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|Sistema Internacional de Unidades-SIU

Algumas notas sobre

O processo de subversão do Sistema Internacional de Unidades

É profundamente pertinente interrogarmo-nos sobre o que estará por detrás da completa subversão das regras constantes do SIU, particularmente no domínio das regras na escrita dos números.

Um calendário republicano de 1793-94, encabeçado por uma alegoria da Justiça 
Créditos / Bridgeman ACI

Como é bem sabido, para se poderem efetuar medições, é necessário estabelecer padrões, escolhendo, portanto, unidades para cada grandeza.

Até à instituição do Sistema Métrico Decimal, em 1875, as unidades de medida eram selecionadas e definidas de maneira completamente arbitrária e avulsa, variando de país para país, e tal situação constituía um muito sério entrave objetivo ao desenvolvimento do intercâmbio científico e comercial mundial.

O Sistema Internacional de Unidades constitui a configuração moderna do sistema métrico, e é um conjunto sistematizado de unidades de medida concebido em torno de sete unidades de base das grandezas seguintes, a saber, a corrente elétrica, a temperatura, o tempo, o comprimento, a massa, a intensidade luminosa e a quantidade de substância, e suas unidades derivadas, e tendo como suporte a numeração decimal.

O Sistema Internacional de Unidades (SIU) atualmente em vigor, que sucedeu a outros sistemas de definição de unidades, como já antes referimos, todos já com um caráter quase universal, portanto de aprovação e utilização quase consensual a nível mundial, foi aprovado em 1960, estando, portanto, em uso pleno há quase 64 anos, e sendo atualmente subscrito por 200 dos 203 estados existentes no Mundo, isto é, por uma esmagadora maioria de estados soberanos.

Dos três países que não aderiram ao SIU, como já antes não tinham aderido aos sistemas internacionais que os antecederam, destacam-se os EUA, sendo um dos outros dois países quase que como uma emanação histórica dos EUA, ou seja, a Libéria.

Para além da identificação cientificamente cada vez mais precisa das unidades das múltiplas e bem diferentes variáveis físicas com uso quase universal, o SIU também define as regras de escrita dos números, o que, em conjunto, constitui uma avassaladora conquista civilizacional, um importante instrumento de modernidade nos domínios científico, técnico e económico, um dos aspetos positivos do histórico processo de globalização, pois que permite tornar muito expeditas as relações entre os povos, muitas das vezes com línguas maternas muito diferentes, e isto nos domínios que vimos referindo.

«[…] em Portugal, a generalidade da população, atualmente, não respeita estas regras, a começar por membros do Governo, deputados, professores, e, sobretudo, dado o seu enorme efeito mimético, pelos jornalistas dos meios de comunicação de massas, com destaque para as televisões»

Para além da adesão formal de Portugal em 1960 ao SIU, como já antes tinha aderido aos sistemas anteriores, nomeadamente ao Sistema Métrico, muito recentemente, e no quadro de um natural processo de introdução de ajustes e aditamentos que inevitavelmente acompanham o processo de evolução da Ciência e Tecnologia (C&T) no plano nacional, foi publicado sobre o tema o Decreto-lei n.º 76/2020 de 25 de setembro, quadro legislativo que se adapta às novas definições das unidades de base do SIU, transpondo portanto para a ordem jurídica interna a Diretiva (EU)2019/1258 da Comissão de 23 de julho de 2019, correspondente ao sistema legal das unidades de medida em vigor e respetiva Declaração de Ratificação n.º 47-A/2020.

Contudo, para além da definição cientificamente rigorosa de cada uma do conjunto de unidades utilizadas nas sociedades contemporâneas e nas respetivas economias, o SIU também define com muita clareza as regras para a escrita dos valores das diferentes variáveis assumidos em cada circunstância singular – os números –, sejam eles superiores ou inferiores à unidade, evoluindo os seus múltiplos e submúltiplos, pelo menos de 10 elevado a +30 até 10 elevado a -30.

De qualquer das formas, quando se utiliza a escrita com os algarismos sem recorrer à figura da potência, a regra é, de há muito, separar os sucessivos grupos de três algarismos por um espaço, em vez de um ponto, como atualmente a generalidade das pessoas, e de forma temporalmente crescente, pensam que é.

Por outro lado, também a separação entre os algarismos das partes acima e abaixo da casa das unidades, é marcada por uma vírgula, e não por um ponto, como também cada vez mais frequentemente se pratica e observa.

Portanto, são estas as regras a que Portugal e mais outros 199 Estados aderiram em 1960, tal como já anteriormente tinham aderido a outros sistemas semelhantes, embora naturalmente não tão alargados e aperfeiçoados, e que indiscutivelmente continuam de uso obrigatório nos dias de hoje.

Todavia, como é bem conhecido, e já atrás observámos, pelo menos em Portugal, a generalidade da população, atualmente, não respeita estas regras, a começar por membros do Governo, deputados, professores, e, sobretudo, dado o seu enorme efeito mimético, pelos jornalistas dos meios de comunicação de massas, com destaque para as televisões.

«[…] esta não era a realidade há algumas décadas, particularmente por parte de cidadãos com níveis de instrução mais elevados, particularmente em áreas técnico-científicas. E a mensagem justificativa subjacente a esta espécie de moda é que nos estamos a modernizar, que estamos a evoluir. Nada mais falso»

Porém, esta não era a realidade há algumas décadas, particularmente por parte de cidadãos com níveis de instrução mais elevados, particularmente em áreas técnico-científicas.

E a mensagem justificativa subjacente a esta espécie de moda é que nos estamos a modernizar, que estamos a evoluir.

Nada mais falso.

É então profundamente pertinente interrogarmo-nos sobre o que estará por detrás desta completa subversão das regras constantes do SIU, particularmente no domínio das regras na escrita dos números?

Tão simplesmente o facto de que o país que detém somente cerca de 3,75% da população mundial, que constitui somente 0,005% do total de países existentes, que nunca ao longo da História dos dois últimos séculos aderiu a qualquer sistema universal de unidades, que em muitos domínios tem as suas próprias unidades e sistemas de escrita numérica, exatamente os EUA, que, face ao brutal domínio que possui no controlo ideológico dos meios de comunicação de massas global, além de promover diariamente ideias e conceitos consistentes com a promoção do neoliberalismo e da guerra, para além do caráter «natural» da sua hegemonia, também impinge, contra um acordo quase universal, as suas próprias regras de escrita dos números ao Mundo, mesmo que somente quase que subliminarmente.

E isto ao usar pontos em vez de vírgulas na escrita dos números decimais, e pontos em vez de um espaço, na escrita dos grandes e muito grandes e os pequenos e muito pequenos números, como nos casos dos exemplos seguintes, a saber, o 3.5 em vez de 3,5 e o 3.567.921 em vez de 3 567 921.

De facto, o 3.5 e o 3.567.921 são regras exclusivamente americanas, que, em princípio, portanto, seriam para uso exclusivo no quadro interno dos EUA, mas, todavia, regras que se vêm propagando pelo Mundo, designadamente em Portugal, entrando até, por completa omissão dos responsáveis, nos sistemas de ensino, contrariando objetivamente o muito positivo acordo internacional a que o País está vinculado, ou seja, o SIU, bem como da legislação interna aplicável correlacionada.

E é muito interessante verificar que todos aqueles que diariamente invocam a Constituição da República para respeitar os acordos internacionais a que o País está vinculado, como, por exemplo, o estar ao serviço da NATO, no domínio que vimos referindo, nem piam, isto é, é como se de uma não existência se tratasse.

Sobre este assunto, que tem, no nosso entendimento, muito mais de político-ideológico do que de científico, entendo que as autoridades nacionais deveriam atuar rapidamente, com vista a inverter e, finalmente, neutralizar completamente esta deriva, repondo a legalidade.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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