«Hitler era um chefe militar inigualável; o nazismo fez passar a Alemanha de um nível baixo a um nível económico e ideológico fantástico»
(Moshe Feiglin, dirigente do partido de Netanyahu e ex-vice-presidente do Parlamento de Israel)
Tal como monopolizou o judaísmo e o semitismo, o sionismo fê-lo também com as vítimas das atrocidades nazis ao tentar assumir, pelo menos propagandisticamente, o Holocausto de judeus como a única e grande hecatombe originada pelo regime terrorista de Hitler.
A «solução final» de Hitler foi adoptada com o objectivo declarado de exterminar «a raça judaica». Pelos campos da morte e de batalha e pelas câmaras de gás passaram, porém, milhões de não-judeus e também muitos e muitos judeus que não foram vítimas directas das suas características etno-religiosas mas perderam a vida porque combateram o nazismo como trabalhadores, como cidadãos, como democratas. O nazismo nasceu com objectivos muito mais amplos do que o extermínio dos judeus e provavelmente a maioria dos seres humanos que pereceram ante a máquina de morte nazi na União Soviética, nos países do Leste da Europa, em França, Itália, na Grã-Bretanha, na Bélgica, em Espanha, na Áustria, na Alemanha, enfim, não eram judeus. E a maioria destes, certamente, não eram sionistas, provavelmente nunca tinham ouvido falar em tal doutrina. Quando a «solução final» foi decidida, no fim de Julho de 1941, milhões de pessoas tinham já perecido em consequência dos instrumentos de assassínio em massa desenvolvidos pelo regime de Hitler.
O sionismo não pode, portanto, reclamar o monopólio das vítimas do nazifascismo e não tem igualmente legitimidade para se apropriar da memória dos muitos judeus não-sionistas sacrificados no Holocausto. Do mesmo modo, o Estado de Israel, como obra do sionismo, não tem o direito de representar em bloco as vítimas do Holocausto porque está muito longe de ter soberania sobre os judeus de todo o mundo.
A apropriação do Holocausto pelo sionismo é uma hipocrisia de grande insensibilidade, no mínimo, e uma expressão do seu espírito totalitário.
Tanto mais que a História nos ensina, com exemplos abundantes, a cumplicidade do sionismo com o nazifascismo no doutrinamento e preparação operacional dos grupos paramilitares perpetradores da limpeza étnica que tornou possível a instauração do Estado de Israel e constituíram a base das actuais Forças de Defesa de Israel, o exército israelita. A génese de grupos terroristas como o Irgun, Betar, Haganah, Stern, Lehi esteve nas escolas e centros de treino de organizações fascistas na Itália de Mussolini e o exército de Israel tem demonstrado, como agora acontece em Gaza, que a herança dessa escola não se perdeu ao longo das décadas.
Quando implantou o «revisionismo» sionista a partir de 1925, Vladimir Jabotinsky dotou o movimento com um grupo militante subordinado a uma hierarquia militar, o Betar ou Beitar, designação hoje assumida por um clube de futebol de Jerusalém, com participação nas competições europeias, que tem como principal adepto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e uma claque de arruaceiros que não esconde comportamentos fascistas. No início, só tinham acesso ao grupo Betar os militantes sionistas que fossem suficientemente antiárabes e antibritânicos, considerados estes os inimigos principais, plataforma em que convergiam o revisionismo sionista e o nazifascismo.
As hostes de Jabotinsky tinham uma cerrada orientação anticomunista que já vinha do início da década de vinte, quando o chefe revisionista, de origem ucraniana, se aliou com o dirigente nacionalista ucraniano Simon Petliura para atacar a União Soviética. Petliura era um antissemita assumido, organizador de numerosos pogroms nos quais foram assassinados centenas de judeus. Isso não representou qualquer problema para Jabotinsky que, na sequência do entendimento com Petliura, nomeou um enviado, Maxim Slavinsky, para coordenar um «ataque branco» contra a União Soviética.
Esta aliança política e operacional com um militante e activista antissemita criou a Jabotinsky alguns problemas na direcção da Organização Sionista Mundial, cargo que abandonou, embora por pouco tempo. E nunca renegou as suas afinidades com o antissemita e chefe terrorista ucraniano, pai ideológico dos nacionalistas como Stepan Bandera, que inspiram o nazismo actualmente dominante no regime de Kiev apoiado pela NATO e pelo chamado Ocidente colectivo. Para que não houvesse dúvidas, Jabotinsky declarou em 1923: «No meu epitáfio podem escrever: Este foi o homem que fez o pacto com Petliura».
Na esteira do anticomunismo vinha também o antissocialismo do revisionismo sionista, afinal uma outra manifestação de antissemitismo contra extractos judaicos. Jabotinsky criou a chamada Legião Judaica, igualmente um grupo paramilitar, que tinha entre as suas missões, conforme explicou, «exterminar fisicamente o Histadruth (central sindical fundada por Golda Meir) porque os seus membros são piores que os árabes e não possuem o espírito nacionalista dominante nos alemães porque nenhum deles é capaz de matar da maneira como Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo foram mortos». Afinal, o assassínio do primeiro-ministro Isaac Rabin inspirado pela direita sionista, muitas décadas depois, não foi um caso virgem de terrorismo político interno. No seu livro Em três frentes, de Agosto de 1939, Ben-Gurion manifestou, ainda muito prematuramente, a sua experiência e inegável sabedoria, dir-se-ia profética, sobre as pulsões e os instintos criminosos do sionismo: «Do terrorismo judaico contra os árabes é um pequeno passo para o terrorismo judaico contra os judeus».
De braço dado com Mussolini
A Legião Judaica criada por Jabotinsky foi a base da fundação do grupo Haganah, outro dos que conduziu a limpeza étnica na Palestina nos últimos anos da década de quarenta – depois integrado nas forças militares de Israel.
O principal discípulo de Vladimir Jabotinsky foi Menahem Begin, um judeu de Varsóvia que veio a ser primeiro-ministro de Israel entre 1977 e 1983, prémio Nobel da Paz e principal responsável pela carnificina do Verão de 1982 em Beirute, culminada com o massacre de milhares de idosos, mulheres e crianças nos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila.
Menahem Begin foi um dos principais responsáveis do grupo Betar, que deu origem à organização terrorista Irgun, da qual assumiu a direcção.
O revisionismo idealizado por Jabotinsky tornou-se dominante no interior da na Organização Sionista Mundial à medida que, no fim dos anos vinte e década de trinta, se foi aproximando do chefe fascista italiano Benito Mussolini. Esta convergência registou-se tanto nos domínios operacionais como ideológicos, conduzindo o topo do sionismo a enquadrar-se numa estrutura política ferozmente antissemita.
O sionismo assumiu abusivamente o monopólio do «semitismo», de maneira que qualquer crítica ou acusação à teoria e práticas do regime de Israel e da doutrina em que se baseia seja considerada uma manifestação de antissemitismo. «A transferência obrigatória (dos palestinianos) permitir-nos-á tomar posse de uma imensa região; e não vejo na transferência obrigatória nada de imoral» (David Ben-Gurion, fundador e primeiro chefe de governo do Estado de Israel) O sionismo, como doutrina teocrática fundamentalista, é uma fonte inesgotável de metáforas inspiradas nas velhas Escrituras em versões com estilo e léxico renovados para se adaptarem aos tempos de hoje e penetrarem mais profundamente como ferramentas de propaganda. A regra não é geral porque às vezes os antiquíssimos dizeres bíblicos servem para incitar de maneira figurada – portanto sempre passível de ser desmentida – à realização de actos sanguinários que, mesmo sob a existente campânula de impunidade, poderiam até chocar almas sempre dispostas a justificar os mais injustificáveis comportamentos israelitas. Dias depois de 7 de Outubro de 2023, quando Israel se lançou em nova fase do genocídio em Gaza, Benjamin Netanyahu recorreu ao Deuteronómio, livro sagrado comum à Tora hebraica e ao Antigo Testamento bíblico, para invocar os versículos 15:3 do profeta Samuel: «Isto é o que o Senhor Todo-Poderoso diz: vai e fere Amaleque e destrói completamente tudo o que eles têm, não os poupes, mata homens e mulheres, crianças e bebés, bois e ovelhas, camelos e jumentos». Amaleque era, há três mil anos, segundo os livros sagrados, um «reino rival» do «reino de Israel». Netanyahu foi peremptório a garantir que a escolha da citação e o momento para a recordar nada tinham que ver com a operação militar em Gaza e os incitamentos ao genocídio. Apeteceu-lhe recitá-la – não existe outra explicação. Em seu redor, porém, não faltaram as recomendações agressivas de ministros, deputados e dignitários religiosos, sublinhando que toda a população de Gaza – homens, mulheres e crianças – são «alvos legítimos» das tropas israelitas. No dia-a-dia do sionismo abundam, porém, metáforas de formulação bem mais grosseira, boçais, cruéis e racistas até, isentas das piruetas de linguagem usadas para expôr os requintes de malvadez cultivados no Antigo Testamento. As mais frequentes, e que traduzem na perfeição o culto supremacista dos seguidores desta doutrina, são as metáforas zoológicas, repisando o tema da identificação dos palestinianos com animais. Ehud Barak foi o último primeiro-ministro do histórico Partido Trabalhista, que entrou em fase de dissolução com o assassínio de Isaac Rabin em 1995, resultante, sem dúvida, de uma conspiração urdida pela direita usando os colonos e fundamentalistas desequilibrados como executantes. Seguindo o caminho tradicional para identificar quem lucrou com o crime, na primeira linha de suspeitos estão Ariel Sharon e Benjamin Netanyahu, que repartiram o lugar de primeiro-ministro quase por inteiro nos últimos 30 anos, precisamente desde a liquidação de Rabin. Barak ocupou o cargo esporadicamente no início do século e mantém-se plenamente no activo, embora sem poiso político certo. Segundo ele, de extração trabalhista e alegadamente secular como Ben-Gurion, Golda Meir e Isaac Rabin, «os palestinianos são como os crocodilos, quanto mais carne se lhes dá mais querem». Tornou pública esta teoria, inspirada, por certo, nos documentos sobre a vida animal de Sir David Attenborough, a propósito das «negociações» com a parte palestiniana iniciadas no âmbito dos Acordos de Oslo de 1993 e depois sabotadas pelo regime sionista e pelos «mediadores» norte-americanos. O já citado Ovadia Yosef, grande rabino sefardita e chefe até 2014 do partido fundamentalista Shas, reflectiu publicamente sobre a existência de árabes na «Terra de Israel» testemunhando que «pululam como formigas na Cidade Velha de Jerusalém: que vão para o diabo, o Messias irá expedi-los para o inferno». Nas primeiras décadas do século passado, Mosha Smilanski foi um escritor sionista e, simultaneamente, um latifundiário que lançou a «Associação de Agricultores» na Palestina sob Mandato Britânico. Da sua actividade concluiu que «estamos confrontados com um povo semi-selvagem com conceitos extremamente primitivos (…) e um ódio secreto aos judeus. Esta raça semita (os árabes) é antissemita». Zev Boim, deputado israelita eleito pelo partido «centrista» Kadima, que há poucos anos entrou em alianças com o Likud de Netanyahu, é autor de uma definição brilhante sobre as características rácicas dos árabes e dos muçulmanos em geral. Eis as suas reflexões: «Que há no Islão em geral e nos palestinianos em particular? É uma espécie de carência cultural? Um defeito genético? Neste desejo permanente de matar há qualquer coisa que desafia as explicações…» O latifundiário Smilanski, porém, reconhecera que os árabes são «uma raça semita», realidade que hoje é silenciada por razões óbvias da propaganda sionista, seguida sem reservas pelas áreas políticas e mediáticas que a disseminam. O sionismo não tem legitimidade para se apropriar da dor, morte e memória de todas as vítimas do Holocausto, muito menos de todos os seres humanos que pereceram sob a máquina de morte nazifascista. «Este país existe para cumprimento de uma promessa feita pelo próprio Deus. Seria ridículo pedir-lhe que prestasse contas da sua legitimidade» [Golda Meir, primeira-ministra de Israel (1969-1974)] Não é possível conhecer com autenticidade o Estado de Israel nem identificar o que permite a este país artificial e colonial continuar impune, apesar de praticar há 75 anos o genocídio de um povo e os mais atrozes crimes contra a humanidade, sem aprofundar o conhecimento sobre a doutrina sionista, a ideologia confessional, racista e supremacista que lhe deu origem e o sustenta. O sionismo não representa os judeus de todo o mundo; não representa o semitismo; não representa sequer a globalidade dos cidadãos de Israel. O sionismo não tem legitimidade para se apropriar da dor, morte e memória de todas as vítimas do Holocausto, muito menos de todos os seres humanos que pereceram sob a máquina de morte nazifascista. No entanto, o sionismo, uma ideologia antissemita, consegue manter o mundo de mãos amarradas apesar de a sua obra com maior impacto ser um Estado com pouco mais de meia dúzia de milhões de habitantes – uma percentagem significativa dos quais não são judeus, israelitas e muito menos sionistas, embora sejam semitas. O sionismo é uma doutrina com quase 150 anos que assenta no expansionismo, na limpeza étnica e substituição das populações em territórios distribuídos por uma área indefinida do Médio Oriente que há três milénios um «deus» solitário reservou para o povo por si «escolhido» com o objectivo de o instalar depois de uma fuga do Egipto, onde supostamente era tratado como escravo por um faraó não identificado, e de vaguear 40 anos pelo deserto. Nada disto tem comprovação histórica factual, emana apenas do Antigo Testamento bíblico e da Tora hebraica. Esta é a base mística e mítica do sionismo, dogmatizada segundo ficções de um confessionalismo que, embora semi-escondido tacticamente nos tempos de criação da doutrina, fundamenta hoje, quase por inteiro, o regime terrorista de Israel. Existe, porém, outro lado da moeda; nos finais do séc. XIX o fundador do sionismo, o jornalista judeu austríaco Theodor Herzl, já considerava essencial construir «um muro de defesa da Europa na Ásia, um posto avançado da civilização contra a barbárie». Ou, como diria o actual presidente dos Estados Unidos da América, Joseph Biden, nos anos oitenta do século passado, «se Israel não existisse teria de ser inventado». O sionismo é, portanto, uma doutrina criada com base em ficções religiosas para aplicar uma estratégia de colonização, de limpeza étnica e de genocídio dos «bárbaros», também eles semitas; além disso, cumpre uma missão civilizacional a realizar por um povo «escolhido por Deus», superior a todos os outros – que «existem para o servir». Povo esse que se guia apenas pelas leis divinas e só presta contas ao Senhor. Quando actualmente algum político ou diplomata deseja a saída de Benjamin Netanyahu da chefia do governo israelita como via para terminar a carnificina em Gaza não expressa mais do que um voto piedoso. Israel rege-se actualmente, talvez como nunca, pelo fundamentalismo religioso sionista, que determina a expulsão dos árabes da «Terra de Israel» – um território sem fronteiras estabelecidas onde os governantes não têm de obedecer às leis terrenas. «Sou contra o direito, o direito internacional, o direito em geral», explica a ex-ministra da Justiça israelita, a jurista Tzipi Livni. Netanyahu é, como se percebe, uma peça de uma engrenagem monstruosa que em nada depende dele para funcionar. Vamos então conhecer um pouco melhor esta doutrina, o sionismo, que mantém o mundo de mãos amarradas, apesar de lhe passarem à frente dos olhos as imagens do extermínio sistemático de um povo, e cujo papel na trágica realidade montada em Israel é frequentemente subvalorizado. A frase que se reproduz no início deste texto foi proferida pela antiga primeira-ministra de Israel e uma figura de culto do sionismo, Golda Meir, numa entrevista ao jornal Le Monde. Golda Meir não era religiosa, ou pelo menos assim se definia; foi fundadora da central sindical Histadrut em 1928 e chefiou durante anos o partido Mapai, depois Partido Trabalhista, a fracção dita socialista do sionismo. Considerada a primeira «dama de ferro» da política internacional, pois saiu de cena em Israel quando Margaret Thatcher entrou ao serviço no Reino Unido, Golda Meir foi transformada em mito pelo aparelho de propaganda sionista funcionando a partir de Hollywood através de um filme épico produzido em 2023, ano em que Israel iniciou em Gaza a maior expressão da selvajaria humana desde as carnificinas de Hitler. «Talvez possamos perdoar aos árabes por terem matado os nossos filhos, mas para nós será mais difícil perdoar-lhes por nos terem obrigado a matar os seus filhos», outra frase lapidar da antiga primeira-ministra de Israel que muito nos ajuda a entender a essência desumana e hipócrita do espírito sionista e, desde logo, permite estabelecer uma dissociação absoluta entre essa doutrina racista e genocida e o judaísmo enquanto povo, cultura e religião. Dizia ainda Golda Meir que «os palestinianos não existem», porque «existem apenas árabes»; e que, por isso, «como é que podemos devolver os territórios ocupados se não existe ninguém para recebê-los?» «Talvez possamos perdoar aos árabes por terem matado os nossos filhos, mas para nós será mais difícil perdoar-lhes por nos terem obrigado a matar os seus filhos.» Golda meir, antiga primeira-ministra de Israel Há poucos dias, o Knesset (Parlamento israelita) aprovou por larga maioria uma decisão segundo a qual Israel nunca permitirá a existência de um Estado palestiniano, desafiando assim o mundo e o direito internacional. Ontem como hoje, com a trabalhista Golda Meir ou o direitista (partido Likud) Netanyahu, o Estado de Israel, a imagem viva do sionismo, coloca-se numa plataforma acima das coisas terrestres, na qual vive «o povo eleito», ao qual compete interpretar e cumprir as ordens dos poderes divinos. «É verdade, há a justiça, mas depois existe a justiça hebraica», proclamava Golda Meir nos anos setenta do século passado. Uma formulação que, cinco décadas depois, foi retomada, usando outras palavras, por uma ex-ministra da Justiça de Ariel Sharon e Netanyahu, Tzipi Livni, muito querida de brilhantes palradores da nossa praça: «Sou jurista mas sou contra o direito, o direito internacional em particular, o direito em geral». Sobra, deste modo, o direito divino, «a lei de Deus», aquela segundo a qual se rege o Estado de Israel e que, em perfeita sintonia com a crueldade do Antigo Testamento – como acontece sob os nossos olhos – permite as limpezas étnicas, o extermínio e o genocídio. Os sionistas são quem melhor explica o sionismo. Não é uma aprendizagem fácil, porque a doutrina, sendo coerente nas suas finalidades e aplicação, está longe de ser linear devido às suas cambalhotas ideológicas; muitas vezes perdemo-nos entre a mistificação e a realidade, os princípios e o oportunismo, na deriva entre o determinismo religioso, a escatologia e a substância geoestratégica, mais prosaicamente, entre a verdade e a mentira. «Pode mentir-se no interesse de Israel», máxima proclamada por Isaac Shamir, operacional terrorista com responsabilidade em assassínios selectivos - designadamente do conde Folke Bernardotte, mediador entre árabes e israelitas em nome da ONU, nos anos 1947/48 – e que chegou a primeiro-ministro na segunda metade dos anos oitenta. «Os sionistas são quem melhor explica o sionismo. Não é uma aprendizagem fácil, porque a doutrina, sendo coerente nas suas finalidades e aplicação, está longe de ser linear devido às suas cambalhotas ideológicas (...).» Três das mistificações fundadoras do sionismo desenvolveram-se, e entranharam-se, ao longo do século XX e repercutem-se de forma agravada e intencionalmente irreversível nos dias de hoje, em que Israel está contra o mundo e o mundo tudo lhe permite. É falso que o sionismo seja uma doutrina secular; que tenha como princípio fundador promover o «regresso» do povo judaico à «terra prometida»; e que represente o judaísmo, a religião judaica, a etnia e cultura hebraicas. Essas três falsidades são, por sua vez, os pilares do monstruoso sistema de propaganda sionista manobrando nos principais centros de comunicação globalista e nas centrais de entretenimento, muito especialmente no império de Hollywood. Ainda que o trabalho teórico do jornalista judeu austro-húngaro Theodor Herzl (1860-1904), considerado o fundador do sionismo político, não admita abertamente o carácter religioso da doutrina, o mito bíblico da «terra prometida» alimentou a sua fundamentação desde os primeiros passos, pelo menos logo que em 1908 se iniciaram as compras de terras árabes no território da Palestina sob controlo otomano, designadamente para criar os tão «românticos» como expansionistas e colonizadores kibutz «socialistas». Os embriões das legiões e dos grupos terroristas que estiveram, posteriormente, na origem do Estado de Israel surgiram nessa altura, para forçar os árabes mais renitentes a «vender» as suas terras. O artifício propagandístico proclamando o objectivo de «regresso à terra prometida» foi idealizado na reunião sionista de Basileia em 1897, frequentada pelas elites judaicas endinheiradas da Europa – interligando então esse conceito com o da génese sionista, conferindo à doutrina um inquestionável conteúdo religioso. Na realidade não havia qualquer laivo de inocência ou de consciência progressista neste movimento. Theodor Herzl fora claro quanto às intenções de ocupação e expansão quando em 1900 recomendou que se «incitasse a população desfavorecida (da Palestina) a passar a fronteira, privando-a de trabalhar na nossa pátria». Herzl fez gala em identificar como uma das suas fontes de inspiração a figura de Cecil Rhodes, o criador das doutrinas de «desenvolvimento independente», eufemismo de apartheid, na África Austral, que ele qualificou como «um visionário». A associação entre sionismo e racismo vem, portanto, dos primórdios da doutrina e do edifício teórico-prático montado pelo seu fundador. «O artifício propagandístico proclamando o objectivo de "regresso à terra prometida" foi idealizado na reunião sionista de Basileia em 1897, frequentada pelas elites judaicas endinheiradas da Europa – interligando então esse conceito com o da génese sionista, conferindo à doutrina um inquestionável conteúdo religioso.» Desde o início do século XX estava em campo, de maneira particularmente activa, a família de banqueiros Rothschild, de origem judaica alemã, que patrocinou a compra directa ou por interpostas pessoas e entidades, driblando as autoridades otomanas, de grandes áreas das terras palestinianas. Cerca de 20 mil hectares passaram para as mãos de imigrantes sionistas entre 1908 e 1914; algumas fontes afirmam que cerca de 20% das terras férteis da Palestina estavam em mãos dos colonizadores já em 1918. Em 1917, entretanto, o governo britânico, a quem a elite sionista pedira apoio para o processo de colonização, formulou a famosa Declaração de Balfour (do nome do ministro dos Negócios Estrangeiros, Arthur Balfour) prometendo o apoio de Londres à criação de um «Lar Nacional» judaico na Palestina. Lord Balfour era um assumido antissemita; não estamos, porém, perante uma ironia histórica: esse foi mais um passo da longa e entranhada cooperação entre o sionismo e o antissemitismo que contribuiu para moldar a fundação e desenvolvimento do Estado de Israel; e que teve um marco fundamental na colaboração comprovada entre organizações e dirigentes sionistas e estruturas ao mais alto nível do fascismo mussoliniano e do nazismo hitleriano, como iremos perceber. Theodor Herzl levantara o véu ao qualificar Cecil Rhodes, pai do apartheid, como um visionário. A pegada racista ficou registada na génese e desenvolvimento do sionismo e não mais se extinguiu, antes se foi reforçando ao longo das décadas pré e pós-Israel até chegarmos aos dias de hoje, afirmando-se como pilar fundamental do regime terrorista de Benjamin Netanyahu. Menahem Begin foi um dos mais renomados chefes de grupos terroristas como o Irgun e de milícias sionistas como a Betar – em seu tempo um batalhão da marinha fascista de Mussolini – que em 1977 chegou a primeiro-ministro do Estado de Israel. Uma vez no cargo, onde se distinguiu pela sangrenta invasão do Líbano, o cerco de Beirute e os massacres de Sabra e Chatila no Verão de 1982, apoiando-se no criminoso de guerra Ariel Sharon como chefe das forças armadas, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. A distinção deveu-se, oficialmente, à assinatura de um tratado com o Egipto de Anwar Sadat, em 1977, celebrado à custa dos interesses e direitos do povo palestiniano. «Os palestinianos são animais que caminham sobre duas patas», definiu o Nobel Menahem Begin, um dos mais históricos dirigentes do Estado sionista, esse nosso imprescindível «aliado», uma ilha do Ocidente entre os bárbaros do Médio Oriente, aliás a «única democracia» na região. Um sucessor de Menahem Begin, Naftali Bennet, primeiro-ministro nos anos de 2021 e 2022, cumprimentou os participantes palestinianos numa sessão de «negociações» informando-os de que «ainda vocês trepavam às árvores já nós tínhamos um Estado». O sionismo é uma forma de racismo. Não, esta asserção não é uma manifestação de antissemitismo. O racismo do sionismo começa dentro do próprio «semitismo» ao apropriar-se do conceito de semita em detrimento de todos os outros povos da mesma condição étnica, designadamente os árabes. O sionismo é racista e segregacionista dentro do próprio universo hebraico. A sociedade israelita está estratificada consoante a «pureza» das origens judaicas. À cabeça estão os asquenaze, oriundos da Europa Central e de Leste, os europeus inventores do sionismo e que o conduzem desde os primórdios, com repercussões praticamente totalitárias nos órgãos de decisão do Estado de Israel. A Assembleia Geral da ONU adoptou, de forma esmagadora, a resolução que a Rússia apresenta há vários anos contra a «glorificação do nazismo», que voltou a não contar com o apoio dos países da NATO. Por iniciativa da Rússia, a resolução «Combater a glorificação do Nazismo, Neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada» foi aprovada esta quinta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com 130 votos a favor, dois votos contra (EUA e Ucrânia) e 49 abstenções. Entre as abstenções, inclui-se a de Portugal, a dos estados-membros da União Europeia e dos países que integram a NATO. A resolução proposta pela Rússia apela aos estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que «eliminem todas as formas de discriminação racial por todos os meios adequados», incluindo a via legislativa, e expressa «profunda preocupação sobre a glorificação, sob qualquer forma, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS». De acordo com uma nota publicada no portal na ONU, o texto refere-se, também, à «construção de monumentos e memoriais», e à «celebração de manifestações em nome da glorificação do passado nazi, do movimento nazi e do neonazismo» – algo que ocorreu nos últimos anos em países como a Ucrânia, a Letónia, a Estónia, a Lituânia e a Polónia. Grigory Lukiantsev, director-adjunto do Departamento de Cooperação Humanitária e Direitos Humanos do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, disse que a adopção da resolução será um contributo real para a erradicação do racismo e da xenofobia, refere a TASS. Cerca de mil pessoas participaram no desfile do Dia do Legionário em homenagem aos mais de 140 mil letões que integraram unidades nazis. A diplomacia russa classificou a marcha como uma «vergonha». O Dia do Legionário, a 16 de Março, é assinalado na Letónia desde os anos 90, para homenagear e evocar aqueles que fizeram parte da Legião da Letónia na Waffen Schutzstaffel (Tropa de Protecção Armada, mais conhecida como Waffen-SS). A marcha deste ano, em Riga, contou com a participação de alguns veteranos legionários, que integraram a 15.ª e a 19ª divisões de Granadeiros da Waffen-SS, bem como de apoiantes e neonazis. O evento anual, que tem sido criticado a nível internacional como uma forma de «glorificação do nazismo», também mereceu oposição interna, com alguns manifestantes a exibirem cartazes em que classificavam a Legião como uma «organização criminosa» e a lembrar que «lutaram ao lado de Hitler», segundo refere o periódico Haaretz. A Embaixada da Rússia no país do Báltico condenou a marcha de homenagem aos legionários da Waffen-SS, que classificou como «uma vergonha». Na sua conta oficial de Twitter, a Embaixada afirmou, no sábado: «Que vergonha! Veteranos da Waffen-SS e apoiantes estão novamente a marchar com honra no centro de uma capital europeia. E isto acontece na véspera do aniversário dos 75 anos da libertação de Riga dos invasores nazis!» Também a Embaixada da Rússia no Canadá se manifestou no Twitter contra o desfile realizado em Riga: «Veteranos da Waffen-SS nazis e apoiantes marcham desafiantes e livremente no dia 16 de Março em Riga, Letónia, recohecidos pelas autoridades como heróis nacionais. Uma realidade ignorada por muitos no Ocidente que não pode ser descartada como "propaganda do Kremlin".» A Waffen-SS, que foi criada como um ala armada do Partido Nazi alemão, foi considerada uma organização criminosa nos julgamentos de Nuremberga, após a Segunda Guerra Mundial, pela sua ligação ao Partido Nazi e envolvimento em inúmeros crimes de guerra e contra a Humanidade. A Legião da Waffen-SS da Letónia foi fundada em 1943. Muitos dos seus membros viriam a integrar depois, juntamente com combatentes da Lituânia e da Estónia, os chamados Irmãos da Floresta, que até 1953 lutaram contra as tropas soviéticas nos países bálticos. Em Julho de 2017, a NATO publicou um vídeo que apresenta, com visível dose de heroísmo, essa guerrilha anti-soviética, sem mostrar grande preocupação pelo facto de, nessas forças, estarem integrados muitos legionários das SS nazis ou os que, nos países bálticos, haviam colaborado com as forças invasoras nazi-fascistas. Então, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, pediu que «se veja com respeito as páginas trágicas da história e se repudie tão repugnante acção da Aliança Atlântica». Disse ainda esperar que «não seja necessário recordar os assassinatos massivos perpetrados por muitos dos membros dos Irmãos da Floresta». Por seu lado, a representação da Rússia junto da NATO considerou que o material fílmico constitui uma nova tentativa de reescrever a história, para a colocar de acordo com os processos políticos nas ex-repúblicas socialistas do Báltico, onde prolifera o neofascismo e o nacionalismo. Moscovo tem reafirmado a sua preocupação sobre o surgimento de grupos neonazis e acerca de políticas que glorificam colaboradores com o nazismo na Ucrânia, na Polónia e nos Estados Bálticos – países onde, refere a agência Sputnik – são frequentes as marchas em louvor de destacadas figuras fascistas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Acrescentou que o texto sublinha a inadmissibilidade de «glorificar os envolvidos nos crimes do nazismo, incluindo o branqueamento de ex-membros da organização SS e das unidades Waffen-SS, reconhecidas como criminosas pelo Tribunal de Nuremberga». A representação diplomática dos Estados Unidos junto das Nações Unidas tem votado sempre contra a resolução apresentada pela Rússia, alegando que se trata de um documento que legitima as «narrativas de desinformação russa» e «denigrem os países vizinhos sob a aparência cínica de travar a glorificação do nazismo». No contexto da votação realizada há um ano, o embaixador norte-americano afirmou ainda que a resolução é contrária ao «direito de liberdade de expressão», a que também os «nazis confessos» têm direito, tal como estipulado pelo Supremo Tribunal dos EUA. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Os sefarditas são os judeus originários do Médio Oriente – designados «sabra» em Israel – do Norte de África e da Península Ibérica. Seguem-se os iemenitas, muito abaixo na escala; e os etíopes, os falacha, os «judeus pretos». Que são muito úteis, porém, quando integrados em sectores avançados das tropas e polícias de choque, encarregados dos «trabalhos» mais selváticos. Arthur Rupin, um eminente sionista que dirigiu a colonização da Palestina entre 1908 e os anos trinta do século passado, elaborou a estratificação social e étnica entre os judeus que ainda hoje é uma característica da sociedade israelita. Escreveu Rupin: «Como queremos desenvolver o que é judeu na Palestina é desejável que os judeus de raça venham para a Palestina». Nesse espírito, definiu a hierarquia da raça: «Europa Oriental, raça pura; iemenitas (na época também conhecidos por piolhosos) – para empregos subalternos; etíopes – a excluir». Arthur Rupin não é um marginal. A gestão da colonização da Palestina durante quase 30 anos não é tarefa que se entregue a um arrivista. Este teórico racista dá nome a ruas em várias cidades israelitas e a sua efígie foi estampada em selos postais. Além disso, as suas ideias segregacionistas foram cotejadas com as de outros credenciados teóricos insuspeitos quanto à genuinidade das teses. Em plenos anos trinta, Arthur Rupin deslocou-se à cidade alemã de Iena para se encontrar com Hans Gunther, o teórico nazi dos temas raciais, e ambos concluíram que tinham identidade de pontos de vista. Pode argumentar-se que a época era outra, os conceitos sobre «raças» foram evoluindo e dissolvendo-se ao ritmo de princípios e causas que os tornaram anacrónicos, principalmente depois da tragédia da Segunda Guerra Mundial. Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem a maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, posicionando-se acima da lei como um dom natural. «Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias» (Prof. Arnon Soffer, demógrafo sionista, conselheiro governamental, ícone das elites académicas de Israel) A primeira opção está em andamento; a segunda não pode ser descartada enquanto a ameaça de um ministro de Netanyahu sobre o lançamento de uma bomba nuclear em Gaza não for convincentemente desmentida e afastada. O comportamento do primeiro-ministro depois das palavras do seu ministro da Herança de Israel, Amichai Eliahu, não foi dissuasor, principalmente sabendo nós que está em campo uma horda de sociopatas que têm pela vida dos não-sionistas um olímpico desprezo. Não se pense, porém, que a hipotética queda do governo de Netanyahu, tão apregoada e aparentemente tão desejada, no exterior, mas longe de consumada – provavelmente amanhã não será a véspera desse dia – iria resolver o problema e pacificar a região ou, pelo menos, tolerar um cessar-fogo em Gaza. O que concluiremos se consultarmos um artigo do experiente Thomas Friedman no New York Times. Citando um «alto funcionário dos Estados Unidos», o subscritor do texto garante «que os líderes militares israelitas são agora, na verdade, mais agressivos do que o primeiro-ministro; estão vermelhos de raiva e determinados a dar um golpe no Hamas que toda a vizinhança nunca esquecerá». Tenhamos em conta, olhando para o que se passa em Gaza, o que os chefes militares sionistas entendem por «golpe no Hamas», que afinal se transformou numa catástrofe para centenas de milhar de civis. Se recuarmos um pouco no tempo, ao primeiro lustre deste século, encontraremos congeminações sobre a «solução final» para Gaza que nos aproximam da realidade em que vivemos. O prof. Arnon Soffer, um ícone da elite académica sionista, fundador da Universidade de Haifa, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, geógrafo, especialista em «ciências ambientais» e demógrafo, actuou como conselheiro do primeiro-ministro Ariel Sharon nos primeiros anos do século. Soffer foi um dos autores e defensores da política adoptada pelo governo sionista a partir de 2007: retirada dos colonos, cerco e bloqueio da Faixa de Gaza. «O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à "finalidade", podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da "solução final"» Os seus escritos de 2004, transcritos na imprensa israelita da época, são proféticos em relação aos dias de hoje e contêm implicitamente a necessidade de extermínio ou de limpeza étnica, tal como a que está em curso, para travar «um banho de sangue perpétuo». Escreveu o emérito prof. Arnon Soffer: «Quando 2,5 milhões vivem numa Gaza fechada» – uma ideia do próprio, como já vimos – «será uma catástrofe humana. Essas pessoas tornar-se-ão animais mais do que já são hoje. A pressão na fronteira será terrível. Vai ser uma guerra terrível. Então, se quisermos continuar vivos, teremos de matar, matar, matar e matar – durante todo o dia, todos os dias. A única coisa que me preocupa é como garantir que os meninos e homens que terão de fazer a matança possam voltar a casa, para as suas famílias, e serem seres humanos normais». Assim foi a dissertação de um ilustre membro da academia sionista, conselheiro de primeiros-ministros, um qualificado demógrafo – é impossível pôr em dúvida a qualidade do seu saber na matéria – e, naturalmente, professor da Escola de Defesa Nacional. O Prof. Soffer deixa escancarada a opção da limpeza étnica; mas não exclui o extermínio, no que não difere do actual ministro da Herança de Israel, quanto à «finalidade», podendo eventualmente a metodologia ser diferente, mas ambas convergentes na via da «solução final». Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo, sobretudo à medida que vai abandonando as ficções «seculares» para se fixar no carácter fundamentalista religioso e messiânico? Uma mentalidade transtornada dando origem a comportamentos inerentes a um regime confessional e de apartheid, considerando como animais todas as pessoas que estejam no exterior desta casta de eleitos ou, na melhor das hipóteses, seres humanos de segunda? Não se trata de casos isolados. Imediatamente antes do início da invasão de Gaza, os altos comandos militares sionistas escolheram um idoso militar, Ezra Yachin, para proferir uma alocução mobilizadora das tropas prestes a entrar em acção. Yachin, com 95 anos, foi membro do grupo terrorista Lehi que, por exemplo, em 9 de Abril de 1948 executou a tristemente célebre chacina da aldeia palestiniana de Deir Yassin, nos arredores de Jerusalém, da qual restou um monte de escombros. Mais de cem pessoas, sobretudo mulheres e crianças, foram exterminadas. Diz-se que a história não se repete, mas Israel é uma entidade com grandes poderes, inesgotáveis capacidades e insanidade de sobra para desmentir o aforismo: Deir Yassin e umas centenas de outras aldeias e cidades em 1948/49; Sabra e Chatila em Beirute em 1982; Gaza em 2023 são exemplos uma sucessão, uma extensa cronologia criminosa de mais de 75 anos onde o agente comum é o terrorismo de Estado sionista. «Estaremos perante casos isolados, sociopatas incuráveis que atingiram aleatoriamente lugares de topo e decisão no regime sionista, ou serão fruto de uma mentalidade doentia decorrente do elitismo, do pendor racista e supremacista inerentes ao próprio sionismo (...)?» Ezra Yachin não desmereceu do seu passado e da sua fama. Na exortação às tropas incitou: «sejam vencedores, acabem com eles, não deixem ninguém para trás. Apaguem a sua memória, apaguem-nos a eles, às suas famílias, mães e filhos. Esses animais não podem continuar a viver. Todos os judeus deveriam empunhar uma arma e matá-los. Se têm um vizinho árabe não esperem, vão até casa dele e disparem.» Em boa verdade, esta linguagem é uma escola. Netanyahu disse mais ou menos o mesmo, embora escondido na simbologia dos ditos atribuídos ao profeta Samuel. Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia. São planos e programas emanados de entidades e pessoas da área governamental, revelando-nos que pelo menos a primeira fase da operação já está em curso, sob os olhares benevolentes – logo cúmplices – do «mundo ocidental». Benevolência que encontramos, por exemplo, no ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que, perante o assassínio em Gaza de três cidadãos luso-palestinianos, dois dos quais crianças, se limitou a manifestar o seu «desgosto» às autoridades israelitas. Só lhe faltou pedir desculpa pelo incómodo. «Alternativa para uma Directiva Política destinada à população civil em Gaza» é o título de um plano de limpeza étnica elaborado pelo Ministério da Inteligência de Israel. Propõe três alternativas num processo que permita ao Estado sionista «precaver-se através de uma mudança significativa da realidade civil». Duas delas, a A e a B, são liminarmente descartadas. Previam a «extensão da governança da Autoridade Palestiniana (‘Malévola para Israel’) a Gaza», medida recentemente defendida pelo presidente dos Estados Unidos mas para a qual Netanyahu e o seu governo têm orelhas moucas; ou «fomentar a governança árabe local». Nenhuma delas, segundo os autores, «garante a segurança de Israel», não são dissuasoras para o Hezbollah libanês e, sobretudo, representam uma «perda estratégica para Israel», porque a divisão entre Gaza e a Cisjordânia – razão pela qual o regime sionista apoiou a criação do Hamas – «é um dos principais entraves ao estabelecimento de um Estado Palestiniano». As hipóteses consideradas liminarmente sem viabilidade foram expostas para deixar a sensação de que os autores do documento reflectiram sobre outras perspectivas de «solução» além da limpeza étnica. Em relação à hipótese A, extensão do governo da Autoridade Palestiniana a Gaza, os autores do plano consideram-na «a mais arriscada» porque «seria uma vitória sem precedentes do movimento nacional palestiniano». A alternativa C propõe «a evacuação da população civil de Gaza para o Sinai». É a que «produz resultados estratégicos positivos e de longo prazo», exigindo, no entanto, «determinação diante da pressão internacional, com ênfase na importância de reunir apoio dos Estados Unidos e outros países pró-Israel». «Na lógica da mentalidade de eliminar todo e qualquer não-judeu da Palestina têm surgido planos concretos e estruturados sugerindo as modalidades e as metodologias para realização da limpeza étnica em Gaza. Os princípios básicos neles contidos, porém, são válidos para a Cisjordânia.» Sugere o Ministério da Inteligência que sejam erguidas «cidades de tendas» numa «área de reassentamento no Norte do Sinai». Também nessa fase deverá ser criado «um corredor humanitário» para «ajudar a população civil de Gaza» a chegar o destino traçado pelo terrorismo de Estado israelita. O processo prevê uma «zona de terra de ninguém» de vários quilómetros no interior do território do Egipto, de modo a que «a actividade e a residência perto da fronteira israelita (Gaza sob ocupação sionista) não sejam permitidas». No interior do «nosso território» (Gaza) «deverá ser estabelecido um perímetro de segurança». A primeira fase do «desenvolvimento operacional» da «opção C» do documento estabelece o «apelo à retirada da população» da zona de combate» entre Israel e o Hamas, reforçado com «operações aéreas focadas no Norte de Gaza de modo a permitir a manobra terrestre na zona evacuada sem obrigar a combates em zonas civis densamente povoadas». A semelhança desta recomendação com a realidade de hoje não é, portanto, uma coincidência. Na fase seguinte acontecerá a «ocupação total» do território, ao mesmo tempo que os bunkers e túneis «são limpos de combatentes do Hamas». «É importante», acrescenta-se no documento, que «sejam desobstruídas as rotas de transporte para sul, de modo a permitir a evacuação». Analisando este programa, deduz-se então que o primeiro passo da limpeza étnica já está em prática. A pressão terrorista e propagandística do sistema político-militar sionista tem como objectivo assumido a transferência das populações do Norte de Gaza para o Sul, onde ficam muito mais perto da passagem para o Egipto, no posto de Rafah. O que o documento não assume, no seu criminoso e asséptico cinismo, é que as pessoas em êxodo para o Sul continuam a ser bombardeadas como se estivessem ainda no Norte. Sob estas práticas assassinas, muitos milhares de pessoas nem sequer chegarão ao Sinai. Cerca de 46% das vítimas mortais registam-se entre deslocados em movimento para o Sul, ou mesmo já nesta região. Segundo os serviços da ONU, o número total de desalojados e deslocados ultrapassa já o milhão e meio de pessoas, entre 2,3 milhões de habitantes, cerca de 65% da população do território, isto é, aproximadamente dois terços. Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação. Existe mesmo uma «unidade encarregada de estudar como contornar o direito internacional». O chefe da entidade, David Reisner, explica que «estamos a ser testemunhas de uma revisão do direito internacional: se fizermos uma coisa durante o tempo suficiente, o mundo aceitá-la-á». E cita como exemplo o ataque terrorista cometido pela aviação israelita em 1981 contra o reactor nuclear de Osirak, no Iraque: «Então a atmosfera era a de que Israel tinha cometido um crime; hoje diz-se que foi um acto legítimo de defesa preventiva. O direito internacional progride através de violações», conclui. Embora não fosse essa a intenção, Reisner fez uma das melhores definições da «ordem internacional baseada em regras» pela qual se rege o chamado «mundo ocidental» e «civilizado». «Reconhecem os autores do plano que esta operação de limpeza étnica «pode ser complexa em termos de legitimidade internacional», o que, ensina-nos a história, não constitui qualquer problema para o Estado sionista, desde a sua fundação.» O Ministério da Inteligência propõe então que a transferência da população de Gaza seja apresentada como uma «migração em massa», tal como as que decorreram e continuam, por exemplo, nas guerras da Síria e do Afeganistão. Nessa perspectiva, «são um resultado natural e necessário, dados os riscos associados à permanência numa zona de guerra». São, igualmente, «um método aceite para salvar vidas». Estas migrações relacionadas com outros conflitos, porém, não eliminaram o direito dos refugiados ao regresso, quando existirem condições para isso; o que não acontece aos palestinianos: Israel proíbe-os de voltarem às suas terras de origem, violando o direito internacional, o que, como acabámos de ver, não é problema. Os autores do plano olham ainda para mais longe. Se os países citados no «Anexo A» do documento aceitarem os «refugiados» palestinianos de Gaza, a operação pode «ganhar maior legitimidade» porque passará a haver «uma população integrada em quadros estatais e com nova cidadania». A principal «vantagem», desde sempre pretendida por Israel, não a encontramos exposta no documento: a da esperança de que a nova cidadania de cada «deslocado» elimine a sua condição de «palestiniano». Assim, deixa de haver palestinianos na Palestina e também nos países do mundo onde forem recebidos e integrados. Fim da história para o problema israelo-palestiniano. O plano parece ter imensas «vantagens estratégicas»: uma «dissuasão significativa em toda a região», uma «forte mensagem ao Hezbollah», o «apoio dos países do Golfo» uma vez liquidado o Hamas, «um golpe significativo e inequívoco na Irmandade Muçulmana» e mais um piscar de olhos ao Cairo: fortalecerá «o domínio egípcio no Norte do Sinai» – o que parece um contra-senso, quando o que está em causa é o acolhimento de toda uma população estrangeira chegada de um outro território. Eis o «novo Médio Oriente» de que fala Benjamin Netanyahu ao transformar Gaza «numa ilha deserta». A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático. O que está em curso há mais de setenta anos contra o povo palestiniano é um genocídio. Bárbaro. Impune. Ignorado. Branqueado por uma «comunidade internacional» que repudia o próprio direito pelo qual deveria guiar-se; e por uma comunicação social absorvente e totalitária que tomou conscientemente o partido dos genocidas, pelo que chega ao comportamento perverso de acusar as vítimas de práticas terroristas. Os acontecimentos sucedem-se e atropelam-se em contínuo, muitos denunciados pelas próprias vítimas ou por aqueles que, desafiando as altas probabilidades de virem a ser acusados de antissemitismo ou de serem autores de execráveis delitos de opinião, não calam os crimes tornados banais e, sempre que possível, silenciados ou mistificados pelo sistema de censura mainstream. Há um sentido único na barbárie desde que, há 71 anos, foi proclamado o Estado de Israel como fruto de imigração em massa de populações oriundas de vários países, sobretudo da Europa e da América do Norte, muitas fugidas de um outro genocídio, o Holocausto, a generalidade invocando preceitos e direitos de índole antropológica, histórica e religiosa que não cabem na teia de normas e leis pelas quais seria suposto regerem-se os Estados, as nações e os povos. 8 milhões de palestinianos recenseados, dos quais apenas 3 milhões vivem na Palestina Um genocídio – o Holocausto – acabou por servir de pretexto a outro – a Nakba, a «catástrofe», em árabe – por via dos que, invocando as vítimas do primeiro, se transformaram em algozes do segundo. Uma mistificação gigantesca de consequências arrasadores para os direitos humanos, com a particularidade perversa de se consumar em nome dos direitos humanos, da democracia, da liberdade e da civilização. A relação de causa e efeito entre o Holocausto e a Nakba não era automática, mas o primeiro ministro de Israel em funções, Benjamin Netanyahu, acabou por estabelecê-la, tornando-a oficial para os escritores da História na perspectiva dos vencedores. Foi ele quem afirmou que Hitler originalmente não defendia a «solução final» para os judeus, mas foi convencido a consumá-la pelo Grande Mufti de Jerusalém, a autoridade religiosa da comunidade muçulmana da Palestina. Moral da história: os palestinianos muçulmanos incentivaram a matança dos judeus pelo que é justo serem castigados. «O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de "autonomia" formal» O genocídio do povo palestiniano é praticado ao compasso de mistificações em cadeia aliando a política, a diplomacia, as próprias história e geografia, num discurso de propaganda como que hipnotizando a chamada «comunidade internacional». A qual, com uma espécie de consciência de culpa do Holocausto, permite que esta tragédia seja manipulada com múltiplos objectivos coloniais, mesmo os mais perversos e desumanos. A operação de genocídio é sistemática e decorre de maneira impune. Desde a mistificação básica do sionismo, «um povo sem terra para uma terra sem povo» – a Palestina, uma entidade com uma história longa e rica de quatro mil anos – que a limpeza étnica dos palestinianos é executada em contínuo por duas vias: em vagas, criando ou aproveitando oportunidades históricas; e passo-a-passo, dia-a-dia, através de uma teia elaborada de pretextos e medidas arbitrárias travestidas de leis que o sionismo internacional e o seu ramo que gere o Estado de Israel puseram em funcionamento à margem e contra o direito internacional. A primeira vaga aconteceu há 71 anos, quando as organizações terroristas das comunidades imigrantes derrotaram os exércitos árabes na Palestina e proclamaram o Estado de Israel. Mais de 700 mil palestinianos foram chacinados e expulsos de Israel, enquanto as suas comunidades funcionando em aldeias, vilas e cidades foram arrasadas, apagadas do mapa. Este massacre é assinalado como o início da Nakba. Com essa ofensiva terrorista, os dirigentes sionistas impuseram a primeira grande derrota às Nações Unidas na questão da Palestina, sabotando desde logo o «plano de partilha» de 1947, que previa a divisão do território em duas áreas étnicas – de maioria hebraica e de maioria árabe – ocupando Israel uma superfície da Palestina bastante superior à prevista no documento da ONU. Na guerra de 1967, ou dos «Seis Dias», Israel expulsou as administrações egípcia e jordana de Gaza, da Margem Ocidental do Jordão e de Jerusalém Leste, ocupando esses territórios; a própria guerra e as pressões terroristas provocaram um novo êxodo de populações palestinianas para os países vizinhos. «Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados» Israel deu então verdadeiramente início a um novo processo de anexação de territórios e de limpeza étnica sistemática, o da construção de colónias nos territórios ocupados. Com ela incentivou novas vagas de imigração hebraica, nas quais as correntes ortodoxas e fundamentalistas religiosas foram dominantes. As consequências da estratégia são cada vez mais visíveis nos dias de hoje pela maneira como essas correntes dominam a gestão sionista em Israel – não hesitando, sequer, em assumir constitucionalmente um regime de apartheid étnico e religioso. A colonização, conjugada com o carácter militar e terrorista da ocupação e com os meios de segregação físicos – o muro de Jerusalém e da Cisjordânia e a cerca de Gaza – está na origem de uma balcanização dos territórios ocupados e do êxodo constante de palestinianos. Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade. A transformação do Processo de Paz iniciado com as negociações de Oslo de 1993 num «processo de paz» eterno e de imposição da rendição da principal força nacionalista da resistência palestiniana, a Fatah, tornou ainda mais débil e menos organizada a oposição dos palestinianos à limpeza étnica. A partilha das funções administrativas da chamada «autonomia» palestiniana entre a Fatah e o Hamas, grupo que tem na sua génese histórica o veneno do patrocínio israelita para dividir os movimentos de resistência cívica (Intifadas), foi um golpe profundo assestado pelo sionismo em comunhão com o establishment norte-americano e beneficiando da cumplicidade da chamada «comunidade internacional» – neste caso actuando como um todo através de uma entidade farsante, o «Quarteto para a Paz no Médio Oriente», nova e flagrante derrota das Nações Unidas. A limpeza étnica da Palestina não se resume à substituição da população autóctone por contingentes imigrados. Tem uma componente menos abordada e que reforça a oposição ao retorno dos refugiados, um direito estabelecido nas normas da ONU: devastar comunidades de palestinianos nos países vizinhos. Não se trata de eliminá-las pura e simplesmente, mas de manter sobre elas a pressão terrorista e de instilar a convicção de que o regresso será impossível, por isso mais vale desistir e deixarem-se assimilar pelos países de acolhimento – tornando eternos os campos de refugiados. As invasões israelitas do Líbano desde o início dos anos oitenta do século passado visaram permanentemente as zonas habitadas por palestinianos – e dessa sanha ficou como símbolo o massacre de civis, sobretudo idosos e crianças, nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, nos subúrbios de Beirute, em Setembro de 1982. O jornalista suiço Pierre-Pascal Rossi (1943-2016) teve a coragem de se comover em frente às câmaras, antes de conduzir os espectadores, durante dois longos e dolorosos minutos, pelo inferno dos massacres realizados em Sabra e Chatila pelas milícias fascistas (falangistas) aliadas de Israel, com a cumplicidade do exército israelita. «Expulsões, prisões, destruição de casas de habitação, check-points militares e outros entraves à circulação, devastação de colheitas e propriedades agrícolas, confisco arbitrário de recursos hídricos são formas comuns de terrorismo quotidiano que tornam praticamente inviável uma vida digna e com um mínimo de qualidade» O novo modelo colonial instaurado pelos Estados Unidos no Médio Oriente, através das guerras iniciadas por George W. Bush, contém perseguições organizadas e chacinas em zonas de refugiados palestinianos tanto no Iraque como na Síria. Tratam-se de acções cometidas por interpostas entidades, grupos terroristas como o Estado Islâmico e a al-Qaida, apesar de serem «sunitas» como a maioria originária da Palestina. Já deixou de ser novidade a cooperação existente entre Israel e grupos terroristas islâmicos, sobretudo na guerra da Síria, pelo que é óbvia a definição do palestiniano como um inimigo comum. Ao reforço das correntes fundamentalistas religiosas e segregacionistas na gestão do sionismo correspondem passos ainda mais largos para a consumação do genocídio, da limpeza étnica da Palestina. Assim que Benjamin Netanyahu concluir a formação de um novo/velho governo está no horizonte o início da anexação progressiva da Cisjordânia, através da integração dos colonatos na estrutura administrativa de Israel. O reconhecimento pela administração Trump da anexação de Jerusalém Leste por Israel foi um balão de ensaio bem sucedido, uma tomada de pulso à «comunidade internacional» que, como é norma, permitiu que se atropelasse mais uma vez o direito internacional. Nem o eng. António Guterres acreditará na sua frase feita para a ocasião, segundo a qual «nada muda» no estatuto oficial de Jerusalém; como no dos Montes Golã; como dos colonatos a anexar. A velha política dos factos consumados a funcionar, como tem acontecido ao longo da limpeza étnica da Palestina. O crime vai-se consumando. Dos cerca de oito milhões de palestinianos recenseados são menos de três milhões os que vivem na Palestina: dois milhões no imenso campo de concentração a céu aberto em Gaza; cerca de 800 mil em guetos e sob ocupação na Cisjordânia, incluindo os que vivem na zona de «autonomia» formal. Os instrumentos de genocídio estão afiados e operacionais como nunca: anexação, colonização, guerra, terrorismo, segregação e isolamento, fome e sede, supressão de direitos, prisões e campo de concentração – 50 mil crianças presas por Israel desde 1967 – assassínios organizados e aleatórios, devastações de campos de refugiados. A chamada «comunidade internacional» parece disposta a continuar a assistir à Nakba até à extinção do último palestiniano, triunfo supremo do terrorismo militar, político, diplomático e mediático. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O «Anexo A» do plano de limpeza étnica de Gaza idealizado pelo Ministério israelita de Inteligência designa os países com os quais o regime sionista «deve trabalhar», porque estarão «dispostos a ajudar a população deslocada e capazes de a aceitar como migrantes». Estados Unidos, Canadá, Espanha, Grécia (como se não lhe bastassem os refugiados da Síria nas suas ilhas), Arábia Saudita, Marrocos, Tunísia, Líbia (pessoas expulsas de Gaza seriam condenadas a hospedar-se num território que a NATO deixou em escombros) são os países citados no documento. Caso a Arábia Saudita levante dificuldades para «desenvolver esforços» no sentido de proporcionar a «transferência de migrantes para vários países», ou se recuse a «financiar a campanha que exponha os danos causados pelo Hamas», os Estados Unidos poderão agir através de pressões, designadamente «jogando com o guarda-chuva de defesa dos grupos de combate estacionados na área para ameaçar o Irão». Essa «pressão» norte-americana deverá também ser requerida, segundo os autores, contra os países europeus «para que assumam as suas responsabilidades na abertura da fronteira de Rafah», permitindo «a fuga para o Egipto»; e também para que «prestem assistência financeira à actual crise económica egípcia». O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da «transferência» sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que «promovam a operação no mundo ocidental» e «o esforço para resolver a crise sem insultar nem vilipendiar Israel». A parte da campanha virada para «o mundo não pró-Israel» deve focar a necessidade de «ajudar os irmãos palestinianos e a sua recuperação», mesmo ao preço de «condenações e até ofensas contra Israel», de modo a que os objectivos da operação «consigam chegar a populações incapazes de aceitar uma mensagem diferente». «O plano sugere que as campanhas de propaganda sobre os benefícios da "transferência" sejam entregues a agências de publicidade transnacionais, a exemplo do que tem feito o regime nazi de Kiev, para que "promovam a operação no mundo ocidental"» Quanto à população de Gaza, a campanha para «a incentivar a aceitar o plano» deve sublinhar que «não há esperança de retorno ao Estado de Israel, que em breve ocupará o território (seja verdade ou não)». A mensagem que os autores sugerem é a de que «Alá decidiu que vocês perderam esta terra por causa da liderança do Hamas e a única opção é mudarem-se para outro lugar com a ajuda dos vossos irmãos muçulmanos». Por muito cínico, racista e sociopata que todo este articulado pareça, ele não é um delírio. É obra da nata de operacionais do ministério que tutela as políticas de espionagem do sionismo. Os autores levam-no a sério. E a chamada comunidade internacional deveria preparar-se para lidar com esse projecto de crime de guerra apresentado como programa para «salvar vidas», resolver um problema regional, solucionar crises económicas de países e comunidades e proporcionar novas e melhores condições de vida a pessoas que vivem que vivem sob «opressão terrorista». Outro dos projectos para consumar a limpeza étnica de Gaza que saiu dos bastidores governamentais sionistas, provavelmente muito mais um balão de ensaio para preparar a opinião pública do que uma fuga de informação, é o «Livro Branco» do Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista. O seu autor é Amir Weitman, chefe da bancada parlamentar «libertária» do Likud, o partido de Netanyahu, e professor da Escola de Defesa Nacional. Designou o trabalho como «plano para a recolocação e reabilitação definitiva no Egipto de toda a população de Gaza». Trata-se, segundo Weitman, de «um plano sustentável que se alinha com os interesses económicos e geopolíticos de Israel, Egipto, Estados Unidos e Arábia Saudita». Não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Enquanto o regime israelita continua a chacinar paulatinamente a população indefesa do campo de concentração em que transformou Gaza multiplicam-se os apelos ao «cessar-fogo» nesta suposta «guerra entre o Hamas e Israel», como afirma a comunicação social corporativa. É o habitual jogo de enganos que visa partilhar equitativamente responsabilidades numa situação de incomensurável desequilíbrio de forças e que pretende colocar no mesmo plano os criminosos e as vítimas. O que está a acontecer não é uma guerra, é um massacre de uma das partes; e o único cessar-fogo possível para a situação é o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano estabelecidos nas leis internacionais. Tudo o resto significa o arrastamento da situação e o extermínio de um povo. «A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em “solução de dois Estados para a Palestina”» O chefe do governo de Portugal, a exemplo de outros colegas europeus, diz que é necessária a paragem dos ataques de Israel. Belas palavras. E depois? «Para que possamos regressar a um ponto onde o caminho para a paz seja possível», assegura Costa. Palavras muito bem-intencionadas também, reproduzidas de um texto da agência Lusa onde se lê que «existe uma escalada de violência entre israelitas e palestinianos». Qual «caminho para a paz»? O conduzido pelo «Quarteto» chefiado pelo aldrabão profissional Anthony Blair e de que fazem parte a Rússia – manietada pelo veto norte-americano no Conselho de Segurança e por muitas e evidentes cumplicidades com Israel – a complacente União Europeia, o seu aliado norte-americano, cúmplice objectivo do crime no mínimo através do Conselho de Segurança, e também a ONU, entidade que, a reboque de Washington, cultiva a guerra para que dela floresça a paz? Ora este «caminho para a paz», quase sempre «arbitrado» pelos Estados Unidos, aliado da parte agressora, está barrado há muito por acção de Israel, que acusa o lado palestiniano de não ceder às suas exigências de rendição total. Enquanto continua a falar-se de «processo de paz» para que nada de pacífico aconteça, Israel tem recorrido a todos os métodos para inviabilizar uma solução compatível com o direito internacional, isto é, através da criação de um Estado Palestiniano viável, soberano e pleno. O mecanismo mais utilizado e mais eficaz – porque pode ser aplicado sem operações militares que dêem muito nas vistas, sob o silêncio da comunicação social dominante – é o da colonização dos territórios palestinianos ocupados através de uma gradual limpeza étnica com expulsão das populações, destruição de casas, roubo de terrenos, edificação de muros e até prosaicos actos de banditismo como a destruição de colheitas agrícolas. Enfim, a institucionalização de um sistema de apartheid. «Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de “cessar-fogo” para regresso ao “caminho da paz” e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida» A colonização conduz, ninguém o duvide, à criação de uma situação no terreno que inviabiliza totalmente a criação do Estado Palestiniano, porque deixa de haver território para isso; entretanto, os bem-intencionados deste mundo, como os chefes da União Europeia, forçados a dizer qualquer coisa quando as imagens de extermínio não podem ser escondidas, continuam a falar em «solução de dois Estados para a Palestina» sabendo perfeitamente – como não pode deixar de ser – que está a ser percorrido não «um caminho para a paz» mas uma via para liquidar o objectivo inscrito no próprio «processo de paz». A guerra que existe é verdadeiramente esta: a do regime sionista contra o povo palestiniano pela liquidação total dos seus direitos, se necessário através do extermínio físico. Quando um dirigente político, seja ele qual for, fala em necessidade de «cessar-fogo» para regresso ao «caminho da paz» e não formula mecanismos e medidas que permitam à chamada comunidade internacional impor efectivamente a solução de dois Estados, está a ser cúmplice do comportamento criminoso do Estado de Israel. E a participar, no mínimo por omissão, num processo genocida. Num caso destes até o silêncio seria mais honesto. Acompanhando os ecos da comunicação corporativa sobre «a guerra entre o Hamas e Israel» ou a «escalada de violência entre israelitas e palestinianos» percebe-se que o conceito de «cessar-fogo» implícito é o da paragem dos bombardeamentos contra Gaza e também do lançamento de foguetes a partir da faixa cercada. Foguetes esses que são, na verdade, os únicos instrumentos através dos quais – perante a imobilidade internacional – sectores palestinianos fazem sentir a Israel que, apesar de tudo, não está completamente impune. Fisgas contra tanques ou foguetes contra tecnologia de guerra de última geração: estamos perante afirmações possíveis de existência e de resistência; nada que se pareça com um confronto entre dois exércitos. Sendo certo que cada vida perdida é uma vítima inútil de uma situação que as forças dominantes teimam em não resolver, a não ser através da aniquilação da outra parte, o cenário mediaticamente instituído de um falso equilíbrio permite-nos perceber até que ponto a comunicação social corporativa se deixou contaminar pelo conceito xenófobo cultivado pelo sionismo quanto à diferença de valor entre as vidas de cidadãos israelitas e árabes. «Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências» A guerra de Israel contra os palestinianos iniciou-se muito antes desta nova fase da barbárie contra Gaza, há mais de setenta anos, e irá prosseguir se o «cessar-fogo» determinar apenas que se calem agora as armas e não for além disso, impondo a Israel medidas completas para que se cumpra de uma forma viável e com um conteúdo plenamente soberano a solução de dois Estados na Palestina. Caso contrário, o fim da actual ofensiva contra Gaza significará a continuação da colonização, do cerco contra a pequena e sobrelotada faixa, da limpeza étnica, das expulsões em Sheik Jarrah e, uma após outra, em todas as comunidades palestinianas de Jerusalém ou da Cisjordânia. Até ao próximo ataque contra Gaza se os palestinianos ousarem exercer activamente o seu direito à existência e à resistência. Um exemplo de como Israel é completamente imune às palavras inconsequentes dos seus amigos e aliados sempre que as imagens da chacina tornam impossível o silêncio é a demolição premeditada do edifício da agência Associated Press (AP) em Gaza. A Israel não será difícil responder a Biden, forçado a perguntar sobre os motivos de tal atitude: o edifício daria acesso aos «túneis do Hamas» ou serviria até de «escudo humano» para o grupo fundamentalista islâmico palestiniano. Uma organização que ganhou vida – é oportuno recordá-lo – com apoio sionista quando se tornou importante dividir o movimento do primeiro Intifada, em finais dos anos oitenta, iniciado precisamente em Gaza. As forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Israel está a cometer mais um acto de apogeu da chacina a que tem vindo a submeter impunemente a população da Faixa de Gaza – e da Palestina em geral – durante as últimas décadas. Os alvos não são «os túneis do Hamas», como informa o regime sionista, mas dois milhões de pessoas que vivem enclausuradas num imenso campo de concentração do qual não podem escapar. Não se trata de um «confronto»: é uma barbárie. Algumas notas sobre o que está a passar-se. A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual, em que se misturam a prolongada indefinição governativa, a corrupção a alto nível do regime e a polémica gestão da pandemia – por sinal, insolitamente elogiada no plano internacional. «A Faixa de Gaza e a respectiva população são um alvo que Israel tem sempre à mão quando necessita de recorrer a manobras de diversão por causa da degradação política interna, como acontece no momento actual» Os dirigentes sionistas não duvidam, nem por um instante, de que podem utilizar o instrumento da guerra contra Gaza porque sabem que a chamada comunidade internacional o permite. As instâncias internacionais, com a ONU à cabeça, e as grandes potências, com destaque para os Estados Unidos e a União Europeia, permitem tudo a Israel sem assumir uma única medida para conter a barbárie. Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel; e Israel aproveita-o consoante as suas conveniências sabendo que nada de mal lhe acontecerá e nenhuma reacção irá além do apelo à «moderação» e a um «cessar-cessar entre as partes». Isto é, entre uma «parte» que pode tudo e uma «parte» que sofre tudo. Os foguetes do Hamas são irrelevantes quando comparados com o aparelho de guerra usado pelo regime sionista. A actuação da comunidade internacional na questão israelo-palestiniana é o exemplo mais flagrante da sua permanente utilização do sistema de pesos e medidas variáveis. Isolada pela comunidade internacional em geral, a Palestina conta cada vez menos com a solidariedade do chamado mundo árabe. Sob a égide da administração Trump nos Estados Unidos, países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein juntaram-se recentemente ao Egipto na normalização das relações com Israel, o que significa abandonar a defesa dos direitos dos palestinianos. Acresce que existem, de facto, relações diplomáticas entre o Estado sionista e a Arábia Saudita, encimadas pela amizade e afinidades entre o primeiro-ministro Netanyahu e o herdeiro do trono wahabita, Mohammed Bin Salman. Uma aliança sobre os escombros da Palestina. «Há mais de 70 anos que a comunidade internacional se vem dotando de instrumentos legais para fazer respeitar os direitos inalienáveis do povo palestiniano e há mais de 70 anos que eles são interpretados como letra morta. Este comportamento é um incentivo à discricionariedade de Israel» Na prática, a solidariedade árabe nunca desempenhou um papel que permitisse a criação de um Estado palestiniano, como determinam as normas e a doutrina estabelecidas pela comunidade internacional. O reconhecimento de Israel por cada vez mais países árabes, porém, reforça a ideia de que o problema palestiniano poderá ter outras «soluções» que não sejam a criação de um Estado palestiniano independente, viável e plenamente soberano. Por outro lado, as relações entre países árabes e Israel transformam cada vez mais o Estado sionista numa entidade plenamente integrada no Médio Oriente, dando assim forma ao arranjo pretendido pelos Estados Unidos de uma região com duas potências dominantes – Israel e Arábia Saudita –, ambas viradas contra o Irão. O novo pico de guerra de Israel contra Gaza não pode desligar-se dos permanentes esforços de Israel para tentar provocar uma guerra directa contra o Irão – à qual as administrações norte-americanas ainda têm resistido. A ofensiva supostamente «contra o Hamas» – grupo que Israel liga a Teerão apesar de ser sunita e não xiita – acontece no preciso momento em que a administração Biden ainda não definiu se regressa ou não ao acordo nuclear 5+1 com o Irão. A mensagem israelita é directa: apoiando grupos activos no Médio Oriente, como o Hezbollah no Líbano e na Síria e o Hamas na Palestina, o Irão terá de ser desencorajado de o fazer. E os acordos com Teerão têm de ser invalidados. Por muito que possam vir a proclamar verbalmente o contrário, os Estados Unidos e a União Europeia estão por detrás de mais esta chacina israelita em Gaza. Se em relação a Washington não existe qualquer dúvida, tanto mais que o aparelho do Partido Democrata no poder é o que está mais sintonizado com os interesses dominantes do sionismo, poderão levantar-se reticências em relação ao papel da União Europeia. «a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo» O que não tem qualquer razão de ser. Apesar de algumas declarações de distanciamento, como foi o caso por ocasião da transferência da embaixada norte-americana para Jerusalém, a prática de Bruxelas e dos 27 é objectivamente favorável às atitudes assumidas por Israel, sejam elas quais forem: nada fazem para que seja concretizada a solução de dois Estados na Palestina, mantêm relações económicas e políticas preferenciais com Israel e não assumem nas instâncias internacionais qualquer posição contra as atitudes militares extremas do sionismo. Antes pelo contrário: Israel é um parceiro activo da NATO – que rege a União Europeia do ponto de vista militar – e está mesmo envolvido nos exercícios em curso na Grécia e no Mar Egeu no quadro dos jogos de guerra «Defender Europe». Isto é, as forças armadas sionistas que participam em exercícios atlantistas são as mesmas que fazem jorrar o sangue de civis indefesos na Palestina, impedidos de escapar às suas bombas. Uma aliança que dizima vidas e direitos humanos. A mensagem de Israel com esta nova operação de barbárie é directa: nada fará parar o sionismo no seu objectivo de limpar e submeter etnicamente a Palestina e de impedir qualquer tentativa, por débil que seja, de implementar a solução de dois Estados. O instrumento para concretizar esse objectivo é a colonização ininterrupta dos territórios da Cisjordânia – a par do cerco férreo a Gaza – de maneira a estender a ocupação, inviabilizar as possibilidades territoriais de instaurar um Estado e quebrar a resistência nacional palestiniana. «a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma» Nas últimas semanas o regime sionista expulsou mais famílias e arrasou as suas habitações no bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Leste, no quadro da «limpeza» de todos os palestinianos da cidade. Acontece que a ofensiva encontrou forte resistência da população atingida, sinal de que, apesar de isolados internacionalmente, os palestinianos não estão dispostos a abdicar dos seus direitos. Uma vez que Gaza respondeu à agressão e da Faixa de Gaza foram disparados foguetes contra território israelita, a operação militar sionista assumiu as já conhecidas proporções de punição colectiva. Contando, para isso, com a habitual impunidade que lhe é assegurada pelas instâncias internacionais. De facto, Israel usa o terrorismo para impor a lei do mais forte sabendo que encontrará pouca oposição e condenação nenhuma. A nova fase da chacina contra Gaza e da limpeza étnica da Cisjordânia é, afinal, mais um passo no sentido de um desfecho que inviabilize de vez a solução de dois Estados na Palestina. Ao mesmo tempo que este princípio vai sendo invocado como um mantra cada vez mais vazio de significado pelos que insistem em dizer-se defensores das leis internacionais e dos direitos humanos. Enquanto isto, continuam a morrer inocentes indefesos e a Nakba, o holocausto palestiniano, prossegue, dia após dia, sob os olhos e a passividade do mundo. Até ao último dos palestinianos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Israel poderá ainda dizer que não fez nada que a NATO não tenha executado por exemplo em Belgrado, em 1999, quando bombardeou e destruiu o edifício da televisão jugoslava. É certo que a AP tem prestado permanentes e bons serviços ao regime sionista, tal como as outras principais agências internacionais de informação. E não será este aparentemente inusitado bombardeamento que irá interromper a sua fidelidade para com Israel. O governo israelita está seguro disso – é a ordem natural das coisas. Para interrompê-la de maneira favorável ao reconhecimento dos direitos dos palestinianos seria necessário muito mais do que as rotineiras palavras de inquietação e um «cessar-fogo» transitório. Nem tanto. Se, por exemplo, os dirigentes da União Europeia – ainda que incomodando a administração Biden – experimentassem suspender as relações económicas e militares com Israel até que este país abrisse comprovadamente as portas à solução de dois Estados, talvez o cenário se alterasse. Afinal, suspender relações económicas e impor sanções a países terceiros já não constitui qualquer novidade para a União Europeia, predisposta assim a sofrer as respectivas consequências. De um ponto de vista objectivo, não haverá país tão merecedor de tais medidas como Israel, pelo menos tendo em conta palavras proferidas de quando em vez por alguns dirigentes europeus. Fazer sentir aos chefes sionistas que a barbárie tem um preço a pagar seria a maneira de lhes proporcionar um inesperado encontro com uma nova realidade e as consequências dos seus comportamentos cruéis. E seria, sobretudo, um caminho para o fim de uma tragédia humana, não apenas em Gaza mas também na Cisjordânia e até em Israel, onde os dirigentes se debatem com uma interminável crise governativa e mesmo – eles o dizem – com os riscos de «uma guerra civil». José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Tal como o projecto do Ministério da Inteligência, este documento é igualmente um concentrado de «vantagens» distribuídas em muitas direcções. Parte do princípio de que no Egipto «há dez milhões de unidades habitacionais desocupadas… que poderiam ser imediatamente preenchidas com palestinianos». Para que isso possa acontecer, Israel deveria comprar essas propriedades por um preço total entre cinco mil e oito mil milhões de dólares norte-americanos, quantia equivalente a uma percentagem do PIB israelita entre 1 e 1,5%. Diz Weitman: isto equivaleria a «comprar a Faixa de Gaza», «um investimento muito valioso». Apresentado também como «um gestor de investimentos e investigador», o autor explica que «investir milhares de milhões de dólares para resolver tão difícil questão é uma solução inovadora, barata e sustentável». Poderá atenuar ou até solucionar o problema da falta de habitação em Israel; para o Egipto será «um estímulo imediato» e representará «um benefício tremendo e imediato» para a região do Sinai. Além disso, o impacto demográfico no Egipto não será significativo, garante. Os habitantes de Gaza «constituem menos de dois por cento da população egípcia total, que hoje já inclui nove milhões de refugiados. Uma gota no oceano». Portanto, enquanto alguns responsáveis israelitas antevêem, numa primeira fase, transferir a população de Gaza para «cidades de tendas» no Sinai, a «solução» do Dr. Weitman garante, desde logo, a utilização de casas de habitação. Sublinha o autor que a Alemanha e a França, «os principais credores do Cairo», não deixarão de concordar com este processo, uma vez que «a economia egípcia será revitalizada» graças ao «investimento israelita». Também os países da Europa Ocidental «aceitarão a transferência de toda a população de Gaza para o Egipto» porque «reduzirá significativamente o risco de imigração ilegal…, uma tremenda vantagem». Neste aspecto, os planos do Ministério da Inteligência e do professor Amir Weitman parecem dissonantes, uma vez que o primeiro encara os países europeus como acolhedores de palestinianos; o segundo aposta firmemente no Egipto, o que, a acreditar nas sucessivas declarações do presidente Al-Sisi de que não abrirá a fronteira para permitir a limpeza étnica, pode deixar o projecto sem plano B. No entanto, como a actual fase do processo é ainda a chacina generalizada da população de Gaza, que os Estados Unidos e os seus satélites continuam a permitir recusando a imposição de um cessar-fogo, pode dizer-se que haverá tempo para acertar e fazer coincidir os mecanismos do projectado crime de guerra. «Será que o mundo assim ameaçado por "centenas de ogivas atómicas" (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza?» O Dr. Weitman continua a distribuir «vantagens» associadas ao seu programa. «A evacuação da Faixa de Gaza significa a eliminação de um aliado significativo do Irão»; o encerramento da questão de Gaza garantirá, por outro lado, «o fornecimento estável e crescente de gás israelita ao Egipto» – roubado nas águas palestinianas – «e a sua liquefacção». Por fim chega a «vantagem dos palestinianos»: «deixam de viver na pobreza sob o domínio do Hamas». Isto é, enquanto continuam a ser massacrados pelas tropas sionistas, afinal têm à sua frente um futuro risonho. O Dr. Weitman deixa um conselho: não há tempo a perder. «Não há dúvida de que para que este plano se concretize há muitas condições que devem ser reunidas simultaneamente. Actualmente essas condições estão reunidas e não está claro quando uma oportunidade destas voltará a surgir, se é que alguma vez surgirá. Este é o momento de agir». O jornalista israelita Gideon Levy, que escreve no diário Haaretz, costuma dizer que «o sionismo confunde o judaísmo com o mundo», no fundo uma expressão do racismo e dos atributos mitológicos, messiânicos, inerentes a esta doutrina. Os projectos para a consumação da limpeza étnica da Faixa de Gaza já em andamento traduzem essa maneira de pensar e de viver o sionismo tal como é praticado em Israel, pondo e dispondo do mundo, posicionando-se acima da lei como um dom natural, uma escolha divina, recorrendo a todos os meios possíveis e impossíveis para afirmar a sua superioridade, que considera inquestionável. Ou, como em tempos disse o criminoso de guerra Ariel Sharon, «temos a capacidade de destruir o mundo e garanto-vos que isso acontecerá antes de Israel se afundar». Será que o mundo assim ameaçado por «centenas de ogivas atómicas» (Sharon dixit) ainda não entendeu o significado e os perigos do que está a acontecer no pequeno território da Faixa de Gaza? Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Puro engano quando se trata do sionismo e do Estado de Israel. Em 2019, o rabino Giora Redler, dignitário religioso de uma academia militar na Cisjordânia ocupada, afirmou que «a ideologia de Hitler estava cem por cento correcta, mas incidiu sobre o lado errado». Sem dúvida, uma maneira interessante de reflectir sobre o Holocausto, longe de ser um caso isolado. Moshe Feiglin, dirigente do Partido Likud do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e dos atrás citados ex-primeiros-ministros Menahem Begin e Isaac Shamir, e vice-presidente do Parlamento entre 2013 e 2015, é um homem com ídolos no mínimo invulgares tratando-se de um judeu sionista e, certamente, a par da barbárie do Holocausto. Na opinião deste dirigente do partido no poder no Estado de Israel, «Hitler era um chefe militar inigualável; o nazismo fez passar a Alemanha de um nível baixo a um nível económico e ideológico fantástico. A Alemanha dispôs de um regime exemplar, de um sistema de justiça adequado e de ordem pública. Hitler gostava de boa música, os nazis não eram um bando de arruaceiros». Algumas décadas antes, Isaac Tabenkin, considerado o pai espiritual do movimento de ocupação de terras palestinianas através dos kibutz e quadro das milícias terroristas Hashemer, enumerara «os ideais de Hitler» de que dizia gostar: «homogeneidade étnica, possibilidade de troca de minorias étnicas, transferência de grupos étnicos em benefício de uma ordem internacional.» «Em 2019, o rabino Giora Redler, dignitário religioso de uma academia militar na Cisjordânia ocupada, afirmou que "a ideologia de Hitler estava cem por cento correcta, mas incidiu sobre o lado errado".» Não houve esforços políticos e mediáticos nos sectores afectos ao governo para desautorizar os conceitos de Feiglin. O próprio primeiro-ministro Netanyahu, em plenas funções, teve o cuidado de ilibar Hitler de grande parte do terror do Holocausto, pondo em causa a sua responsabilidade na adopção da «solução final». Segundo Netanyahu, ponta de lança do racismo sionista na carnificina e limpeza étnica que há mais de 150 dias decorre em Gaza, «Hitler não queria exterminar os judeus. Foi o mufti de Jerusalém (dignitário político-religioso islâmico) quem soprou a Hitler a ideia de exterminar os judeus em vez de os expulsar da Alemanha porque eles viriam para a Palestina». Ainda de acordo com a narrativa de Netanyahu, Hitler, atónito, «perguntou o que fazer. Queime-os», respondeu o mufti. Foi então que o führer, conhecido pela sua disponibilidade para ouvir opiniões e sugestões de outros, se decidiu pela matança. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O sionismo assumiu abusivamente o monopólio do «semitismo», de maneira que qualquer crítica ou acusação à teoria e práticas do regime de Israel e da doutrina em que se baseia seja considerada uma manifestação de antissemitismo. Pelo que a condenação das chacinas em curso em Gaza ou mesmo as decisões do Tribunal Internacional de Justiça sobre a conduta de Israel nesse território sejam consideradas, e não apenas em Israel, expressões de antissemitismo. O regime de Macron em França tem desenvolvido diligências para que actos de «antissemitismo» como estes sejam penalizados com penas de prisão que podem chegar a cinco anos. Basta, para isso, que alguém viole supostamente a definição oficial de antissemitismo delegada pelo sionismo numa entidade sionista designada «Aliança Internacional de Recordação do Holocausto» (AIRH): «Antissemitismo são as alegações falsas, desumanizadoras, diabólicas ou estereotipadas sobre os judeus em si ou o poder dos judeus como grupo»; e também «culpar os judeus por coisas que não corram bem». A caracterização está viciada da primeira à última palavra. Considera todos os membros da comunidade judaica mundial como sionistas; confunde a etnia hebraica com a globalidade do «semitismo», o que é deliberadamente falso porque ignora a generalidade dos povos semitas, designadamente os árabes, escondendo que o próprio conceito oficial de sionismo assim definido é antissemita. O que aliás está explícito nas palavras de Mosha Smilanski atrás citadas: árabes são «uma raça semita antissemita». Pela mesma ordem de ideias, a definição da AIRH é antissemita porque atribui o monopólio do «semitismo» ao «povo judeu», neste caso à sua minoria inserida no conceito de sionismo. Segrega, portanto, os povos árabes e os próprios extractos de judeus que não se identificam com o sionismo. A viciada identificação absoluta entre o sionismo e o semitismo, excluindo boa parte do judaísmo e a generalidade dos outros povos semitas, é uma antiga estratégia de propaganda da doutrina do Estado de Israel para universalizar a acusação de antissemita a quem não se identifica com as práticas israelitas. Abba Eban, vice-primeiro ministro, ministro dos Negócios Estrangeiros e representante de Israel nas Nações Unidas nos governos de Golda Meir, deixou bem clara essa estratégia: «Uma das tarefas principais de qualquer diálogo com o mundo é provar que a distinção entre antissemitismo e antissionismo não existe». A limpeza étnica que as tropas de Israel estão a fazer em Gaza não é uma prática criminosa original, temporária e isolada. É a estratégia de base da criação do Estado de Israel e um conceito primordial da doutrina sionista, não formulado por estas palavras mas explicitado em múltiplas declarações, ao longo de décadas, proferidas por altos responsáveis do sionismo. Ben-Gurion e o general Moshe Dayan, um militar polémico que integrou o grupo terrorista Haganah e foi considerado um herói nas campanhas da independência, da guerra contra o Egipto em 1956 e da Guerra dos Seis Dias, em 1967, fizeram considerações confirmando a impossibilidade de Israel existir sem uma limpeza étnica contra os árabes da Palestina. «A limpeza étnica que as tropas de Israel estão a fazer em Gaza não é uma prática criminosa original, temporária e isolada. É a estratégia de base da criação do Estado de Israel e um conceito primordial da doutrina sionista, não formulado por estas palavras mas explicitado em múltiplas declarações, ao longo de décadas, proferidas por altos responsáveis do sionismo.» Em 1969, numa conferência perante estudantes universitários, Dayan afirmou que «não existe um único lugar construído neste país que não tenha tido uma população árabe». Moshe Dayan terminou a sua carreira político-militar quando defendeu a retirada unilateral israelita dos territórios ocupados em 1967, contrariando a política do primeiro-ministro, Menahem Begin, no sentido de consumar a anexação da Cisjordânia, de Gaza e dos Montes Golã, território sírio. O general que considerava «não haver nada mais excitante do que a guerra», não perdeu, por outro lado, a perspectiva da violência necessária para concretizar os objectivos do sionismo. Numa homenagem fúnebre a um militar israelita morto pela resistência palestiniana em Gaza, em Abril de 1956, Moshe Dayan afirmou: «Não culpemos os assassinos de hoje (…) Há oito anos que estão nos seus campos de refugiados em Gaza enquanto, sob os seus olhos, temos vindo a transformar as terras e as aldeias onde eles e os seus pais habitavam em propriedade nossa». Dayan conhecia bem e assumia a realidade. As suas palavras poderiam ser pronunciadas hoje substituindo «oito anos» por «75 anos» – a limpeza étnica continua. Como confirma Avi Dichter, ministro do Likud entre 2006 e 2009 e chefe do Shin Beth (polícia secreta interna) em 2023, «Estamos em vias de realizar uma nova Nakba em Gaza. Nakba Gaza 2023, isto acabará assim». Nakba é a expulsão de 750 mil palestinianos das suas terras, aldeias, cidades e casas em 1948-49, durante o período de criação e instauração do Estado de Israel, a primeira grande limpeza étnica organizada e desenvolvida pelo sionismo. O conceito «Nakba Gaza 2023» exposto por Dichter não deixa dúvidas de que estamos nestes dias perante uma operação de limpeza étnica, uma violação crua do direito internacional e um crime grosseiro contra a humanidade. Também Ben-Gurion, tal como Moshe Dayan, mas cerca de 20 anos antes, admitiu que o processo de criação do Estado de Israel exigia uma transformação total na estrutura demográfica da Palestina: «O país é deles (os árabes) porque eles habitam-no enquanto nós queremos vir para cá estabelecer-nos e, na visão deles, queremos tirar-lhes o país vivendo nós ainda no exterior», declarou o fundador do Estado de Israel perante o Comité Político do partido Mapai (trabalhista) em 7 de Junho de 1938. Durou pouco a aparente contenção do discurso de Ben-Gurion. Ainda no mesmo ano proclamou que «a transferência obrigatória permitir-nos-á tomar posse de uma imensa região; e não vejo na transferência obrigatória nada de imoral». Apesar das aparentes diferenças ideológicas, o trabalhista Ben-Gurion limitou-se, porém, a ecoar recomendações emanadas anteriormente pelo revisionista e ultradireitista Vladimir Jabotinsky, a quem o primeiro primeiro-ministro israelita chamava «o fascista»: «não há alternativa: os árabes devem dar lugar aos judeus no Grande Israel». Já em 1920, antes de Jabotinsky lançar o movimento revisionista do sionismo para contrabalançar o «socialismo» dominante nos primeiros anos da colonização, o jornalista sionista inglês Israel Zangwill alertara que «devemos preparar-nos para expulsar (os árabes) pela força, tal como fizeram os nossos antepassados» – uma espécie de regresso ao mito fundador do Reino de Israel (alegadamente 930-720 A.C.), quando as 12 tribos de Moisés expulsaram os cananeus. Muitos eruditos israelitas contestam a versão bíblica destes acontecimentos e outros, embora aceitando a narrativa do Antigo Testamento em geral, consideram que foi muito ficcionada. «O conceito "Nakba Gaza 2023" exposto por Dichter não deixa dúvidas de que estamos nestes dias perante uma operação de limpeza étnica, uma violação crua do direito internacional e um crime grosseiro contra a humanidade.» Na altura da independência do Estado sionista, em 1948, Menahem Begin, chefe do grupo terrorista Irgun e futuro primeiro-ministro e Prémio Nobel da Paz, e para quem «os palestinianos são animais que andam sobre duas patas», assegurou que «a partilha da Palestina», decidida pelas Nações Unidas, «é ilegal e jamais será reconhecida» – como o Parlamento de Israel acaba de decidir ao recusar-se a admitir a chamada «solução de dois Estados». Begin estipulou ainda que «o Grande Israel será restaurado pelo povo de Israel por inteiro e para sempre». Cerca de quarenta anos depois, em 1987, o deputado e chefe do partido governamental ultradireitista Moledet, Rehavam Zeevi, postulou que «o sionismo é por essência um sionismo de transferência». Prestes a assumir o cargo de primeiro-ministro do novo Estado, Ben-Gurion rejeitou implicitamente a resolução de partilha da Palestina em dois Estados, aprovada pela Assembleia-Geral da ONU, afirmando que «o importante não é o que os goyim (não-judeus) dizem mas o que os judeus fazem». O desafio do sionismo ao direito internacional percorre os quase 150 anos de existência da doutrina lançada por Theodor Herzl. A limpeza étnica gera a tragédia dos refugiados, milhões de refugiados, neste caso abrangendo várias gerações de famílias e distribuídos por todo o mundo, com especial incidência nos países vizinhos da Palestina. Há ainda os refugiados palestinianos «internos», os que foram deslocados das suas aldeias e cidades, das suas casas, para campos de refugiados na Cisjordânia e em Gaza. Estão, por conseguinte, ameaçados de nova limpeza étnica, como a que está a acontecer em Gaza e também na Cisjordânia – mais lenta e repartida, desenvolvida essencialmente através do processo de colonização que os dirigentes de Israel consideram irreversível. A ONU e a legislação internacional estabelecem que os refugiados palestinianos têm «o direito de retorno», isto é, qualquer solução regional que venha a ser encontrada implica o regresso dos palestinianos à Palestina. Pais e outros familiares começaram a escrever o nome nas mãos e nos braços das suas crianças para poderem ser identificadas depois de abatidas pela «única democracia do Médio Oriente», protegida pelo «exército mais moral do mundo». «À medida que a guerra entre Israel e o Hamas avança peço aos meus compatriotas americanos que permaneçam vigilantes e não caiam em qualquer propaganda falsa afirmando que as pessoas que vivem em Gaza são dignas de vida humana…» (Joseph Biden, presidente dos Estados Unidos da América) Joseph Biden, o chefe dos chefes daquilo a que costuma chamar-se o «Ocidente colectivo», ou «a civilização ocidental», ou simplesmente «o Ocidente», pronunciou esta frase lapidar à chegada de uma breve deslocação ao Médio Oriente onde abraçou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mas sem o interromper no comando da chacina do povo de Gaza. Não estranhem, por muito revoltantes que as sintam, as palavras do nosso guia da «civilização ocidental», essa mistura de irmandades decrépitas, sofrendo de sintomas de autoritarismo desesperado, como a NATO, a União Europeia, o G7, os Cinco Olhos e ainda outras agremiações onde se juntam o todo ou parte dos mesmos comparsas. Ao contrário do que possa pensar-se, tais sentenças não são fruto da senilidade e de outras insuficiências manifestadas pelo personagem que habita na Casa Branca. Desta feita são palavras lúcidas, com raízes no conceito do primeiro-ministro de Israel em relação às pessoas de Gaza, por ele qualificadas como «bestas humanas». Ou, na versão do ministro sionista da Defesa, Yoav Gallant: «estamos a lutar contra animais humanos e agindo em conformidade». Em 2002, o historiador israelita Zeev Sternhell, da Universidade Hebraica de Jerusalém, escreveu: «Não esqueçamos que, de facto, foi Israel que criou o Hamas. Pensou que era uma maneira inteligente de empurrar os islamitas contra a OLP». «Eles apenas vêem uma coisa: chegámos e roubámos-lhes o país. Porque é que eles aceitariam isso?» «Não ignoremos a verdade entre nós… politicamente somos os agressores e eles defendem-se» (David Ben-Gurion, fundador e primeiro presidente de Israel) A dúvida não era se isto iria acontecer, mas quando e como aconteceria. E para os que acompanham o quotidiano de Gaza – não aqueles que se transferiram apressadamente da Ucrânia e tiveram de consultar os mapas para reprocessar o chip – o genocídio e a limpeza étnica a que estamos a assistir não são novidade nem surpresa. A Faixa de Gaza é, há pouco mais de década e meia, um campo de concentração onde uma população de 2,3 milhões de habitantes está literalmente encerrada por imposição de Israel e a colaboração do Egipto, submetida a restrições selváticas que afectam a vida de cada cidadão, desde a importação de alimentos, medicamentos, a degradação da quantidade e da qualidade da água, os cortes sistemáticos de energia e, principalmparaente, as periódicas agressões militares de Israel, manobras punitivas que têm ceifado dezenas de milhares de vidas, deixando quase incólumes as estruturas do Hamas, e contribuído para a destruição contínua do parque habitacional e das estruturas públicas e sociais, designadamente as escolas. Como é que organizações de espionagem como as sionistas, que certamente dispõem de milhares de informadores numa população tão densa e caótica como a de Gaza, não tinham sequer uma luzinha sobre o que o Hamas estava a preparar? No momento em que o Hamas lançou a operação «Dilúvio sobre al Aqsa», no passado dia 7 de Outubro, expondo uma «falha de inteligência de Israel» que os peritos de inteligência consideram pouco provável, ou mesmo impossível, o governo de Ramallah revelou-se absolutamente ineficaz para encabeçar a resistência palestiniana na Cisjordânia num momento de tantas incertezas, perigos e, certamente, traições. Um governo inerte, corrupto, desligado das realidades e do povo, além de acomodado. Ao longo de mais de 15 anos, a Autoridade Palestiniana pouco fez perante o avanço da colonização, um processo gradual de anexação de território até que chegue o momento – eventualmente já atingido – em que não existirão condições para instaurar um Estado Palestiniano independente e viável. Em contraste, através do impacto emocional, e até místico dos seus métodos, junto da resistência palestiniana em geral, e dos mundos árabe e islâmico, o Hamas procura estender a base de apoio entre as populações árabes da Palestina e da diáspora. O Hamas, porém, não tem grande apreço pela criação de um Estado independente e por negociações: afirma que defende o fim de Israel; e as forças nacionais que apostaram no «processo de paz», e claramente num Estado independente ao lado de Israel, estão neutralizadas. O que reflecte o carácter sombrio e intrigante das relações dos islamitas com Israel. Uma das características das agressões israelitas contra Gaza, que alternam com períodos de acalmia aproveitados pelo aparelho sionista para reforçar os mecanismos de controlo sobre Ramallah, é o seu reduzido e controlável impacto sobre o aparelho militar e as estruturas de apoio do Hamas. A sensação que prevalece é a de que os danos não impedem o seu contínuo desenvolvimento. Passaram as operações arrasadoras de 2008, 2014 e chega-se a 2023 com um Hamas forte como nunca em equipamento militar, em termos quantitativos e qualitativos, e capacidade operacional. Em todos os períodos de agressão israelita mais intensa contra Gaza as principais vítimas foram as populações e não as estruturas do Hamas. Milhares e milhares de palestinianos de Gaza, na verdade refugiados das limpezas étnicas praticadas em outras regiões da Palestina ao longo de 75 anos, ficaram pelo caminho durante essas agressões. Agora, numa proporção directa da envergadura da operação desencadeada pelo Hamas, entrou na ordem do dia, do lado de Israel, a «transferência» da população de Gaza, começando pela «limpeza» do norte do território. «Em todos os períodos de agressão israelita mais intensa contra Gaza as principais vítimas foram as populações e não as estruturas do Hamas.» A punição colectiva é evidente e intencional. Como explica o presidente israelita, Isaac Herzog, «uma nação inteira é responsável» pela violência, isto é, não há inocentes na população de Gaza. Amir ou Amina, nascidos há poucos dias, já chegaram a este mundo como «terroristas». Ou «animais humanos», citando o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, extremoso defensor dos «nossos valores». Por outro lado, as acções de violência contra civis, não distinguindo entre os cidadãos comuns e os militares, praticadas pelas hostes do Hamas, não servem nem poderiam servir a causa palestiniana. Não é por replicar os métodos do ocupante que os ocupados conseguem ganhar vantagem e projectar a sua razão. O massacre no kibutz de Kfar Aza, por exemplo, é um acto indigno de uma resistência popular e também faz jorrar a propaganda assente nas lágrimas de crocodilo de todos os fariseus que, na verdade, não querem saber das pessoas nem das populações sob ocupação. Nesta matéria, porém, há que partir do princípio de que nem tudo o que parece é. O Estado de Israel funciona como um dos mais credenciados centros de propaganda, embora nem sempre tenha em conta certa o estado real de estupidificação da opinião pública ocidental. A história dos 40 bebés decapitados pelo Hamas só convenceu alguns «jornalistas» mais zelosos, que rapidamente tiveram de voltar com a palavra atrás depois de até o governo israelita confessar que não confirmava o crime. Foi um caso de falta de imaginação ou facilitismo: muita gente ainda se lembra do descrédito em que caiu a história dos bebés do Koweit roubados de incubadoras pelos soldados iraquianos de Saddam Hussein, no início dos anos noventa. Manifestantes pela paz e direitos do povo palestiniano avisam Assembleia da República e Governo PS de que não aceitam um Portugal «cúmplice, por acção ou omissão, de um crime que a história não deixará de registar». Muitas centenas de pessoas participaram hoje (18 de Outuro de 2023) no acto público «Pela Paz no Médio Oriente, Pelos direitos do povo Palestiniano! Fim à agressão a Gaza, Paz no Médio Oriente!», que teve lugar no Martim Moniz, em Lisboa. A concentração, que já tinha tinha realizado ontem no Porto, foi convocada pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) e a CGTP-IN. A maior parte dos jornalistas perdeu a vida quando faziam reportagens sobre a guerra, tendo sido vítimas dos bombardeamentos indiscriminados israelitas sobre a Faixa de Gaza. Pelo menos oito jornalistas foram mortos, dois foram dados como desaparecidos e um ficou ferido desde sábado, quando grupos da resistência palestiniana em Gaza romperam o cerco imposto e lançaram a operação «Dilúvio de al-Aqsa» contra territórios ocupados em 1948 e Israel se declarou em estado de guerra. A maior parte dos jornalistas foi morta pelas forças de ocupação no terreno, quando estavam a fazer reportagens sobre os bombardeamentos israelitas dos últimos seis dias. No sábado, a resistência palestiniana quebrou a vedação que cerca o enclave e lançou uma ofensiva contra os territórios ocupados em 1948. Desde então, a aviação israelita matou mais de 430 palestinianos. De acordo com os dados divulgados pelo Ministério palestiniano da Saúde esta manhã, os bombardeamentos indiscriminados na Faixa de Gaza, conhecida como «a maior prisão a céu aberto», provocaram a morte a 436 pessoas, incluindo 91 menores, e fizeram 2271 feridos, 244 dos quais crianças. Nas últimas horas, a aviação da ocupação lançou centenas de raides contra o enclave costeiro, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, atingindo edifícios residenciais, infra-estruturas oficiais e civis, bem como edifícios religiosos, tendo destruído pelo menos duas mesquitas, indica a agência Wafa. Só no sábado, os bombardeamentos israelitas provocaram 300 mortos, o que, segundo destaca o portal The Cradle, é o número mais elevado de palestinianos mortos em ataques aéreos da ocupação num só dia desde 2008. Enquanto se mantiver a ocupação colonial e a violência das forças militares e dos colonos, não haverá paz, alerta o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM). O MPPM reage assim às acções desencadeadas em Gaza e em Israel na madrugada deste sábado. Eram 4h30 em Lisboa (6h30 no local), quando militantes de organizações da resistência palestiniana lançaram, a partir da Faixa de Gaza, um ataque de surpresa, em larga escala, contra Israel, no que apelidaram de «Operação Dilúvio Al-Aqsa». Segundo as organizações, a acção foi uma resposta à profanação da Mesquita de Al-Aqsa e ao aumento da violência dos colonos, e confirma, insiste o MPPM num comunicado, «que não é possível ter uma situação de paz na Palestina e, por consequência, no Médio Oriente, continuando a espezinhar os legítimos direitos do povo palestino e persistindo em manter a ocupação colonial e a violência das forças militares e dos colonos». Diversos grupos da resistência declararam o apoio à operação lançada contra Israel, esta manhã, a partir da Faixa de Gaza, sublinhando que faz parte da luta de libertação nacional. «Fazemos parte desta batalha e os nossos combatentes estão lado a lado com os seus irmãos nas Brigadas al-Qassam (ala militar do Hamas) até à vitória», afirmou em comunicado Abu Hamza, porta-voz das Brigadas de al-Quds, braço militar da Jihad Islâmica. Em termos semelhantes, refere a Prensa Latina, se pronunciaram as Brigadas al-Nasser Salah al-Din, do Movimento de Resistência Popular: «Unidos numa trincheira neste dia glorioso do nosso povo.» Por seu lado, as Brigadas de Resistência Nacional anunciaram que os seus membros se juntaram à operação, lançada esta manhã pelo Hamas, que incluiu o lançamento de milhares de rockets e uma incursão terrestre em território ocupado em 1948. Atingido por disparos de colonos na cidade de Huwara, Labib Dumaidi, de 19 anos, é a mais recente das quatro vítimas mortais na Margem Ocidental ocupada, revelou o Ministério da Saúde. De acordo com a informação divulgada pelo Ministério, Labib Mohammed Dumaidi ficou gravemente ferido durante um ataque de colonos, ontem à noite, na cidade de Huwara, a sul de Nablus. Levado para um hospital, não resistiu aos ferimentos, já nas primeiras horas de sexta-feira. Residentes de Huwara tentaram fazer frente à provocação levada a cabo por dezenas de colonos, protegidos por forças militares israelitas, indica a Wafa. Registaram-se fortes confrontos e as tropas israelitas usaram fogo real, gás lacrimogéneo e granadas atordoantes para dispersar os palestinianos. Fontes do Crescente Vermelho Palestiniano informaram que pelo menos 25 pessoas, incluindo quatro crianças, sofreram efeitos de asfixia devido à inalação de gás lacrimogéneo. Também em Huwara, as forças israelitas mataram, ontem à tarde, outro palestiniano, cuja identidade ainda não foi revelada. Dias depois de colonos extremistas terem invadido e atacado Huwara, Bezalel Smotrich afirmou que Israel deve «aniquilar» a localidade palestiniana no Norte da Cisjordânia ocupada. «Penso que Huwara precisa de ser destruída», disse o ministro israelita das Finanças, Bezalel Smotrich, esta quarta-feira, defendendo que «o Estado devia fazê-lo e não cidadãos privados», refere a PressTV com base na imprensa israelita. As declarações do ministro de extrema-direita do governo de Benjamin Netanyahu seguem-se ao ataque perpetrado contra a localidade palestiniana, no domingo à noite, por centenas de colonos armados. Tratou-se da «resposta» à morte de dois israelitas de um colonato ilegal, executados por um atacante palestiniano de Huwara. Este ataque, por sua vez, seguiu-se ao massacre de Nablus, em que as forças de ocupação israelitas mataram 11 palestinianos e feriram mais de cem. No domingo à noite, os colonos queimaram pelo menos 150 carros, 52 casas e várias lojas. Uma pessoa foi morta e o número de feridos palestinianos é superior a 390, indica a agência Wafa. Grupos israelitas de defesa dos direitos humanos como Peace Now e B’Tselem referiram-se ao ataque dos colonos como um «pogrom» apoiado pelas autoridades de ocupação. Por seu lado, o Crescente Vermelho palestiniano acusou as forças israelitas de impedirem as ambulâncias e os paramédicos de acederem ao local do ataque, a poucos quilómetros de Nablus. No Knesset, a extrema-direita israelita considerou os ataques a Huwara «legítimos». Hussein al-Sheikh, da Comissão Executiva da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), afirmou, no Twitter, que as afirmações de Smotrich para apagar Huwara do mapa são o apelo de um «racista terrorista». Também o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana (AP), Mohammad Shtayyeh, se referiu às afirmações do ministro israelita como «terroristas» e «racistas», e alertou para o facto de que «fazem prever uma escalada séria» contra o povo palestiniano nos territórios ocupados. Neste sentido, pediu às Nações Unidas, à União Europeia e demais organizações internacionais que condenem as declarações de Smotrich. Antes, já tinha pedido ajuda internacional «contra os crimes de Israel». O Parlamento (da Liga) Árabe, com sede no Cairo, condenou esta quarta-feira os ataques executados por colonos israelitas contra o povo palestiniano na Cisjordânia ocupada, referindo-se em especial ao assalto à localidade de Huwara. Perante os ataques terroristas sistemáticos dos colonos contra cidadãos indefesos, com armas de fogo, incêndios de casas e viaturas, expulsão de agricultores, assassinatos e outros crimes, exortou o mundo e em especial o Conselho de Segurança da ONU a adoptar medidas para proteger o povo palestiniano. Antes, a Liga Árabe já tinha proposto que as milícias de colonos passem a ser incluídas na lista de grupos terroristas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Na parte da manhã, as forças israelitas já tinham matado dois palestinianos, identificados como Hudhayfah Fares, de 27 anos, e Abd al-Rahman Atta, de 23, na aldeia de Shufa, na sequência de um ataque de colonos a viaturas na região de Tulkarem. De acordo com as Nações Unidas, 2023 está a ser o ano mais mortífero para os palestinianos na Margem Ocidental desde que há registo de fatalidades provocadas pelas forças de ocupação. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da Presidência palestiniana, disse à imprensa que a ocupação israelita pisou todas as linhas vermelhas, com a sua insistência na política de assassinatos e incursões em cidades, aldeias e acampamentos palestinianos. Numa entrevista à Palestine TV, o representante da Presidência responsabilizou o governo israelita e a administração norte-americana pelos «crimes perigosos perpetrados pela ocupação e os seus colonos por todo o território palestiniano», os mais recentes dos quais nas imediações de Nablus e Tulkarem, refere a Wafa. Apesar da «guerra implacável» que a ocupação israelita está a travar contra o povo palestiniano «à vista de todo o mundo», o responsável afirmou que isso não irá impedir «o nosso povo de prosseguir a sua luta legítima» até à «criação do seu Estado independente, com Jerusalém como capital». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Na Cisjordânia, a Cova dos Leões, um dos grupos da resistência mais activos, fez um apelo à mobilização geral dos seus membros, bem como ao «ataque imediato em todos os lugares contra as forças de ocupação e os seus colonos». Com base em fontes israelitas, a agência Prensa Latina indica que o Exército de ocupação deu conta de combates em 21 locais no Sul de Israel, na sequência da operação palestiniana – embora tenha posteriormente reduzido esse número para sete. Ao anunciar a ofensiva desta manhã (às 7h locais), o comandante das Brigadas al-Qassam, Muhammad al-Deif, disse que o grupo palestiniano disparou para território israelita 5000 rockets. Al-Deif afirmou que a operação é uma resposta aos sistemáticos crimes israelitas contra o povo palestiniano e a profanação contínua por colonos judeus da mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém, e ocorre num contexto de escalada de agressões, da parte de colonos e forças israelitas, em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia ocupada. A Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos registou mais de 135 mil casos de detenções, pelas forças de ocupação israelitas, desde o início da Intifada de al-Aqsa, em 2000. Num relatório emitido por ocasião do 23.º aniversário do início da Segunda Intifada ou Intifada de al-Aqsa (28 de Setembro de 2000), a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos sublinha que as detenções levadas a cabo pelas forças israelitas afectaram todas as camadas da sociedade, e não deixaram de parte menores de idade, idosos e mulheres. Dos mais de 135 mil casos registados pelo organismo, 21 mil dizem respeito a menores, indica o relatório – divulgado pela Wafa –, que dá conta da detenção de metade dos deputados do Conselho Legislativo Palestiniano (Parlamento), de vários ministros, centenas de académicos, jornalistas e funcionários de organizações da sociedade civil e instituições internacionais. Israel mantém nas suas prisões 1264 palestinianos sem acusações nem julgamento, o número mais elevado em 30 anos, revelou a ONG Hamoked. Desde a Primeira Intifada (1987-1993) que não havia tantos palestinianos detidos ao abrigo da polémica norma, alertou a organização não governamental este fim-de-semana, com base nos dados dos serviços prisionais. Jessica Montell, directora executiva da Hamoked, organização israelita que presta assistência jurídica gratuita aos palestinianos que vivem sob a ocupação, afirmou que a detenção administrativa é «massiva e arbitrária» e que Israel mantém nesse regime, sem acusação nem julgamento, mais de 1200 palestinianos, «alguns dos quais durante anos sem uma revisão eficaz». Ao abrigo deste regime, a detenção, decretada por um comandante militar, com base naquilo a que Israel chama «prova secreta» – que nem o advogado do detido tem direito a ver –, pode ser infinitamente renovada por períodos até seis meses. A Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) revelou, este domingo, que nove presos palestinianos sem acusação ou julgamento continuam em greve de fome por tempo indeterminado. Os presos Kayed al-Fasfous e Sultan Khlouf iniciaram o protesto contra a detenção administrativa há 19 dias. Por seu lado, Osama Darkouk encontra-se em greve de fome há 15 dias. Outros seis reclusos palestinianos em cadeias israelitas estão em greve de fome há 12 dias: Hadi Nazzal, Mohammad Taysir Zakarneh, Anas Kmail, Abdelrahman Baraka, Mohammad Basem Ikhmis e Zuhdi Abdo, informa a agência Wafa, com base na SPP. Na semana passada, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos pediu à chamada comunidade internacional que quebre o silêncio em torno do «crime israelita da detenção administrativa», que permite manter na cadeia presos sem acusação ou julgamento, numa clara violação das normas internacionais. Ao abrigo deste regime, a detenção, decretada por um comandante militar, com base naquilo a que Israel chama «prova secreta» – que nem o advogado do detido tem direito a ver –, pode ser infinitamente renovada por períodos até seis meses. A Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) revelou, esta segunda-feira, que quatro presos palestinianos sem acusação ou julgamento tinham iniciado há nove dias uma greve de fome por tempo indeterminado. Em comunicado divulgado pela Wafa, a SPP indicou que Anas Ibrahim Shadid, de 26 anos, Mahmoud Abdel Halim Talahma, de 32, Abdullah Mohammad Abido, de 36, e Mohammad Ahmad Dandis, de 25, iniciaram o protesto para denunciar a sua detenção sem acusação ou julgamento. Acrescentou que todos os detidos estão na cadeia israelita de Ofer, perto de Ramallah, e são originários da província de Hebron (al-Khalil), no Sul da Cisjordânia ocupada. A organização de defesa dos direitos dos presos informa que Shadid foi preso três vezes, sempre no regime de detenção administrativa, tendo passado, no total, três anos atrás das grades. Durante esses períodos, levou a cabo duas greves de fome, uma delas com a duração de 90 dias, em 2016. Os prisioneiros iniciaram uma greve de fome, há uma semana, para exigir a sua libertação e denunciar um regime de detenção que permite mantê-los na cadeia sem acusação ou julgamento. O protesto dos trinta presos palestinianos, membros e simpatizantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), completou uma semana sem solução aparente à vista, tendo em conta a inflexibilidade das autoridades de Telavive. Em comunicado, a Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) anunciou que os serviços prisionais israelitas têm estado a ameaçar com castigos os reclusos que lutam contra o regime de detenção administrativa. Entre as punições, contam-se privá-los de visitas, retirar-lhes os seus pertences e isolá-los em celas de castigo. Nesta primeira semana de protesto, os serviços prisionais israelitas colocaram 28 dos grevistas em quatro celas de isolamento na prisão de Ofer, informa a Wafa com base no documento divulgado pelo SPP. Um outro, o advogado Salah Hammouri, foi metido na solitária numa cadeia no Norte de Israel, enquanto Ghassan Zawahreh foi levado para uma cela de isolamento numa prisão localizada no Deserto do Neguev (al-Naqab). Os prisioneiros, em cadeias israelitas, iniciaram uma greve de fome por tempo indeterminado contra um regime que permite mantê-los detidos sem acusação ou julgamento, por períodos renováveis de seis meses. O início do protesto, este domingo, por parte de prisioneiros que são membros ou apoiantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), foi confirmado pela Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos. Em declarações à agência Wafa, Hassan Abed Rabbo, porta-voz da comissão, disse que os presos decidiram avançar contra uma política que permite a Israel manter nas suas prisões, sem acusação ou julgamento, presos palestinianos por tempo indefinido, na medida em que o período de detenção, até seis meses, é infinitamente renovável. Numa mensagem divulgada há alguns dias, os presos sublinharam que a luta contra o regime de detenção administrativa continua e denunciaram que as medidas tomadas pelas autoridades prisionais israelitas «já não se baseiam em obsessões de segurança, mas são actos de vingança devido ao seu passado». Qadri Abu Baker, líder da Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos, disse à Wafa que, na próxima quinta-feira, mais 50 presos se devem juntar à greve de fome, para denunciar o regime de detenção administrativa a que são submetidos e a escalada por parte de Israel no que respeita a este procedimento. O maior número de detenções administrativas – sem julgamento ou acusação – foi decretado em Maio, quando Israel lançou uma ofensiva de 11 dias contra a Faixa de Gaza. A Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) revelou, este domingo, que o número divulgado diz respeito tanto a novas ordens como à renovação de ordens já emitidas nos territórios ocupados, pelas autoridades israelitas. No documento apresentado, o organismo lembra que política de detenção administrativa visa «esmagar os activistas políticos palestinianos» e se baseia num ficheiro secreto não acessível aos presos – nem sequer aos seus advogados –, que são mantidos na cadeia sem acusação ou julgamento, informa a WAFA. O maior número de ordens de detenção administrativa foi emitido em Maio último, quando a Israel lançou uma ofensiva de 11 dias contra a Faixa de Gaza, explicou a organização de defesa dos presos, acrescentado que, ao longo do ano, 60 prisioneiros recorreram à greve de fome com o propósito de reconquistar a liberdade. Uma comissão de apoio aos prisioneiros revelou que 13 palestinianos permaneciam em greve de fome nas cadeias, este domingo, contra o regime que permite mantê-los reclusos sem acusação ou julgamento. Num comunicado ontem emitido, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos informou que o prisioneiro Salem Ziadat, de 40 anos, é, dos 13 que continuavam o protesto, aquele que está em greve de fome há mais tempo, permanecendo em jejum há 28 dias contra a sua detenção administrativa, sem acusação ou julgamento, revelou a agência WAFA. A Comissão informou ainda que o número de reclusos palestinianos em greve de fome até ontem era de 15, mas que Mohammad Khaled Abusill e Ahmad Abdulrahman Abusill tinham chegado a um acordo com o Serviço Prisional Israelita no que respeita à «limitação» da chamada detenção administrativa. Grupos de defesa dos presos apresentaram um relatório sobre o primeiro semestre de 2021. Nas cadeias israelitas, há actualmente 4850 palestinianos, 540 dos quais ao abrigo da «detenção administrativa». Entre os palestinianos que se encontram nos cárceres de Israel, contam-se 43 mulheres e 225 menores, segundo o documento conjunto divulgado este fim-de-semana pela Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos, a Sociedade dos Presos Palestinianos, a Addameer e o Centro de Informação Wadi Hilweh. Os organismos referidos precisaram que 12 presos são membros do Conselho Legislativo Palestiniano (Parlamento), 70 são provenientes dos territórios ocupados em 1948, 350 são originários de Jerusalém ocupada e 240 da Faixa de Gaza cercada. O informe destaca a existência de 540 prisioneiros palestinianos em detenção administrativa, sem acusação formada ou julgamento, por períodos de seis meses indefinidamente renováveis. No que respeita a detenções, os organismos de defesa dos presos revelaram que Israel prendeu 5426 palestinianos entre 1 de Janeiro e 30 de Junho deste ano – um número superior a todas as detenções efectuadas pelas forças israelitas em 2020 e registadas por estas organizações: 4636. Por ocasião do Dia da Criança Palestiniana, que se assinala a 5 de Abril, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos revelou também que 140 menores permanecem em cadeias israelitas. Os menores palestinianos, alguns dos quais crianças, continuam a ser alvo das forças militares israelitas, que os prendem, muitas vezes de forma violenta, nos territórios ocupados. De acordo com um relatório publicado este domingo pela Sociedade dos Prisioneiros Palestinianos, pelo menos 230 foram detidos desde o início do ano, a maioria dos quais em Jerusalém Oriental ocupada. O grupo de defesa dos direitos dos presos sublinhou que «as crianças encarceradas são submetidas a vários tipos de abusos, incluindo «a recusa de comida e de bebida por longas horas, abuso verbal e a detenção em condições duras». O informe veio a lume na véspera do Dia da Criança Palestiniana, que se assinala a 5 de Abril, com actividades culturais, educativas e mediáticas que, refere a PressTV, visam reforçar a consciência sobre o sofrimento dos menores palestinianos. Também no âmbito do Dia da Criança Palestiniana, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos revelou que 140 menores permanecem em cadeias israelitas, incluindo dois que se encontram presos ao abrigo do regime de detenção administrativa. Uma comissão da ONU reafirmou denúncias expostas em vários relatórios sobre detenções de menores palestinianos por Israel – quase sempre presos de noite, algemados e vendados. É o início da «viagem ao inferno». A instância, composta por especialistas independentes das Nações Unidas, expressou particular preocupação pela expansão dos colonatos e o aumento da violência dos colonos israelitas, em que se incluem ataques a crianças e às suas escolas. Segundo se pode ler no portal oficial de notícias da ONU, na semana passada diversas organizações informaram a comissão sobre as operações nocturnas levadas a efeito pelas forças israelitas com o propósito de deter crianças e adolescentes na Cisjordânia ocupada, com «graves consequências para o seu bem-estar e gozo dos seus direitos». «Mais de 300 crianças estão detidas no sistema militar israelita. A maioria por delitos menores, como atirar pedras e publicações nas redes sociais», assinala a comissão, que denuncia o facto de os menores serem «levados para locais desconhecidos, presos em viaturas militares e sujeitos a ameaças e abusos verbais», bem como o facto de, por vezes, serem «obrigados a assinar confissões em hebraico, uma língua que não costumam entender». Estas preocupações reafirmam as que têm sido veiculadas, ao longo do tempo, por várias entidades, nomeadamente a Comissão dos Prisioneiros Palestinianos, órgão dependente da Autoridade Palestiniana que, em diversas ocasiões (também este ano), alertou para o facto de os menores serem torturados e sofrerem abusos nos cárceres israelitas, bem como para o facto de serem espancados, insultados e pressionados no momento da detenção. No final de Março, um relatório publicado pelo Ministério palestiniano da Informação denunciava também esta realidade, afirmando que «95% das crianças palestinianas presas pelas autoridades israelitas foram torturadas durante a detenção». De acordo com o relatório, até 2015 foram documentadas anualmente 700 detenções de menores palestinianos. Já em 2017, Israel prendeu 1467 crianças e adolescentes; 1063 no ano seguinte e, nos dois primeiros dois meses deste ano, 118. Entre 2000 e 2018, foram presos mais de 16 mil menores. Numa peça intitulada «“Endless Trip to Hell”: Israel Jails Hundreds of Palestinian Boys a Year. These Are Their Testimonies», publicada em Março e plenamente actual, o periódico israelita Haaretz aborda esta realidade, em que as crianças, algumas com idades inferiores a 13 anos, «são detidas pela calada da noite, vendadas e algemadas, alvo de abusos e constrangidas» a confessar «crimes» que não cometeram. A peça, que reúne testemunhos de sete jovens da Margem Ocidental ocupada com idades compreendidas entre os dez e os 15 anos, revela as diversas fases do processo de detenção, que começa nas operações nocturnas e passa pelo interrogatório, a prisão, o julgamento e a proposta de um acordo. Na sua maioria, os jovens são presos por, alegadamente, terem atirado pedras ou queimado pneus, mas, como sublinha a advogada Farah Bayadsi o objectivo das detenções «é mais para mostrar controlo do que para aplicar a lei». A experiência traumática é fundamentada por tudo aquilo por que as crianças passam durante uma detenção. Arrancadas de casa quando dormem, são algemadas e vendadas, levadas em veículos militares para colonatos e bases israelitas, passando por todo um processo que envolve intimidação, ameaças, agressões físicas, afastamento da família e pressão para «confessar». O nível de brutalidade varia. Khaled Mahmoud Selvi, preso quando tinha 15 anos, foi levado para a prisão e despido (o que, de acordo com o jornal, ocorre em 55% dos casos), tendo sido obrigado a permanecer dez minutos nu, em pé, durante o Inverno. De acordo com os dados recolhidos pela organização não governamental (ONG) British-Palestinian Military Court Watch, 97% dos jovens palestinianos detidos pelas forças militares israelitas (IDF) vivem em pequenas localidades a menos de dois quilómetros de um colonato. O advogado Gerard Horton, da ONG referida, afirma que a ideia é «assustar toda a aldeia» e que se trata de um «instrumento eficaz» para controlar uma comunidade. Acrescenta que, do ponto de vista dos ocupantes e opressores, a pressão «tem de ser constante»: «Cada geração tem de sentir a mão pesada das IDF.» A experiência é traumática. O pai de Khaled Shtaiwi, preso com 13 anos em Novembro do ano passado, contou ao periódico que criou na sua aldeia o «dia da psicologia», porque o seu filho não é capaz de falar sobre o que se passou e porque quer ajudar todas as crianças que foram presas pelos israelitas. Em Beit Ummar, Omar Ayyash foi preso com dez anos de idade, em Dezembro último. Agora, as crianças que brincam nas ruas da aldeia afastam-se assim que se apercebem da aproximação de soldados israelitas. Tornou-se um hábito desde que as tropas levaram Omar. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Por seu lado, a organização Defense for Children International – Palestine (DCIP) destacou que todos os anos entre 500 e 700 menores palestinianos são processados em tribunais militares israelitas e que 85% das crianças palestinianas detidas em 2020 foram «submetidas a violência física». Num comunicado, a DCIP afirma ter documentado 27 casos em que as crianças foram mantidas na solitária um ou dois dias, alegando as forças israelitas «objectivos de investigação». Esta prática é, segundo o organismo, uma forma de «tortura ou tratamento cruel, desumano e degradante». Desde Outubro de 2015, a DCIP registou a 36 ordens de detenção administrativa decretadas contra menores palestinianos, dois dos quais se mantêm nesse regime. Ainda de acordo com o organismo sediado em Genebra, em 2020, as forças israelitas mataram nove menores palestinianos na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, e na Faixa de Gaza, seis dos quais com fogo real. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O relatório divulgado este fim-de-semana informa que, entre os palestinianos detidos pelas forças israelitas, se incluem 854 menores e 107 mulheres, tendo sido emitidas na primeira metade do ano 680 ordens de detenção administrativa, incluindo 312 novas. No mês de Junho foram presos 615 palestinianos, revela o texto, destacando que Maio foi de longe o mês em que se registou um maior número de detenções na primeira metade deste ano. Então, mês de massacre contra Gaza e de múltiplas provocações sionistas no Complexo da Mesquita de al-Aqsa e em Jerusalém Oriental ocupada, as forças israelitas prenderam 3100 palestinianos, incluindo 2000 nos territórios ocupados em 1948 (actual Estado de Israel) e 677 em Jerusalém Oriental ocupada, informa a WAFA. De acordo com a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos, há actualmente nove presos em greve de fome nos cárceres israelitas como forma de protesto contra o regime de detenção administrativa que lhes foi aplicado. A Comissão pediu às instâncias internacionais e regionais de defesa dos direitos humanos que pressionem as autoridades israelitas no sentido de acabar com os maus-tratos aos presos em greve de fome, que passam também pela sua reclusão na solitária. Os presos palestinianos recorrem com frequência a esta forma de luta contra um regime de detenção ilegal, cujo fim exigem. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. De acordo com os grupos de defesa dos direitos dos prisioneiros palestinianos, há actualmente quase 550 nos cárceres israelitas detidos ao abrigo deste regime, que tem merecido ampla condenação internacional e que permite a Israel manter nas suas prisões, sem acusação ou julgamento, presos palestinianos por tempo indefinido, na medida em que o período de detenção, até seis meses, é infinitamente renovável. A detenção, que é decretada por um comandante militar, tem por base aquilo a que Israel chama «prova secreta» – e é tão «secreta» que nem o advogado do detido tem direito a vê-la. Alguns prisioneiros palestinianos passaram mais de uma década nas cadeias israelitas ao abrigo deste regime de «detenção», que é considerado ilegal à luz do direito internacional. Como forma de protesto contra as suas detenções ilegais e para exigir que Israel ponha fim a esta prática, os presos palestinianos recorrem com frequência a greves de fome por tempo indeterminado. Apesar da pressão internacional e dos protestos dos prisioneiros, as autoridades israelitas não têm dado sinais de querer acabar com este regime. Pelo contrário, tanto a comissão referida como o Centro Palestiniano de Estudos sobre Prisioneiros têm dado conta de novas ordens de detenção administrativa e de múltiplas renovações. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Na maior parte dos casos, estavam presos ao abrigo do regime de detenção administrativa, como Hisham Abu Hawwash, de 40 anos, habitante da localidade de Dura (Cisjordânia ocupada) que se mantém há 140 dias em greve de fome e está numa situação considerada muito crítica. Nos últimos dias, as autoridades palestinianas alertaram para o estado de saúde crítico de Abu Hawwash, responsabilizaram Telavive por aquilo que lhe possa acontecer e pediram à comunidade internacional que pressione as autoridades israelitas para o libertarem. Também a Cruz Vermelha se mostrou preocupada com o caso, sublinhando a necessidade de tratar os reclusos com humanidade e de encontrar uma solução que evite «consequências irreversíveis» para Hawwash. De acordo com a SPP, este domingo cerca de 500 reclusos palestinianos presos em Israel ao abrigo do regime da detenção administrativa – criticado pela ONU – declararam o boicote aos tribunais israelitas, porque «sentem que os tribunais alinham sempre com o governo militar e as suas ordens, e não os tratam com imparcialidade». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. De acordo com a comissão, há actualmente mais de 760 presos nas cadeias israelitas sem acusação ou julgamento. A detenção, decretada por um comandante militar, tem por base aquilo a que Israel chama «prova secreta», que nem o advogado do detido tem direito a ver. Cerca de 80% dos presos palestinianos neste regime são ex-presos que já passaram anos atrás das grades, revela a Wafa. Em comunicado, emitido há dias, o Ramo Penitenciário da Frente Popular para a Libertação da Palestina afirmou que «estes 30 prisioneiros, juntos, passaram quase 200 anos em detenção administrativa. Duzentos anos de cativeiro sem acusação ou julgamento por capricho dos oficiais de inteligência da ocupação». O texto, divulgado pela Samidoun (rede de solidariedade com os presos palestinianos), sublinha que se trata de uma «pena perpétua», uma vez que muitos presos são libertados durante alguns meses e são novamente detidos. «Temos um mês de liberdade por cada ano de detenção», afirmam. Dizem que são «alimentados pela dignidade» e querem que as autoridades israelitas saibam que, mesmo que os torturem e lhes provoquem dor, «que a nossa luta continua, e que semearemos alegria, vida e esperança, e que nossa luta pela liberdade e pela humanidade livre de tormentos não vai parar». Leila Khaled, membro do Comité Central da FPLP e símbolo da resistência palestiniana, anunciou uma greve de fome solidária com os presos, a quem saudou por estarem «na primeira linha do confronto a este inimigo criminoso fascista». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. De acordo com a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos, dos cerca de 4600 palestinianos actualmente presos nas cadeias israelitas, mais de 760 são reclusos sem acusação ou julgamento, cuja detenção pode ser infinitamente renovada por períodos até seis meses. A detenção, decretada por um comandante militar, tem por base aquilo a que Israel chama «prova secreta», que nem o advogado do detido tem direito a ver. Após o início da greve de fome, Basil Mizher, outro advogado palestiniano detido sem acusação ou julgamento, viu ser-lhe renovada a detenção administrativa por mais três meses, no passado dia 28. Numa mensagem que Mizher escreveu no início do protesto, lida pela sua mãe numa acção solidária no campo de refugiados de Dheisheh, em Belém, o preso diz que a sua profissão é a de advogado, mas que mal se lembra dela, pois quase não a conseguiu exercer desde que se formou – foi submetido a três detenções administrativas desde que passou no exame. Em vez de ir trabalhar, foi para a prisão, lê-se no texto divulgado pela pela Samidoun (rede de solidariedade com os presos palestinianos). «Ou nos submetemos à opressão e à privação e aceitamos o roubo perpétuo da nossa liberdade e da nossa vida à vista do mundo, ou nos revoltamos contra a injustiça e derrubamos os muros do carcereiro com todas as ferramentas que temos», escreveu Basil Mizher a propósito da greve de fome, que é a «recusa da política de subordinação e domesticação». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Talahma, detido desde Março de 2022, é um advogado e antigo prisioneiro, que passou dois anos e meio nas cadeias israelitas. Abido é também um antigo prisioneiro, que passou cinco anos e meio nas prisões da ocupação – a maior parte do tempo ao abrigo do regime de detenção administrativa. Por seu lado, Dandis foi preso pela primeira vez a 23 de Março último, tendo-lhe sido imposta uma detenção administrativa por um período de seis meses. Este protesto ocorre num contexto em que Israel intensifica o recurso às detenções sem acusação ou julgamento. Segundo revelou a SPP, existem actualmente nas cadeias israelitas 1083 presos palestinianos a quem foi aplicado este regime de detenção, 17 dos quais são menores. O regime de detenção administrativa, que tem merecido ampla condenação internacional, permite a Israel manter nas suas prisões, sem acusação ou julgamento, presos palestinianos por tempo indefinido, na medida em que o período de detenção, até seis meses, é infinitamente renovável. O primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, responsabilizou Israel pelo «assassinato» de Khader Adnan, ao não atender ao protesto contra a sua detenção sem acusação ou julgamento. A Sociedade de Prisioneiros Palestinianos (SPP) afirmou, em comunicado, que Khader Adnan, de 44 anos, foi encontrado inconsciente esta madrugada na sua cela, tendo sido levado para um hospital, onde foi declarado morto. Adnan, natural da cidade de Arraba (perto de Jenin), foi preso 12 vezes ao longo da sua vida, tendo recorrido à greve de fome em diversas ocasiões para protestar contra as suas detenções sem qualquer acusação, afirmou a SPP, citada pela agência Wafa. A última detenção ocorreu a 5 de Fevereiro e Adnan entrou de imediato em greve de fome por tempo indeterminado, refere a fonte, acrescentando que pelo menos 236 presos palestinianos morreram desde 1967. Ao ter conhecimento da notícia, o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de ter cometido um assassinato. O número foi destacado pela Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) em conferência de imprensa. A maior parte encontra-se nos centros de detenção de Ofer e de Naqab (Neguev). O regime de detenção administrativa, que tem merecido ampla condenação internacional – até do Departamento de Estado norte-americano e da Amnistia Internacional –, permite a Israel manter nas suas prisões, sem acusação ou julgamento, presos palestinianos por tempo indefinido, na medida em que o período de detenção, até seis meses, é infinitamente renovável. Em relatórios anteriores, a SPP lembrou que esta política visa «esmagar os activistas políticos palestinianos» e se baseia num ficheiro secreto não acessível aos presos – nem sequer aos seus advogados. Os prisioneiros iniciaram uma greve de fome, há uma semana, para exigir a sua libertação e denunciar um regime de detenção que permite mantê-los na cadeia sem acusação ou julgamento. O protesto dos trinta presos palestinianos, membros e simpatizantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), completou uma semana sem solução aparente à vista, tendo em conta a inflexibilidade das autoridades de Telavive. Em comunicado, a Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) anunciou que os serviços prisionais israelitas têm estado a ameaçar com castigos os reclusos que lutam contra o regime de detenção administrativa. Entre as punições, contam-se privá-los de visitas, retirar-lhes os seus pertences e isolá-los em celas de castigo. Nesta primeira semana de protesto, os serviços prisionais israelitas colocaram 28 dos grevistas em quatro celas de isolamento na prisão de Ofer, informa a Wafa com base no documento divulgado pelo SPP. Um outro, o advogado Salah Hammouri, foi metido na solitária numa cadeia no Norte de Israel, enquanto Ghassan Zawahreh foi levado para uma cela de isolamento numa prisão localizada no Deserto do Neguev (al-Naqab). Os prisioneiros, em cadeias israelitas, iniciaram uma greve de fome por tempo indeterminado contra um regime que permite mantê-los detidos sem acusação ou julgamento, por períodos renováveis de seis meses. O início do protesto, este domingo, por parte de prisioneiros que são membros ou apoiantes da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), foi confirmado pela Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos. Em declarações à agência Wafa, Hassan Abed Rabbo, porta-voz da comissão, disse que os presos decidiram avançar contra uma política que permite a Israel manter nas suas prisões, sem acusação ou julgamento, presos palestinianos por tempo indefinido, na medida em que o período de detenção, até seis meses, é infinitamente renovável. Numa mensagem divulgada há alguns dias, os presos sublinharam que a luta contra o regime de detenção administrativa continua e denunciaram que as medidas tomadas pelas autoridades prisionais israelitas «já não se baseiam em obsessões de segurança, mas são actos de vingança devido ao seu passado». Qadri Abu Baker, líder da Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos, disse à Wafa que, na próxima quinta-feira, mais 50 presos se devem juntar à greve de fome, para denunciar o regime de detenção administrativa a que são submetidos e a escalada por parte de Israel no que respeita a este procedimento. O maior número de detenções administrativas – sem julgamento ou acusação – foi decretado em Maio, quando Israel lançou uma ofensiva de 11 dias contra a Faixa de Gaza. A Sociedade dos Presos Palestinianos (SPP) revelou, este domingo, que o número divulgado diz respeito tanto a novas ordens como à renovação de ordens já emitidas nos territórios ocupados, pelas autoridades israelitas. No documento apresentado, o organismo lembra que política de detenção administrativa visa «esmagar os activistas políticos palestinianos» e se baseia num ficheiro secreto não acessível aos presos – nem sequer aos seus advogados –, que são mantidos na cadeia sem acusação ou julgamento, informa a WAFA. O maior número de ordens de detenção administrativa foi emitido em Maio último, quando a Israel lançou uma ofensiva de 11 dias contra a Faixa de Gaza, explicou a organização de defesa dos presos, acrescentado que, ao longo do ano, 60 prisioneiros recorreram à greve de fome com o propósito de reconquistar a liberdade. Uma comissão de apoio aos prisioneiros revelou que 13 palestinianos permaneciam em greve de fome nas cadeias, este domingo, contra o regime que permite mantê-los reclusos sem acusação ou julgamento. Num comunicado ontem emitido, a Comissão dos Assuntos dos Presos e ex-Presos Palestinianos informou que o prisioneiro Salem Ziadat, de 40 anos, é, dos 13 que continuavam o protesto, aquele que está em greve de fome há mais tempo, permanecendo em jejum há 28 dias contra a sua detenção administrativa, sem acusação ou julgamento, revelou a agência WAFA. A Comissão informou ainda que o número de reclusos palestinianos em greve de fome até ontem era de 15, mas que Mohammad Khaled Abusill e Ahmad Abdulrahman Abusill tinham chegado a um acordo com o Serviço Prisional Israelita no que respeita à «limitação» da chamada detenção administrativa.Opinião|
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