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|alterações climáticas

Uma reunião à porta fechada para preparar uma cimeira climática

Com suspeições levantadas em relação à metodologia dos trabalhos do IPCC, teria sido prudente não dar como verdadeiras afirmações de iniciativas anteriores e problematizar o que se pensava adquirido.

Fotografia espacial do furacão Florence, tirada pelo astronauta Ricky Arnold a partir da Estação espacial Internacional, a 10 de Setembro de 2018
Fotografia espacial do furacão Florence, tirada pelo astronauta Ricky Arnold a partir da Estação espacial Internacional, a 10 de Setembro de 2018 Créditos / NASA

1. De 26 de Janeiro a 1 de Fevereiro reuniu-se, na Universidade do Algarve, em Faro, à porta fechada, um batalhão de «especialistas» (250 de mais de 60 países) para se debruçarem, conforme referido na conferência de imprensa inicial, sobre «o impacto das alterações climáticas nos sistemas naturais e humanos e as suas vulnerabilidades».

Este painel de investigadores terá analisado «a capacidade e limites desses sistemas para se adaptarem às alterações climáticas» e estudado opções para «reduzir os riscos associados ao clima, criando a perspectiva de um futuro mais sustentável por intermédio de uma abordagem integrada de mitigação e adaptação a todos os níveis», afirmou a sul-africana Debra Roberts, co-presidente do grupo de trabalho II do IPCC-Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

A vice-presidente do IPCC, a brasileira Thelma Krug, antes da reunião, referiu-se-lhe dizendo que «será uma oportunidade especial para o IPCC divulgar os seus trabalhos, sua estrutura, a forma como funciona, além das múltiplas oportunidades de engajamento por parte de diferentes interessados». Ficámos surpreendidos, depois, porque nada disto foi feito...

Ainda a mesma responsável afirmou, então, que «este painel intergovernamental baseia o seu trabalho em investigação científica que tem sido publicada».

É que, sublinhou, «uma das características destas avaliações é comunicar em linguagem simples os factos muito complexos que resultam da investigação científica publicada em todo o mundo. E temo-lo conseguido com um sucesso muito razoável».

Percebe-se que o grupo de trabalho reunido se baseou na análise de investigações realizadas e publicadas. E, se assim foi, isto exigiria o conhecimento de quais os trabalhos publicados que estiveram em análise e os critérios com que foram analisados.

Procurando saber mais para preparar uma aula sobre matérias tão maltratadas como as alterações climáticas, procurei saber quem eram os especialistas e com que critérios trabalharam. E esbarrei com a mesma dificuldade que vários jornalistas experimentaram: «a reunião foi fechada, os trabalhos são confidenciais e não houve contactos com os jornalistas».

A cientificidade do referido batalhão deveria ter sido divulgada para os interessados avaliarem a qualidade de quem fez o trabalho a que vários dos seus responsáveis se referiram antes do início da reunião: «esta reunião fornecerá dados científicos actualizados ao nível regional e sectorial sobre como enfrentar os desafios decorrentes das alterações climáticas» (Debra Roberts).

Esta especialista sul-africana acrescentou que «uma das forças do IPCC é ter a oportunidade de ter não só os olhos de 260 cientistas, mas, uma vez feita a avaliação do que tem sido publicado, trazer outros para também participar e assim ter uma visão mais alargada dos problemas».

«A reunião em Portugal é um marco importante nos preparativos para a próxima avaliação da ciência das alterações climáticas. Essa avaliação de especialistas enriquecerá o conhecimento das nossas vulnerabilidades face às mudanças climáticas, mas também a capacidade e limites dos sistemas naturais e humanos para se adaptarem a elas, para além de opções para criar um futuro mais sustentável por intermédio de uma abordagem integrada de mitigação e adaptação a todos os níveis», afirmou um dos vice-presidentes do IPCC presentes, o alemão Hans-Otto Pörtner.

2. Não sendo eu indiferente à respeitabilidade destes responsáveis do Grupo de Trabalho que, actualmente, de acordo com o site do IPCC, são dirigentes – e não investigadores – ligados a organismos dos respectivos estados, entendo que devia ter sido entregue aos jornalistas, não digo as biografias dos 250 mas o acrescento, à sua listagem, da sua qualificação profissional e o papel que cada um desempenha. Se coloco estas dúvidas, faço-o por duas ordens de razões. A primeira é a do carácter muito tendencioso dos relatórios do IPCC, também muito pouco transparentes. A segunda, é que deveria ficar claro, no início de um processo, que a primeira contribuição da reunião de Faro para os passos seguintes deveria ser insuspeita quanto à credibilidade com que o mesmo irá ser elaborado.

Com suspeições levantadas em relação à metodologia dos trabalhos do IPCC, teria sido prudente não dar como verdadeiras afirmações de iniciativas anteriores e problematizar o que se pensava adquirido. Ou então não estimularem o interesse público sobre uma coisa que vai ser secreta, ao fazerem um anúncio da reunião.

Talvez a nossa curiosidade seja satisfeita em 2022, ano em que, referiram estes responsáveis, estará concluído o sexto ciclo de avaliação, aquando da conclusão de um Relatório de Síntese que vai integrar este relatório, as outras duas contribuições do Grupo de Trabalho e três Relatórios Especiais, recentemente produzidos. Estará então ainda tudo em segredo?

Lembro o Cardeal Cerejeira, que terá respondido, a uma pergunta sobre os segredos de Fátima, «os segredos são segredos e os segredos não se dizem…».

O Relatório de Síntese produzido pelo IPCC será conhecido ainda antes de se fazer o balanço global em 2023, na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), onde irá ser revisto o progresso de um dos objectivos do Acordo de Paris, que pretende manter o aquecimento global abaixo de 2°C e limitá-lo a 1,5°C.

Sobre objectivos e calendários que têm sido adiantados – por exemplo, a necessidade de diminuir as emissões de gases com efeito de estufa em 45% até 2030 –, a co-presidente Debra Roberts fez questão de esclarecer que «a mensagem importante sobre a data de 2030 não é que o mundo vai acabar em 2030. A mensagem é que, se não atingirmos a meta de reduzir as emissões em 45%, será cada vez mais difícil… Será cada vez mais caro e difícil, até chegar ao ponto de ser impossível». «São datas indicativas, para nos dar uma ideia da urgência», frisou. «Precisamos de uma resposta da sociedade, precisamos que todos actuem rapidamente e agora».

Estamos de acordo em acabar com esse anterior catastrofismo. Mas nós – o comum dos cidadãos – não somos apenas receptores de «mensagens» sem fundamento científico, criado por declarações anteriores de dirigentes do IPCC. E isto não tem nada a ver com o esforço de simplificação (esta palavra é tão perigosa!...) que se exige num organismo que acaba por adquirir certa autoridade. Mas não lhe compete decidir, isso cabe aos estados e a cada estado de acordo com as suas situações concretas.

Elevamos o nível das nossas exigências, não continuaremos a ser apenas destinatários de «Sumários para Formuladores de Políticas» como foi feito, por exemplo, com o relatório especial do IPCC de 2018.

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