Há alguns dias, o periódico britânico The Courier chegou à fala com um dos trabalhadores acampados junto às instalações da Amazon em Dunfermline, na região escocesa de Fife, onde foram avistadas pelo menos três tendas. Com relutância e sob anonimato, o funcionário acabou por explicar que era mais fácil e barato ficar na tenda do que ir todos os dias para casa, em Perth, a cerca de 50 quilómetros.
Isto passa-se numa altura em que as noites se tornaram muito frias, com as temperaturas a descerem até aos -7 ºC. O trabalhador classificou ainda como «empregador miserável» o gigante do comércio electrónico, que cobra 12 euros diários aos seus funcionários para que estes possam viajar nos seus autocarros.
«Isto passa-se numa altura em que as noites se tornaram muito frias, com as temperaturas a descerem até aos -7 ºC.»
Ao ter conhecimento de que havia trabalhadores a dormir em tendas nas florestas em redor da Amazon, em Dunfermline, o deputado escocês Willie Rennie, que tem reivindicado a melhoria das condições de trabalho na empresa, afirmou: «A Amazon devia ter vergonha por pagar tão pouco aos seus trabalhadores, de tal modo que até têm de acampar no pino do Inverno para conseguir sobreviver».
Rennie, que acusou a Amazon de pagar muito pouco em impostos e de receber milhões de libras do governo escocês, disse ainda ao The Courier que «o mínimo que se lhe exigia era que pagasse um salário digno», acrescentando que «aquilo que a empresa cobra pelo transporte consome uma boa parte do salário semanal, levando a que as pessoas busquem formas cada vez mais desesperadas de fazer com que trabalhar compense».
Uma representante da Amazon nas instalações de Dunfermline – que conta com 1500 trabalhadores fixos e 4000 temporários, contratados para a época do Natal e do Ano Novo – disse que a empresa «paga salários competitivos». «Todos os colaboradores permanentes e temporários da Amazon recebem salários a partir das 7,35 libras (8,7 euros) por hora, independentemente da idade, e a partir de 11 libras (13 euros) por cada hora extraordinária».
«A Amazon explora os trabalhadores»
No final do mês passado, por ocasião da Black Friday («sexta-feira negra», em português), sindicatos e diversas associações manifestaram-se junto aos armazéns da Amazon em Dunfermline em protesto contra a «exploração dos trabalhadores». De acordo com os manifestantes, os funcionários são obrigados a trabalhar «até 60 horas semanais por pouco mais do que o salário mínimo», sob intenso controlo e pressão, e em condições muito deterioradas.
Um porta-voz dos manifestantes disse ao The Courier que a Amazon tem possibilidade de criar condições de trabalho excelentes, mas que não o faz porque «quer mais lucros, a qualquer custo». E isto significa «à custa dos trabalhadores, que não são mais bem tratados do que drones».
«As acusações de más condições de trabalho e assédio moral aos trabalhadores na Amazon têm-se sucedido ao longo dos anos.»
As acusações de más condições de trabalho e assédio moral aos trabalhadores na Amazon têm-se sucedido ao longo dos anos. The Independent refere situações denunciadas pelos trabalhadores como multas por um minuto de atraso após o almoço; quatro dias de trabalho seguidos, sem dormir; a colocação de uma funcionária com cancro da mama num «plano de melhoria de performance», porque – segundo lhe foi dito – a sua «vida pessoal» estava a interferir com o trabalho.
Com base em diversas fontes, a Sputnik indica o caso de trabalhadores que foram despedidos por adoecerem ou por chorarem, bem como condições laborais «prisionais» e locais de trabalho «gelados» ou «tão quentes que os funcionários desmaiam». O ano passado, um sindicato britânico denunciou que as condições de trabalho nos armazéns da Amazon no Reino Unido estavam a tornar os seus funcionários «física e mentalmente» doentes, informa ainda a Sputnik, com base numa reportagem do The Guardian.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui