um ano, com o encerramento dos escritórios e a colocação de todos os seus trabalhadores em teletrabalho, com o falso pretexto de «prevenção» do novo coronavírus. Sabe-se que os donos do Facebook não tencionam que regressem às empresas, pelo menos até Julho de 2021, e mesmo após essa data a intenção é continuar o teletrabalho para que metade da força de trabalho trabalhe dessa forma quando o ano de 2031 chegar…

Outra poderosa empresa no sector de tecnologia, a Amazon, beneficiou do crescimento do comércio online e, no terceiro trimestre, o seu lucro líquido triplicou em relação ao mesmo período anterior, chegando aos 6,3 mil milhões de dólares. O volume de negócios da gigante do comércio electrónico cresceu 37% naquele trimestre, para 96,1 mil milhões, segundo comunicado do próprio.

Este grupo restrito da BigTech inclui também outra transnacional americana, a Apple, que reportou um superavit de 57.411 milhões de dólares no final do ano fiscal de 2020, representando um aumento de 4% em relação aos lucros de 2019. Nos últimos 12 meses, a empresa faturou 274.515 milhões de dólares, superando os 260.174 milhões do período anterior. E cresceu em quase todos os seus segmentos de negócios (tablets iPad, computadores Mac, serviços de tecnologia e acessórios).

Este é o panorama de uma «economia doentia», expressão que o Papa Francisco utilizou na audiência pública realizada no Vaticano em 26 de Agosto, quando propôs «romper com a lógica da exploração e do egoísmo».

A desigualdade económica e social recebe cada vez mais a crítica de diferentes sectores, mas os seus beneficiários resistem a um processo de rectificação.

O ano de 2021 será o palco da continuidade da luta pela superação deste modelo capitalista, caracterizado pela sobre-exploração, os privilégios e o alastrar da mancha dos excluídos, enquanto prossegue o combate à pandemia.

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