|Sugestões culturais

Um novo regresso às artes

Círculo Artístico Artur Bual na Amadora, Prémio de Pintura Henrique Pousão em Vila Viçosa, Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto em Amarante.

Vista da Exposição de pintura, desenho e escultura «Comemorativa dos 20 anos do Círculo Artístico Artur Bual» no Espaço+ em Aljezur<br /> 
Vista da Exposição de pintura, desenho e escultura «Comemorativa dos 20 anos do Círculo Artístico Artur Bual» no Espaço+ em Aljezur
 
Créditos

Neste período que se prevê ser de reabertura de muitos dos projetos ou espaços culturais, entretanto, interrompidos ou fechados devido às medidas do estado de emergência é também um tempo de balanço de momentos difíceis e de grandes incertezas.

Para recomeçar projetos artísticos não basta abrir as portas, porque nem o público está ali à espera, nem as ideias para a criação poderão, na íntegra, ser recuperadas, como se de um passo de magia se tratasse. Recomeçar em arte é sempre ter a coragem de criar novas dinâmicas que venham agora a fazer sentido, negando ou afirmando algo que, entretanto, se fez ou rebuscar nos registos de memória do que ficou em suspenso.

O Círculo Artístico e Cultural Artur Bual é uma Associação sem fins lucrativos sediada na Amadora, tendo como referência e inspiração a obra e  a memória do artista Artur Bual (1928-1999), que marcou o panorama da arte portuguesa do século XX com «o gestualismo expressionista» a partir de 1958, «geralmente em tons cinzentos»  com «sugestões de claro-escuro cenográfico»1

Esta associação foi fundada no ano de 2000 e tem como objetivo desenvolver um projeto cultural na área das Artes Plásticas, da Literatura e da Música. Durante os seus vinte anos de existência desenvolveu exposições em universidades, escolas, juntas, em Bilbao, Paris, Lagoa, Vila Nova de Cerveira, Valência, Alandroal, Mértola e agora Aljezur, realizou parcerias com associações culturais em todo o país com atividades de música e poesia, com tertúlias e pinturas ao vivo em diversos espaços de Montemor-o-Novo, Montemor-o-Velho e Porto, entre muitos outros. O Círculo Artur Bual tem vindo a publicar diversos cadernos de poesia e organizou o Prémio Jovem de Escultura e Pintura Artur Bual da Amadora.

Recentemente o Círculo Artur Bual realizou uma exposição no Espaço+ em Aljezur, que apesar do estado de emergência manteve na sua programação a Exposição de pintura, desenho e escultura «Comemorativa dos 20 anos do Círculo Artístico Artur Bual». Esta exposição reúniu 33 obras de pintura, escultura e fotografia de 27 artistas, sendo 24 portugueses e três estrangeiros, todos a viverem em Portugal, entre sócios do círculo e convidados. O Município de Aljezur disponibilizou em formato digital, uma visita à exposição, que pode ser consultada aqui.

Pintura de Henrique Pousão (1859-1884), Senhora Vestida de Preto, Óleo sobre Madeira, 28,3 x 18,4 mm. Prémio de Pintura Henrique Pousão em Vila Viçosa, inscrições até ao dia 30 de setembro de 2021

Na sequência da promoção de projetos de natureza artística e cultural, a Câmara Municipal de Vila Viçosa institui o Prémio de Pintura Henrique Pousão em 1985, com o objetivo de estimular os artistas locais e regionais e a atividade cultural na área da Pintura e, sobretudo, evocar o pintor Henrique Pousão2, proeminente figura da Arte e da Cultura do século XIX em Portugal e nascido na localidade de Vila Viçosa.

O Prémio de Pintura Henrique Pousão é bienal, realiza-se em 2021, onde poderão concorrer todos os artistas naturais e ou residentes no Alentejo. O Prémio tem um valor de 2.500,00 euros e contempla total liberdade temática. Já se pode consultar o regulamento do Prémio de Pintura Henrique Pousão 2021, sendo que a inscrição e entrega das obras a concurso deverá ser feita na Câmara Municipal de Vila Viçosa, até ao dia 30 de setembro de 2021. O vencedor será conhecido até 20 de outubro, ficando a Câmara Municipal como proprietária de todos os direitos do quadro, que passará a ser integrado no fundo artístico da autarquia, com vista à criação de um museu. A entrega do prémio está marcada para novembro.

A Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto3, em Amarante, tem por objeto a divulgação da obra de Eduardo Teixeira Pinto e promover a constituição do museu de fotografia e imagem Eduardo Teixeira Pinto, que albergará as obras que constituem o seu património e outras obras que venham a ser doadas, pretendendo também, promover atividades, eventos, projetos e programas culturais no domínio de todas as artes.

Esta associação está sediada na Casa da Granja, um espaço que remonta ao final do século XVII, que já pertenceu à família do pintor Amadeo de Souza-Cardoso, sendo depois propriedade do Município de Amarante, e, desde 2017, a gestão deste renovado espaço está a cargo da Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto, que além da sala museológica dedicada ao fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto tem um espaço de exposições temporárias e ali tem implementado um crescente e diversificado trabalho de divulgação cultural.

Atualmente, esta associação, em parceria com a União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão e o Café Bar S. Gonçalo desenvolvem o 6.° Concurso de Fotografia Ilustre Amarantino 2021 António Cândido, referindo que o prazo de inscrição e receção das fotografias a concurso será brevemente prolongado, podendo ser consultado o respetivo regulamento.

Fotografia de Miguel Louro do livro «A Luz Viva da Morte no livro», 2006. Exposição de Fotografia «Retrospectiva 45 anos de carreira» de Miguel Louro, na Casa da Granja, em Amarante
 

Na sua programação de exposições temporárias para a Casa da Granja está prevista para este ano uma mostra fotográfica de Miguel Louro, a exposição da pintora Manuela Mendes da Silva, do fotógrafo Jorge Bacelar e da artista plástica bracarense Teresa Ricca.Sobre a Exposição de Fotografia «Retrospetiva 45 anos de carreira» de Miguel Louro4, que entretanto foi encerrada devido ao confinamento, registamos alguns elementos acerca do trabalho do fotógrafo. «(…) Com a sua companheira, a máquina fotográfica, recolheu momentos importantes, das viagens, dos acontecimentos, deu testemunho, documentou, ilustrou, perpetuou lugares (Braga, Bom Jesus do Monte, Tibães, Trás-os-Montes, Salto, Tebosa, Arcos de Valdevez, Vila Verde), satisfez possibilidades expressivas e criativas, interagiu com outros fotógrafos, sempre com a capacidade de manter viva a memória, pois a fotografia de Miguel Louro transcende o tempo e a história. Para além de outras posturas, sobressai na sua arte uma poética, significados implícitos, valores, uma pluralidade de sentidos latentes que não o amarram a correntes estéticas, mas revelam tendências que o resgatam da invisibilidade e o posicionam como figura de topo entre os seus pares.

Sem Título (Série «Quarentena»), acrílico sobre tela, 25,5x22cm. Exposição de Pintura de Manuela Mendes da Silva, inauguração a 24 de abril na Casa da Granja, em Amarante
 

A sua iconografia é um convite à introspeção, à construção de silêncios, imprevistos, inquietações, desafios, um mergulho na explosão dos sentidos, um cruzamento de emoções. Muita inspiração bebeu nas viagens pelos vários continentes e consequentes aventuras, aguçou mais os sentidos; muitos dos seus projetos nasceram de vivências, de sentimentos, agarrou-os com os olhos e leu-os com as mãos, como a viagem por Belém do Pará, Manaus e Amazonas, seguindo os passos e a obra do «pai dos pobres», Frei Caetano Brandão (…)»5. O catálogo pode ser aqui consultado.

No próximo dia 24 de abril, a Casa da Granja, em Amarante, abrirá novamente ao público, com a exposição de pintura de Manuela Mendes da Silva6. «A obra de Manuela Mendes da Silva parte de um estilo figurativo, evoluindo para uma proposta abstracionista em que perdura o gesto e o romantismo. Percebe-se que procura transpor sobre tela as transparências da aguarela.»


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990

  • 1. Citado no livro A Arte Portuguesa do Século XX, de Rui Mário Gonçalves, Círculo de Leitores, 1998, pgs.80-81.
  • 2. Henrique Pousão (Vila Viçosa, 1859- 1884) viveu apenas 25 anos, no entanto, foi um dos artistas mais inovador da 1.ª geração naturalista, refletindo na sua obra influências de pintores impressionistas, como Camille Pissarro e Manet. No Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e no Museu do Chiado, em Lisboa, poderão ser encontradas algumas das suas obras mais representativas.
  • 3. Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto – Casa da Granja – Lugar de Granja – São Veríssimo, 4600-262 Amarante, Portugal. Horário: segunda-feira 14h – 17h; quinta-feira 14h – 17h.
  • 4. Miguel Louro (n. Póvoa de Varzim, 1955) trabalha e reside em Tebosa, Braga, e dedica-se à fotografia desde 1975.
  • 5. Excerto do texto de José Carlos Gonçalves Peixoto, no prefácio do Catálogo da exposição «40 Anos de Fotografia» de Miguel Louro.
  • 6. Manuela Mendes da Silva nasceu no Porto, cidade onde reside e trabalha. Oriunda de uma família de artistas, Manuela é licenciada em Pintura pela Escola Superior de Artes da Universidade do Porto (atualmente Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto). Após a licenciatura, Manuela Mendes da Silva manteve-se ligada à vida académica enquanto docente, lecionando na mesma Universidade entre 1966 e 2009. Enquanto artista plástica, Manuela expôs dentro e fora de Portugal, incluindo Paris, Bruxelas, Dubai, Joanesburgo e Chicago. A sua obra está representada em diversas coleções, incluindo a coleção do National Archie of Moving Images e European Art Museum.

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