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No centenário de Florestan Fernandes, MST celebra os 15 anos da Escola Nacional

No centenário do nascimento de Florestan Fernandes, o MST lembra que, para o intelectual, só existe uma força capaz de transformar a sociedade brasileira: «o movimento político das classes trabalhadoras».

Casa de Artes Frida Kahlo na ENFF
CréditosMichele Gonçalves / Brasil de Fato

Esta quarta-feira, 22 de Julho, passaram 100 anos sobre o nascimento do intelectual e um dos grandes pensadores do povo brasileiro, Florestan Fernandes. A ocasião é aproveitada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) para evocar a sua figura e os 15 anos da fundação da Escola Nacional que tem o nome do pensador.

Na página do MST lembra-se que Florestan Fernades se licenciou em Ciências Sociais e foi professor titular de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP). No período de exílio, durante a ditadura militar brasileira, leccionou nas universidades de Yale, Columbia e Toronto, nos EUA e no Canadá. No regresso ao Brasil, foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em 1986, e reeleito para a Câmara, em 1990, até à sua morte, em 1995.

Enquanto «pensador das classes trabalhadoras», desenvolveu uma visão do Brasil e da sociedade brasileira fundamental para entender o contexto actual, de aprofundamento das desigualdades sociais, afirma o MST, lembrando que Florestan Fernandes foi ele mesmo «parte da classe trabalhadora, fazendo da sua própria vida seu legado». Filho de uma imigrante portuguesa que prestava serviços domésticos, começou a trabalhar aos seis anos como engraxador e exerceu várias outras ocupações para ajudar a sustentar a família.

Adelar Pizetta, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), membro do sector de formação do MST e colaborador da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), explica que para Florestan só havia uma força capaz de transforma a sociedade brasileira: «o movimento político das classes trabalhadoras.»

Inspirados no legado de Florestan Fernandes, mais de mil trabalhadores sem-terra, com o apoio de outros movimentos sociais e de uma campanha internacional de recolha de fundos – em que participaram o músico Chico Buarque, o escritor José Saramago e o fotógrafo Sebastião Salgado – lançaram mãos à obra, de forma voluntária e auto-organizada. E, assim, há 15 anos foi inaugurada a ENFF, em Guararema, no interior do estado de São Paulo.

«Na concepção do pensador, o estudo deveria estar ligado sempre a uma forma de acção política para transformar a realidade e criar uma sociedade mais democrática», lê-se na página do MST. De acordo com a equipa da Coordenação Política Pedagógica (CPP) da ENFF, desde sua fundação, a escola tornou-se um «espaço de formação política-ideológica e técnica para a classe trabalhadora brasileira, compreendendo a função transformadora da educação».

«A ENFF procura ampliar o acesso da classe trabalhadora ao estudo e aos conhecimentos dos quais é historicamente excluída. E vincular esses conhecimentos e saberes a um projecto de país, uma concepção de transformação social em prol dos excluídos», afirma a equipa.

Geraldo Gasparin, coordenador do sector de formação do MST, explica que a escola também colocou como desafio nestes 15 anos «formar quadros políticos com o compromisso que teve Florestan Fernandes». «Estudar a realidade brasileira para propor as mudanças e um projecto socialista de sociedade», disse.

Sendo um «profundo conhecedor da dureza e dinâmica de exploração das classes trabalhadoras pelas elites, Florestan formulou várias contribuições às classes trabalhadoras brasileiras», algumas das quais actuais e que ajudam a compreender «a lógica de desenvolvimento do capitalismo, as características da burguesia nacional e as perspectivas históricas de luta, para criação de instrumentos que possibilitem as transformações estruturais na sociedade», realça o MST.

Um espaço de referência para os trabalhadores a nível internacional

Quinze anos após a sua fundação, a 23 de Janeiro de 2005, a escola transformou-se numa referência para a classe trabalhadora internacional, tendo por ali passado militantes e dirigentes de várias organizações populares de diversos países.

O espaço conta com aulas e espaços de formação, ministrados por educadores e intelectuais voluntários de universidades públicas, profissionais parceiros e representantes de movimentos, organizações e partidos populares, explica o MST. As temáticas da formação incidem na questão agrária, na realidade brasileira, na luta de classes, no marxismo, no feminismo, entre outras.

Inspirada em Florestan e Paulo Freire, a ENFF pratica a pedagogia colectiva do pensar e fazer cotidiano em várias frentes, nomeadamente o processo de busca e produção do conhecimento, manutenção dos espaços colectivos, mística, produção de alimentos.


Desta forma, explica a página do MST, desenvolve-se o método do trabalho colectivo, a pedagogia sem-terra assente na realidade do campo e dos saberes populares, o diálogo e a troca de experiências.

«O centro desse esforço dialéctico é voltado para a apropriação dos conhecimentos da história, da formação social do nosso país e dos seus abismos sociais, que só com as mudanças estruturais, feitas pelos trabalhadores auto-organizados, sob a unidade com os deserdados da terra e da cidade, a luta dos de baixo poderão garantir dignidade ao povo brasileiro», afirma a CPP da ENFF.

Adelar Pizetta, membro do sector de formação do MST e professor da UFES, destaca que entre as várias lutas de Florestan na sociedade brasileira, uma das principais foi pelo direito da classe trabalhadora ao acesso à educação pública e de qualidade.

«Uma educação que ao criar a consciência crítica pudesse colocar os trabalhadores numa posição ofensiva nas lutas de classes. Não era qualquer escola, nem qualquer educação, mas aquela que ajudasse "os debaixo" a entrarem na arena e disputas políticas fazendo a história», defende.

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