As caminhadas em defesa da paz e os apelos reiterados do governo sandinista ao diálogo, «como única forma de se alcançar a paz e evitar mais violência» no país centro-americano, inscrevem-se no cenário adverso do fim da mesa de negociações com a oposição.
A Conferência Episcopal, mediadora e testemunha, decidiu cancelá-la de forma unilateral, na semana passada, por considerar não estarem reunidas as condições para a sua concretização.
De acordo com a Prensa Latina, a Igreja nicaraguense responsabilizou apoiantes do governo pela violência que o país vive, mas tais acusações foram refutadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Denis Moncada, para quem a oposição não parece estar interessada «na paz, na justiça e na democracia», mas antes em fazer avançar uma agenda «que conduz a um golpe de Estado».
Ataques a pessoas e bens em Granada
A onda de violência que abala a Nicarágua desde 18 de Abril prosseguiu este fim-de-semana, em que a Polícia registou quatro mortos e 32 feridos, segundo informa a TeleSur.
Granada, cidade histórica conhecida pela arquitectura colonial, localizada na região ocidental do país, tem sido particularmente atingida pela onda de violência. Esta segunda-feira, o edifício da Câmara Municipal foi atacado e incendiado por grupos violentos. Nas imagens divulgadas pela TV, viu-se o edifício envolto em chamas, que os Bombeiros e a população tentaram sufocar.
Os ataques de grupos de «vândalos» encapuzados alastraram à zona do Parque Central, onde estão localizadas algumas das edificações com maior valor histórico. De acordo com a Prensa Latina, os mesmos grupos, que instalaram barricadas no meio das ruas, atacaram ainda a esquadra da Polícia e lojas, e agrediram transeuntes.
A Câmara de Turismo de Granada afirmou há cerca de duas semanas que estes ataques se sucedem na cidade desde o dia 19 de Abril, com os grupos de «vândalos» a provocarem o caos nas ruas: lançam morteiros, atiram pedras e bombas contra casas, e saqueiam estabelecimentos comerciais.
Masaya: trabalhadores e utentes do hospital ameaçados
A cidade de Masaya, localizada cerca de 25 quilómetros a sul de Manágua, conhece a violência dos «grupos de delinquentes» ao serviço dos partidos da direita – como o governo nicaraguense os qualifica – há mais de 40 dias.
De acordo com o vice-ministro da Saúde, Enrique Bateta, essa violência atingiu níveis inauditos quando indivíduos encapuzados, armados com morteiros e armas brancas, invadiram o Hospital Humberto Alvarado, ameaçando e intimidando os pacientes e os trabalhadores, com a desculpa de que andavam à procura de polícias de intervenção.
«Numa clara violação dos direitos do povo e com uma atitude agressiva, inspeccionaram as salas e pediram a identificação a pacientes e familiares, o que gerou terror, angústia e alterações na condição clínica dos internados», disse Bateta à Prensa Latina, acrescentando que tanto médicos como enfermeiros receberam ameaças de que «lhes iam queimar as casas» e foram informados de que «andavam a ser vigiados».
O comissário-mor Ramón Avellán acusou a chamada «oposição» de pagar aos «delinquentes» entre 300 a 500 córdobas [entre sete e 14 euros, respectivamente] para destruir a cidade, «acções que levam a cabo sob o efeito de álcool ou drogas», disse.
Avellán revelou que «indivíduos encapuzados saquearam e queimaram mais de 140 lojas, atacaram casas e instituições, como a esquadra da Polícia, o Ministério Público, a Procuradoria, o Tribunal de Família e a Câmara Municipal» da cidade.
Trabalhadores ameaçados em Parque Industrial
Esta segunda-feira, grupos violentos que o governo acusa de serem instigados pela direita entraram no Parque Industrial Astro Cartón Nicaragua, localizado a sul de Tipitapa, não muito longe da capital do país.
Os «delinquentes» entraram com armas de fogo e lança-morteiros num espaço onde laboram mais de 11 mil trabalhadores, ameaçando-os. Muitos, assustados, fugiram dali.
A Nicarágua vive desde 18 de Abril uma onda de violência sem precedentes no país nas últimas décadas, que parece ter sido desencadeada pela reforma da Segurança Social, entretanto revogada.
No entanto, os actos de vandalismo prosseguiram, levando o governo a defender que a reforma da Segurança Social serviu apenas de desculpa para pôr em marcha um «plano de desestabilização» e espalhar «o caos e a instabilidade» na Nicarágua, com determinados propósitos políticos – leia-se: «derrubar o governo sandinista».
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