Quando o governo conseguir, finalmente, concretizar a entrega de mais de 300 mil computadores portáteis que se encontram em falta nas escolas e que possam ser entregues àqueles que de facto não os têm, estaremos a regressar ao ensino presencial, pelo menos nos níveis etários mais baixos da população escolar. Muitos, como alguns vão dizendo já, podem afirmar que tendo feito falta no período mais crítico do ano lectivo, não serão desprezados como material essencial para o processo ensino-aprendizagem, mas, mais uma vez, e ignorá-lo seria desculpar a impreparação para lidar com o problema, revela negligência na preparação das condições para que professores e alunos cumpram com as suas obrigações – ensinar e aprender.
Por outro lado, porque é que já não causa surpresa a falta de vontade política para encontrar soluções viáveis para os problemas que existem na comunidade educativa?
«Entre alunos em casa com equipamento informático adequado e em número suficiente para estarem, de corpo inteiro, nas sessões síncronas, e alunos que estão nas escolas de acolhimento, por os seus encarregados de educação pertencerem a grupos profissionais essenciais, há uma multiplicidade de situações que tornam difícil encontrar um critério»
Entre Abril de 2020 e Abril de 2021 (mês em que se prevê que os computadores e a rede móvel cheguem aos seus destinatários), entre propaganda política e incapacidade de previsão das dificuldades, o discurso titubeante do primeiro-ministro, logo, do governo, e o dos responsáveis do ministério da Educação fizeram com que os portugueses acreditassem em tudo. Agora, perderam a confiança na resolução das situações que os últimos dias revelaram e percebem porque é que Costa apoia Brandão Rodrigues. A «asneira pega de estaca», diz o povo, e os dois afinam pelo mesmo diapasão.
A situação é muito mais do que confusa e as excepções à norma do confinamento, aplicadas às escolas, levantam muitas dúvidas sobre a gestão do risco que está a ser feita. Entre alunos em casa com equipamento informático adequado e em número suficiente para estarem, de corpo inteiro, nas sessões síncronas, e alunos que estão nas escolas de acolhimento, por os seus encarregados de educação pertencerem a grupos profissionais essenciais, há uma multiplicidade de situações que tornam difícil encontrar um critério.
Na verdade, uma parte muito significativa dos alunos poderia estar nas escolas, já que, por norma, a rede de internet, com vários utilizadores, não garante equidade no acesso, o computador não é suficiente para todos lá em casa estarem em teletrabalho ou em ensino a distância ou existe incompatibilidade de suprir a falta de autonomia digital das crianças por um progenitor que tem, também ele, de trabalhar no mesmo período de tempo útil do dia. Em relação ao último caso, se forem professores, não sendo considerados trabalhadores de grupos essenciais, os seus filhos menores de 12 anos têm as suas aulas exactamente no mesmo período do dia em que os seus pais estarão, também eles, a ensinar.
A complexidade da situação exigiria medidas bem preparadas e outra atenção sobre o problema.
Tiago Brandão Rodrigues e a sua equipa política já mostraram ser incapazes ou estarem limitados, na sua autonomia, pela agenda política do governo, na tomada de decisões. Uma razão ou outra explicam a falta de peso político do ministro e a sua inexperiência para, em tempos de crise, lidar com um dos sectores mais difíceis da governação. A inexistência de clareza de procedimentos e a gestão, à deriva, do sistema educativo, que chega a motivar declarações que parecem bombásticas e assertivas, tem resultado em disparates nos vários planos – pedagógico, sanitário, socioprofissional, social e político – que não são aceitáveis e muito menos desculpáveis.
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