|Bolívia

Governo golpista silenciou os meios de comunicação na Bolívia

Entre Novembro de 2019 e Outubro de 2020, o governo liderado por Jeanine Áñez calou os órgãos de comunicação e ameaçou de morte alguns jornalistas, afirmou a vice-ministra boliviana da Comunicação.

CréditosJorge Abrego / EPA

Numa entrevista concedida este domingo ao programa «Las 7 en el 7», da Bolivia TV, Gabriela Alcón disse que os golpistas violaram «um direito humano da nossa população boliviana que é o direito à informação», consagrado na Constituição Política do Estado, e sublinhou as ameaças a que foram sujeitos os jornalistas que trabalhavam em meios de comunicação públicos.

Os danos económicos causados por ataques violentos a meios de comunicação públicos e pela suspensão, decretada pelo governo golpista, das suas transmissões entre Novembro de 2019  e Outubro de 2020 ultrapassaram os 8,9 milhões de bolivianos (mais de 1,1 milhões de euros), revelou a funcionária governamental, destacando que não se assistia a um silenciamento deste tipo no país desde os tempos das ditaduras.

Além disso – lamentou a vice-ministra –, os golpistas reduziram a cobertura dos meios de comunicação, que durante muitos anos havia sido trabalhada para permitir que as populações mais distantes vissem garantido o seu direito à informação, refere a Agencia Boliviana de Información (ABI).

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Rádios comunitárias bolivianas na mira do governo golpista

Desde o golpe de Estado perpetrado contra Evo Morales, pelo menos 53 rádios comunitárias foram silenciadas no país sul-americano. Um caso recente foi o da rádio Kawsachun Coca, no Norte de Santa Cruz.

Os caixões ficaram caídos nas ruas após a repressão policial das cerimónias fúnebres dos oito assassinados na refinaria de Senkata, em El Alto, Murillo, departamento de La Paz, na Bolívia, a 21 de Novembro de 2019.
Na Bolívia crescem as denúncias de censura e ataques contra órgãos de comunicação e jornalistas que mostram a repressão militar no país CréditosMarco Bello / Reuters

O encerramento foi denunciado pela própria emissora nas redes sociais, que revelou que os equipamentos nas instalações de Buena Vista (no Norte do departamento de Santa Cruz) foram desligados definitivamente por ordem do Ministério da Comunicação do governo golpista.

De acordo com a fonte, as emissões da Kawsachun Coca estavam a ser interrompidas há mais de uma semana, mas voltavam a ser reestabelecidas após protestos dos moradores.

Mas agora foi de vez, afirmam, ao mesmo tempo que denunciam a censura e os ataques contra órgãos de comunicação e jornalistas – os que mostram a repressão militar e a perseguição a dirigentes políticos do Movimento para o Socialismo (MAS) – como um elemento constante do governo a que preside a autoproclamada Jeanine Áñez.

Desde o golpe de Estado, consumado em 10 de Novembro último, pelo menos 53 rádios administradas por comunidades originárias e organizações sociais foram silenciadas. Algunas delas viram as suas instalações e equipamentos serem destruídos por polícias, militares e apoiantes do governo golpista, refere a Alahednews Spanish.

Em declarações ao diário La Razón, o dirigente do movimento agrícola Rodolfo Machaca afirmou que, desde então, nenhuma transmite serviços noticiosos, algumas apenas música e outras cortaram as emissões por completo. Citado pela Prensa Latina, Machaca explicou que o sector está a fazer um levantamento de dados sobre as emissoras silenciadas, destruídas, saqueadas ou protegidas, para defender os equipamentos.

Também em declarações ao diário La Razón, um dirigente da Central Obrera Boliviana, Juan Carlos Huarachi, mostrou-se preocupado com o facto de o governo golpista ter apresentado o projecto «La recuperación de la libertad de expresión en Bolivia», que mexe na atribuição de licenças de rádio aos povos originários, alegamente, para «ampliar o direito de acesso à informação».

Huarachi entende que o chamado «governo de transição não pode tocar em normas porque isso não é da sua competência; eles apenas devem convocar eleições, não podem decidir que as rádios deixam de funcionar».

Um governo golpista, não «de transição»

Dois dias depois de, no passado dia 10 de Novembro, Evo Morales ter sido obrigado a renunciar ao cargo, a senadora da oposição Jeanine Áñez autoproclamou-se «presidente interina» da Bolívia, com o apoio da extrema-direita, dos militares e de Washington.


Seguiram-se dias de intensa repressão policial e militar nas ruas, que provocou mais de 30 mortos, perseguição a apoiantes de Evo Morales e membros dos seus governos, bem como mudanças significativas na política externa e económica do país andino.

É neste cenário que se integra a perseguição à imprensa, a censura, a intimidação a jornalistas – incluindo a ameaça de processamento judicial por «sedição» caso «não façam o seu trabalho» – e a suspensão do sinal de cadeias estrangeiras incómodas, como a RT e a TeleSUR.

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Entre os exemplos referidos por Alcón, conta-se a Bolivia TV, que, por acção do governo liderado por Áñez, viu metade das suas antenas de transmissão deixarem de funcionar. «As 276 antenas permitiam chegar a quase toda a população, mas, quando assumimos o controlo dos meios do Estado, quando chegámos ao governo depois de ser eleitos pelo voto do povo boliviano, quase 50% não estavam a funcionar», denunciou.

No que respeita à rede Patria Nueva, que antes do golpe de Estado cobria 80% do território nacional, durante o governo golpista viu essa cobertura reduzida para 15%.

Também as Radios de los Pueblos Originarios (RPO), que levam informação até às regiões mais remotas do país sul-americano, foram bastante afectadas: 71 das 89 emissoras ficaram sem sinal durante a governação dos golpistas.

Entretanto, prossegue o processo de reactivação das antenas dos meios de comunicação estatais, disse a funcionária governamental, que destacou os danos causados às populações, também ao nível da Educação, pelo governo de Jeanine Áñez.

Sublinhou igualmente que, perante este cenário e irregularidades contratuais detectadas, o actual governo da Bolívia vai interpor uma queixa no Ministério Público, «para que se siga o processo correspondente».

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