«Os representantes do governo norte-americano continuam a pagar e planear acções, nos Estados Unidos da América, com grupos terroristas, de modo a provocar uma intervenção estrangeira» no país caribenho, disse o presidente da Venezuela, esta quinta-feira, na sede do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas Bolivarianas, em Caracas.
Recordando o périplo recente de Mike Pence por países da América Latina, «para dar instruções aos governos de alguns países aliados sobre as políticas intervencionistas», Maduro afirmou: «Começou esta semana com uma viagem a Miami, para ali proferir ameaças.»
Pence com a comunidade «antichavista»
Respondendo afirmativamente ao pedido da organização Venezuelanos Perseguidos Políticos no Exílio (Veppex), a que preside José Antonio Colina – acusado pela Justiça venezuelana de colocar bombas em vários locais e ausente da Venezuela desde 2003 –, Mike Pence encontrou-se com a comunidade exilada na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em Doral – zona de Miami também conhecida como Doralzuela, em virtude dos muitos venezuelanos que ali residem.
À porta fechada, manteve um encontro com um grupo de 15 VIP, em que se incluíam, entre outros, Ramón Muchacho (autarca de Chacao), Carlos Vecchio (dirigente do partido Voluntad Popular), uma filha de Antonio Ledezma e Óscar López, chefe de gabinete de Henrique Capriles.
Nicolás Maduro destacou a gravidade deste encontro entre Mike Pence e «pessoas de origem venezuelana envolvidas em crimes graves de terrorismo, que colocaram bombas em embaixadas na Venezuela, crimes graves contra a segurança da nação; pessoas envolvidas em crimes de corrupção. Terroristas e corruptos ao lado do vice-presidente dos EUA!», alertou, citado pela Alba Ciudad.
Depois do encontro à porta fechada, Pence reuniu-se com centenas de pessoas que por ele esperavam no interior da igreja, onde se viam cartazes a pedir «assistência militar». O representante norte-americano falou do périplo recente pela Colômbia, a Argentina, o Chile e o Panamá, da «grande receptividade» que encontrou entre os governantes desses países para aplicar medidas contra a Venezuela, do compromisso da administração de Trump com o futuro dos venezuelanos.
Mais incisivos nas críticas ao «ditador Maduro» foram o senador Marco Rubio e o congressista Mario Díaz-Balart, que se têm destacado activamente na campanha contra a Venezuela bolivariana. A acompanhar Pence esteve também o governador da Florida, Rick Scott.
De acordo com o portal Efecto Cocuyo, o evento contou com a participação de destacadas figuras da «oposição», como o ex-presidente da organização Gente de Petróleo, Juan Fernández, que foi um dos organizadores da paralisação de 2002 no sector; o vice-almirante Mario Carratú Molina, que participou no golpe de Estado de 2002; ou Carla Angola, conhecida jornalista alinhada com meios oposicionistas.
Miami «financiou» ataque ao Forte Paramacay
O presidente da Venezuela advertiu que estes encontros «não são fruto do acaso» e que «respondem à dinâmica das graves ameaças militares decretadas contra a Venezuela por Trump». Disse ainda que o ataque perpetrado por «forças terroristas paramilitares contra o Forte Paramacay», a 6 de Agosto último, «foi planeado e financiado até ao último dólar pelos núcleos de conspiradores de Miami, que se reuniram ontem com o vice-presidente dos EUA. São os mesmos grupos!», frisou, citado pela Alba Ciudad.
Maduro revelou que o grupo envolvido no ataque ao forte e os foragidos em Miami estão todos identificados e receberam a autorização do governo norte-americano para levar a cabo essa acção. «Temos provas disso», disse, referindo-se aos depoimentos dos capturados.
Na mesma ocasião, o chefe de Estado venezuelano sublinhou a necessidade de reforçar a segurança militar na fronteira com a Colômbia e deu ordens nesse sentido. A medida – explicou – enquadra-se numa série de acções implementadas e a implementar com vista a garantir a defesa do território venezuelano das ameaças de governos estrangeiros.
ANC já tem Estatuto de Funcionamento
Contemplando 21 comissões e composto por 85 artigos, o Estatuto de Funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) foi aprovado por unanimidade, esta quinta-feira. O primeiro dos artigos diz respeito à «natureza e missão» da própria ANC e começa da seguinte forma: «A Assembleia Nacional Constituinte é a depositária da vontade popular e expressão da sua soberania, com o mandato do Poder Originário para reorganizar o Estado venezuelano e criar um novo ordenamento jurídico, democrático, para renovar a Constituição da República Bolivariana da Venezuela em conformidade com os artigos 347.º, 348.º e 349.º», informa a AVN.
O segundo artigo diz respeito aos objectivos da ANC, em que se enquadram, entre outros: a paz e a tranquilidade pública, como necessidade, anseio e direito da nação; o diálogo nacional, o reconhecimento mútuo e o entendimento; o aperfeiçoamento do sistema económico nacional […], que sirva a igualdade, a prosperidade e o futuro da nação.
Com a ANC, visa-se igualmente dar estatuto constitucional aos programas sociais e a novas formas de democracia participativa (organização popular); transformar e melhorar o sistema de Justiça; preservar a soberania política, económica e territorial, bem como a imunidade, a integridade, a independência e a paz da Venezuela, informa a AVN.
Sobre as 21 comissões agora constituídas, Elvis Amoroso, primeiro vice-presidente da ANC, explicou que «vão trabalhar junto ao povo», atendendo os cidadãos que se dirigem a este órgão de poder, «para receber cada um dos seus projectos e denúncias».
Em simultâneo, as comissões irão trabalhar em conjunto com o presidente da República, Nicolás Maduro, de modo que «as decisões tomadas pela ANC estejam de acordo com as aspirações do povo venezuelano e o governo», disse.
Por seu lado, a presidente da ANC, Delcy Rodríguez, disse ontem, no Palácio Federal Legislativo, em Caracas, que a nova Constituição da República começará a ser redigida na próxima semana. «A partir da semana que vem, os constituintes estarão a redigir os capítulos da nova Constituição, de acordo com os objectivos programáticos para os quais foram convocados», afirmou.
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