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|russofobia

A russofobia (I)

As permanentes campanhas sobre «o russo mau» na comunicação social causaram danos na consciência dos cidadãos de gerações inteiras. O clima russofóbico faz parte da instalação da «Guerra Fria 2.0».

Comboio militar da NATO circulando em estradas polacas.
Comboio militar da NATO circulando em estradas polacas. CréditosFonte: US Naval Institut

É conhecido o episódio das primeiras sessões de esclarecimento do Partido, depois do 25 de Abril de 1974, debatendo as suas propostas eleitorais. Após a exposição inicial, uma senhora, face ao que ouvira, exclamou: «mas se vocês querem fazer essas coisas boas, porque lhe chamam comunismo?».

Episódios semelhantes a este repetiram-se antes e depois da conquista da liberdade e são expressão do condicionamento de ideias, baseado na mentira a que os portugueses estiveram e estão sujeitos por governos e organizações fascistas mais ou menos clandestinas. Lá para trás não se pode esquecer a lavagem aos cérebros que o Vaticano ordenou logo após a revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia. Fátima foi um dos pólos. Dessa acção em torno do culto mariano há supostos factos aceites eclesiasticamente.

Do diálogo entre Lúcia e Nossa Senhora, em 13 de Julho de 1917, citamos: «até a guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer e várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da fé. Então vimos (terceira parte do segredo – “O atentado ao Papa”) ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; ao cintilar, soltava chamas que pareciam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro».

Em 13 de Julho de 1929, já depois da Revolução de Outubro e da criação do estado soviético, de novo Lúcia ouve de Nossa Senhora: «é chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do Mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio. São tantas as almas que a justiça de Deus condena, por pecados contra Mim cometidos, que venho pedir reparação: sacrifica-te por esta intenção e ora. Dei conta disto ao confessor que me mandou escrever o que Nossa Senhora queria se fizesse. Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nossa Senhora disse-me, queixando-se: – Não quiseram atender ao Meu pedido!… Como o rei de França, arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à igreja: O Santo Padre terá muito que sofrer».

Do anti-comunismo à russofobia

Mas o anti-comunismo ocorreu em todo o mundo, desde que o ideal comunista se exprimiu no século XIX. Dirigentes de partidos políticos, governos, a NATO, correntes ideológicas diversas, a intervenção dos Papas da Igreja Católica e, dos seus púlpitos, dos meios de comunicação social, realizadas em momentos históricos relevantes, particularmente depois da Segunda Guerra Mundial onde os «Aliados» que derrotaram o nazismo incluíram ou não a União Soviética, primeiro, e a Rússia, depois, conforme os interesses de ocasião, nas celebrações da vitória aliada.

Desde a Comuna de Paris em 1871, todos pautaram a sua intervenção por violentos ataques, anátemas, ameaças de excomunhão. As permanentes campanhas de mentiras na generalidade da comunicação social causaram danos na consciência dos cidadãos em gerações inteiras e quase mataram a sua liberdade individual. Foi um crime de enorme extensão e duração, que pode ser inscrito nos maiores crimes contra a Humanidade. E limitámo-nos aqui a referir às campanhas de desinformação. Dimensão semelhante têm os crimes de assassinato colectivo e individual que acompanharam campanhas contra a esquerda em todos os cantos do planeta.

Nestes dias em que vivemos está ainda na ordem do dia a questão da Crimeia como leitmotiv para uma nova campanha russófoba.

Parece incompreensível que um processo de alargamento para leste da NATO e da UE, iniciado há mais de trinta anos, e realizado por um golpe conduzido por organizações fascistas e nazis, que realizou perseguições a comunistas e outros cidadãos de origem russa da região do Donbass, seja aceite no «Ocidente» como um acto legítimo, mas depois a «anexação» da Crimeia realizada através de um referendo popular em que a população da península decidiu, por esmagadora maioria, pela sua integração na Rússia, não o seja.

Os EUA, a NATO e a UE, apoiados em campanhas de desinformação, agigantaram o desacordo com a Rússia. Comportaram-se como se não entendessem a história contemporânea como uma corrente de decisões e acontecimentos. Como se não entendessem, nem levassem em linha de conta o último passo dessa corrente – a secessão da Crimeia. Ou seja, não entenderam nada. Ou melhor, eles até entenderam, mas conspurcaram a informação e comentários à escala universal em sentido contrário. As elites dominantes ocidentais continuam a ser os principais iniciadores de conflitos e guerras para seguir as suas diversificadas geoestratégias

Muitos políticos respeitáveis, após a queda do Muro de Berlim, desempenharam um papel decisivo como arquitectos da Casa Comum de uma Europa pacífica e agora estão descontentes com a política actual do governo federal alemão no que diz respeito à Rússia.

Não se pode ignorar, hoje como no passado, a existência de políticos honestos. No entanto, é muito raro encontrar tais políticos em órgãos de governo. Nestes estão, com raras excepções, oportunistas e apparatchiks corruptos, que uniram as suas forças com as do poder económico e financeiro. Eles não se importam com a população em geral, com o meio ambiente e com a paz no mundo.

Após o desaparecimento da concorrência dos sistemas EUA/URSS, os neoconservadores americanos tiveram carta branca, especialmente na presidência de Bush (filho). Depois de uma fase de reorientação, eles vislumbraram a oportunidade de revitalizar todo o domínio mundial pelos Estados Unidos – um conceito que existe há cerca de 100 anos.

Como pôde o mundo ocidental, depois da guerra fria e dos ganhos de décadas de coexistência pacífica e distensão, cooperação e comércio multilaterais regressar a uma espiral de desconfiança, de corrida armamentista e dissuasão mútua, após as experiências da Guerra Fria?

Qual é a probabilidade de aumentarem as tensões entre o Ocidente e o Oriente?

A principal razão para as distorções na cena internacional é a reivindicação dos Estados Unidos a dominar o mundo. Os Estados Unidos definem o mundo inteiro, especialmente o espaço eurasiático, como seu interesse vital.

Mas vão mais longe. A reivindicação americana à dominação mundial baseia-se na ideologia do «domínio de espectro total» e agora inclui além dos três exércitos tradicionais do exército de terra, força aérea e marinha, outras armas: «espaço», «ciberespaço», «guerra de informação», bem como a sua posição hegemónica em tudo e com a monitorização total de todos os processos.

Da mesma forma, a admissão contínua de novos países na Aliança da NATO serve a expansão da ideologia e domínios de poder dos Estados Unidos para os fins desejáveis na zona eurasiática.

De 1990 até hoje, os imperialistas transatlânticos procederam em várias fases.

Primeiro, houve uma fase de reorientação, aliança e busca de novas tarefas de 1990 a 1993, seguida da revitalização da procura americana pela liderança e manutenção do reforço deste domínio e consolidação e planos de expansão da NATO de 1994 a 1998 e, em seguida, de 1999 a 2001.

A primeira fase de agressão, inclui a guerra contra a Jugoslávia em 11 de Setembro, a «guerra contra o terrorismo», a guerra contra o Afeganistão e a primeira fase da expansão da NATO com as adesões da Polónia, da República Checa e da Hungria.

A segunda fase da agressão pode ser considerada no período 2002-2010. É a consolidação da dominação mundial reivindicada pelos Estados Unidos, o cancelamento do tratado ABM, as guerras contra o Iraque, a Líbia, entre a Geórgia e a Rússia, a segunda fase do alargamento da OTAN com a entrada da Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia, Bulgária, Eslovénia, Eslováquia, e depois a Albânia e Croácia.

A terceira fase da agressão ocorre entre 2011 e 2013, com o início da guerra na Síria e a hostilidade aberta contra a Rússia. Durante estes anos, realizam-se várias manobras militares e aumentam as armas pesadas nas fronteiras russas.

A quarta fase pode considerar-se ter início em 2014 com o golpe na Ucrânia, a escalada da guerra na Síria, as guerras de propaganda, o regime de sanções e a guerra económica, a russofobia, as manobras militares, o reforço do armamento, a denúncia do tratado nuclear com o Irão e o tratado INF. A quarta fase inclui o alargamento da OTAN ao Montenegro em 2017, também nesta perspectiva.

Nicolas S. Davies apresentou os rastos de sangue deixados pelos Estados Unidos nas suas guerras desde o 11 de Setembro: desde 2001 custaram entre 5 e 7 milhões de vidas.

A Suécia publicou recentemente uma série de televisão sobre uma invasão da Noruega pela Rússia. Coincidência? A Noruega, a Suécia e a Finlândia são de grande importância para os estrategos da NATO e de uma potencial guerra contra a Rússia.

O fato de os dois últimos secretários-gerais da NATO serem escandinavos, Jens Stoltenberg e seu predecessor Fogh Rasmussen, também não é uma coincidência. Isso serve para ligar esses países à NATO.

O clima russofóbico foi e ainda é criado com todas as técnicas de propaganda disponíveis.

A infiltração cultural e militarista do público através de filmes, séries, televisão, publicidade, cartazes de grande formato, etc. é muito importante. Estas são técnicas subtis que não faltam para obter um efeito nas massas subconscientes. Assim, o russo mau torna-se subliminar e ancorado na consciência das massas. A maioria das pessoas não reconhece as técnicas pérfidas do poder porque elas não podem nem sequer pensar de forma tão maliciosa como as elites. O clima russofóbico faz parte da instalação da «Guerra Fria 2.0».
 

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