«Um número absurdo como aquele de que eu desmatei 88% da Amazónia. Eu sou o "capitão motosserra"», afirmou ontem o presidente brasileiro, em São Paulo, a propósito dos dados estatísticos apresentados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), cuja veracidade Jair Bolsonaro questiona – diz que são «dados imprecisos» – e cuja divulgação põe em causa, indica o portal brasil247.com.
De acordo com o Instituto referido, que tem a seu cargo a responsabilidade da divulgação dos dados sobre o desmatamento, em Junho deste ano registou-se um aumento de 88% na devastação da Amazónia, por comparação com igual período do ano passado. Em Julho, o desmatamento registado aumentou 278%, também em comparação com o mesmo mês de 2018, segundo refere a Rede Brasil Atual.
A divulgação destes números levou à demissão do director do órgão, Ricardo Galvão, na passada sexta-feira, uma vez que Galvão se negou a camuflar as estatísticas de acordo com a vontade do presidente. Para o seu lugar, foi nomeado o militar da Aeronáutica Darcton Policarpo Damião.
Bolsonaro tachou os dados como «sensacionalistas». «Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas», denunciou o agora ex-director do Inpe.
De acordo com este organismo, os dados relativos a Julho revelam 2254,9 quilómetros quadrados de devastação na floresta amazónica, em comparação com os 596,6 quilómetros quadrados verificados no mesmo mês de 2018. A medição foi realizada pela Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que sinaliza áreas de devastação para órgãos de fiscalização ambiental.
«A estratégia bolsonarista para resolver o problema foi negar a ciência, demitir profissionais e ridicularizar qualquer questionamento sobre o tema», refere a Rede Brasil Atual, sublinhando que esse é o comportamento de Bolsonaro e do seu grupo de apoio também noutras áreas: «usam a mentira como estratégia (desde a campanha eleitoral)».
«Só valem os dados que agradam ao rei»
«Estamos voltando à Idade Média, onde só valem os dados que agradam ao rei», disse Carlos Minc, ambientalista e ex-ministro do Meio Ambiente, em entrevista ao Brasil de Fato. «Quem discorda vai arder na fogueira da Inquisição», ironizou, a propósito da demissão de Ricardo Galvão.
O ex-ministro valorizou o trabalho do Inpe, acrescentando que «é um instituto internacionalmente reconhecido pelos seus estudos científicos».
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