A presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, confirmou esta quarta-feira, numa conferência de imprensa em Buenos Aires, a restituição da identidade ao neto número 132.
De Carlotto expressou a «enorme alegria» por esta nova restituição – apenas uma semana depois de ter anunciado a do neto 131 –, no contexto da longa luta que a associação a que preside trava pela identificação das crianças que foram «ilegalmente apropriadas» durante a ditadura argentina (1976-1983).
O homem que recuperou a sua identidade, indica a agência Télam, pertence a uma família «ceifada» pela ditadura cívico-militar.
A sua mãe foi sequestrada quando tinha 21 anos (tinha nascido a 20 de Agosto de 1954), no dia 20 de Maio de 1976, na cidade de Monteros (província de Tucumán), e os seus restos mortais acabariam por ser identificados pela Equipa Argentina de Antropologia Forense (EAAF) em 2010 e exumados no Cemitério do Norte de San Miguel de Tucumán.
Foram igualmente sequestrados – e continuam desaparecidos – os avós de Juan, José Ramón Morales e Toribia Del Tránsito Romero, e um tio chamado Julio César Morales.
Segundo explicou De Carlotto, a busca de Juan pelo conhecimento da sua identidade começou em 2004, depois do falecimento daqueles que considerava seus pais biológicos, quando os seus irmãos lhe confessaram que não era assim e lhe entregaram o seu primeiro documento nacional de identificação.
Juan dirigiu-se então à Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi) para tentar saber mais sobre os seus antepassados biológicos e, após investigações e estudos de ADN no Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG), em 2008 constatou que Mercedes era a sua progenitora, tal como aparecia no seu primeiro documento de identificação, disse De Carlotto.
Busca da identidade do pai
Conhecida a identidade da mãe, Juan quis saber quem era o pai. Para confirmar se tinha sido «vítima de apropriação», era preciso saber se quem o registara como filho próprio era ou não o verdadeiro pai. Como este já tinha falecido, foi necessário recorrer à exumação do corpo e à comparação dos perfis genéticos, explicou a presidente das Avós da Praça de Maio.
Essa medida foi decretada pela Procuradoria de Tucumán de crimes contra a humanidade, que esta quarta-feira informou Juan «que não é filho de quem o criou e confirmou que efectivamente foi vítima de roubo, ocultamento e substituição de identidade no quadro do terrorismo de Estado», disse De Carlotto.
Na verdade, ficou-se a saber que a família que criou Juan era dona da quinta em que trabalhava a sua mãe biológica, indica a Prensa Latina.
«Continuamos a festejar a vida»
«Hoje abraçamo-lo como o nosso neto 132 e, como um quebra-cabeças que nunca acaba, iniciamos um novo caminho para poder encontrar o seu verdadeiro pai», afirmou De Carlotto.
«Apesar da dor que traz cada uma destas histórias, juntamente com a constatação da árdua tarefa que é reconstruir o que a ditadura quis apagar, continuamos a festejar a vida com a alegria que nos dá a conquista da verdade. Por um 2023 com mais encontros, verdades e identidades», frisou.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui