A 38.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, que teve lugar de 2 a 12 de Novembro, enfrentou grandes dificuldades (financeiras) para se afirmar, mas, segundo nota o diário Página 12, os males da falta de apoios foram compensados por uma edição vibrante, com público efusivo e resistente, e por vários títulos de qualidade, em estreia mundial.
Na Competição Internacional, o júri atribuiu o prémio máximo a uma «autêntica descoberta»: o filme peruano Kinra, realizado por Marco Panatonic, «um relato de imigrações internas que junta o minimalismo narrativo a ambições de longo alcance» e que o periódico argentino destacou como «uma das longas-metragens mais potentes e criativas da selecção deste ano».
O júri justificou o prémio «pela forma como conta uma história forte através de uma encenação poderosa que nos permite observar a humanidade dos personagens».
Chapada de luva branca à direita peruana
A distinção dada à obra – gravada em quéchua, com apoio do Ministério peruano da Cultura (em 2017) – representa uma revés para os deputados de direita que no país andino promovem uma iniciativa para cortar o apoio estatal a filmes nacionais, alegando que não são galardoadas no estrangeiro, refere o portal servindi.org.
Em declarações à página do festival, Panatonic, natural de Cusco, destacou a inclusão no filme de pessoas falantes de quéchua, de Cusco e Chumbivilcas.
Já na cerimónia de recepção do prémio, o realizador peruano mostrou-se céptico quanto à possibilidade fazer cinema, tendo em conta as exigências económicas e o risco que existe no seu país de que sejam cortados os apoios aos projectos regionais, por iniciativa de alguns congressistas.
«Duvido se posso fazer cinema e vou continuar a duvidar, porque no Peru há um fascismo que quer destruir o cinema. É preciso continuar a lutar», disse, tendo em conta que, sem os apoios do Estado, o filme agora premiado e louvado provavelmente não existiria.
Situação no Peru não é esquecida
Ao receber o prémio, Panatonic referiu-se ainda à situação que se vive no Peru, tendo denunciado a atitude agressiva das autoridades, que costumam mandar reprimir as manifestações sociais contra o governo de Boluarte e o Congresso.
«No Peru, particularmente, há uma… não sei se é ditadura sequer, mas há um grupo de violentos que mataram mais de 80 pessoas; muitas das pessoas que podiam ser protagonistas morreram», disse.
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