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Cimeira África-Caricom reclama reparações pelos crimes do colonialismo

Na cimeira realizada em Adis Abeba este fim-de-semana, líderes africanos e caribenhos uniram-se numa reivindicação comum: justiça e reparações que respondam aos abusos cometidos pelas potências coloniais.

Em Adis Abeba, líderes africanos e caribenhos debateram o reforço da cooperação a diversos níveis e a criação de uma agenda comum de exigência de reparações pelos crimes do colonialismo e a escravidão Créditos / Caricom

A Segunda Cimeira África-Caricom (Comunidade das Caraíbas) decorreu este fim-de-semana na sede da União Africana (UA), na capital etíope, contando com a presença de representantes de ambas as plataformas, de chefes de Estado e de governo, bem como da diáspora africana pelo mundo.

No domingo, o conclave pronunciou-se a favor de que ambos os organismos unam forças da defesa de uma reivindicação comum: justiça reparadora para os abusos coloniais e a escravatura transatlântica.

Neste contexto, os líderes africanos e caribenhos sublinharam que as reparações não são caridade, mas que se trata de um direito pendente, indica o portal almaplus.tv.

Ao intervir no evento, que se celebrou sob o lema «Parceria transcontinental na busca de justiça reparadora para os africanos e os afrodescendentes mediante reparações», o presidente da Comissão da UA, Mahamoud Ali Youssouf, afirmou que «é uma obrigação reconhecer os crimes cometidos contra os povos africanos» e que «as exigências de reparação são legítimas».

Youssouf, que destacou a importância da cimeira, apontando-a como um «momento decisivo» e um «ponto de viragem» no caminho de um «anseio colectivo», afirmou que a questão da justiça reparadora não diz respeito apenas a olhar para os erros do passado, mas à construção de um futuro mais justo e equitativo.

Trata-se de desmantelar a injustiça estrutural e sistémica, defendeu Youssouf, que destacou a atitude firme dos caribenhos e o posicionamento de vanguarda da Caricom nesta matéria, e declarou o apoio da UA, «com orgulho e firmeza, aos nossos irmãos e irmãs caribenhos em cada passo em direcção à justiça reparadora».

Conceber um modelo de acção comum

A questão foi também abordada pelo presidente de Angola e actual titular da presidência rotativa da UA, João Lourenço, que instou os países africanos e caribenhos a conceberem «um modelo de acção comum» perante a questão do reconhecimento dos crimes do colonialismo.

No entender de Lourenço, é possível criar uma aliança transcontinental entre países que viveram o colonialismo e a escravidão, com a perspectiva de reforçar a luta pela justiça reparadora a nível mundial.

O presidente angolano sublinhou ainda que o trabalho conjunto é a chave para se alcançar o desenvolvimento e o bem-estar das gerações presentes e futuras de africanos e afrodescendentes, bem como o fim do ciclo de pobreza que ainda aflige estes países e as regiões em que se inserem.

Promover a cooperação

No encontro de alto nível em Adis Abeba, interveio também a secretária-geral da Caricom, Carla Barnett, de acordo com a qual a cimeira irá promover a cooperação em diversas áreas, nomeadamente o comércio, a saúde e as reparações.

«Consolidar ainda mais esta aliança seria um testemunho dos enormes benefícios da cooperação Sul-Sul, que se tornou uma necessidade urgente inclusive nas rápidas mudanças da ordem internacional. Também reflecte a realidade do nosso mundo contemporâneo», disse, citada pela Prensa Latina.

Sobre o tema principal da cimeira, considerou-o oportuno, tendo afirmado que destaca «a injustiça do regime colonial e do tráfico transatlântico de escravos, e reconhece que nos devemos unir na nossa exigência de uma compensação justa pelas práticas da exploração que traumatizaram e prejudicaram milhões de pessoas em ambos os lados do Atlântico».

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