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O interesse público tem de ter lugar nos voos da TAP

A TAP é uma empresa estratégica que para além de constituir o maior exportador nacional de serviços, com vendas acima dos 3 milhões de euros, acaba por ser um instrumento da nossa soberania, num país com 11 ilhas atlânticas e importantes comunidades emigrantes em todos os continentes.

Nos últimos dias a TAP voltou às notícias e pelos piores motivos, que ainda assim vieram confirmar aquilo que Os Verdes há muito têm vindo a denunciar.

De facto, como alertámos logo a seguir à privatização da TAP, levada a cabo pelo Governo do PSD-CDS de Passos Coelho e Paulo Portas, em 2015, os contornos que envolveram essa privatização, não só desrespeitaram as normas legais, como foram muito lesivos para o Estado Português, um desastre, ainda que tenha sido um grande negócio para os privados.

Agora, vem a Inspeção-Geral de Finanças confirmar que há suspeitas de crime nessa privatização, havendo fortes indícios de que a TAP tenha sido comprada, pasme-se, com o próprio dinheiro da TAP…

Por outro lado, para a IGF não está demonstrada a racionalidade económica do negócio de entrada no capital da Vem Brasil, que representou para a TAP uma perda de 906 milhões de euros, o que confirma o que na altura afirmámos no plenário da Assembleia da República: «a TAP não apresentava problemas significativos, até ter ocorrido, em 2007, a desastrosa compra a 100% da VEM Brasil, que acarretou prejuízos consecutivos e passivos elevados».

E o mais surpreendente é que duas das pessoas com mais responsabilidades nessa desastrosa privatização acabaram por ser «premiadas» pelo Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, uma com a nomeação para Comissária Europeia; recorde-se que Maria Luís Albuquerque era, em 2015, Ministra das Finanças; e a outra com a nomeação de Miguel Pinto Luz para Ministro das Infraestruturas e Habitação, que nessa altura era Secretário de Estado das Infraestruturas e Comunicações, e portanto com responsabilidades diretas nesse processo.

Face a todo este quadro, Os Verdes consideram que, para além das consequências políticas e eventualmente criminais que deste processo poderão decorrer, o Governo deveria abandonar a intenção de entregar aos privados uma empresa com a importância e a dimensão da TAP.

A TAP é uma empresa estratégica que para além de constituir o maior exportador nacional de serviços, com vendas acima dos 3 milhões de euros, acaba por ser um instrumento da nossa soberania, num país com 11 ilhas atlânticas e importantes comunidades emigrantes em todos os continentes, espalhadas um pouco por todo o mundo.

«Os Verdes consideram que, para além das consequências políticas e eventualmente criminais que deste processo poderão decorrer, o Governo deveria abandonar a intenção de entregar aos privados uma empresa com a importância e a dimensão da TAP.»

Para além disso, a TAP envolve direta e indiretamente muitos milhares de postos de trabalho e continua a contribuir todos os anos para os cofres do Estado, que só na última década entregou à Segurança Social 1,4 mil milhões de euros e ao Estado, em sede de IRS, 1,2 mil milhões de euros.

E, portanto, face à importância desta companhia aérea e do que representa para o país e para os portugueses, a TAP deve continuar nas mãos do Estado, a única forma de garantir a afirmação do interesse público e até a defesa da soberania nacional.

O Estado não pode continuar refém dos interesses privados, porque o interesse público tem de ter lugar nos voos da TAP.

Artigo publicado originalmente em Dar a Palavra à Ecologia

O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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