Foram impedidos de entrar em Israel Pierre Laurent (secretário nacional do Partido Comunista Francês), Clémentine Autain (deputada da França Insubmissa), os deputados europeus Pascal Durand (Verdes/Aliança Livre Europeia) e Patrick Le Hyaric (GUE/NGL), e os autarcas Azzedine Taibi, Eric Roulot e Leclerc.
Os sete integravam uma delegação de 20 políticos e autarcas franceses que pretendia deslocar-se a Israel e aos territórios palestinianos ocupados entre 18 e 23 de Novembro, com o objectivo de «alertar para a situação de quase 6000 presos políticos palestinos», informa o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).
O motivo invocado por Israel é o facto de apoiarem a campanha internacional BDS, que «se opõe à política de colonização, repressão e discriminação praticada por Israel contra o povo palestiniano».
Alguns membros do grupo tinham anunciado a intenção de se encontrar com Marwan Barghouti, dirigente do movimento Fatah encarcerado em Israel há 15 anos e condenado a várias penas de prisão perpétua pela sua participação na segunda Intifada. A delegação pretendia reunir-se também com o advogado franco-palestiniano Salah Hamouri, que se encontra em detenção administrativa (sem acusação formal) desde 23 de Agosto deste ano.
«O BDS "opõe-se à política de colonização, repressão e discriminação praticada por Israel contra o povo palestiniano"»
De acordo com os ministérios israelitas da Segurança Interna e dos Assuntos Estratégicos, os elementos da delegação proibidos de entrar no país, classificados como «provocadores», foram avisados com antecedência, «de modo a não embarcarem».
«Trata-se de políticos que apoiam de forma consistente o boicote a Israel, e o promovem», disse Gilad Erdan, ministro dos Assuntos Estratégicos, acrescentando que «não iriam permitir a entrada no país daqueles que activamente procuram prejudicar o Estado de Israel».
Perseguição ao movimento BDS
Em Março último, o Knesset (parlamento) aprovou uma lei que proíbe a concessão de visto ou de autorização de residência a qualquer estrangeiro que defenda sanções ou o boicote contra Israel ou seus colonatos na Margem Ocidental.
Em Agosto do ano passado – indica o MPPM –, os ministérios israelitas do Interior e da Segurança Pública criaram um grupo conjunto para detectar aqueles que desejam entrar em Israel e sejam activistas do BDS, um movimento surgido em 2005 com o objectivo de pressionar Israel a cumprir as suas obrigações ao nível do direito internacional.
«Israel tem endurecido progressivamente a sua política contra as vozes críticas no estrangeiro»
Quatro meses antes, em Março de 2016, Gilad Erdan declarou a um grupo de diplomatas ocidentais que o BDS era «uma ameaça para todos aqueles que se preocupam com a democracia, os direitos humanos e uma paz israelo-palestiniana viável», deixando antever o progressivo endurecimento da política israelita «contra as vozes críticas no estrangeiro, e também também contra organizações israelitas que se opõem à política de colonização e repressão dos palestinianos».
Precisamente neste contexto, o ministro israelita veio agora a público afirmar que «não é a primeira vez que Israel impede a entrada a activistas que são contra Israel». Em todo o caso, a medida possui um carácter inédito, atingindo deputados de um país-membro da União Europeia, com a qual Israel tem um acordo de associação.
Firma americana e luta secreta de «natureza sensível»
Na edição de 26 de Outubro, o diário israelita Haaretz revelou que Israel contratou os serviços de uma firma norte-americana de advogados – a Sidley Austin, com sede em Chicago – para combater os activistas do movimento BDS na Europa e nos Estados Unidos.
Há cerca de dois anos, o Ministério dos Assuntos Estratégicos ficou encarregue da luta de «deslegitimação» do BDS e destinou grandes verbas a «esse esforço», publicamente. No entanto, o periódico israelita sublinha que parte desta operação não foi tornada pública.
É nesse âmbito que se inclui a contratação da firma de advogados de Chicago, sobre cujas actividades os ministérios israelitas da Justiça e dos Assuntos Estratégicos se recusaram a fornecer informações.
«Luta de "deslegitimação" do BDS é marcada pelo secretismo»
Apesar de o Estado de Israel ter pago centenas de milhares de dólares à empresa nos últimos dois anos, os ministérios classificam as suas actividades como «extremamente sensíveis do ponto de vista diplomático», indica o Haaretz.
O secretismo que rodeia os contratos levanta a suspeita de que o trabalho da firma envolva não apenas aconselhamento legal, mas também a preparação de processos judiciais contra apoiantes do movimento BDS. A questão, refere o diário, é que Israel não quer ser desmascarado como parte activa nesses processos, para evitar a percepção de que está a interferir nos assuntos internos de outros países.
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