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Em França, multidões nas ruas contra a reforma das pensões

Enquanto o governo francês anunciava mais canhões para a guerra e relia a sebenta do «trabalhar mais anos para aguentar o sistema», nas ruas as contas saíam furadas, com uma mobilização recorde – segundo a Polícia.

Manifestação em Paris, na Praça de Itália, a 31 de Janeiro de 2023 
CréditosAlain Jocard / Le Monde

A jornada de mobilização de dia 19, igualmente convocada pelas estruturas que integram a Intersindical, já tinha sido enorme, com mais de dois milhões de pessoas nas ruas – de acordo com os sindicatos (mais de um milhão, segundo a Polícia).

Esta terça-feira, os números da Polícia, que são por norma inferiores aos dos sindicatos, apontam para mais de 1,2 milhão de pessoas nas ruas – um recorde sem comparação desde 1995, refere o Le Monde.

Antes, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) já tinha avançado que a jornada de mobilização e greves contra a reforma das pensões mobilizou 2,8 milhões de pessoas por toda a França.

Imagem aérea da enorme manifestação em Paris / CGT

Só em Paris, manifestaram-se meio milhão de pessoas (87 mil de acordo com a Polícia), numa marcha entre a Praça de Itália e os Inválidos em que se viram balões gigantes, faixas e cartazes a dar expressão à grande rejeição que o projecto de reforma do governo, que altera a idade legal de reforma dos 62 para os 64 anos, suscita no país.

Foram muitas as críticas ao governo da primeira-ministra Élisabeth Borne e do presidente Emmanuel Macron, acusados de arrogância e provocação por nos últimos dias, às portas da jornada de mobilização, terem insistido que a reforma «já não é negociável» e que se trata de algo «indispensável para salvar o nosso sistema».

A este propósito o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, destacando o tom provocador, disse que já estavam em curso consultas às organizações de base sobre novas acções a seguir para dar combate ao projecto, que começa a ser discutido na próxima segunda-feira na Assembleia Nacional.

Contas furadas nas ruas

Várias vozes no executivo francês – e a imprensa que as acompanha – têm atacado o movimento de contestação a uma reforma que aumenta o período de contribuições para 43 anos (para se ter a reforma por inteiro) e elimina regimes especiais de pensões. Por vezes, fazem-no com o pau, ameaçando os grevistas e as greves; outras vezes, fazem-no com a língua, adocicada, a dizer que, com o tempo, de forma inevitável, os franceses irão compreender e aceitar a reforma.

O sindicalismo de classe, combativo e organizado, é um grande escolho para estes planos do neoliberalismo disposto a sacrificar o povo e os povos, e a alimentar os negócios (também o da guerra, com canhões César) – ainda mais quando até se consegue mobilizar de forma unitária, junto a centrais sindicais que nem costumam andar pelas mesmas avenidas, como é o caso da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT).

Manifestação em Paris // Julien Mattia / francebleu.fr

Animado com a força das ruas, ontem ao fim do dia, o movimento sindical unitário anunciou mais duas datas de mobilização e greve – 7 e 11 de Fevereiro –, sublinhando que «nada justifica uma reforma tão injusta e brutal».

As forças sindicais apelam à realização de jornadas de luta ainda mais massivas que a de ontem, que mobilizou 205 mil pessoas em Marselha (40 mil de acordo com a Polícia), 80 mil em Toulouse (34 mil segundo a Polícia), 75 mil em Bordéus (16 500), 70 mil em Lille (15 mil), 65 mil em Nantes (28 mil) e 50 mil em Saint-Étienne (9200).

Em Lyon, manifestaram-se 45 mil pessoas (25 mil segundo a Polícia), em Grenoble 40 mil (20 mil de acordo com a Polícia), em Le Havre também 40 mil (12 mil), em Limoges 38 mil (9500), 37 500 em Clermont-Ferrand (17 mil), 30 mil em Rennes (23 mil) e 30 mil em Montpellier (25 mil), e por aí fora.

Além das manifestações, o dia ficou marcado, em França, por greves, que tiveram maior impacto nos transportes, na energia, na educação e na função pública.

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