O caos espalhou-se por várias cidades norte-americanas, quando os protestos contra a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos, que faleceu num hospital na passada segunda-feira no decorrer de uma detenção policial, se transformaram, em vários pontos dos EUA, em confrontos violentos com as forças policiais.
Os protestos, inicialmente pacíficos, foram subindo de tom com à medida que um vídeo, mostrando a lenta agonia de Floyd enquanto era sufocado por um polícia impassível, se tornava viral e despertava horror e indignação.
Derek Chauvin, o polícia em causa, foi demitido imediatamente da corporação, juntamente com três colegas que participaram na detenção, mas permaneceu em liberdade e sem acusação, o que contribuiu para o exaltar dos ânimos. Apenas na sexta-feira, após os protestos se tornarem violentos, ela foi formalizada.
Chauvin, de 44 anos, foi preso na sexta-feira passada, sob a acusação de «assassinato em terceiro grau» e «homicídio negligente». O Departamento de Justiça, que anunciou a medida, declarou que a investigação completa do caso é uma «prioridade de topo». Segundo a ABC News, a acusação releva que no vídeo, apresentado como uma prova documental, «Chauvin é visto pressionando o pescoço de Floyd durante oito minutos e 46 segundos», dos quais «dois minutos e 53 segundos» quando este já se encontrava «sem reacção»1.
O advogado da família da vítima saudou a prisão mas disse esperar uma acusação de assassinato «mais grave» e a prisão dos restantes polícias implicados.
Os dias da ira
Os protestos prosseguem há cinco dias e não dão mostras de abrandarem, apesar do anúncio da prisão do principal responsável pela morte de Floyd.
Depois de Minneapolis, estenderam-se a pelo menos 25 cidades norte-americanas, entre as quais Atlanta, Nova Iorque, Los Angeles, Denver, Detroit, Dallas, e a capital federal, Washington DC.
A esquadra de Minneapolis onde prestava serviço o responsável pela morte de Georges Floyd, situada num centro comercial, foi evacuada pela polícia, incapaz de conter os manifestantes, e acabou por ser assaltada e destruída, bem como as lojas contíguas.
Em diversas cidades carros da polícia foram também destruídos, incluindo veículos todo-o-terreno.
Há registo de polícias e manifestantes feridos, com os primeiros a disparem granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha directamente sobre os manifestantes.
Alguns jornalistas que procuravam cobrir os eventos, apesar de exibirem os seus cartões ou se identificarem perante as autoridades, foram objecto de repressão policial. O caso mais conhecido é o Omar Jiménez, correspondente local da CNN, preso quando se encontrava a meio de um directo nacional (ver vídeo, ao 1' 20") e libertado por uma intervenção do director da cadeia televisiva, mas outros jornalistas reclamam terem sido directamente visados por forças policiais, seja com disparos de balas de borracha seja com lançamentos de granadas de gás lacrimogéneo sem aviso prévio nem provocação, refere a NBC.
Até sexta-feira passada há a registar pelo menos dois mortos, segundo a NPR: um manifestante atropelado por um veículo que se pôs em fuga, em Detroit, no Michigan, e um polícia abatido por tiros disparados a partir de um veículo junto ao Departamento de Segurança Interna, em Oakland, Califórnia.
Mais de 1400 manifestantes tinham sido presos até ao final de sexta-feira em 17 cidades dos EUA, segundo o New York Post, que admite que esse número possa aumentar quando vierem a ser conhecidas eventuais prisões realizadas durante o recolher obrigatório, de sábado para domingo.
Um balanço efectuado neste domingo pela ABC News confirmou as expectativas: mesmo com o recolher obrigatório a proibir a circulação de pessoas, as detenções policiais aumentaram para 1700 pessoas e espalharam-se a 25 cidades.
«No Justice, no Peace» – «sem justiça não há paz», prometem os manifestantes.
Guarda Nacional activada, Pentágono coloca unidades militares em prontidão
No estado do Minnesota, segundo a Reuters, «o contingente estadual da Guarda Nacional [uma força militar de reservistas] foi totalmente activado pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial», após «quatro noites consecutivas de distúrbios» em Minneapolis e outras cidades daquele estado.
Segundo o twitter da própria Guarda Nacional estadual, 4100 milicianos encontravam-se preparados para intervir e a mobilização em curso dos restantes poderia chegar a cerca de 11 mil. Um comboio de blindados ligeiros da Guarda Nacional foi visto a entrar na cidade na tarde de sábado, por civis que o filmaram.
A medida foi tomada pelo governador Tim Waltz, do partido democrata, que alegou a existência de «agitadores» estranhos à cidade a controlarem as manifestações. À imprensa o governador referiu que 80% dos presos nos distúrbios eram pessoas fora do estado. A Reuters, no entanto, assinala que apenas há registo de oito não-residentes no Minnesota presos e nem sequer é claro que o tenham sido por participar nos protestos.
Esta noite o governador Waltz retirou as suas afirmações, reconhecendo que as mesmas não tinham sido precisas, informa o The Hill.
Governadores de 10 estados – Minnesota, Ohio, Georgia, Colorado, Wisconsin, Kentucky, Texas, Utah, Washington and Missouri – anunciaram publicamente a activação da Guarda Nacional estatal mas, segundo a ABC News, um porta-voz do comando da Guarda Nacional dos EUA informou na noite passada terem sido recebido pedidos de activação das unidades em 14 estados e que as unidades se encontravam prontas para serem empregues caso necessário.
Além da Guarda Nacional, a Reuters registou «um gesto extraordinário do Pentágono», que afirmou ter colocado diversas unidades do Exército dos EUA em estado de prontidão de quatro horas, caso tal fosse requerido pelo governador do Minnesota. Não há memória, escreve a agência noticiosa, de unidades militares serem colocadas em tão curto estado de prontidão para potencialmente serem chamadas a intervir em território nacional – o que apenas tem acontecido em caso de catástrofes naturais.
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