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França teve «pesadas responsabilidades» no genocídio no Ruanda

As conclusões de um relatório apontam para que o país, e nomeadamente o então presidente François Miterrand, contribuiu para a dimensão da tragédia ocorrida.

Monte de facas e machados confiscados a milícias hutus, a 16 de Julho de 1994 na cidade fronteiriça de Goma, na República Democrática do Congo
Monte de facas e machados confiscados a milícias hutus, a 16 de Julho de 1994 na cidade fronteiriça de Goma, na República Democrática do CongoCréditosPascal Guyot / AFP

Foram divulgadas, no fim do mês de Março, as conclusões de um estudo solicitado em 2019 pelo governo francês, com o objectivo de apurar o papel do país no massacre ocorrido no Ruanda, que se estima que possa ter originado perto de 800 mil mortos.

Perante o genocídio, ocorrido entre Abril e Julho de 1994, que atentou sobretudo contra a minoria tutsi, os responsáveis políticos franceses terão «fechado os olhos», naquilo que o historiador Vicent Duclert, responsável pela investigação, designou de «uma responsabilidade pesada e avassaladora» no massacre.

O resultado da investigação que durou dois anos, e que foi conduzido por uma comissão de especialistas, é a da verificação de falhas graves, omissões e imprudências por parte do governo francês da época.

Regista-se o longo envolvimento do governo francês com «um regime que encorajava massacres racistas» e a conivência com o governo do Ruanda perante a ideia de que os tutsis constituiriam um perigo real para «o seu regime».

O documento aponta para a relação próxima do então presidente francês François Mitterrand com o seu homólogo ruandês Juvenal Habyarimana, cujo assassinato em 6 de Abril de 1994 (através do abatimento de um avião onde viajavam os então presidentes do Ruanda e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus) desencadeou o brutal genocídio que durou cem dias.

Não obstante Vicent Duclert revelar que que não foi encontrado «nenhum documento» que ateste a «cumplicidade» de França no genocídio, aponta-se o «fracasso» da política externa francesa, que se concentrou em assegurar «a estabilidade do Estado ruandês», ao invés de tentar acabar com as políticas racistas contra a minoria tutsi.

Duclert não tem dúvidas de que «as autoridades francesas seguiram políticas desligadas da realidade; políticas que mantinham o estigma da colonização, que ignoravam que o país podia ultrapassar a crise e essencialmente acentuaram a crise étnica, alinhando-se com o regime do presidente Habyarimana, que era um regime racista». E vai mais longe, afirmando que «a França estava cega e que ignorou todos os avisos».

Com quase mil páginas, o estudo assenta assim em documentos diplomáticos e notas confidenciais que mostram que o governo francês ignorou alertas de organizações não governamentais, diplomatas e até dos serviços secretos sobre o avanço do extremismo no Ruanda e do risco de um genocídio contra tutsis.

Aliás, na sequência do início do massacre, a França demorou a romper com o regime ruandês e recusou-se posteriormente a prender os mentores do genocídio, que fugiram para zonas sob controlo francês.

Recorde-se que, desde então, França e Ruanda mantêm relações tensas, marcadas pelo rompimento das relações diplomáticas entre os dois países em 2006. Na sequência da publicação deste relatório, o presidente do Ruanda, Paul Kagame, afirmou que este é um «passo em frente no sentido de uma compreensão comum do que aconteceu» e que é importante «continuar a trabalhar em conjunto para documentar a verdade».

Kagame afirmou ainda que o seu país também está a finalizar um relatório sobre o assunto conduzido por uma comissão ruandesa e cujas conclusões estão a apontar «na mesma direcção».

No passado dia 7 de Abril, as Nações Unidas assinalaram o «Dia Internacional de Reflexão Sobre o Genocídio de 1994 Contra os Tutsis no Ruanda», através de uma cerimónia virtual, quando passaram 27 anos sobre o início do massacre.

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