Na TV nacional, o presidente argentino apresentou o enorme DNU, que desregula normas de comércio internas e externas, revoga a lei dos arrendamentos, cerceia direitos laborais e dá impulso à privatização de empresas públicas.
«Começamos a desbloquear este quadro jurídico institucional opressivo que destruiu o nosso país», disse Milei na Sala Branca da Casa Rosada.
O discurso presidencial durou cerca de 15 minutos, refere o Página 12, sublinhando que não foram apresentados grandes detalhes sobre «a emergência pública em matéria económica, financeira, fiscal, administrativa, previsional, tarifária, sanitária e social».
Milei insistiu na «herança recebida» para justificar o «feroz» programa: «Hoje é um dia histórico, depois de décadas de fracassos, empobrecimento e anomias, começamos o caminho da reconstrução», disse.
Tachos e panelas nas ruas, outra vez
Muito longe do entusiasmo presidencial em desmontar o Estado e as suas funções, uma multidão veio para as ruas do país austral, a bater em panelas e frigideiras ou a fazer buzinar os carros, tanto nos bairros da capital, Buenos Aires, como noutros pontos do país.
Com muita Polícia nas ruas de Buenos Aires, ouvia-se «Metam o protocolo no cu», «Vão-se embora» ou «Não nos tiram nem um só direito».
«Venho para a rua porque isto é voltar ao passado, porque significa miséria para muita gente», disse um manifestante em Monserrat (Buenos Aires), indica o Página 12.
Também deputados e dirigentes sindicais se manifestaram contra o DNU, classificando-o como «inconstitucional» e afirmando que «atenta contra os direitos dos argentinos».
«É um plano de guerra contra o povo trabalhador», escreveu Myriam Bregman, ex-candidata à Presidência pela Frente de Esquerda, na sua conta de Twitter (X).
Por seu lado, Martín Soria, deputado da União pela Pátria (UP) e ex-ministro da Justiça e Direitos Humanos, classificou o DNU como «aberração jurídica que viola a Carta Magna».
Como estes, outros denunciaram, após o anúncio do decreto, que Milei «condena os argentinos» ao endividamento, à destruição da indústria, à destruição das pequenas e médias empresas ou à entrega do património nacional, bem como ao desemprego, ao empobrecimento generalizado e à perda de direitos laborais.
Milhares na Praça de Maio, com muita Polícia a testar o «protocolo»
Para denunciar os «planos de ajuste» do presidente argentino, ontem à tarde milhares de pessoas manifestaram-se pelo centro de Buenos Aires, até à Praça de Maio, no meio de um dispositivo policial «sem precedentes», no contexto do «protocolo» que a ministra da Segurança, Bullrich, havia anunciado.
A própria ministra e Milei supervisionaram a implementação desse protocolo a partir do Departamento Central da Polícia, enquanto a enorme mobilização, convocada por partidos de esquerda, organizações de bairro, sindicatos e grupos de defesa dos direitos humanos, decorria para expressar descontentamento com as medidas anunciadas pelo governo.
A manifestação servia igualmente para assinalar o 22.º aniversário do Argentinazo, a revolta popular contra a fome, durante a qual quatro dezenas de pessoas foram mortas e que haveria de culminar com a demissão do presidente argentino de então, Fernando de la Rúa.
Apesar da activação de «um dispositivo repressivo gigantesco», esta quinta-feira, para «meter medo a quem protesta», como denunciaram vários participantes na manifestação, a praça encheu-se de gente.
«Não queremos a miséria de Milei e do FMI», disse uma das pessoas que participaram na mobilização. «Temos de defender o direito ao protesto», acrescentou.
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