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«Teorias da conspiração» ou lobbies à solta? (1)

Big Pharma, Big Data: lobbies poderosos que condicionam decisões de terceiras instituições públicas ou privadas em termos ilegítimos. E se tivessem o monopólio de uma vacina contra o novo coronavírus?

Créditos / REUTERS

Big Pharma, Big Data, são designações que se referem a lobbies poderosos que condicionam decisões de terceiras instituições públicas ou privadas em termos ilegítimos. Talvez não paradoxalmente, os ambientalistas que se entregaram ao concubinato com a Wall Street credibilizaram o Big Green. Deles falaremos na segunda parte deste trabalho. Os seus decisores, para não deixarem beliscar a legitimidade das suas operações de pressão sobre essas instituições, costumam atribuir aos seus críticos serem, eles sim, autores de «teorias da conspiração» com a intenção de os descredibilizar. É uma técnica que não é recente e que foi antecedida pela capacidade destes e doutros Big’s silenciarem, pura e simplesmente, as vozes críticas. Hoje isso é mais difícil e daí o truque das mal-intencionadas «teorias».

Comecemos pela Big Pharma, a nível europeu, a propósito de a Lusa ter feito a referência, no passado dia 25 de Maio, a dois relatórios de organizações não governamentais, a Global Health Advocates (GHA) e o Corporate Europe Observatory (CEO). Estes dois organismos manifestaram agora a sua indignação por terem encontrado provas de que o lobby europeu da indústria farmacêutica, a European Federation of Pharmaceutical Industries and Associations (EFPIA), «não só não considerou o financiamento da bioprevenção (isto é, para estar preparado a responder a epidemias, como a causada pelo SARS-CoV-2 que esteve na origem da crise pandémica da COVID-19), como se opôs a que a mesma fosse incluída nos trabalhos da Medical Innovation Initiative (MII) quando essa possibilidade foi levantada pela Comissão Europeia em 2018.

De acordo com os dois relatórios1:

- a investigação necessária tem sido sempre «mais privada do que pública» com as grandes farmacêuticas a dominarem a Medical Inovation Iniciative (MII);

- a indústria farmacêutica recebeu 2,6 mil milhões de euros do orçamento público de investigação da UE, entre 2008 e 2020, da MII.

O GHA e o CEO indicaram que, entre as áreas desconsideradas que necessitavam de um financiamento importante, se encontram «a prevenção de epidemias (incluindo as causadas pelos coronavírus), o HIV/sida, e as doenças tropicais relacionadas com a pobreza», e que, em vez disso, «a indústria farmacêutica usou sobretudo o orçamento para financiar projectos em áreas que eram comercialmente mais rentáveis».

Um dos investigadores do CEO, Martin Pigeon, considerou que «já é tempo de a política de investigação e inovação da UE receber o escrutínio político e os debates que merece», a bem do interesse público. Ainda segundo este investigador, «o que aqui está em jogo é a captura, pelas grandes empresas privadas, de largas áreas da política de investigação da UE e respectivos orçamentos, em prejuízo das necessidades públicas, da nossa saúde e natureza», destacou.

Já quando da epidemia do Ébola em 2014, a indústria farmacêutica só investiu em investigação depois de a epidemia estar declarada. É bem conhecido, mesmo antes do caso do Ébola, que as intervenções quando uma epidemia já está em andamento são muito menos úteis do que o tipo de «bioprevenção» a que a indústria se tem furtado.

Mulher usa uma máscara de protecção, em Nova Iorque, estado de Nova Iorque, Estados Unidos da América. Créditos

Donald Trump: tirar da OMS para dar à Big Pharma

No que respeita aos EUA, para onde irá a comparticipação anual estatal de cerca de 450 milhões de dólares, que Trump retirou quando decidiu sair da Organização Mundial da Saúde (OMS)?

Quando anunciou a saída disse que esses fundos seriam «redireccionados para outras necessidades de saúde pública», para quem pudesse usar esse dinheiro de forma melhor que a OMS estava a fazer…

Dias antes tinha já anunciado que o governo norte-americano apoiaria as farmacêuticas para garantir fornecimento quando fosse descoberta solução para a pandemia.

A Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI), perfilou-se, então, para «federar» todos os candidatos a financiamentos. O CEPI foi fundado em Agosto de 2016 pelo governo da Noruega, a Fundação Bill & Melinda Gates, o Wellcome Trust, o Fórum Económico Mundial, de Davos, e o Departamento de Biotecnologia da Índia.

Um dos casos mais paradigmáticos de como funciona o negócio da saúde nos EUA, referido no passado 23 de Maio pelo New York Times a propósito da busca desesperada de tratamentos e vacinas para a COVID-19, revela bem como investigadores, reguladores e empresas farmacêuticas como a Moderna, os seus investidores e o jornalismo que lhes faz o frete, se comportam nesta situação.

Quando a empresa anunciou na manhã de dia 18 os resultados positivos de um pequeno teste preliminar de sua vacina contra o coronavírus, o director médico da empresa descreveu a notícia como um «dia triunfante para nós».

Ao mesmo tempo dispararam «informações» em revistas médicas e em comunicados de empresas e universidades, de «artigos» publicados nos chamados sites de pré-impressão de estudos que não são revistos e certificados por especialistas, ao contrário dos artigos das principais revistas médicas e científicas – esses, sim, com outra credibilidade.

O preço das acções da Moderna saltou até 30%. O anúncio tinha alavancado o mercado de acções e isso foi motivo de novas notícias, incluindo do próprio New York Times.

Nove horas após o seu comunicado de imprensa inicial, depois do encerramento dos mercados, a empresa anunciou uma oferta de acções com o objectivo de arrecadar mais de mil milhões de dólares para ajudar a financiar o desenvolvimento de vacinas. Essa oferta não havia sido mencionada nos briefings de investidores e jornalistas da Moderna naquela manhã, e o presidente da empresa disse mais tarde que isso fora decidido… apenas naquela tarde.

Os resultados preliminares da Moderna inspiraram confiança. Porém, a empresa não deu detalhes essenciais para a credibilidade pública, como gráficos e valores de diversos indicadores. Ainda assim, Trump atribuiu-lhe 500 milhões de dólares (verba semelhante à que retirou da OMS…).

Na «corrida» estão também outros fabricantes de medicamentos como a Pfizer Inc, a Johnson & Johnson, ou a Sanofi, que estão em vários estágios do desenvolvimento de vacinas.

O CEO da CEPI, Richard Hackett, confirmou que o projecto para desenvolver uma vacina começou não apenas antes da descoberta e identificação do coronavírus (Janeiro de 2020), mas vários meses antes do exercício de simulação de 18 de Outubro de 2019...2 E salientou que era importante ter na mesa os grandes produtores.

Um funcionário da China National Pharmaceutical Group (Sinopharm) trabalha com testes de vacinas contra a Covid-19 numa unidade de produção de vacinas em Pequim CréditosZhang Yuwei / Xinhua

A corrida às vacinas e o papel da China

Trump deu a entender que queria garantir acesso exclusivo a uma vacina que estaria em desenvolvimento, sob os auspícios do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), chefiado pelo Dr. Anthony Fauci, que tem integrado um grupo de trabalho criado na Casa Branca para lidar com a pandemia.

Recordando que a União Europeia (UE) já disponibilizou até 80 milhões de euros à CureVac AG, uma empresa de Tübingen, na Alemanha, Ursula von der Leyen afirmou, num vídeo no Twitter, em 17 de Março, esperar que, com este apoio, seja possível haver uma vacina no mercado talvez até ao final do ano.

Por outro lado, a administração norte-americana tem acusado a China de roubar informação relativa às investigações das suas empresas quando… desde o início da epidemia de COVID-19, várias foram as empresas farmacêuticas chinesas que passaram, entre outras coisas, a desenvolver uma vacina. E pelo menos três delas já iniciaram testes clínicos em seres humanos.

Mas a China garantiu, pela boca do seu presidente, que, se alguma das vacinas em desenvolvimento e testes na China se tornar eficaz contra a COVID-19, o seu país pô-la-á à disposição de todo o mundo como bem público, garantindo assim que se torna acessível e viável nos países em desenvolvimento.

Actualmente, ainda não existem vacinas ou tratamentos aprovados para a COVID-19, contratados com governos, fabricantes de medicamentos e investigadores a trabalhar em cerca de 100 programas de vacinas. E os especialistas continuam a prever que uma vacina segura e eficaz pode levar de 12 a 18 meses para se desenvolver.

Quanto ao tratamento da doença, a Gilead anunciou, em 29 de Abril, ter «dados positivos» sobre o desempenho do Remdesivir. Algumas horas depois, no Salão Oval da Casa Branca, Fauci, que, como referimos, também tem a sua empresa, disse que o medicamento poderia acelerar modestamente a recuperação em pacientes e que o medicamento se poderia tornar num padrão de tratamento.

Mas, a Lusa deu conta que no passado dia 25 de Maio, em Espanha, um ensaio internacional com este medicamento, coordenado pelo Hospital Can Ruti, em Badalona, Barcelona, revelou que o antiviral Remdesivir é eficaz contra a COVID-19 apenas nos casos dos pacientes que necessitam de ventilação mecânica.

O antiviral cubano Iterferon Alfa 2B foi um dos medicamentos utilizados na China no início da pandemia, o que motivou pelo menos 15 países da América do Sul, África e Ásia a solicitar informações ou fornecimento do mesmo.

Sem oferecer números concretos, o grupo estatal de medicamentos BioCubaFarma assegurou ter stock suficiente de retrovirais para cobrir a procura dentro e fora do país.

Por outro lado, Cuba está a desenvolver uma versão do antiviral Kaletra, com resultados preliminares «satisfatórios», com o objectivo de eliminar a importação e garantir o fornecimento estável do fármaco, criado para tratar o VIH-Sida e usado agora em pacientes da COVID-19.

A cloroquina ou um seu derivado menos tóxico, a hidroxicloroquina, está a ser usada para tratar pacientes na Europa e na América do Norte.

O resultado de uma das principais investigações sobre a efectividade da hidroxicloroquina no tratamento foi publicado no dia 11 de Maio, na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association). O estudo, feito por investigadores da Universidade de Albany, no estado de Nova York, não encontrou relação entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade pela doença. Foram analisados 1438 pacientes infectados com coronavírus, em 25 hospitais de Nova York.

Quanto a vacinas de pandemias, lembremo-nos do caso da gripe suína H1N1 de 2009, quando o Conselho de Assessores de Ciência e Tecnologia de Obama comparou a pandemia de H1N1 à pandemia de gripe espanhola de 1918, assegurando que seria mais mortal. Com base em dados incompletos e escassos, a Diretora-geral da OMS de então previu com a sua autoridade que: «até 2 mil milhões de pessoas poderão ser infectadas nos próximos dois anos» – (isto é, quase um terço da população mundial…).

E a administração Obama garantiu que «a gripe suína pode atingir 40% dos americanos nos próximos dois anos e centenas de milhares de pessoas podem morrer se uma campanha de vacina e outras medidas não resultarem» (declaração oficial da administração Obama, Associated Press, 24 de Julho de 2009).

Foi uma bonança de milhares de milhões de dólares para a Big Pharma, apoiada pela directora-geral de então da OMS, Margaret Chan.

Mas a pandemia não atingiu os tais 2 mil milhões de pessoas e milhões de doses da vacina, encomendadas à Big Pharma por muitos governos, acabaram por ser destruídas, incluindo em Portugal.

Segundo os dados recentes avançados a 2 de Junho pela Organização Mundial da Saúde (OMS), existiam nessa data 133 potenciais vacinas contra a COVID-19 (em investigação um pouco por todo o mundo), e revelava-se ainda que 10 delas já tinham recebido aprovação para poderem fazer ensaios clínicos em seres humanos.

No decurso dos meses de Abril a Junho multiplicaram-se intervenções de laboratórios, com apoio de grandes grupos farmacêuticos, que por sua vez patrocinavam revistas que foram perdendo o seu carácter científico e estão a ser suportes, directos ou indirectos, dos vários projectos, ou de credibilização ou descredibilização de medicamentos que estão a ser utilizados como tratamento da doença (Cloroquina, Remdesivir e outros). A Gilead é dos mais poderosos, conhecida por produzir os medicamentos mais caros e frequentemente os menos eficazes do mundo. Por lá passou Donald Rumsfeld, especialista em guerras e medicamentos.

A revista Lancet, por exemplo, perdeu a sua credibilidade científica ao combater o projecto de Didier Raoult – que revelou grande sucesso com doentes infectados, a partir do seu instituto de vanguarda em Marselha –, publicando um «estudo» a abrir caminho ao Remdesivir da Gilead. A Lancet é publicada pelo maior grupo editorial científico, técnico e médico do mundo – o grupo Elsevier. Não é a primeira vez que o gigante ReeLX3 é apanhado em práticas condenáveis.

E aceitou os «dados» de uma quase desconhecida empresa Surgisphere que alega «ter uma das maiores e mais rápidas bases de dados do mundo»… e ter criado as suas imensas bases de dados com recurso à inteligência artificial. Deixando assim a descoberto lobbies quer do Big Pharma quer do Big Data…

O Guardian investigou e o Público de 4 de Junho dá conta de pormenores esclarecedores. Em consequência a OMS, que tinha suspenso ensaios clínicos com base na hidroxicloroquina, acabou por voltar atrás na sua decisão. Os nossos leitores interessados também podem encontrar no Germinal uma interessante discussão sobre isto.

E se a Big Pharma tivesse o monopólio da venda de uma eventual vacina depois de a patentearem? Primeiro haveria que estimar (sabe-se lá como) as «necessidades» de cada país. Depois, seria um novo grande negócio multimilionário em que muitos governos seriam obrigados a pagar muito dinheiro para garantir stocks a fornecer à população a preços simbólicos ou gratuitamente. Depois da declaração da China parece haver um consenso, entre muitos países, de não vir a permitir que isso volte a acontecer.

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