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Em Nagasáqui pediu-se um mundo sem armas nucleares

Os 75 anos do bombardeamento atómico da cidade foram assinalados com um apelo às potências nucleares para que enveredem por um desarmamento efectivo, afastando o enorme perigo que ameaça a humanidade.

Toru Nagata, segura os retratos dos seus pais, Rokutaro e Hatsune, sobreviventes do bombardeamento atómico de 1945, enquanto faz as suas orações seus pais no Parque da Paz, em Nagasáqui, a 9 de Agosto de 2020, durante as cerimónias que assinalaram o 75.º aniversário do bombardeamento atómico que arrasou a cidade e causou mais de 70 mil mortos civis e 150 militares
CréditosEPA/DAI KUROKAWA / LUSA

Em declaração lida na cerimónia em memória das vítimas do ataque dos Estados Unidos, o presidente da Câmara de Nagasáqui, Tomihisa Taue, apelou aos países participantes na próxima conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) «a mostrarem um caminho viável para o desarmamento nuclear efectivo».

O autarca recordou que este ano passa meio século desde a entrada em vigor deste tratado mas, lamentou, «nos últimos anos tem havido um aumento dos movimentos dos Estados dotados de armas nucleares para retrair a promessa de desarmamento nuclear, tal como demonstrado por iniciativas como a eliminação do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário».

Trata-se de uma diplomática formulação para referir o abandono pelos EUA, em 2019, do tratado INF (de Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty), assinado com a União Soviética em 1987. A retirada do tratado foi feita na sequência da revisão da postura nuclear norte-americana, que desde 2018 admite a opção de um primeiro ataque nuclear para defender os interesses vitais dos EUA.

Tomihisa Taue, segundo a PressTV, referiu que «a ameaça do uso de armas nucleares nunca foi tão grande como hoje» e que «apenas nos apercebemos do perigo [delas] quando elas são usadas de novo», mas que nessa altura já estamos «numa posição de não-retorno».

Outro alerta feito por Taue foi o de estarem a ser feitos progressos no desenvolvimento de novas armas nucleares, mais sofisticadas, pequenas e fáceis de usar, tornando «cada vez mais real a ameaça da utilização de armas nucleares».

Registe-se que, nos últimos dias, fontes no Médio-Oriente acusaram Israel de ter usado este ano, na Síria, no Irão e no Líbano, uma arma nova que, não se tratatando de «uma bomba atómica no sentido estratégico», se trata de um míssil «com uma componente nuclear táctica» cuja explosão dá origem a um «cogumelo de fumo» característico das armas nucleares. Na sequência destas revelações, o primeiro-ministro libanês, Michel Aoun, passou a considerar como necessário investigar a possibilidade de um míssil ter sido utilizado na explosão que destruiu o porto de Beirute.

Tal como o seu homólogo de Hiroxima três dias antes, o autarca de Nagasáqui pediu ao primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, presente na cerimónia, a adesão do Japão ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, adoptado nas Nações Unidas em 2017 e que se encontra em processo de assinatura e ratificação por diversos países.

Abe, que tem sido acusado de estimular o militarismo japonês e de alinhar pelas posições agressivas dos EUA em matéria nuclear, reiterou o compromisso do Japão em alcançar um mundo sem armas atómicas mas evitou referir-se ao pacto de proibição destes dispositivos, do qual o país não é signatário.

Há precisamente 75 anos, os EUA lançavam a segunda bomba atómica no Japão, desta vez sobre Nagasáqui. A bomba, mais poderosa do que a lançada sobre Hiroxima, obliterou instantaneamente a cidade. Causou a morte a mais de 70 mil pessoas e mais de cem mil feridos, a esmagadora maioria dos quais civis: apenas 150 militares japoneses e 20 militares aliados (prisioneiros de guerra) foram mortos durante o ataque.

Nenhum responsável político ou militar norte-americano foi alguma vez julgado devido ao bombardeamento.


com Lusa

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