Há mais de 29 mil anos, junto a uma ribeira, por entre as escarpas e penhascos do Vale do Lapedo, em Leiria, uma comunidade de nómadas do Paleolítico Superior, a idade da pedra, enterrou uma criança de apenas cinco anos. O menino do Lapedo foi descoberto em 1998, o único achado do género em toda a Península Ibérica, precipitando uma investigação arqueológica que, até aos dias hoje, continuava a recolher artefactos e fragmentos do ocupação humana do local, em tempos idos.
Se a acção destruidora tinha intenções, concretas, de atingir aquele espaço pelo que ele era, não se sabe ainda, mas as técnicas que trabalham no Abrigo do Lagar Velho não têm dúvidas de que o objectivo era mesmo o de destruir. Numa das paredes, encontraram-se sinais de escavação.
Sucedem-se os relatos das enormes carências materiais e humanas que atingem os museus nacionais. O Picadeiro Real do Museu Nacional dos Coches (MNC) está fechado, sem data de reabertura, desde 2019. A falta de investimento nos museus tutelados pela Direcção-Geral do Património Cultural tem vindo a ser repetidamente denunciada pelos directores das várias instituições, que se têm visto forçados a limitar em larga escala o trabalho neles desenvolvido. Uma pergunta que o grupo parlamentar do PCP dirigiu ao Governo denunciava as condições que tinham deixado a oficina de conservação e restauro do MNC sem iluminacão, «de que esteve privada durante cerca de dois meses», impedindo os técnicos da instituição de realizar o seu trabalho. Não foi caso único, «também os serviços educativos se viram impossibilitados de dinamizar os ateliês infantis pelo mesmo motivo: falta de luz». Na mesma nota são também apontadas uma série de limitações no que toca ao estado do edifício, como é o caso das continuas avarias nos elevadores, limitando o acesso a pessoas com mobilidade reduzida, e as sucessivas avarias no ar condicionado que aumenta significativamente o risco de degradação dos coches, berlindas, carruagens e liteiras. O antigo Picadeiro Real, que se manteve integrado no museu e que se manteve aberto ao público com parte do acervo, foi fechado no final de 2019 por falta de vigilância. Passados quase dois anos, não existe ainda data para a sua reabertura, votando ao abandono uma colecção única no mundo do seu tipo, e no qual se investiram recursos significativos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Cultura|
Não há quem vigie um dos mais visitados museus em Portugal
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Em comunicado, a Direcção da Organização Regional de Leiria do PCP denunciou o «desinteresse e a inacção dos vários governos, da responsabilidade do PS, PSD e CDS, relativamente a este relevante património nacional».
«Há muito que o PCP alerta para a necessidade de trazer ao património público os terrenos onde se insere este sítio arqueológico», realçando que a aquisição dos terrenos tem feito parte dos programas eleitorais da CDU no concelho de Leiria há vários mandatos: «a propriedade privada dos terrenos onde se situa tem sido um obstáculo ao desenvolvimento dos trabalhos na dimensão e intensidade que se impunha».
O Abrigo do Lagar Velho é detido pela empresa Empreendimentos Turísticos do Lapedo, gerida pelo empresário Adelino Rodrigues, que em 2014 registou os termos «Vale do Lapedo», «Menino do Lapedo» e «Abrigo do Lagar Velho» como marca registada.
Os comunistas comprometem-se a bater-se pela aquisição dos terrenos para os integrar no património do Estado, garantindo «intervir em defesa da imperiosa necessidade de investimento do Estado para criação de condições de segurança, protecção e salvaguarda deste património, bem como pela realização de campanhas de campo sistemáticas e ampliadas».
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