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|História

Obra histórica de Borges Coelho sobre expansão portuguesa regressa às livrarias

O historiador António Borges Coelho, que completa 90 anos em Outubro, vê reeditada a sua obra Raízes da Expansão Portuguesa, publicada pela primeira vez em 1964, e que agora regressa às livrarias.

Foto de arquivo de António Borges Coelho, historiador. 24 de Novembro de 2009
Foto de arquivo de António Borges Coelho, historiador. 24 de Novembro de 2009CréditosAntónio Cotrim / Agência LUSA

O historiador defende, nesta obra, que a expansão portuguesa, nos séculos XV e XVI, designadamente a expansão marítima, foi impulsionada pela «alta burguesia marítima agrícola» e não pela nobreza, contrariando a visão dominante da época e a propaganda da ditadura.

«Quem obriga a sociedade portuguesa a saltar por cima das barreiras marítimas, quem obriga a dar o salto, quem determina a expansão geral dos portugueses e, no caso, a conquista e o comércio com o litoral marroquino, é a alta burguesia marítima agrícola», escreve o historiador, que se afasta das teses então defendidas que atribuíam esse impulso à nobreza, liderada pelo infante D. Henrique, filho de D. João I.

Confronto com a historiografia oficial fascista

Em 1964, o regime fascista usou a censura para mandar retirar a obra das livrarias, «duas semanas depois» do lançamento, como conta Borges Coelho na presente edição. No mesmo texto, recorda que a publicação da obra pela antiga Prelo Editora lhe valeu «uma tarde de interrogatório», pelas forças da ditadura fascista, «com a ameaça de que lhe iriam revogar a liberdade condicional».

Raízes da Expansão Portuguesa de António Borges Coelho, Editorial Caminho (reedição 2018)

Na opinião dos censores, Borges Coelho «[desvirtuava] algumas das páginas mais brilhantes da nossa História, adulterando sacrilegamente os factos e classificando de "abutres" homens que foram heróis». As afirmações citadas são retiradas do «Auto de Declarações», datado de 1 de Agosto, que é reproduzido na íntegra na actual edição, com a chancela da Editorial Caminho.

Esta é a sexta edição da obra em Portugal, mas a sétima em termos globais, já que, após a proibição original, «saiu em Bruxelas uma nova edição, organizada por estudantes portugueses exilados», recorda o historiador. No entanto, continuou a ser vendida em Portugal «por baixo do balcão, editaram-se exemplares copiografados, que circularam na Faculdade de Letras de Lisboa».

Para António Borges Coelho, «em resumo, a luta entre a burguesia, assinaladamente a sua cabeça agrícola-comercial, e a nobreza feudal pelo domínio do Estado, com a força impulsionadora dominante e decisiva de uma burguesia estrategicamente na ofensiva, luta entrecortada por alianças e traições, é o verdadeiro motor da história do século XV, pelo menos e no caso da história da expansão».

Acrescenta o historiador que esta afirmação não ignora «a acção das forças populares, camponeses e mesteirais, acção que fica marcada nos principais movimentos do século», a quem atribui «a profundidade da revolução de 1383», outra temática em que apresentou, juntamente com Álvaro Cunhal, com quem esteve preso na Fortaleza de Peniche, uma nova leitura dos acontecimentos históricos.

Revolução de 1383

Para Borges Coelho, os acontecimentos que se sucederam à morte do rei D. Fernando foram mais do que uma crise social e política, mas uma revolução liderada pelas forças populares e burguesas, que se emanciparam. «Ao longo do século XV», escreve o historiador, a burguesia irá «defender a paz com Castela, mas, graças à concorrência no campo económico, diplomático e colonial», acabará por «impor o avanço pelo oceano, em busca do ouro, escravos, das tintas, das novas bases e de terras virgens sem senhor para assegurar, por fim, o acesso e o domínio das fontes das especiarias orientais».

Para o historiador, a expansão dos portugueses manteve «este rumo», em que dominou a «alta burguesia marítima agrícola», e, no reinado de D. Afonso V (1448-1481), a burguesia irá «interessar-se pela hegemonia ou uma posição reforçada numa Península [Ibérica] reunificada sob o ceptro da casa real portuguesa».

António Borges Coelho, nascido em Murça, em Trás-os-Montes, há 89 anos, estreou-se editorialmente, em 1962, com um livro de poesia, Roseira Verde, ao qual se seguiu Raízes da Expansão Portuguesa (1964), tendo ainda publicado ensaios historiográficos, obras de poesia, teatro, romance e biografias. Tem em curso a publicação de uma História de Portugal, actualmente com seis volumes.


Com Agência Lusa

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