Numa conferência na Casa Branca, em Washington, o presidente norte-americano disse que deu instruções à sua administração para interromper, pelo menos temporariamente, o financiamento à Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto revê aquilo que classificou como o papel «desastroso» do organismo na «cobertura» do surto do coronavírus na China.
A OMS «não conseguiu obter, examinar e partilhar informação de forma oportuna e transparente», «falhou no seu dever básico e deve ser responsabilizada», disse Trump, que acusou o organismo das Nações Unidas de ter promovido a «desinformação» relativa ao vírus na China, algo que, em seu entender, terá estado na origem de um surto muito mais amplo do que aquele que deveria ter ocorrido, informam a Agência Brasil e The Independent.
O presidente norte-americano, que tem sido acusado de não agir a tempo e de ignorar avisos das suas próprias agências internas sobre a gravidade da pandemia, que esteve na origem de cerca de 26 mil mortes nos EUA, disse que «os atrasos da OMS em declarar uma situação de emergência sanitária pública custaram tempo precioso».
O chefe de Estado deixou ainda no ar a leve ameaça de sair da organização, tendo afirmado que «não terá outra hipótese», a não ser que a organização altere as suas acções. Os EUA são o maior financiador da OMS e a China é o segundo.
De acordo com a imprensa norte-americana, referida pela Prensa Latina, este anúncio ocorre numa altura em que o presidente dos EUA continua a receber críticas pela resposta que deu à situação de emergência e quando insiste em que lhe sejam atribuídos créditos pelo seu desempenho, nomeadamente por ter decretado a restrição de viagens à China, no fim de Janeiro.
Por isso, e como o fez noutras ocasiões, voltou ontem a culpar a OMS pelo que descreveu como «decisão desastrosa de se opor às restrições de viagem da China e outros países».
«Passo perigoso na direcção errada»
A decisão anunciada esta terça-feira não é surpreendente, tendo em conta os ataques reiterados do presidente norte-americano contra a OMS nos últimos dias.
Numa outra conferência de imprensa, no passado dia 7, Donald Trump afirmou que estava a ponderar reter os fundos destinados à OMS, em função daquilo que designou como «mau desempenho na abordagem à crise» da pandemia de Covid-19 e «favoritismo» à China.
Nos EUA, a decisão de Donald Trump causou mal-estar imediato no seio do sector da saúde, nomeadamente da Associação Médica Americana (AMA), que emitiu uma declaração a qualificar a medida como um «passo perigoso na direcção errada» e a defender a necessidade de «cooperação internacional», da «ciência e dos dados» para combater a pandemia.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou a decisão, tendo reafirmado o apoio à OMS e sublinhado que este não é o momento para diminuir os recursos disponíveis às operações dessa entidade ou de outra qualquer que luta contra o novo coronavírus.
Por seu lado, os responsáveis da OMS têm procurado evitar entrar em polémicas com Donald Trump, destacando que «o meio de uma pandemia não é a altura adequada para uma luta de fundos», refere The Independent.
Em resposta às ameaças proferidas por Donald Trump há uma semana, o director-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, instou a não politizar a pandemia, pois isso «poderia traduzir-se num maior número de mortes».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui