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«Eu não sou português. Eu sou Portugal. Um país à espera»

Dino D’Santiago estreia esta sexta-feira a sua primeira ópera, Adilson , um grito lírico pela identidade na imigração.

Créditos / Adilson

No seu passaporte traz o nome Adilson, entre os amigos chamam-lhe D’Afonsa e na família, Nuno. Adilson, nascido em Angola de pais cabo-verdianos, vive desde bebé em Portugal. Entretanto, o país em que se revê e o que o viu crescer nunca lhe concedeu o direito à nacionalidade. Com libreto do jornalista e escritor Rui Catalão e direcção musical do maestro Martim Sousa Tavares, Adilson é a primeira ópera dirigida pelo músico Dino D’Santiago.

A vida do personagem, tal como a de centenas de milhares de imigrantes, desenrola-se numa sequência infinita de salas de espera, processos adiados e um emaranhado burocrático que o impede de ser plenamente reconhecido pelo país que sempre considerou seu.

O espectáculo foi uma encomenda e uma produção da Bienal de Artes Contemporâneas (BoCA) ao músico que se inspirou na história de um amigo de infância para o enredo. A primeira «ópera crioula», como descrita pelo dramaturgo estreante, é um manifesto sobre a identidade multicultural portuguesa em conflito com uma invisibilidade burocrática.

O Adilson real, tal como o personagem, fez toda a sua vida em Portugal. No entanto, após quatro décadas no nosso país ainda não pode oficializar o seu vínculo com a terra que sempre teve como sua. «Eu não sou português. Eu sou Portugal. Um país à espera» é o grito final desta que é apenas uma entre tantas outras vítimas das armadilhas burocráticas e simbólicas de um sistema que falha com os seus cidadãos.

A par da biografia de Adilson, a ópera aborda a questão da complexa herança colonial no Portugal contemporâneo, no ano em que se comemora os 50 anos do fim da presença militar portuguesa em África.

O espectáculo estreia-se hoje, às 20h, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde fica este fim-de-semana, com apresentações no sábado às 19h e no domingo às 17h. No dia 19 de Setembro estará no Theatro Circo, em Braga. A digressão segue dia 25 de Outubro no Teatro das Figuras, em Faro, e no dia 7 de Novembro, no Teatro Aveirense, em Aveiro.

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