|Crime Ambiental 

Sentença sobre caso das minas de São Pedro da Cova não é fim do trilho

O Tribunal Criminal de São João Novo manteve, ontem, a sentença proferida no primeiro julgamento, absolvendo os seis arguidos do processo. Já está anunciado um novo recurso.

Créditos / JNP - U. Porto

O acórdão, anunciado na tarde de ontem, repetiu a absolvição dos três membros do conselho de administração de uma sociedade responsável pelo tratamento dos resíduos tóxicos, e dos três responsáveis de sociedades que geriam, à altura, as antigas minas de carvão de São Pedro da Cova, em Gondomar.

O processo, que se arrasta há 20 anos, foi retomado depois de um recurso movido pelo executivo da freguesia, e que resultou na sua reabertura e nesta nova sentença. Entretanto, a Junta de Freguesia divulgou um comunicado em que anuncia que tornará a «recorrer da sentença e continuará a lutar no que estiver ao seu alcance para que o maior crime nacional não fique sem culpados».

À margem do procedimento judicial, continuam parados os procedimentos para a remoção das últimas 150 toneladas de lixo tóxico depositados nas minas e que, nas últimas semanas, voltaram a ser suspensos, desta vez devido à descoberta de material explosivo na zona.

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Remoção do lixo tóxico nas minas de São Pedro da Cova sem fim à vista

A segunda e última fase do processo de remoção das centenas de resíduos tóxicos, que foram ilegalmente depositadas nas antigas minas de carvão, sofreu na passada sexta-feira mais um atraso.

Nas minas de carvão de São Pedro da Cova, onde a laboração que chegou a empregar 1800 pessoas parou há 45 anos, reina o silêncio das ruínas que, apesar de classificadas, estão ao abandono.
CréditosJosé Coelho / Agência Lusa

Depois da descoberta de mais 28 toneladas de materiais tóxicos no espaço da S. Pedro da Cova, em Gondomar, elevando o total que ainda terá de ser retirado para cerca de 150 toneladas, foram agora descobertos engenhos explosivos, atrasando em mais de dois meses o empreendimento, de acordo com o ministro do Ambiente Matos Fernandes.

Este equipamento poderá ter sido abandonado no início dos anos 80, quando se procurou reatar os trabalhos na mina (encerrada definitivamente em 1972) em regime de mineração a céu aberto pela empresa de construção Sousa, Resende & Rodrigues.

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Tribunal do Porto anula absolvição de seis arguidos no depósito de resíduos perigosos

O Tribunal da Relação do Porto anulou a decisão que absolveu seis arguidos no caso da deposição de resíduos perigosos em São Pedro da Cova. «É uma grande notícia», diz o presidente da Junta de Freguesia. 

Nas antigas minas de São Pedro da Cova permanecem toneladas de resíduos perigosos
CréditosEstela Silva / Agência Lusa

Segundo a decisão da Relação do Porto, datada de quarta-feira e à qual a Lusa teve hoje acesso, «a decisão em primeira instância tem de ser anulada e devem ser realizadas novas diligências para «posterior elaboração de novo acórdão».

Em declarações ao AbrilAbril, Pedro Miguel Vieira, presidente da Junta da União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, diz ser uma «grande notícia para São Pedro da Cova e para a verdade deste processo». Sublinha, no entanto, que esta é apenas uma parte do mesmo e que, «o mais importante, é que ele termine com a retirada dos resíduos e com a devida requalificação daquela área». 

O Tribunal de São João Novo, no Porto, absolveu em Abril de 2019 seis acusados da Urbindústria que o Ministério Público (MP) acusou pela deposição de resíduos perigosos nas antigas minas de São Pedro da Cova (Gondomar), nos anos de 2001 e 2002. Para o colectivo de juízes de São João Novo, ficou por provar a tese segundo a qual os arguidos cometeram o crime de poluição com perigo comum, ao contrário do que defendia a acusação.

Porém, o MP defendeu que os arguidos conheciam a composição química dos pós, sabiam que estes iriam poluir o solo das escombreiras e colocariam em perigo a vida ou integridade física das pessoas da zona e, mesmo assim, afirmaram perante a Administração Pública que eram «inertes» para possibilitar a operação de deposição. 

Julgamento será reaberto

«(…) Acordam os juízes desta secção criminal do Tribunal da Relação do Porto em conceder provimento ao recurso interlocutório e à primeira questão do recurso do MP e, em consequência, proceder à anulação do acórdão, ordenando a necessária reabertura da audiência para realização das diligências em falta e continuação da audiência de julgamento com as formalidades legais e posterior elaboração de novo acórdão com os elementos factuais recolhidos», lê-se na decisão da Relação.

Esta decisão, sublinha Pedro Miguel Vieira, «vem confirmar as suspeitas que, na altura, a Junta de Freguesia tinha sobre esta questão» e dar força à luta que vem sendo travada para apurar responsabilidades por este crime ambiental. «Consideramos que é um processo complexo, com certeza, mas efectivamente há culpados e houve pessoas que fizeram muito mal à freguesia de São Pedro da Cova», sublinha. 

Além do recurso do MP e da Junta da União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, ao processo foi anexado o pedido de aprofundamento de uma perícia feito por um dos proprietários dos terrenos onde foram depositados os resíduos, que começaram a ser removidos entre Outubro de 2014 e Maio de 2015, quando foram retiradas 105 600 toneladas, faltando ainda cerca de 125 mil.

O Tribunal da Relação dá razão a essa pretensão, lendo-se no acórdão que «a resposta do colégio de peritos tem pelo menos de ser esclarecida, pois que a sua resposta corta a possibilidade de recurso à ideia de probabilidade racional, ou pelo menos redu-la a uma grandeza equitativa não mensurada nem mensurável».

«Há, assim, primeiramente, que tomar esclarecimentos aos peritos visando obter uma probabilidade racional, uma probabilidade de o perigo se verificar ainda que para uma e só uma pessoa. Não sendo possível obter essa probabilidade há que realizar a perícia em falta», lê-se no acórdão de quarta-feira.

Paralelamente a este processo-crime, a Junta de Freguesia de São Pedro da Cova, que se constitui assistente no processo, pediu uma indemnização superior a dois milhões de euros em nome da população, verba que pretende aplicar na requalificação do espaço e do património mineiro.

Com agência Lusa 

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O dono desta empresa é actualmente um dos seis arguidos no processo movido pela Junta de Freguesia de Fânzeres e São Pedro da Cova e pelo Ministério Público relativo ao depósito ilegal. O processo, que se arrasta há 20 anos, foi retomado depois de um recurso movido pela freguesia. A sentença será anunciada no próximo dia 15 de Julho.

No que toca à limpeza dos terrenos, a Junta de Freguesia considera, em comunicado divulgado à imprensa, que só se poderá dar por concluída esta parte do processo com a realização de uma auditoria que envolva estruturas científicas como «o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (entidade responsável pelo estudo prévio às características e impacto destes resíduos) e «o envolvimento da Universidade do Porto (FEUP, FCUP, ICBAS)».

Entende a Junta ser fundamental que o procedimento para fechar este longo capítulo seja acompanhado politicamente pelo «Ministério do Ambiente, Comissão Parlamentar do Ambiente da Assembleia da República, Câmara Municipal de Gondomar e Junta de Freguesia de Fânzeres e São Pedro da Cova». 

Para lá da realização de uma auditoria, o Presidente da Junta de Freguesia de Fânzeres e São Pedro da Cova, Pedro Miguel Vieira defendeu, em declarações ao AbrilAbril, que «o Governo tem de fazer uma avaliação do impacto ambiental, para percebermos efectivamente se está tudo limpo, se não houve contaminação dos solos, contaminação dos lençóis friáticos, e que dê por encerrado o caso, procedendo à requalificação do espaço e atribuindo uma compensação à freguesia», que se viu forçada a conviver durante décadas com o chumbo e outros resíduos tóxicos lá depositados pela Siderurgia Nacional, Urbindústria, Terriminas e Vila Rei.

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A Junta insiste na necessidade de se proceder a uma avaliação do impacto ambiental que a presença deste tipo de resíduos terá deixado ao longo de tantas décadas, avaliando se não terá existido, ou persistirá, contaminação dos solos e dos lençóis freáticos circundantes. Outra das exigências da população é o pagamento de uma compensação pelos muitos anos em que se viu forçada a conviver com este crime ambiental.

Foi também anunciada a intenção da União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova de pedir uma audiência, com carácter de urgência, ao Ministério do Ambiente e à Comissão Parlamentar do Ambiente, assegurando que vão «continuar a lutar para que seja feita justiça aos sampedrenses».

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