No dia 4 de Junho de 1950, «o regime fascista, para quem a violência era lei, cometia mais um odioso crime». Alfredo Dias Lima, um trabalhador agrícola de 19 anos, natural de Alpiarça, foi morto a tiro pela GNR nesse dia, durante um protesto em que vários outros trabalhadores foram feridos. O jovem, militante do Partido Comunista Português acabaria por sucumbir aos ferimentos no Hospital de Santarém.
Para evitar mais contestação, o corpo de Alfredo Lima foi enterrado no cemitério de Santarém, enquanto Alpiarça já tinha sido, nos entretantos, cercada pelas forças militares e policiais do fascismo, incluíndo a PIDE, para controlar a população. Os trabalhadores em protesto, na praça de jorna, exigiam um aumento do soldo de 20 para 30 escudos e o das mulheres de 10 para 15 escudos diários.
Vinte e um trabalhadores rurais de Alpiarça foram presos pela PIDE nos dias que se seguiram ao assassinato, nos quais foi decretada uma greve. A repressão não conseguiu, no entanto, derrotar a contestação popular: dois anos depois, foram alcançadas as reivindicações salariais destes trabalhadores.
A transladação do corpo de Alfredo Lima, em Junho de 1974, foi acompanhada por uma imensa manifestação da população de Alpiarça, que 24 anos depois, recuperou o corpo de um dos seus mártires. Meses depois, perante uma multidão nesta vila, Álvaro Cunhal defendeu que ,«na historia da luta do português contra a ditadura fascista, Alpiarça é um nome que brilha pelas lutas dos operários agrícolas, pelas grandes manifestações de protesto contra a ditadura, pela vitalidade das actividades democráticas, pela influência e papel determinante do Partido da classe operária – o Partido Comunista Português. O nome de Alpiarça tornou-se conhecido como o de uma das fortalezas da luta popular, erguidas, invencíveis e confiantes, no Portugal abafado, oprimido e espezinhado pela odiada ditadura fascista».
1950 – o regime fascista aprofunda a brutalidade da sua repressão
O jovem comunista Alfredo Lima não foi um caso isolado na história da resistência ao fascismo em Portugal, nem sequer um caso particular no ano de 1950. A 2 de Janeiro de 1950, Militão Ribeiro, de 53 anos, membro do Secretariado do Comité Central do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, vítima de brutais torturas e de um regime prisional de grande carência. Apenas 21 dias depois, é torturado até à morte o funcionário do PCP José Moreira, de 37 anos, responsável pelas tipografias clandestinas dos comunistas.
O corpo de José Moreira é atirado do 3.º andar da António Maria Cardoso, a sede nacional da PIDE, para simular um suícidio. Clandestino desde 1945, José Moreira e a sua companheira conseguiram evitar que o fascismo localizasse qualquer uma das tipografias do PCP entre 45/49. Moreira chegava a percorrer mais de 2500 quilómetros todos os meses, em bicicleta.
A 22 de Maio de 1950, é morto na tortura o operário modelador Venceslau Ferreira Ramos, de 34 anos, também militante do PCP. Preso em Avintes, Venceslau resiste a 9 dias de tortura até morrer nas instalações da PIDE no Porto, na rua do Heroísmo.
Alfredo Lima não foi o último resistente antifascista a ser assassinado pelo fascismo do Estado Novo em Junho desse ano. No dia 26, morre em Caxias, na tortura, o dirigente comunista Carlos Pato (irmão do histórico dirigente Octávio Pato, cujo centenário foi este ano celebrado). A evidenciar problemas cardíacos e respiratórios graves, a PIDE recusa-se a prestar assistência médica, provocando a sua morte aos 29 anos.
Carlos Pato era presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense, escritor (o livro Alguns Contos é publicado postumamento, com prefácio de Alves Redol), membro do MUD e do Comité Regional do Ribatejo do PCP, integrado por outros resistentes antifascistas como Soeiro Pereira Gomes (que morre em 1949) e António Dias Lourenço.
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