Um tribunal federal de Abu Dhabi condenou, este domingo, 57 imigrantes do país sul-asiático por «se terem juntado e instigado tumultos em várias ruas dos Emirados Árabes Unidos» no passado dia 19, refere a agência oficial WAM.
Três dos bengalis foram condenados a pena perpétua, um a 11 anos de cadeia e 53 a dez anos de prisão por participarem nos protestos contra o governo do seu próprio país, num contexto de forte contestação a uma lei que estabelecia a atribuição de 30% dos empregos no Estado a familiares de veteranos da guerra de independência do Bangladesh, em 1971.
O tribunal federal de Abu Dabhi decretou ainda a deportação de 54 dos condenados assim que tiverem cumprido a pena, refere a WAM, acrescentado que as acusações e condenações se seguem a «uma investigação rápida» decretada logo na sexta-feira.
Uma testemunha confirmou que «os arguidos se juntaram e organizaram marchas de grande escala em várias ruas dos Emirados Árabes Unidos em protesto contra as decisões tomadas pelo governo do Bangladesh», refere a agência oficial.
Nos Emirados Árabes Unidos, onde quase 90% da população é imigrante, a comunidade do Bangladesh é a terceira maior, depois da da Índia e da do Paquistão, que, no seu conjunto, perfazem mais de metade da população do país do Golfo.
Na sua maioria, trata-se de trabalhadores mal pagos que procuram poupar e mandar dinheiro para as famílias, num país que restringe de forma severa as manifestações.
Vaga de protestos no Bangladesh
O país do Sul da Ásia foi abalado este mês por grandes manifestações, protestos e tumultos, sobretudo organizados pelo movimento estudantil universitário, que se insurgiu contra a tentativa de o governo estabelecer um sistema de quotas para os «empregos governamentais».
Na sequência de outra enorme vaga de protestos, em 2018, o governo bengali tinha travado a implementação da lei. Agora, ao voltar à carga, classificou os estudantes como «traidores» e, em resultado da repressão policial e dos confrontos nas ruas, há registo de pelo menos 530 detidos. Não foram divulgados números oficiais de mortos, mas os números oscilam entre «mais de cem» e 163, de acordo com a PressTV ou a TeleSur.
Entretanto, no domingo, o Supremo Tribunal do Bangladesh determinou que a quota de 30% de empregos estatais atribuíveis aos descendentes de veteranos da guerra passasse para 5%, o que é encarado como uma vitória parcial para o movimento estudantil de contestação, que não põe em causa a necessidade de enfrentar a profunda desigualdade no país, mas não concorda com uma medida que «deixa tudo na mesma».
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