A manifestação desta segunda-feira na capital belga reuniu cerca de 25 mil pessoas, segundo os sindicatos, que alertaram para as «derivas liberticidas» a propósito do conflito laboral numa das maiores cadeias de supermercados no país, a Delhaize.
Os manifestantes, refere a EFE, exibiram cartazes contra o «dumping social» e a cadeia de Delhaize, que tem estado no centro das atenções desde que anunciou, em Março, a intenção de transformar em franchises 128 lojas na Bélgica.
De acordo com os sindicatos, os trabalhadores belgas estão preocupados com o futuro, temendo que este modelo de exploração se torne permanente na paisagem do comércio belga, levando à destruição de postos de trabalho e à deterioração das condições laborais.
Outro propósito declarado da manifestação era o de denunciar as medidas tomadas pela Delhaize para pôr fim à greve dos seus trabalhadores: proibição de piquetes, bem como o recurso a tribunais e à Polícia.
As centrais sindicais classificaram aquilo que se tem estado a passar na cadeia de supermercados como «graves ataques» ao direito à greve, na medida em que «o direito à acção colectiva está a ser prejudicado em função do direito comercial, o que estabelece um precedente perigoso».
Marc Leemans, dirigente da Confederação de Sindicatos Cristãos (CSC/ACV), disse, na manifestação, que a Delhaize é «um objectivo da direita porque a elite decidiu que todos devemos trabalhar mais, mais duramente e mais barato».
«Com esta manifestação, mostramos que não nos vamos deixar intimidar. As pessoas têm direitos humanos. Exigimos respeito para todos os trabalhadores: um salário decente, um trabalho decente e direito a manifestar-se», acrescentou.
A luta dos trabalhadores da Delhaize é a nossa luta
Raul Hedebouw, presidente do Partido do Trabalho da Bélgica (PTB/PVDA), lembrou recentemente, no Parlamento belga, que os trabalhadores da cadeia de supermercados estão em luta contra o plano de «franchisação» há dez semanas e dirigiu duras palavras à ministra do Interior, Annelies Verlinden.
«Para combater o grande crime, não há meios suficientes. Mas, quando se trata de reprimir os trabalhadores da Delhaize, o governo responde [afirmativamente] ao apelo da administração da empresa» para os reprimir, criticou o dirigente do partido de esquerda belga, citado no portal do partido.
O PTB/PVDA também se insurgiu, na Comissão de Justiça do Parlamento, contra o plano apresentado pelo ministro da Justiça, Vincent Van Quickenborne, para proibir os «vândalos» de se manifestar.
Intitulado «Projecto de lei para tornar a justiça mais humana, rápida e firme III», contempla a possibilidade de os tribunais proibirem a participação de determinadas pessoas nas manifestações.
Nabil Boukili (PTB/PVDA), que participou nos debates da comissão, considerou «uma primeira vitória importante» dos sindicatos e do movimento associativo o facto de o projecto ainda não ter sido votado, e lembrou que os ataques recentes ao direito à greve e de manifestação se multiplicam no país.
«Parece que o governo quer amordaçar cada vez mais qualquer forma de contestação social. É inaceitável, não vamos deixar isso passar», frisou o deputado de esquerda.
«Uma lógica autoritária, repressiva e liberticida»
A Federação Geral do Trabalho da Bélgica (FGTB/ABVV) fez um forte apelo à mobilização, denunciando que o projecto de lei do ministro da Justiça visa as «mobilizações reivindicativas» e terá como resultado a proibição de manifestações.
Ao contrário do que alega o ministro belga, a lei não pretende atingir os «violentos», os «bandidos», mas manifestantes em geral, alerta a FGTB no seu portal, acusando o governo de querer «criminalizar a actividade sindical e o movimento social», tenho por base «uma lógica autoritária, repressiva e liberticida».
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