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Sem poder pagar renda e sem tecto, cada vez mais procuram abrigo em hospitais

Cada vez mais pessoas que perderam a casa ou o quarto onde viviam por dificuldades financeiras procuram as urgências hospitalares em busca de um tecto, alimentação e higiene. 

CréditosMário Cruz / Agência Lusa

Nos hospitais São José, Santa Maria, São Francisco Xavier, em Lisboa, e no Amadora-Sintra é frequente encontrá-las nas salas de espera das urgências não por motivos de saúde, mas para encontrar algum conforto num espaço onde se tratam doenças.

«Alguns deles já são nossos conhecidos e conhecidos dos serviços da comunidade e até conhecem as respostas a nível de acolhimento», mas recorrem na mesma à sala de espera da urgência do hospital, disse à agência Lusa a diretora do Serviço Social da Unidade Local de Saúde (ULS) Amadora-Sintra, Adélia Gomes.

Apesar de se inscreverem no serviço de urgência, muitos acabam por abandonar o espaço antes de serem chamados para a consulta. «Acabam por vir aqui fazer a higiene, comer e pernoitar», apesar de haver algumas respostas na comunidade para estas situações.

Entre estas pessoas estão moradores que foram obrigados a deixar as suas casas devido ao aumento das rendas e cujos rendimentos não lhes permite alugar sequer um quarto, um fenómeno que Adélia Gomes diz estar a crescer e ser preocupante.

«Não era habitual haver este tipo de utente em situação de sem-abrigo que agora encontramos com mais frequência e que associamos ao custo do alojamento que está a ser praticado neste momento no mercado em geral», salientou.

Também há casos de utentes em situação de sem-abrigo que apresentam uma dependência física transitória e que, apesar de não necessitarem, ficam internados por razões sociais até recuperarem a autonomia física, condição exigida pelos centros de acolhimento.

Sempre que os utentes autorizam, o hospital contacta os serviços sociais e instituições da comunidade para prestar o apoio necessário, tendo vindo a crescer o número de situações sinalizadas: 37 em 2022, 62 em 2023 e 97 em 2024.

Este ano, até 29 de Abril, já foram encaminhados 40 casos, segundo dados da ULS, ressalvando que haverá situações que poderão corresponder ao mesmo utente.

No Hospital de São José, o fenómeno acentuou-se desde a pandemia, com o aumento de utentes com doença mental, adições, imigrantes sem rede de suporte, assim como «situações sociais, económicas e familiares complexas».

Em 2022, o Hospital de São José encaminhou 539 casos para respostas na comunidade. Em 2023, foram 728 e no ano passado 750. Este ano, já foram sinalizados 184 casos, refere a ULS, realçando que «estas articulações são difíceis, morosas e de difícil resolução».

Localizado numa zona central de Lisboa, o Hospital de Santa Maria também sente este impacto nas salas de espera do Serviço de Urgência Central, sobretudo em períodos de frio ou calor intenso.

Só este ano, até 30 de Abril, registou 79 admissões de pessoas sem-abrigo no Serviço de Urgência Central, mais 32% do que em igual período de 2024 (60), segundo dados da ULS Santa Maria.

A ULS Lisboa Ocidental, que integra o Hospital São Francisco Xavier, diz estar «atenta a esta realidade, procurando responder da melhor forma a estes casos», que são todos referenciados ao Serviço Social do hospital, que articula com a Linha Nacional de Emergência Social e com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Actualmente tem três situações de pernoita frequente no Serviço de Urgência Geral sinalizadas, a que acrescem outras ocasionais.

Embora algumas admissões se devam a motivos clínicos, como descompensação de doença crónica ou problemas de saúde mental, a maioria dos casos resulta de procura de abrigo. Nestas situações, não há lugar à admissão na urgência e a pernoita acontece na sala de espera ou noutra zona coberta do hospital.


Com agência Lusa

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