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|Afeganistão

Intervenção dos EUA no Afeganistão está longe de terminar

Joe Biden anunciou que estava «na hora de as tropas voltarem para casa». Outros foram mais precisos sobre os planos do Pentágono: mercenários, guerra à distância, operações especiais.

Paraquedistas norte-americanos numa operação em Lwar Kowndalan, Afeganistão, em Outubro de 2005
Paraquedistas norte-americanos numa operação em Lwar Kowndalan, Afeganistão, em Outubro de 2005Créditos

A propósito da declaração do presidente norte-americano sobre o «fim» da guerra norte-americana no Afeganistão, no passado dia 14, Sonali Kolhatkar, que escreve para o Independent Media Institute, afirma que quase tudo o que Biden disse sobre o fim da intervenção no país asiático é «mentira».

Pouco depois, o diário The New York Times (NYT) deixou antever os planos futuros: «o Pentágono, agências de espiões americanas e aliados ocidentais estão a apurar os planos para destacar uma força menos visível mas ainda assim potente na região.»

Jeremy Kuzmarov, editor da CovertAction Magazine, também se refere ao anúncio de Biden como «enganador» e, reportando-se ao NYT, afirma que, depois da saída formal das tropas norte-americanas, os EUA se vão manter no Afeganistão por via de uma «combinação obscura de Forças de Operações Especiais clandestinas, mercenários a soldo do Pentágono e agentes secretos de inteligência».

Com uma constelação de bases aéreas na região do Golfo Pérsico, os EUA mantêm uma posição privilegiada para bombardear ou lançar ataques com drones no Afeganistão. Um ex-agente da CIA e especialista em contra-terrorismo, Marc Polymeropoulos, foi bem mais preciso do que Biden sobre o modo como as coisas se devem passar daqui para a frente e disse-o ao NYT: «Aquilo de que estamos a falar de facto é sobre como recolher informações secretas e, depois, agir contra alvos terroristas sem [termos] qualquer infra-estrutura ou pessoal no país para lá da embaixada em Cabul.»

O secretário da Defesa, Lloyd Austin, fez questão de sublinhar a capacidade dos EUA para levar a cabo a guerra sem tropas no terreno, tendo afirmado que «provavelmente, não há um local no Planeta que os Estados Unidos e os seus aliados não consigam alcançar», nota Sonali.

Os «privados», mercenários a soldo com contratos milionários

Outra coisa a que Biden não se referiu no seu discurso à nação foi aos «privados» que os EUA empregam no Afeganistão. O NYT diz que são mais de 16 mil; Jeremy Kuzmarov afirma que, em Janeiro, estavam no país da Ásia Central 18 mil mercenários, segundo um relatório do Departamento da Defesa.

Para cada soldado norte-americano presente no Afeganistão havia sete mercenários, uma proporção que, segundo Kuzmarov, reflecte a estratégia norte-americana de proceder ao outsourcing da guerra, para beneficiar empresas privadas de mercenários e como forma de distanciar a guerra do público, tornando-a menos visível e controlando-a à distância, como os EUA fizeram noutros países.

O editor da CovertAction Magazine afirma que, na sua maioria, os mercenários são antigos militares, embora haja um contingente de outros países, a quem são pagos baixos salários.

Uma das maiores empresas de mercenários, aponta, é a DynCorp International, de Falls Church (Virgínia), que em 2019 tinha recebido mais de sete mil milhões de dólares por contratos firmados com o governo para treinar o Exército afegão e para gerir as bases militares no país.

Entre 2002 e 2013 – afirma ainda Kuzmarov –, a DynCorp recebeu 69% de todos os fundos atribuídos pelo Departamento de Estado. «A Forbes Magazine chamou-lhe "uma das grandes vencedoras das guerras do Iraque e do Afeganistão" – sendo os perdedores quase todos os outros», disse.

O caos numa guerra que não começou em 2001

Sonali Kolhatkar lembra outras coisas não ditas por Biden citando Hakeem Naim, professor no Departamento de História da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nomeadamente que «os EUA criaram o caos ao apoiarem os grupos mais corruptos da elite e ao criarem um sistema económico mafioso gerido pelos senhores das drogas, os senhores da guerra e os mercenários».

Ao contrário do que se pretende fazer crer, Kolhatkar recorda que o «envolvimento destrutivo» dos EUA no Afeganistão não teve início em 2001, mas dura há mais de 40 anos, com a CIA a armar os mujahidin em guerra contra a tropas soviéticas.

Quando Biden, no seu discurso, afirmou que os EUA alcançaram os objectivos «claros» a que se propunham, a autora diz que os Estados Unidos fizeram muito mais que isso: «montaram um governo fantoche, impingiram a sua ideia de democracia a um povo que lutava com senhores da guerra armados e apoiados pelos EUA e, assim, garantiram que os movimentos democráticos seculares permaneciam fracos.»

«Despejaram milhares de milhões numa guerra contra a droga para depois incentivarem a produção de drogas. Derrotaram os Talibã para depois escolherem o grupo rebelde como parceiro para a paz. Pelo caminho, mataram mais de 40 mil civis afegãos – provavelmente uma estimativa por baixo», diz Sonali Kolhatkar.

O presidente norte-americano não se referiu a nada disto, como não mencionou o facto de o actual governo afegão, profundamente corrupto, estar totalmente dependente dos EUA e à mercê da violência dos talibã, cada vez mais fortes, e de outros grupos fundamentalistas.

Em vez disso, Biden disse que, em 2001, «a causa era justa... E eu apoiei aquela acção militar». Décadas de guerra e de destruição de um país parecem justificadas pela abordagem «simplista»: «Nós fizemos justiça a Bin Laden há uma década e ficámos no Afeganistão mais uma década desde então.»

Os elevados custos que a população norte-americana teve de suportar para manter a guerra no Afeganistão, em termos económicos e humanos, não acabaram, destaca Kolhatkar. Milhares de milhões de dólares não bastaram e continuar-lhe-á a ser apresentada a conta dos ataques com drones e dos mercenários. E os afegãos continuarão a ser feridos, mutilados e mortos.

«Um verdadeiro processo de paz no Afeganistão depende da saída das forças estrangeiras do país», frisa Matthew Hoh, ex-combatente, deficiente e que em 2009 se demitiu do Departamento de Estado em protesto contra a guerra.

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