|resistência antifascista

Há 75 anos, Alfredo Lima foi assassinado pelo fascismo

Alfredo Dias Lima, militante do PCP, foi morto pela GNR num protesto numa praça de jorna em Alpiarça, a 4 de Junho de 1950. Com apenas 19 anos, o corpo do jovem comunista só voltou à terra natal depois do 25 de Abril.

Transladação do corpo de Alfredo Lima para a sua vila natal de Alpiarça. O militante do PCP de 19 anos foi assassinado pelo fascismo a 4 de Junho de 1950 
Transladação do corpo de Alfredo Lima para a sua vila natal de Alpiarça, em Junho de 1974. O militante do PCP de 19 anos foi assassinado pelo fascismo a 4 de Junho de 1950 Créditos / PCP

No dia 4 de Junho de 1950, «o regime fascista, para quem a violência era lei, cometia mais um odioso crime». Alfredo Dias Lima, um trabalhador agrícola de 19 anos, natural de Alpiarça, foi morto a tiro pela GNR nesse dia, durante um protesto em que vários outros trabalhadores foram feridos. O jovem, militante do Partido Comunista Português acabaria por sucumbir aos ferimentos no Hospital de Santarém.

Para evitar mais contestação, o corpo de Alfredo Lima foi enterrado no cemitério de Santarém, enquanto Alpiarça já tinha sido, nos entretantos, cercada pelas forças militares e policiais do fascismo, incluíndo a PIDE, para controlar a população. Os trabalhadores em protesto, na praça de jorna, exigiam um aumento do soldo de 20 para 30 escudos e o das mulheres de 10 para 15 escudos diários.

Vinte e um trabalhadores rurais de Alpiarça foram presos pela PIDE nos dias que se seguiram ao assassinato, nos quais foi decretada uma greve. A repressão não conseguiu, no entanto, derrotar a contestação popular: dois anos depois, foram alcançadas as reivindicações salariais destes trabalhadores.

A transladação do corpo de Alfredo Lima, em Junho de 1974, foi acompanhada por uma imensa manifestação da população de Alpiarça, que 24 anos depois, recuperou o corpo de um dos seus mártires. Meses depois, perante uma multidão nesta vila, Álvaro Cunhal defendeu que ,«na his­toria da luta do por­tu­guês contra a di­ta­dura fas­cista, Al­pi­arça é um nome que brilha pelas lutas dos ope­rá­rios agrí­colas, pelas grandes ma­ni­fes­ta­ções de pro­testo contra a di­ta­dura, pela vi­ta­li­dade das ac­ti­vi­dades de­mo­crá­ticas, pela in­fluência e papel de­ter­mi­nante do Par­tido da classe ope­rária – o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês. O nome de Al­pi­arça tornou-se co­nhe­cido como o de uma das for­ta­lezas da luta po­pular, er­guidas, in­ven­cí­veis e con­fi­antes, no Por­tugal aba­fado, opri­mido e es­pe­zi­nhado pela odiada di­ta­dura fas­cista».

1950 – o regime fascista aprofunda a brutalidade da sua repressão

O jovem comunista Alfredo Lima não foi um caso isolado na história da resistência ao fascismo em Portugal, nem sequer um caso particular no ano de 1950. A 2 de Janeiro de 1950, Militão Ribeiro, de 53 anos, membro do Secretariado do Comité Central do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, vítima de brutais torturas e de um regime prisional de grande carência. Apenas 21 dias depois, é torturado até à morte o funcionário do PCP José Moreira, de 37 anos, responsável pelas tipografias clandestinas dos comunistas.

O corpo de José Moreira é atirado do 3.º andar da António Maria Cardoso, a sede nacional da PIDE, para simular um suícidio. Clandestino desde 1945, José Moreira e a sua companheira conseguiram evitar que o fascismo localizasse qualquer uma das tipografias do PCP entre 45/49. Moreira chegava a percorrer mais de 2500 quilómetros todos os meses, em bicicleta.

A 22 de Maio de 1950, é morto na tortura o operário modelador Venceslau Ferreira Ramos, de 34 anos, também militante do PCP. Preso em Avintes, Venceslau resiste a 9 dias de tortura até morrer nas instalações da PIDE no Porto, na rua do Heroísmo. 

Alfredo Lima não foi o último resistente antifascista a ser assassinado pelo fascismo do Estado Novo em Junho desse ano. No dia 26, morre em Caxias, na tortura, o dirigente comunista Carlos Pato (irmão do histórico dirigente Octávio Pato, cujo centenário foi este ano celebrado). A evidenciar problemas cardíacos e respiratórios graves, a PIDE recusa-se a prestar assistência médica, provocando a sua morte aos 29 anos.

Carlos Pato era presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense, escritor (o livro Alguns Contos é publicado postumamento, com prefácio de Alves Redol), membro do MUD e do Comité Regional do Ribatejo do PCP, integrado por outros resistentes antifascistas como Soeiro Pereira Gomes (que morre em 1949) e António Dias Lourenço.

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