A Presidência da República patrocinou no passado dia 22 de Novembro uma conferência no ISCTE sobre o título «O futuro do trabalho visto pelos jovens». Um tema pertinente, sem dúvida, não fosse o facto de não ter havido espaço para a juventude falar e aí expor a sua visão, com um painel praticamente sem jovens e um público não muito diferente.
Nem jovens, nem trabalhadores. Enquanto o lado do capital esteve largamente representando, do lado dos trabalhadores não houve a opção de incluir nos painéis ninguém de uma estrutura representativa dos mesmos. Ou, talvez melhor dizendo, ouve a opção de não incluir.
«(...) não foi só pelos protagonistas que se notou a falta de juventude, pois o próprio conteúdo da conferência remeteu para as velhas soluções, como a chamada maior flexibilização dos contratos e dos horários, que os patrões juraram ser para o benefício dos trabalhadores, como também a impossibilidade de aumentar salários, pois, segundo os próprios, a economia não aguenta, rematando no fim para o remédio milagroso da redução dos impostos sobre as empresas (as grandes, claro).»
Tratou-se não só de uma oportunidade perdida, em que se podia ter dinamizado um espaço para a juventude discutir os seus problemas e soluções, mas também de um autêntico engodo. Evidenciando bem a visão que o Presidente da República e o capital (concedendo que são duas entidades distintas) têm da juventude, não como construtores do futuro, dotados de capacidade transformadora, mas apenas como meros espectadores de soluções milagrosas que outros lhes trazem em bandejas douradas. Irónico, visto que o discurso do Presidente da República se centrou numa suposta guerra de gerações na qual os mais velhos não dão a palavra e o lugar aos mais novos, fazendo de conta que não conhecia o que naquela sala se tinha passado no tempo em que lá não esteve.
E não foi só pelos protagonistas que se notou a falta de juventude, pois o próprio conteúdo da conferência remeteu para as velhas soluções, como a chamada maior flexibilização dos contratos e dos horários, que os patrões juraram ser para o benefício dos trabalhadores, como também a impossibilidade de aumentar salários, pois, segundo os próprios, a economia não aguenta, rematando no fim para o remédio milagroso da redução dos impostos sobre as empresas (as grandes, claro).
«(...) os trabalhadores não se deixam enganar. A flexibilidade de que eles falam é a instabilidade na vida de quem trabalha, é desregulação e alargamento dos horários por via do banco de horas, é o contrato de muita pouca duração que não permite planear a vida para lá de três meses, é o alargamento do período experimental (que muito elogiaram na conferência), é o impedimento do aumento dos salários enquanto tudo fica mais caro.»
Mas os trabalhadores não se deixam enganar. A flexibilidade de que eles falam é a instabilidade na vida de quem trabalha, é a desregulação e o alargamento dos horários por via do banco de horas, é o contrato de muito pouca duração que não permite planear a vida para lá de três meses, é o alargamento do período experimental (que muito elogiaram na conferência), é o impedimento do aumento dos salários enquanto tudo fica mais caro.
Perante os problemas que os jovens enfrentam e impedem de construir os seus projectos de vida e iniciar a sua autonomização, como os baixos salários, vínculos precários, horários desregulados, problemas que não são fruto de fenómenos naturais, mas sim resultado de opções políticas de sucessivos governos de PS, PSD e CDS, exige-se uma política alternativa, de valorização do trabalho e dos trabalhadores, uma política de futuro, que não esteve presente na conferência.
Eles andam preocupados com a juventude, isso está claro. Mas não é com o seu futuro. É precisamente com a sua reacção, quando mais perceberem que, com conferências desta natureza, nem futuro, nem presente.
Gonçalo Francisco é membro da Comissão Política da Direcção Nacional da JCP
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