O restabelecimento de relações diplomáticas ocorreu após o reconhecimento, por parte do país centro-americano, do princípio de «uma só China».
«A Revolução sandinista estabeleceu relações com a China em 1985; o que se passou foi que os governos neoliberais apoiados pelos Estados Unidos romperam esses laços nos anos 90 para estabelecer relações com Taiwan», disse à Prensa Latina o analista político Jorge Capelán.
Para Capelán, as relações entre a China e a Nicarágua têm um significado muito importante, tendo em conta a actual conjuntura mundial, «de crise terminal de dominação ocidental».
Por seu lado, Manuel Espinoza, director do Centro Regional de Estudos Internacionais (CREI), em Manágua, sublinhou que o restabelecimento de relações ocorreu num momento importante, após o triunfo de Daniel Ortega nas eleições de Novembro de 2021.
Espinoza explicou que se trata de uma decisão de política externa, o que mostra o papel da China na transformação da ordem mundial.
«O importante aqui é que na assinatura deste restabelecimento, há um ano, existem princípios bem assentes, como o respeito mútuo, a coexistência pacífica, a não agressão, a integridade territorial e, sobretudo, os benefícios recíprocos», acrescentou, em conversa com o correspondente da agência cubana.
A nível institucional, o embaixador da China em Manágua, Chen Xi, disse que este ano passado foi de solidariedade, cooperação e de êxitos para os dois países e povos.
Já o assessor presidencial para a promoção de investimentos, comércio e cooperação internacional da Nicarágua, Laureano Ortega, considerou «históricos» os laços entre o Partido Comunista da China e a Frente Sandinista de Libertação Nacional, tendo ainda afirmado que «foram 12 meses de um trabalho intenso», de «inúmeras cooperações em praticamente todos os campos».
Carácter estratégico
Os especialistas destacam a natureza estratégica das relações entre o país asiático e o centro-americano, a diferentes níveis.
O académico Jorge Issac Bautista disse à Prensa Latina que ambos os países têm costa no Oceano Pacífico, mas que a China não tem acesso às águas do Atlântico e que o canal do Panamá é «controlado pelos panamenhos e norte-americanos».
«A nível geoeconómico, a Nicarágua tem a possibilidade de fazer a ligação entre o Pacífico e o Atlântico, o que é uma probabilidade aberta a investimento para a eventual construção de um canal», afirmou.
A este propósito, Jorge Capelán destacou a grande expectativa existente na Nicarágua sobre a construção dessa via marítima – embora ainda não haja nada de concreto.
«Os Estados Unidos não gostam da ideia, mas terão de se habituar a ela, pois em termos geopolíticos estão a perder influência e têm de aceitar o surgimento de um mundo multipolar», disse.
Por seu lado, Manuel Espinoza referiu-se aos passos estratégicos da China – como a Iniciativa Cinturão e Rota e outras destinadas ao desenvolvimento global – como boas perspectivas para o país centro-americano.
Avanços concretos na cooperação
As autoridades de ambos os países afirmam que, neste primeiro ano, alcançaram êxitos em vastas áreas na «cooperação de mútuo benefício».
Em Janeiro, a Nicarágua aderiu oficialmente à Iniciativa Cinturão e Rota – um elemento central da política externa promovida pela China de Xi Jinping –, com o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, a destacar a importância de fazer frente à «hegemonia» dos EUA, «cujo fim é um facto».
No final desse mês, o governo sandinista anunciou o apoio da China ao projecto de construção de casas para famílias trabalhadoras e carenciadas, dinamizando um programa habitacional já existente, o Bismarck Martínez.
No mês seguinte, foi assinado um memorando de entendimento com vista a garantir investimento chinês na construção de hospitais e no fornecimento de equipamento médico, no desenvolvimento de energias renováveis, na construção de infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias, bem como na área de água e saneamento.
Em Abril, foi assinado um novo acordo de cooperação económica e técnica com vista à execução de um programa habitacional, cuja primeira fase conta com um investimento de 60 milhões de dólares.
Três meses mais tarde, em Julho, as partes assinaram aquele que consideram o acordo mais relevante nas relações bilaterais do ponto de vista económico, o chamado «acordo de colheita antecipada» – aprovado na Assembleia Nacional do país latino-americano em Setembro deste ano –, que visa reforçar as relações comerciais e eliminar barreiras, de forma progressiva, entre os dois países.
Ao longo deste ano, também se registou cooperação na área da Saúde pública – a China entregou três milhões de vacinas contra a Covid-19 e vários equipamentos e materiais médicos à Nicarágua – e no âmbito cultural.