Tal como em anos recentes, ouviram-se palavras de ordem em defesa de «Deus, honra e pátria», contra o islamismo e o secularismo, contra a União Europeia e os «inimigos da pátria», contra o aborto, no meio de um mar de bandeiras polacas e de tochas vermelhas.
Apesar de organizado por grupos fascistas e reunir, inclusive, membros de organizações fascistas estrangeiras – como os italianos da Forza Nuova –, este evento anual tem atraído muitas famílias nos últimos anos, refere a Reuters.
As autoridades estimam o número de participantes na edição deste ano em 47 mil, enquanto os organizadores apontam para três vezes mais (150 mil), refere a DW. O símbolo da marcha que assinalou o 101.º aniversário da refundação da Polónia foi um punho erguido a segurar um terço – o que, segundo os organizadores, visa representar a defesa dos «valores tradicionais» por parte da Igreja Católica, bem como a sua resistência aos «apelos crescentes à defesa dos direitos dos homossexuais» no país.
«Temo de regressar às nossas raízes. O nosso mundo abandonou Deus e o cristianismo», disse Robert Bakiewicz, líder de um dos grupos organizadores, aos participantes na marcha de ontem em Varsóvia. «Morreremos assim como as nações da Europa Ocidental estão a morrer», acrescentou, citado pela Reuters.
O fascismo e o partido Lei e Justiça
Ao chegar ao poder, em 2015, o partido nacionalista Lei e Justiça (PiS) fez a defesa de valores patrióticos e católicos, contra o «liberalismo ocidental». Uma das acusações dirigidas ao PiS, que em Outubro voltou a ganhar as eleições, com 44% do sufrágio, é a de ter promovido grupos com raízes nos movimentos fascistas e anti-semitas dos anos 30 e que são os organizadores da marcha anual da independência da Polónia.
Apesar de o PiS negar isto, em 2017 o ministro do Interior, Mariusz Blaszczak, caracterizou a manifestação fascista como «uma coisa bonita de se ver». Em 2018, ano do centenário da independência, tanto o governo do PiS como o presidente polaco, Andrzej Duda, decidiram participar na mobilização, embora tenham «caminhado à distância», para se demarcarem das exibições abertas de nacionalismo e fascismo. Este ano, o PiS organizou o seu próprio evento.
De acordo com a DW, a «mistura» do ano passado foi encarada como uma tentativa do partido no poder para impedir que os grupos de extrema-direita formassem um partido político. No entanto, a aposta falhou, uma vez que esses grupos criaram o partido Confederação, que obteve cerca de 7% dos votos nas eleições de Outubro e entrou no Parlamento.
Na marcha de Varsóvia, foram recolhidas assinaturas para apoiar uma proposta contra a «restituição de terras» que pertenciam a judeus e lhes foram confiscadas pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Os nacionalistas e fascistas polacos temem que essas propriedades, que passaram para o Estado polaco após a guerra, sejam reclamadas por associações de judeus, com o apoio da administração dos EUA.
Uma outra marcha de extrema-direita, realizada na cidade de Wroclaw, no Sudoeste do país, foi dissolvida pelas autoridades cerca de 25 minutos após o início, devido a «discurso de ódio e uso de pirotecnia».
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