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Documentário honra jornalista argentino assassinado na Bolívia nos dias do golpe

A Cinemateca da Bolívia anunciou a estreia de «Sebastián Moro, el caminante», filme em que a cineasta María Laura Cali honra o jornalista argentino morto durante o golpe de Estado de Novembro de 2019.

O jornalista Sebastián Moro 
Créditos / Página 12

«Estará na Cinemateca a partir de 5 de Outubro, de modo que ficará acessível a todo o público», afirmou Cali numa entrevista concedida ao espaço «La Resistencia», do canal boliviano Abya Yala.

Na Argentina, Cali confirmou que se deslocará à Bolívia, juntamente com a protagonista Raquel Rochietti, mãe de Moro, e o produtor e co-argumentista Marcelo Schapces.

«O Grupo Ukamau organiza todo o processo de estreia na Bolívia, e esperamos que este trabalho sirva não só para dar a conhecer a história de Sebastián e todas as vítimas desses acontecimentos terríveis de 2019», disse.

Cartaz do documentário realizado por María Laura Cali 

Cali afirmou que o objectivo é também fazer memória para toda a América Latina, e referiu-se à actual situação na Argentina, que considerou preocupante, após umas eleições em que a extrema-direita saiu reforçada e «faz o impossível para regressar ao poder».

O documentário mostra como, no contexto da conspiração que levou à renúncia do então presidente Evo Morales, morreu em circunstâncias não esclarecidas «o primeiro jornalista que denunciou o golpe de Estado promovido por sectores neoliberais com a cumplicidade do secretário-geral da Organização de Estados Americanos, Luis Almagro».

De acordo com a sinopse, o filme, de 95 minutos, reconstrói na própria voz de Moro o seu périplo desde Mendoza, na Argentina, até La Paz, na Bolívia, e lança luz sobre os motivos do seu assassinato.

Conhecido pelo jornalismo militante e com causas, o jornalista argentino trabalhou na rádio da Confederación de Trabajadores Campesinos de Bolivia e foi correspondente do diário argentino Página 12, onde, a 10 de Novembro de 2019, publicou a nota «Un golpe de Estado en marcha en Bolivia», na qual antecipou o que se viria a concretizar pouco depois.

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De massacre em massacre, golpistas bolivianos deixam claro ao que vêm

A forte repressão sobre os manifestantes que, em El Alto, exigiam a renúncia de Jeanine Áñez segue-se à «carta branca» dada ao Exército, à militarização das ruas, às ameaças crescentes aos eleitos pelo MAS.

A perseguição golpista atinge manifestantes nas ruas que exigem democracia e a renúncia da «autoproclamada» Jeanine Áñez
Créditos / Página 12

A repressão policial e militar alentada pelos golpistas bolivianos esteve na origem de um novo massacre, esta terça-feira, em Senkata, na cidade de El Alto (Área Metropolitana de La Paz). O saldo preliminar da Defensoría del Pueblo [Provedoria de Justiça] apontava para três mortos e mais de três dezenas de feridos.

Esta quarta-feira, o jornalista Fernando Ortega Zabala afirmou no Twitter ter visto cinco mortos, ontem, na capela do Bairro 25 de Julho, em Senkata. «Agora há seis. Não sei quantos há na morgue. Vi 11 mortos. Diz-se que há pessoas que não aparecem», alertou.

Este massacre ocorre depois do que teve lugar este fim-de-semana, também levado a cabo por polícias e militares, em Sacaba, nos arredores de Cochabamba, sobre manifestantes que também exigiam democracia e a renúncia da «autoproclamada» presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez. Ali, foram mortas mais de uma dezena de pessoas.

Ontem, 12 tanquetes do Exército, apoiadas por helicópteros militares, entraram nas instalações de distribuição de carburantes de Senkata, que se encontravam cercadas há cerca de uma semana por habitantes da localidade e camponeses de todas as províncias do departamento de La Paz, em protesto contra o governo golpista boliviano, liderado pela «autoproclamada», indica a Prensa Latina, precisando que dali saíram 45 camiões cisterna com gasolina.

«Os militares chegaram e dispararam. Não vieram em paz», disse uma das manifestantes, citada pela fonte. O médico Aiver Huaranca contou que as forças policiais e militares nem sequer respeitaram o seu uniforme, uma vez que, quando prestava os primeiros socorros a um dos feridos, os agentes dispararam contra ele.

As manifestações e os cortes de estrada em protesto contra o golpe de Estado contra o governo de Evo Morales prosseguiram na zona de El Alto mesmo depois da operação de repressão. Da mesma forma, registaram-se mobilizações para condenar o golpe de Estado e exigir a renúncia de Jeanine Áñez em La Paz, Potosí, Cochabamba e noutros pontos do país.

Criação do inimigo interno e criminalização do MAS

Numa peça publicada ontem no diário Página 12, o jornalista argentino Marco Teruggi alerta para a «construção do inimigo interno» por parte de Arturo Murillo, ministro do governo fake da Bolívia.

Com tal discurso, o governo golpista visa «vitimizar-se e legitimar a acção repressiva» da Polícia e das Forças Armadas, que viram reforçada a verba que lhes é destinada com um pacote extra de 4,8 milhões de dólares e cujos membros ficaram isentos de responsabilidade penal nas operações que levam a cabo – por via do decreto 4078, cuja revogação foi solicitada pela Provedoria de Justiça e pelo Movimento para o Socialismo (MAS), ao considerar que se trata de uma «carta branca» para matar bolivianos.


Com a construção de um «inimigo interno», lembra o jornalista argentino, Murillo pretende também negar as responsabilidades dos golpistas nos assassinatos do golpe (não fomos nós, foram eles) e criar a suspeita de que o governo golpista boliviano poderia ser alvo de ataques armados que teriam como autores intelectuais os membros do MAS, ou seja, aqueles que apoiam Evo Morales.

Entretanto, os golpistas, que afirmam que são governo de forma transitória, que pretendem «pacificar o país» através de novas eleições e da nomeação de novas autoridades eleitorais, enfrentam o problema da maioria parlamentar do MAS no Senado e na Assembleia.

Neste contexto, Murillo já anunciou a criação de um «órgão especial no Ministério Público» que tem como fito perseguir eleitos do MAS, por, alegadamente, promoverem «a subversão e a sublevação». Ou seja, antes de se quererem legitimar pela via eleitoral os golpistas parecem querer garantir os caminhos necessários à perseguição, para arredar os incómodos da frente.

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A denúncia que fez do motim policial e da cumplicidade dos militares com os golpistas tornar-se-ia realidade nos massacres de Sacaba, em Cochabamba, e Senkata, em El Alto, onde foram mortas pelo menos 37 pessoas.

Moro foi encontrado inconsciente em sua casa, em La Paz, com sinais evidentes de ter sido brutalmente espancado, e foi levado para um hospital, onde faleceu a 16 de Novembro.

Segundo se crê, terá sido vítima de um dos grupos paramilitares que, naqueles dias, ajudaram a impor o governo golpista liderado por Jeanine Áñez.

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