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O corpo, o silêncio e o transdisciplinar nas Artes

Desenho, arte e novas tecnologias e instalação-vídeo. Exposições de Desenho de Isabel Baraona e Nettie Burnett em Gondomar, coletivo «Invasor Abstracto» em Braga e Ana Léon em Coimbra.

Exposição coletiva «invasor abstracto#3» no espaço gnration em Braga, até 30 de junho
Exposição coletiva «invasor abstracto#3» no espaço gnration em Braga, até 30 de junhoCréditos / gnration

O Lugar do Desenho-Fundação Júlio Resende, em Gondomar1, é um projeto artístico já apresentado num artigo do AbrilAbril. Lembramos, no entanto, que possui um espólio de cerca de dois mil desenhos do pintor Júlio Resende, um dos principais representantes da nova geração de artistas e críticos portugueses, dos anos quarenta, que contribuíram para o «reconhecimento público da modernidade [...] arrancando do esquecimento a obra de Amadeo»2 e para o desenvolvimento das vanguardas do neorrealismo, do surrealismo e do abstracionismo em Portugal. No Lugar do Desenho apresentam-se duas exposições que podem ser visitadas até 26 de junho, «Desenho: corpo-a-corpo» de Isabel Baraona e «Drawing it out» de Nettie Burnett, respectivamente na Sala 3 Hiscox e Sala de Exposições Temporárias.

Quanto à exposição de Isabel Baraona3, com curadoria de Paulo Almeida, refere-se que estes desenhos foram feitos entre 2008 e 2010, e muitos deles estão na origem dos Livros de Cores. «(...) Estas figuras frágeis, gorduchas, inábeis, deliberadamente desenhadas de modo canhestro contestam a imposição contemporânea de beleza. Nancy diz que o corpo é “uma alma macia ou enrugada, gorda ou magra, glabra ou peluda, uma alma com bossas ou chagas.”»4.

Isabel Baraona, Portraits, autoportraits et confidences, 2008. Exposição «Desenho: corpo-a-corpo» de Isabel Baraona no Lugar do Desenho em Gondomar, até 26 de junho Créditos

Paulo Almeida refere ainda sobre esta exposição que «os corpos destes personagens incarnam um mal-être, uma aflição, corpos abertos a um inquietante desequilíbrio. Estas são estórias de iniciação e transformação, de conflitualidade excessivamente patética. É em tensão que se tecem as relações entre os personagens, e estes entes imperfeitos sofrem de uma incompletude… Estas figuras, na sua candura desajeitada, colidem consigo próprias, cindem-se no desejo expresso involuntariamente na pose do corpo.»

Nos desenhos da artista Nettie Burnett5 podemos encontrar um «mundo fascinante» que «tanto pode estar inscrito nas montanhas escarpadas… como surgir duma forma inusitada na neblina pintada de crepúsculo e pousada no chão do devir, ou ainda, na exaltação de valores telúricos da terra e das vinhas do Douro distante, como monumento eterno ao silêncio e à paz dos dias». O texto «Para lá do visível…» de Isolina Carvalho apresenta-nos os desenhos de Nettie Burnett como «um olhar ainda inquieto e descobre-se que todo esse espaço está povoado de formas e memórias que esvoaçam como aves brancas e difusas, ou improváveis pássaros de fogo que, levados pelo sibilar do vento que caminha sobre o rio, se afogam depois, em voo quase apagado, ou mágica dança poética, nos poentes de todos os dias.» Ainda a propósito do que está para lá da aparência visível, Isolina Carvalho cita uma frase de Clarice Lispector em que nos aconselha: «Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento».

Nettie-Burnett, Ninho, 2020. Grafite, folha de ouro e tecido de aranha sobre tela, 175 x 175 cm. Exposição «Drawing it out» de Nettie Burnett no Lugar do Desenho em Gondomar, até 26 de junho Créditos

OSSO-Associação Cultural é um coletivo que inclui artistas e investigadores de diferentes áreas (Música, Dança, Artes Plásticas, Literatura, Performance e Cinema). Desde 2012, tem vindo a desenvolver a sua atividade experimental em torno do apoio à criação, programação e investigação predominantemente transdisciplinar, procurando explorar práticas artísticas em articulação com um pensamento crítico, estético e político que contemple a especificidade dos contextos e territórios nos quais se inserem. Em paralelo com os seus projetos artísticos e de investigação, a OSSO tem uma nova casa na aldeia de São Gregório, no concelho de Caldas da Rainha, onde promove um conjunto de atividades focadas na relação entre os artistas e comunidade local.

Atualmente este coletivo está a apresentar o programa «invasor abstracto#3», que compreende instalações, performances e concertos, com peças de Matilde Meireles, Nuno Morão, Nuno Torres, Pedro Tropa, Ricardo Jacinto e Rita Thomaz. Invasor Abstracto é um projeto dedicado à circulação de diferentes constelações de membros do coletivo OSSO. Nas suas diversas iterações intersectam-se os territórios criativos de cada autor(a), numa viagem imaginada entre o seu centro criativo (Aldeia de São Gregório, nas Caldas da Rainha) e os espaços e comunidades que os acolhem. Invasor Abstracto é a expressão nómada de um coletivo cujo trabalho artístico tem operado sobre a noção de território, nas implicações estéticas e políticas que esta pode ter na construção das comunidades temporárias que a OSSO promove, mas também naquelas onde se insere. É a partir deste contexto e do 8.º aniversário que se apresenta em Braga uma exposição coletiva onde a música, o desenho, a fotografia, o som, a escultura e o vídeo acontecem no espaço gnration6, até 30 de junho. Está disponível um vídeo, onde podemos ver uma vista geral da exposição e a apresentação de obras de música contemporânea e das artes que exploram as relações entre arte e as linguagens das novas tecnologias de média e comunicação7, através de sintetizadores, amplificadores e microprocessadores, como poderemos ver nas peças «Chuva» (2020), performance de Pedro Tropa e Ricardo Jacinto, «Spectrum» (2020) de Nuno Torres, «The green drones» (2019-20) de Matilde Meireles, um projeto desenvolvido em Belfast, mas também obras de outras linguagens artísticas como «Corrente de ar» (2020) de Rita Thomaz, que apresenta desenhos em papel feitos à mão e um projeto fotográfico «Maçãs tombadas» (2020) de Pedro Tropa, apresentado pelo autor como «um momento da produção agrícola» local.

Projeção/instalação-vídeo «Corpos» de Ana Léon no Círculo Sereia, em Coimbra, até 19 de junho Créditos

O Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), fundado em 1958, é uma referência das vanguardas artísticas portuguesas das décadas 70, 80, 90 até à contemporaneidade. Funciona em dois núcleos, o Círculo Sede e o Círculo Sereia. Além das diversas exposições de arte contemporânea organiza colóquios, conferências, debates e programas de cinema e vídeo e participa na organização da Anozero: Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra.

O CAPC apresenta no Círculo Sereia8 «Corpos» de Ana Léon9 até 19 de junho. Nesta projeção/instalação-vídeo são apresentados seis filmes em quatro salas. O texto da exposição inicia com uma frase de Martha Graham, (dançarina e coreógrafa) «O corpo diz o que as palavras não podem dizer», acrescentando a autora que os filmes aqui mostrados «são alguns dos mais recentes e fazem parte de uma longa série que tenho vindo a desenvolver desde 1995. São concebidos em película super 8 (mudo), fotografando imagem por imagem — segundo o princípio do filme de animação, utilizando bonecos articulados — e em seguida digitalizados e sonorizados. Nestes filmes, as «personagens», exprimindo-se através dos seus corpos, evoluem com movimentos repetitivos, como coreografias, em gestos mais rápidos, mais lentos ou «sacudidos», intensificados por valores rítmicos do som».


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Lugar do Desenho. Rua Pintor Júlio Resende, 105 4420–534 Valbom Gondomar. Horário: Segunda-feira a sexta-feira das 9h às 12h30 e das 14h30 às 18h30.
  • 2. Rui Mário Gonçalves, A Arte Portuguesa do Século XX, Círculo de Leitores, 1998, p. 66.
  • 3. Isabel Baraona (1974) lecciona na ESAD.CR/IPLeiria desde 2003. Licenciou-se em Pintura na La Cambre (Bélgica), doutorou-se em Artes Visuais e Intermedia na Universidade Politécnica de Valência (Espanha) e em 2013, no âmbito de um pós-doutoramento, foi bolseira da Universidade Rennes 2 (França) onde desenvolveu Tipo.pt, um arquivo online sobre livros de artista e edição de autor em Portugal. Tem participado em diversas exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
  • 4. Nancy, Jean-Luc. 2004. «Cinquenta e oito indícios sobre o corpo». Revista de Comunicação e linguagens – Corpo, Técnica, Subjectividade, n.º 33. Relógio d’Água. Lisboa.
  • 5. Nettie Burnett é docente de Desenho na Escola Superior Artística do Porto, 2000-4. Mestrado em Belas Artes na Norwich School of Art and Design e bacharelato em escultura na Wimbledon School of Art, London. Diretora de Artes Foundation no University College Suffolk. Docente de Drawing Studies, Design Communication no University College, Suffolk. Convidada no Curso de Mestrado do Goldsmiths College, London. Prémio Baviera (revelação) 2002. Menção honrosa na Bienal da Marinha Grande, 2001. Expõe individualmente e colectivamente em Portugal, França, Inglaterra e Espanha.
  • 6. Resultante da Braga 2012 – Capital Europeia da Juventude, o Gnration é um espaço de criação, performance e exposição no domínio da música contemporânea e da relação entre arte e tecnologia. Morada: Praça Conde de Agrolongo, n° 123, 4700-312 braga. Horário: segunda-feira a sexta-feira, das 9h30 às 18h30; sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
  • 7. A «new media art» afirmou-se no início da década de 90 do século XX, com raízes estéticas no Dadaísmo e na Pop Art, assumindo-se como herdeira das práticas criativas destes movimentos. As novas estratégias que agora vêm sendo assumidas na arte digital caracterizam-se pelo uso das novas tecnologias emergentes e, ao mesmo tempo, têm como preocupação explorar «as possibilidades estéticas, culturais e políticas dessas ferramentas». (Tribe, Mark/ Jana, Reena, New Media Art, Taschen, 2007, p. 6).
  • 8. CAPC. Círculo Sereia - Casa Municipal da Cultura, Piso 1, Parque de Santa Cruz, Jardim da Sereia, Coimbra. Horário: terça-feira a sábado, das 14h às 18h.
  • 9. Ana Léon nasceu em 1957 em Lisboa. Vive e trabalha em Paris. É licenciada em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e maitrise em Estética pela Université de Paris I, Sorbonne, em Paris. Foi bolseira do Governo francês em Paris, entre 1982 e 1984, e da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris, em 1986 e 1987. O seu trabalho tem-se desenvolvido através de vários suportes, nomeadamente o desenho e o filme, dois caminhos autónomos. Tem exposto desde 1982, individual e coletivamente.

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