«Só uma verdadeira assembleia do povo está em condições de enfrentar, com sentido de urgência, serenidade, realismo e compromisso, os colossais desafios que o país tem pela frente neste momento e virar-se para o futuro», afirmou esta quinta-feira, em Havana, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
Ao intervir no encerramento do sexto período de sessões da Assembleia Nacional, o chefe de Estado destacou o facto de nesta sessão terem sido debatidos e aprovados o plano da economia e o orçamento do Estado para 2026, o programa de governo para corrigir distorções e revitalizar a economia, e a Lei Geral da Ciência, Tecnologia e Inovação, indica a TeleSur.
Díaz-Canel disse que estas questões «estão todas ligadas entre si e integram um desafiante conjunto de tarefas necessárias para fazer frente à complexa situação do país, bem como aos riscos e ameaças que pairam sobre a região latino-americana e caribenha».
Depois de afirmar que a Ilha vive um «momento extremamente complexo» na economia e na vida cotidiana do povo, «que exige respostas mais profundas, rápidas e responsáveis», o também primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba sublinhou que esta «não é mais uma crise».
É – disse – «a acumulação de distorções, adversidades, dificuldades e erros próprios, agravada por um cerco externo extremamente agressivo e por um contexto internacional incerto e perigoso para objectivos vitais como a protecção da paz, a promoção do desenvolvimento e outras questões essenciais da agenda global».
Imperialismo, ameaças à paz, ao multilateralismo e ao direito internacional
Díaz-Canel abordou o contexto actual na região, marcado pela crescente agressão da administração de Trump à Venezuela, tendo afirmado que «se tornou também perigoso para a sobrevivência do multilateralismo, do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e das normas que sustentaram as relações internacionais durante oito décadas».
Como expressão desse contexto, referiu-se à «impunidade» que permite ao regime israelita levar a cabo uma «agressão genocida contra o povo palestiniano».
No que respeita à doutrina de segurança actualmente promovida pelos Estados Unidos, «que designam com o nome ultrajante "paz pela força"», afirmou que consiste, «no fundo, em impor a todos a vontade arbitrária e a dominação do imperialismo norte-americano através de ameaças, coacção e até agressão directa».
Denunciou que Trump, «porta-voz da Doutrina Monroe e da recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional dos EUA», «ignora e põe em risco o estatuto da região como Zona de Paz, firmemente proclamado desde 2014».
O texto da doutrina, disse o presidente cubano, «exibe descaradamente as ambições de uma potência unipolar que responde aos interesses das grandes empresas transnacionais, em detrimento dos direitos inalienáveis dos países da região».
Ao mesmo tempo, Donald Trump «declara abertamente a intenção dos EUA de se apropriarem dos recursos e riquezas naturais que pertencem aos países soberanos do Hemisfério Ocidental e aos seus povos», o que, acrescentou o presidente, «explica a pressão para estabelecer bases militares norte-americanas em vários países, a presença militar excessiva e agressiva nas Caraíbas e as crescentes e provocatórias ameaças contra a Venezuela «com pretextos tão insustentáveis que mudam numa questão de dias».
A ameaça de guerra aberta ou velada contra a Venezuela, frisou Díaz-Canel, «é um acto criminoso contrário ao direito internacional», tal como o ataque e sequestro de um petroleiro e a apropriação ilegal da sua carga, as execuções extrajudiciais em ataques contra embarcações nas Caraíbas e as incursões provocatórias de aviões de guerra norte-americanos no espaço aéreo venezuelano.
O bloqueio naval e petrolífero declarado por Trump à Venezuela «é uma medida de guerra brutal e perigosa contra um país que não representa qualquer ameaça para eles», denunciou o presidente cubano perante a sessão plenária da Assembleia Nacional.
Em seu entender, isto evidencia «o desespero impotente daqueles que apostaram na rendição desse país irmão face à ofensiva violenta de uma camarilha que tomou o controlo da política externa e dos mecanismos de poder nos Estados Unidos».
«A pátria não se rende»
Contra Cuba – disse Díaz-Canel – «quase de forma paralela, e também há muito mais tempo, tem sido exercida uma incessante agressão económica, com a intensificação criminosa do bloqueio e a inclusão injustificada do país na lista arbitrária de estados que supostamente patrocinam o terrorismo».
Esta inclusão, denunciou o chefe de Estado, citado pela TeleSur, implica a constante sabotagem das transacções comerciais e financeiras do país caribenho com praticamente todos os mercados do mundo, além de «acções directas ou indirectas» para interferir no funcionamento macroeconómico interno da Ilha, promover a inflação e «deprimir substancialmente o poder de compra da população».
Na sua agressão – disse –, o imperialismo continua a usar o seu «poder de monopólio» sobre os meios de comunicação e as infra-estruturas tecnológicas das redes digitais, procurando «desorientar e confundir, alimentar a especulação e corroer a confiança na liderança da Revolução, atacando, em última análise, o núcleo emocional da nação cubana».
Díaz-Canel salientou que, em 2025, a Assembleia Geral da ONU apoiou, mais uma vez, a rejeição do bloqueio dos EUA; Cuba aderiu ao grupo BRICS como parceiro; e prosseguiu em todo o mundo a mobilização de movimentos e organizações de solidariedade, forças políticas e sociedade civil em apoio à Ilha, que continua a fortalecer as relações com os cubanos no estrangeiro.
«Temos muito que enfrentar e resolver internamente, a começar pela crucial esfera económica. Ao analisarmos a situação actual do país, fomos realistas e autocríticos, mas também reafirmamos a nossa confiança na capacidade de resistência e de vitória do povo cubano. A pátria não se rende», frisou.
A história que o povo cubano escreve todos os dias
Depois de defender os princípios de unidade, continuidade do legado histórico e resistência criativa, reconheceu que «ninguém em Cuba precisa que lhe explique que a economia está sob tensão».
«Sente-se nas filas, nas nossas carteiras, nos apagões, nos transportes que não chegam e na escassez de alimentos nos nossos pratos. Vimos de anos de queda do produto interno bruto (PIB), de inflação elevada, de escassez, de crise energética e de quebra das receitas externas», disse.
Neste contexto, sublinhou o presidente cubano – «é crucial que o Parlamento envie um sinal claro: a magnitude da crise é reconhecida, a realidade não é ignorada, mas, ao mesmo tempo, a vontade política de mudar o que for necessário para defender a justiça social e a soberania nacional é reafirmada.»
As transformações que Cuba deve empreender «não são apenas estruturais, mas também mentais», afirmou, sublinhando que «o único limite à flexibilidade é tudo o que ameaça os nossos princípios: a autodeterminação, a soberania e a independência nacional».
«Ninguém descreveu como construir o socialismo num país que nasceu em verdadeira independência depois de mais de quatro séculos de colonização e 60 anos de domínio neocolonial. Ninguém, além de Cuba, pode falar sobre o que significa promover o desenvolvimento com justiça social após o súbito desaparecimento do bloco socialista a que pertencia», afirmou.
«Ninguém – prosseguiu – nos pode dizer o que significa resistir, de forma exemplar mas com um elevado custo económico e social, a uma política infame de bloqueio e perseguição implacável como a que Cuba sofre. Esta história somos nós, povo cubano, que a estamos a escrever todos os dias e neste preciso momento.»
«O povo cubano jamais será derrotado», defendeu o presidente, acrescentando que a história de Cuba mostra que quando a liderança política, as instituições e o povo trabalham no mesmo sentido, com verdade, disciplina e criatividade, «não há bloqueio ou crise que possa roubar o nosso futuro».
Com a lembrança de Fidel e «a vontade de superar o impossível, o ano de 2026 – o Ano do Centenário do Comandante-Chefe Fidel Castro – vai encontrar-nos a lutar e mais unidos que nunca», sublinhou Díaz-Canel.
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