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As consequências ambientais da guerra

As consequências ambientais da guerra

A vietnamita Nguyen Thi Thuy, nascida em 1961, cuida do seu filho Tran Thi Hong desde que este nasceu, paralisado, em 1993. São duas das mais de três milhões de vítimas, distribuídas por quatro gerações, do agente laranja, desfolhante lançado pelas tropas norte-americanas durante a Guerra do Vietname, entre 1955 e 1975.
CréditosKhairul Anwar / South China Morning Post

Se o ambiente é a vítima silenciosa da guerra, a luta pela paz e contra a guerra é o elefante silencioso nas salas onde hoje tanto se fala de defesa do ambiente ou de emergência climática.

Nos ecrãs continuam a surgir novos protagonistas pseudo-ambientalistas ou pseudo-ecologistas, como é o caso dos líderes da União Europeia (UE). Apresentam-se como grandes defensores do ambiente, ao mesmo tempo que investem milhões e milhões de euros em Defesa e Segurança, protagonizam políticas militaristas, promovem a corrida aos armamentos e deixam para as calendas gregas a proibição das armas nucleares.

São terríveis as consequências ambientais da guerra, como a história do século XX tem demonstrado, e permanecem por anos os efeitos da mesma quer nas populações, quer nos ecossistemas. O sistema capitalista, da Primeira Guerra Mundial às guerras que hoje se travam no Médio Oriente, tem sérias responsabilidades na degradação do ambiente, na contaminação da terra e dos recursos aquíferos, na extinção de espécies de animais, na destruição das florestas e na pilhagem de recursos naturais.

No final da Segunda Guerra Mundial, em Agosto de 1945, quando o Japão já estava derrotado, os EUA decidiram bombardear as cidades de Hiroxima e Nagasaki com bombas nucleares. Além de ambas as cidades terem sido arrasadas e de centenas de milhar dos seus habitantes terem morrido aquando do bombardeamento e nos meses que se seguiram, sob o efeito letal da radioactividade, ainda hoje os descendentes dos sobreviventes à tragédia – a quem o sistema de saúde japonês continua a ter de priorizar na assistência médica – carregam consigo as duras consequências da exposição à radiação nuclear.

Na Guerra do Vietname é bem conhecida a utilização, pelo exército norte-americano, de bombas de napalm e de herbicidas – em particular do desfolhante agente laranja. Esta actuação deliberada causou uma forte desflorestação, a extinção de espécies animais, a contaminação de habitats, e a proliferação de doenças irreversíveis como malformações congénitas, cancro e síndromes neurológicos, por milhões de vietnamitas. Cinquenta anos depois, há ainda no Vietname locais onde a pesca em rios e lagos continua proibida e o agente laranja ainda chega aos humanos a partir de sedimentos de rios e lagos, acabando este por entrar na cadeia alimentar1.

Durante a primeira Guerra do Golfo (1990-1991), os EUA bombardearam o Iraque com 340 toneladas de mísseis contendo urânio empobrecido. Investigações denunciaram, desde 19982, que a radiação dessas armas envenenou o solo e a água do Iraque, tornando o ambiente cancerígeno e contribuindo para o aumento dos casos de cancro entre os iraquianos no pós-guerra, nomeadamente entre as crianças. A destruição da infra-estrutura iraquiana pelo exército dos EUA e os seus aliados da NATO, em bombardeamentos sucessivos, teve como consequência o vazamento dos esgotos para as ruas e para os rios, bem como o despejo de óleos das refinarias e oleodutos no solo e, consequentemente, o envenenamento de terras e cidades3.

E em 1999 as munições de urânio empobrecido foram pela primeira vez utilizadas na Europa, durante a guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia, na que foi a primeira agressão militar a um país soberano no continente europeu, após a Segunda Guerra Mundial. As mesmas causas comprovaram as mesmas consequências: a substância tóxica, usada para dotar os projécteis de um mais elevado poder de penetração, é vista como estando na origem do aumento de cancros entre a população civil. Têm sido detectados cancros, em crianças sérvias com menos de 15 anos de idade, com uma frequência três vezes mais elevada do que em qualquer país europeu.

Entretanto, nas cimeiras da NATO em Londres e do clima em Madrid, que decorreram quase em paralelo, responsáveis políticos e ambientalistas, nomeadamente as novas figuras mediaticamente emergentes, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada»!

Uns e outros parecem mais preocupados em taxar cápsulas de café e a roupa que vestimos, ou fazer-nos regressar aos tempos do transporte por barco a remos e por burro, do que em dar combate ao todo-poderoso complexo militar-industrial e denunciar as consequências ambientais da utilização, por exemplo, de porta-aviões, submarinos, tanques e outros veículos de guerra ou os efeitos de testes nucleares em diversos pontos do globo.

A defesa da paz está fora das prioridades dos dirigentes da UE, ao mesmo tempo que os media tendem a esconder e a silenciar a luta contra a guerra. O investimento na guerra terá duras consequências para o Homem e para a Natureza. Por isso, o reforço da luta anti-imperialista e pela Paz é cada vez mais uma emergência. Também climática.

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