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|Reino Unido

Os clubes deviam ser dos adeptos

O capitalismo destruiu o «beautiful game» e a solução passa pelos apoiantes assumirem a posse dos clubes, afirma o sindicalista Bert Schouwenburg, defendendo que a esquerda devia travar essa batalha.

Jogadores do Borussia Dortmund celebram com os adeptos após um empate com o Manchester City, na semana passada. Os sócios detêm 51% das acções do clube e maior poder de decisão na forma como o clube é gerido 
Jogadores do Borussia Dortmund celebram com os adeptos após um empate com o Manchester City, na semana passada. Os sócios detêm 51% das acções do clube e maior poder de decisão na forma como o clube é gerido Créditos / Morning Star

Num artigo recentemente publicado no diário britânico Morning Star, o ex-dirigente sindical do GMB lembra o velho ditado «Nada tem tanto êxito como o sucesso» para o aplicar ao caso do Newcastle United e da «felicidade» dos seus apoiantes, encantados porque um grupo saudita tomou conta do clube, há um ano.

Apoiado por um fundo de investimento público avaliado em centenas de milhares de milhões de dólares, a imensa riqueza do novo proprietário permitiu que os apoiantes do Newcastle sonhassem com um futuro brilhante para a sua equipa, assente na aquisição de jogadores caros e de grande qualidade, que antes estavam fora do seu alcance.

Em Agosto deste ano, o Newcastle participou no primeiro «Gulf Derby» (Dérbi do Golfo) contra o Manchester City, que é propriedade do vice-primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, Sheik Mansour, cujo património líquido foi estimado em 21 mil milhões de dólares, destaca o autor.

O City é o actual campeão da Premier League (Primeira Liga), com poder financeiro para comprar os jogadores que quiser, quando quiser e pagar salários exorbitantes, com os quais poucos clubes do mundo podem competir.

Além da proximidade geográfica, os proprietários do City e do Newcastle têm em comum um «histórico de direitos humanos terrível, tanto nos seus países como no estrangeiro», denuncia Schouwenburg, lembrando que ambos os países participam na guerra contra o movimento Huti Ansarullah desde 2015, no Iémen, um conflito que «deixou milhões de pessoas à beira da fome».

«O que a grande maioria dos apoiantes do City e do Newcastle tem em comum é que não se importa, desde que seus sugar daddy árabes entrem com o dinheiro para os manter no topo, no caso do City, ou os tornar parte da elite do futebol, no caso de Newcastle», acusa o autor, ainda que, «para ser justo», note que a maioria dos apoiantes de outros clubes provavelmente também aceitaria o dinheiro de ditaduras árabes, se isso tornasse as suas equipas mais competitivas.

Tudo gira à volta do dinheiro

Como escreveu recentemente o colunista de futebol Jonathan Wilson no jornal The Guardian: «Tem tudo a ver com dinheiro, ganância e crescimento. O jogo em si, ou o lugar do clube na sua comunidade, [é] uma ocorrência secundária.»

Após a citação, o autor do artigo lembra que mais de três quartos dos clubes da Primeira Liga são propriedade de interesses estrangeiros e que o dinheiro é um factor essencial para determinar quais deles podem ter êxito.

«O futebol profissional mostra todas as características do sistema capitalista, de que é parte integrante – principalmente com a crescente monopolização de um punhado de super-clubes europeus cuja força financeira colectiva lhes permite dominar a federação de futebol do continente (UEFA) para praticamente garantir a sua participação contínua em torneios lucrativos», frisa Schouwenburg.

Em Inglaterra, a Associação de Futebol permitiu que os clubes da Primeira Liga se separassem do resto da Liga de Futebol em 1992 e beneficiassem do boom das receitas de TV. Embora uma pequena percentagem do dinheiro da TV seja distribuído pelos clubes das ligas inferiores, o efeito da separação foi o de um grande lucro para os membros da Premier League às custas do futebol de base.

Para o autor, «tornou-se cada vez mais evidente que a dominação do jogo profissional por alguns clubes que são propriedade de ditadores árabes ou mercenários norte-americanos não é apenas prejudicial para qualquer conceito de competição justa, mas, mais importante, alienou os apoiantes da classe trabalhadora e afrouxou o laços com as comunidades locais onde se situam os campos».

Canalizar a paixão colectiva para uma via mais positiva

Considerando que a questão da propriedade dos clubes é de suma importância, o autor recorda que existem casos de clubes, em ligas inferiores, que são propriedade dos apoiantes e que a Alemanha é muitas vezes apontada como um exemplo a seguir, dada a exigência de que os sócios ali detenham 51% dos clubes.

Embora existam excepções à regra na Alemanha, Bert Schouwenburg afirma que, quando ela é seguida, os adeptos germânicos pagam apenas uma parte do que custa adquirir um bilhete para a Premier League e que os clubes são uma parte importante da comunidade.

O autor rebate as vozes críticas que dizem que o modelo de estilo alemão não se poderia aplicar em Inglaterra e apresenta sugestões para a sua implementação.

Do ponto de vista dos apoiantes da classe trabalhadora, este cenário seria mais atractivo que o statu quo actual, defende, advertindo, no entanto, que mobilizá-los para fazer alguma coisa será mais difícil, exigindo uma campanha de informação, educação e acção.

Essa campanha em torno dos benefícios da propriedade comunitária dos clubes, afirma, seria também a oportunidade para a esquerda promover ideais democráticos e colectivos, que vão no sentido oposto ao da aquisição corporativa dos clubes que «podiam e deviam ser nossos».

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