|Câmara Municipal do Seixal

Autarquia do Seixal ordena inspecção de todas as «bases missionárias» no concelho

Foram acusados os pastores evangélicos que exploravam imigrantes, cobrando preços extorsionários por alojamento numa garagem sobrelotada e sem condições. Há outras igrejas com casos semelhantes, alerta Câmara do Seixal.

Paulo Silva, presidente da Câmara Municipal do Seixal 
Créditos / Paulo Silva

Zaqueu Pereira e a mulher fundaram uma igreja evangélica em Portugal. Primeiro em Mangualde, mais tarde, no Seixal. Nos últimos anos escudaram-se na liberdade religiosa para explorar a fragilidade de muitas centenas de imigrantes, alugando quartos improvisados, sobrelotados e sem condições numa garagem pelos quais cobravam até 400 euros pelo alojamento a homens, mulheres e crianças. O pastor evangélico alega que o fazia para «ajudar» estas pessoas, ao mesmo tempo que recebia muitos milhares de euros por mês.

Segundo o Ministério Público, que deduziu recentemente acusação contra o casal evangélico, Zaqueu cobrava ainda dinheiro «a cidadãos estrangeiros pela obtenção e disponibilização dos documentos necessários à emissão do visto de entrada em Portugal e à legalização junto do extinto SEF», documentos fabricados pelo pastor Zaqueu e a tesoureira da sua igreja evangélica, a sua mulher. Os crimes pelos quais são indiciados são os de auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.

Este pastor, da Bancada Evangélica Portuguesa, foi um activo participante nas últimas campanhas eleitorais do partido de extrema-direita, ADN.

«A câmara municipal há muito que estava em articulação com as autoridades policiais e com a Segurança Social no acompanhamento das actividades desenvolvidas por estas pessoas, ligadas a uma igreja evangélica», refere Paulo Silva, presidente da Câmara Municipal do Seixal (CMS). Para não prejudicar as investigações, a autarquia optou «por não tomar medidas que pudessem prejudicar as mesmas». 

Agora que o processo de acusação está em andamento, a Câmara Municipal do Seixal anunciou, em nota enviada à comunicação social, que vai realizar «acções de inspecção» a «todos os imóveis referenciados como sendo alegadas "bases missionárias"» no concelho. Se se provar o uso ilegal das fracções, «a autarquia irá notificar os seus proprietários para o restabelecimento da utilização formalmente atribuída aos imóveis, sob pena de serem desencadeados processos de contraordenação, com a aplicação de coimas» que variam entre os 100 mil euros para pessoas individuais e 250 mil para pessoas colectivas.

Uma nova frente de ataque na luta pelo direito à habitação levada a cabo pela autarquia do Seixal

Depois de concluídos os processos de realojamento dos moradores de Vale de Chícharos (Bairro da Jamaica), Rio Judeu e Santa Marta de Corroios (em andamento), a CMS procura agora enfrentar a exploração de imigrantes em situações de grande vulnerabilidade. Também o problema da «sobrelotação», de casas em que o número de habitantes excede a tipologia, terá uma frente de ataque, focando a acção na «intimação ao proprietário e instauração do competente procedimento contraordenacional», e não nos moradores.

Neste momento, «entre fracções com uso indevido e sobrelotação estão sob escrutínio cerca de 26 imóveis, mas estamos a receber denúncias que estamos a analisar, pelo que o número deverá subir», anuncia o presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva.

No mesmo comunicado, a CMS realça o Programa de Arrendamento Acessível que está em desenvolvimento, tendo a autarquia já recibido candidaturas para um total de 117 habitações.

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