Mensagem de erro

User warning: The following module is missing from the file system: standard. For information about how to fix this, see the documentation page. in _drupal_trigger_error_with_delayed_logging() (line 1143 of /home/abrilabril/public_html/includes/bootstrap.inc).

|Palestina

Gaza: este massacre não vai ser televisionado

Ao início da noite, as forças de ocupação israelitas destruiram a infraestrutura que ainda conectava Gaza ao mundo: sem telemóveis, televisão ou internet, os crimes de Israel são escondidos aos olhos do mundo. 

Ataques israelitas à Faixa de Gaza, Palestina
Ataques israelitas à Faixa de Gaza, PalestinaCréditos

A história de Wael Al-Dahdouh, repórter e responsável pela sucursal da Al Jazeera na Faixa de Gaza, epitomiza a situação vivida por milhões de palestinianos desde 7 de Outubro. Na quarta-feira, enquanto cobria as atrocidade cometidas pelas forças de ocupação, uma bomba israelita assassinava a sua mulher, filho (15 anos), filha (7 anos) neto (18 meses) e outros oito membros da sua família próxima

São jornalistas, médicos, enfermeiros, padeiros, paramédicos, professores, são milhares de anónimos que acorrem aos escombros sem ferramentas nem protecção, escavando as enormes pilhas de ferro, pedra e cimento à procura de vizinhos, familiares ou tão somente pessoas, arrastadas para o mesmo turbilhão de brutalidade e violência. Já nada separa a vida destas pessoas do combate que travam contra o extermínio étnico do seu povo, não há meios termos nem botas para descalçar ao fim de um longo dia de trabalho.

Al-Dahdouh voltou a reportar no dia seguinte, mas é fundamental não esquecer que esta é apenas a face visível de milhares de homens e mulheres que não abandonaram os seus postos. A coragem do jornalista é a de toda a Palestina, não há tréguas quando um povo luta pela sua existência. Seja nos hospitais, nas escolas ou em frente às câmaras, Gaza responde à bombas cobardes com a força da vida.

«Obrigado por todas as mensagens de apoio e solidariedade (...) percebemos que era importante regressar [ao trabalho] imediatamente, apesar de tudo o que se passou. (...) É meu dever voltar, apesar da dor, da ferida aberta sangrando, para vos encontrar através da câmara». Al-Dahdouh tinha, como pano de fundo para a reportagem que fez apenas horas depois dos assassinatos, enormes colunas de fumo preto que se erguiam de vários pontos em Gaza, onde outras famílias sucumbiram aos ataques das forças de ocupação israelitas.

Para evitar registos do massacre que comete na Faixa de Gaza, Israel destrói acesso às redes de comunicação, bloqueando telemóveis, internet e televisão

Pela calada da noite, sob o manto da escuridão infligida a Gaza, Israel inutilizou a infraestrutura que ligava estes 2 milhões de palestinianos ao mundo. «Caros cidadãos da nossa querida pátria, lamentamos anunciar o corte total de todas as comunicações e serviços de Internet na Faixa de Gaza à luz da agressão em curso» afirmou a Paltel, a maior e a última empresa de comunicações em operação.

De uma só vez, dezenas de organizações humanitárias como os Médicos Sem Fronteiras, Cruz Vermelha, a Organização Mundial da Saúde ou a Agência da ONU para Refugiados Palestinianos (UNRWA) perderam o contacto com os hospitais e centros de acolhimento de refugiados. Nas redes sociais, as vozes palestinianas calaram-se. As forças de ocupação lançaram um ataque sem precedentes contra a população enquanto o mundo assistia, do lado de fora, aos bombardeamentos.

Através dos megafones instalados no topo dos minaretes, normalmente usados para funções religiosas, os habitantes de Gaza conseguiram fazer chegar uma mensagem: «não temos comunicação com o mundo exterior. Eles estão a usar o seu poder militar para nos ferir. Não temos outro poder senão o poder de Deus, ninguém senão Deus. Por favor, rezem por nós».

Deborah Brown, da Human Rights Watch, considera que o apagão pode muito facilmente «encobrir atrocidades em massa e contribuir para a impunidade na violação de direitos humanos». Numa das poucas gravações que escapou ao cerco israelita, várias pessoas gritam no meio de Gaza às escuras, apenas com o céu iluminado pelo tom avermelhado das explosões.

«Como é caso frequente entre os homens violentos, eles têm vergonha do que fazem, sabem que são cobardes e, no seu íntimo, têm medo», explica Madoc Cairns, editor da Plough Quarterly, sobre o comportamento das forças de ocupação de Israel. 

EUA, Israel, República Checa, Áustria, Croácia, Hungria e oito outros países votam contra um cessar-fogo urgente na ONU. Portugal vota a favor

O embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas apelou à protecção dos civis palestinianos enquanto militares israelitas invadem e bombadeiam indescriminadamente a população de Gaza. Estas declarações foram feitas poucas horas depois de Washington ter votado contra uma resolução da Assembleia Geral que apelava à protecção de civis e o cumprimento das obrigações legais e humanitárias dos Estados.

A resolução foi aprovada com o voto favorável de 120 votos países (entre os quais, Portugal), 45 abstenções e 14 votos contra: Israel, EUA, Áustria, Croácia, República Checa, Hungria, Ilhas Fiji, Ilhas Marshall, Micronesia, Nauru, Papua Nova Guiné, Paraguai, Guatemala e Tonga.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, numa conferência de imprensa dada na sexta-feira, garantiu que os EUA não vão estabelecer qualquer «linha vermelha» para Israel. «Vamos continuar a apoiá-los». Milhares de manifestantes, convocados pelo movimento Jewish Voice for Peace, bloquearam a estação central de Nova Iorque (centenas foram detidos), rejeitando a posição cúmplice da administração de Joe Biden alinhada com o genocídio do povo palestiniano.

Pero nada pueden bombas donde sobra corazón. No hospital, momentos depois ver os corpos martirizados da sua família, Wael Al-Dahdouh, fisica e moralmente abalado, afirmou: «resta-nos uma coisa – ainda temos uma pátria e ainda temos a nossa dignidade, e isso é o mais importante de tudo».

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui